terça-feira, 30 de março de 2010

Tulpan

"Tulpan" ganhou o prêmio "Um Certo Olhar - Fundação Gan pelo cinema", no Festival de Cannes, em 2008. Sergei Dvorsevoy, o diretor, faz um filme quase documentário sobre a vida nas estepes do Cazaquistão. O olhar é de alguém que conhece muito o lugar e seu povo. "Tulpan" tem pontos em comum com "Camelos também choram". Ambos possuem famílias nômades, as mulheres são delicadas e femininas. O primeiro mostra a estepe do Casaquistão, o segundo, o Deserto de Gobi, na Mongólia. A paisagem é desértica, plana, sem vegetação, a perder de vista. Falam de uma outra vida, uma outra estética e valores muito distantes dos nossos. Nos fazem pensar que no interior do Brasil dos anos 50 havia um pouquinho de " Tulpan".
A relação dos homens com a natureza e com os bichos é cálida. Camelos e ovelhas grávidas são tratados com uma doçura sem igual. Se em "Camelos também choram", nos emocionamos com o camelinho rejeitado pela mãe, em "Tulpan" quase choramos com a "chata" da mãe (camelo) que persegue a moto do veterinário, berrando, por mais de 100 km.. O enorme filhote, todo enfaixado vai de moto, que nem uma criança. Num pranto pungente e doloroso, de mãe por seu filhote, ela não desiste de perseguir a duplae daí a comparação com o Brasil. Não há como esquecer o choro de Ofélia, a vaca, berrando por seu terneirinho morto na distante Lagoa do Forno, em Dom Pedrito.
Óbvio, "Tulpan" não trata somente de bichos. Conta uma triste história de amor não correspondido. Asa (Askhat Kuchencherekov) é um marinheiro desajeitado que precisa casar para ter direito a um rebanho. Problema, na estepe do Casaquistão jovem casadoira praticamente não existe. A única não quer nem saber do noivo, ele tem orelhas grandes. Não adianta argumentar que o príncipe também é orelhudo. E eles confundem o Príncipe Charles com um príncipe americano. Quem sabe ela sonha com uma vida que Asa não consegue lhe proporcionar...
Assim Sergei Dvorsevoy conta uma história singela, de valores simples, de um mundo que parece superado, mas que teima em continuar existindo. Os dois filmes mostram a casa do nômade, a yurta, ou tenda. Em "Camelos também choram" a yurta é mais rica, trabalhada e decorada em verde e vermelho. O centro é aberto, de onde se pode ver o céu estrelado, como uma iluminação zenital.
Em "Tulpan", a vida é muito, muito difícil. Parece insuportável ouvir o assovio e o sibilar do vento e das tempestades de areia. Quando Asa faz o parto da ovelha, o tempo pára, em momento difícil, de dor e sofrimento. Assim, a falta de sorte de Asa no amor transforma-se em preocupação menor do que o pranto, solidão e quase abandono do animal. Obstinadamente a menina canta um lamento triste, que mais parece um protesto. Cria-se uma tensão intolerável, Ondas (Ondasyn Besikbasov), o pai, não suporta e obriga a menina a calar-se. Aleluia, nos sentimos aliviados!
Se a yurta não permite a privacidade, todos dormem juntos, o carinho e a preocupação que os familiares tem uns pelos outros é evidente nos dois filmes. Aqui a personagem forte que busca manter juntos seus entes queridos é Samal (Samal Yeslyamova), a irmã de Asa. Ela tem a consciência que um homem não deve sair desgarrado pelo mundo. Mesmo na árida estepe, desprovida de futuro, é importante a referência familiar. Para Asa resta continuar em busca de seu sonho....

terça-feira, 23 de março de 2010

Para Cris

Cris, não deixe de ler meu blog, nem de ir ao cinema. É muito bom, a gente se diverte, se atualiza e aprende muito. Sempre gostei, só que agora estou muito mais interessada. Eu que adoro Leonardo DiCaprio e Scorsese só poderia gostar muito de A Ilha do Medo. Mas, me diverti mesmo foi com as estrepolias de Leonardo DiCaprio em O Aviador!
Ah! estou querendo muito que a Lucia volte a escrever no seu blog. Vou falar com ela novamente...

Abraços, Doris Maria

Para Celso

Celso, o que faz a sequência do tiroteio que mata os nazistas? Quem sabe era mais um complexo de culpa do personagem, que assumia a culpa dos outros? Sentia vergonha pelo mal feito pelos outros? Sabes né? tem gente que é assim e precisa lutar contra isso.
Bom que leste meu blog e deixaste um comentário.

Abraços, Doris Maria

Para Eder

Eder, tudo bem? Que bom que continuas lendo meu blog, fico feliz. Quanto aos CDs deixarei os dois para ti, na quarta-feira, no meu escaninho na Unisc.

Abraços, Doris Maria

Criação (Creation)

Paul Bettany é um ator carismático. Quem o viu uma vez não esquece. Entre os filmes que protagonizou, o papel do albino Silas, em "O Código da Vinci", é um dos mais perturbadores. O frade pertencente à seita "Opus Dei ", autoflagela-se acreditando com isso estar perdoado de seus crimes e pecados.
Agora temos outro Paul Bettany, diferente mas não menos atraente, interpretando Charles Darwin, o cientista inglês que escreveu "A Origem das Espécies", revolucionou a ciência e fez avançar o conhecimento da humanidade. "Criação" é dirigido por Jon Amiel, o diretor que adora falar de casais em crise. Lembram-se de Richard Gere, sumido em "Sommersby, o Retorno de Um Estranho" , com Judie Foster, ou "Tia Júlia e o Escrivinhador", uma adaptação de Mário Vargas Llosa?
A mulher de Charles Darwin, Emma é interpretada por Jennifer Connelly. Os dois são casados na vida real. Assim devem ter se emocionado em dobro vivendo o par apaixonado e problemático.
"Creation" mostra o grande dilema de Darwin inseguro entre divulgar o resultado de suas pesquisas ou aceitar o mito da Criação, que ainda vigorava no mundo, com certeza em sua cidade, na visão do reverendo local e da própria mulher. O drama maior é consigo mesmo. Embora seus estudos e pesquisas evidenciassem o contrário, segundo suas próprias palavras "não parece haver qualquer incompatibilidade entre a aceitação da teoria evolucionista e a crença em Deus". Darwin continua : "Evito colocar meu pensamento na Religião quando trato de Ciência." Quando as pesquisas avançam, afirma que está cada vez mais distante da crença em Deus. No fundo, o que mais teme é a oposição entre Razão e Fé. Sente-se profundamente inseguro das consequências advindas da publicação de "A Origem das Espécies". Podem resultar em resistência ao próprio autor, num âmbito social, religioso e no casamento.
Emma, uma mulher excessivamente austera e religiosa, não aceita o trabalho do marido, se este não envolver a palavra Fé. Ao mesmo tempo vemos o casal apaixonado, com quatro filhos, em cenas bucólicas e belíssimas. Mas, sentimos também a preferência do pai pela primogênita, Annie (Martha West). Quando a menina adoece e morre, Darwin entra em surto, fica doente, tem alucinações. Vê a filha a todo momento, fala com ela. Nenhum medicamento o salva. A medicina é atrasadíssima no século XIX.
Belo na biografia de Darwin é sua relação com Emmy. Quando o cientista, fora da realidade e tomado pelas alucinações argumenta com a mulher o quanto ama e sente falta da filha, pergunta se ela sente o mesmo. Emmy responde categoricamente: " Chega, nossa filha está morta, cuide de nós que estamos vivos!" A reação da mulher arranca o marido da confusão e do marasmo. As poções mágicas, as gotas, os banhos frios e os suadouros tornam-se desnecessários. A força e o amor de Emmy trazem Darwin de volta à vida. Hoje ele seria classificado como depressivo, tomaria antidepressivos...
Quando o gênio entrega à mulher os originais de " A Origem das Espécies" e pede uma opinião sobre sua publicação, ela constata que transformou-se em sua grande aliada, contra seus princípios religiosos. Com o aval de Emmy, Darwin sente-se seguro para publicar sua grande obra. Pasmem! O livro esgotou no primeiro dia. De causar inveja a qualquer grande escritor do século XXI, com todo o apoio da mídia.
Além de genial, Darwin é carinhoso. Observem quando ele conta para Annie a história da morte da macaquinha. Jenny praticamente falava - devia ser que nem o Rilquinho, meu cachorrinho - , esperta como ela só. Não aceita alimentos do treinador, como quem diz: "Não adianta mais". Coloca os bracinhos (?) em volta do pescoço do homem e morre. A sequência é montada em paralelo com a morte de Annie. Duas grandes perdas para Darwin, muito sofrimento, que teve de ser elaborado para que o grande gênio tivesse condições de ele próprio decidir e desenhar um novo fim para sua própria vida!


domingo, 21 de março de 2010

Lembranças (Remember Me)

"Lembranças" trás mais uma vez o jovem Robert Thomas Pattinson, o belo vampiro de Crepúsculo. Como sempre, Robert Pattinson continua lindo. O que faz desse moço uma criatura tão bonita? Parece um anjo de Fellini ou, um Apolo de História da Arte. Pergunto-me, se medirmos o seu rosto, ele terá a divina proporção estudada por Leonardo da Vinci? Acho que não. Observe, o nariz de Robert é muito pequeno, se comparado aos seus enormes olhos azuis acinzentados, ou à boca. Mas nada disso importa, Rob é lindo como muito bem o sabem as adolescentes e ponto final!
"Lembranças" é dirigido por Allen Coulter e conta uma história de perda, sofrimento e busca de uma nova vida. O centro da história é o jovem Tyler Roth (Robert Pattinson), um perfeito desajustado. Coulter desvela os problemas de uma família com pais separados e dois filhos: Tyler e Carolina. Williams seria o terceiro, mas aos 22 anos comete suicídio. Tyler não consegue superar a dor pela perda do irmão, nem proteger a irmã, a pequena Caroline. O pai ausente, é interpretado por Pierce Brosnan. Eu que nunca gostei de Pierce Brosnan, somente lembro-me dele engasgado com uma espinha de peixe em "Uma Babá quase Perfeita". A série de 007 perdeu muito quando ele era o detetive com licença para matar. Como pai antipático, ausente, e mergulhado nos negócios, neste filme ele está bem, não precisou se esforçar muito.
Tyler possui uma beleza quase feminina. Homens assim, em geral são mais bonitos que suas parceiras. Invariavelmente isso causa um certo desconforto. Apesar de Ally (Emile de Ravin) ser uma bela jovem, ele sempre chama mais a atenção.
Mete-se em brigas, vive com muita raiva. É espancado por um policial (Chris Cooper), de quem resolve vingar-se seduzindo-lhe a filha. O que o jovem não espera é apaixonar-se pela simpática Ally. Assim, Tyler é caracterizado como um James Dean, é lindo, fuma com o maior charme, usa um penteado à moda "Juventude Transviada". Você notou que os personagens fumantes são pessoas instáveis e problemátivas, no cinema?
Sua vida transcorre num processo de busca do pai e ao mesmo tempo, de contestação da autoridade paterna. Ele considera o pai - em sua falta de amor - o responsável pela morte do irmão. Pierce Brosnan (o pai) não cansa de repetir que ama os filhos, mas não faz quase nada para que acreditem, nisso. Quando a vida da pequena Caroline chega no limite ele acorda, um pouco tarde, mas acorda.
Agora, ó Deus dai-me paciência! Quando pensamos que tudo vai dar certo, subitamente Allen Coulter apela para o 11 de setembro! Ah não! até parece que não sabia que rumo dar a seu filme, só para poder dar seu recado: "Nossa vida sobre a face da terra é efêmera, mas devemos seguir os ensinamentos de Gandhi, o que quer que você faça na vida é insignificante, mas é importante que você o faça, porque só você o fará de uma forma única".


sábado, 20 de março de 2010

Um sonho possível (The blind Side)

"Um sonho possível" é um filme muito bom para se ver. Nem sentimos o tempo passar. E ver Sandra Bullock em sua melhor performance é uma delícia. O diretor é John Lee Hancock, que escreve o roteiro a partir da história publicada por Michael Lewis no livro " The blind side: Evolution of a Game".
Sandra Bullock é Leigh Anne Tuohy, uma republicana casada com Sean Tuohy (Tim McGraw), um rico proprietário de restaurantes, em Memphis. Graduou-se na Universidade de Mississipi nos anos oitenta. Entretanto o que interessa no filme não é apenas história de Michael Oher (Quinton Aaron), o big Michael, mas de sua mãe adotiva.
Como sempre falo, ser mãe adotiva é uma experiência única que vai muito além da compreensão das mães de barriga. Elas nunca entenderão esta outra capacidade de amar... Além do que as mães adotivas ainda precisam enfrentar o preconceito das línguas de trapo das amigas. Amigas? Leigh Anne sabia que suas "amigas" não eram amigas de verdade, assim como a Enedina e a Alice eram amigas da Alair (minha mãe). Lembro que ela sempre dizia que precisamos ter amigas. Mas, entre querer e ter vai um mundo infinito de diferença.
Voltando ao filme. Leigh Anne é uma mulher corajosa, que não tem medo de amar o diferente, o jovem abandonado por todos. É ela que abre o caminho para Michael ser aceito por todos, inclusive por sua própria família, Sean, o marido e filhos.
Se Leigh Anne é republicana, conservadora em sua opiniões políticas, também é flexível o bastante para aceitar uma professora democrata (Kathy Bates) para seu filho. Assim, o espectador é feliz ao ver se desenrolar essa história de um amor que dá certo.
Bonito também é ver o crescimento de Michael, um menino que não se comunicava, não parecia ter opiniões próprias, não se saía bem nos estudos, mas que tinha 98% de instinto de proteção. Muitas vezes é a nossa intuição, aquilo que não sabemos explicar muito bem, que se transforma em nossa própria salvação. O instinto de proteção faz Michael indentificar seus companheiros de jogo como a sua grande família, que precisa ser protegida.
E aí, quando essa idéia luminosa se instala em sua mente, por obra da genial mãe adotiva ninguém mais o segura. Transforma-se no Touro Ferdinando, das histórias que Leigh contava. Ganha todos os campeonatos. É disputado por todos os times de futebol americano.
O pequenino Sean Tuohy Junior (Jae Head) com seu tapinha de mão - como cumprimento- é uma das atrações do filme. Adoro quando ele fala aos empresários, que ele e o irmão são muito próximos, por isso precisa fazer todas aquelas exigências. Outra das melhores cenas é quando Sean Junior treina o grande Michael, que o transforma literalmente em peso quando faz os exercícios de bíceps!
Sandra Bullock está graciosa, magrinha e empertigada em seus vestidos justos. Escondendo seus verdadeiros sentimentos de mãe, escondendo suas verdadeiras emoções até que Michael percebe e pergunta ao pai: '' Por que ela sempre faz isso?". Vai lá e cobra aquele grande abraço de mãe, abraço entre mãe e filho. Uma emoção só! Vale a pena ver. O Oscar para Sandra Bullock foi merecido!


domingo, 14 de março de 2010

Educação ( An Education)

Carey Mulligan é a jovem inglesa que interpreta a estudante no filme "Educação". Com apenas 24 anos concorreu ao Oscar de Melhor Atriz, em 2010. A história é real. A verdadeira estudante é Lynn Barber, que conta sua vida em um livro de memórias. Lone Sherfig, uma dinamarquesa, é a diretora.
Lynn, que no filme se chama Jenny, nos anos 60 era uma pacata e estudiosa menina, que pretendia estudar em Oxford. A vida parecia lhe reservar um futuro promissor. E, de repente a garota aceita carona de um desconhecido. Mas como isso foi acontecer? As meninas não estão carecas de ouvir de suas mães que não se aceita caronas de desconhecidos? Bem, se isso não tivesse acontecido, a vida da verdadeira Lynn Barber teria sido diferente.
O filme transcorre em uma linha reta, sem grandes emoções. Não há como identificar-se com Jenny. De início sentimos que o princípe encantado está mais para sapo fedorento do que para príncipe. Além do que aquele homem mais velho tem um quê de repulsivo. Talvez o sorriso forçado e os dentes amarelados e escuros, não sei bem... Ele é David (Peter Sarsgaard), um bom ator que convence com as falsidades de seu personagem.
A garota envolve-se com David, um homem de vida excusa. Se ele propicia à jovem uma vida sofisticada, de jantares, viagens e idas ao teatro, não consegue esconder suas atividades ilícitas. Por mais ingênua que fosse, Jenny percebe que algo está errado. Porém, ignora, finge não ver. Da mesma forma, seus familiares ficam enfeitiçados com o partidão. Valores de família pequeno burguesa que deseja casar a filha para garantir-lhe status. Ao mesmo tempo os pais ficariam livres das despesas... Esse é o pensamento da família de Jenny. Todos, como cegos que não querem ver cometem seus erros.
As melhores cenas contam com a presença das professoras. Por mais caretas que pudessem parecer, estavam com a razão. Emma Thompson está impagável como a diretora da escola. Antes de tudo uma mulher precisa estudar, ter uma boa formação, ser capaz de sustentar-se sem depedender de marido rico e bem sucedido, muito menos de amante picareta, que esconde aliança de homem casado. Meu Deus quanta ingenuidade! Nem nós brasileiras, de famílias do interior, nos mesmos anos 60 éramos tão ingênuas!
Assista ao filme e me diga se você concorda comigo!

sábado, 13 de março de 2010

Ilha do Medo (Shutter Island)

" Ilha do Medo" é quarta parceria entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio; "Gangues de Nova York", "O Aviador" e "Os Infiltrados". A história é uma adaptação de um livro de Denis Lehane. Como sempre o resultado é excelente. Martin Scorsese faz um tratado sobre o medo, a violência e a maldade. Leonardo DiCaprio vive o personagem Teddy Daniels, um detetive que procura uma prisioneira fugitiva, internada em uma prisão psiquiátrica - para criminosos com problemas mentais. Scorsese conta a história do detetive, o " marshal ", de uma forma que permite muitas interpretações. Ao mesmo denuncia os métodos empregados pela psiquiatria- em seu próprio país, 1954- , desumanos, semelhantes aos do nazismo, na Alemanha ou dos russos em Gulag.
O personagem central é Teddy Daniels, um homem frágil, que entra em Shutter Island, acompanhado por seu companheiro Chuck. E aí? tudo o que nos parecer verdadeiro pode ser exatamente o contrário. Se Teddy busca Rachel Solando, a prisioneira que matou os três filhos, pode também estar tentando encontrar-se a si mesmo. Envolvido em uma situação kafkiana, Teddy perde a noção do auto conhecimento, quem sou eu? E responde tentado consolar-se: " Sou um detetive federal, eles não farão nada comigo, vou terminar esta investigação, pegarei a balsa e irei embora desta ilha".
O filme é opressivo e intenso, mistura suspense e algumas cenas de Hitchcock, como a ducha esguichando água, no banho. Lembram quando Janet Leigh toma banho em "Psicose", ou a escadaria infernal da Torre do Farol, como em "Um corpo que cai"?
Sabemos o tempo todo que quem dita as regras é o dr. Cawley (Ben Kingsley), auxiliado por seu amigo com ascendência nazista, o dr. Jeremiah, interpretado por Max Von Sydow. O personagem Aule Chuck, interpretado por Mark Ruffalo é interessante. Desde o início ele acompanha e apenas observa Teddy. Quando este se descontrola ele pergunta : "Boss, você está bem"? Chuck - ou o dr. Sheehan?- é a própria dissimulação. Ou tudo é fruto da mente doentia de Teddy?
Em seus momentos de lucidez, o detetive afirma que Ashcliffe, o centro psiquiátrico de detenção para prisioneiros criminosos insanos é uma das raras prisões associada à polícia do exército. O poder de repressão da psiquiatria se une ao do exército. Ali dentro até os detetives federais devem obedecer ao protocolo e entregar as armas. Ashcliffe recebe apoio financeiro de entidades anti americanas como a HUAC. Agências de Inteligência do mundo inteiro pedem conselho ao dr. Cawley ( Ben Kingsley). Médicos realizam experiências medonhas como seres humanos. Exatamente como faziam os nazistas. Aliás os doutores Cawley e Jeremiah se assemelham a estes. E tudo com a complacência do governo dos Estados Unidos da América!
Leonardo DiCaprio, ou Teddy Daniels ou Andrew Laeddis é a vítima. Ao que parece todos sabem o que se passa, menos ele. Quando inicia as investigações descobre o bilhete de Rachel Solando, que desvendaria a charada: " A lei dos quatro" e "Quem é o 67"? Teddy consegue descobrir que existem 66 pacientes, só não consegue ver que é o 67. A menos santa das prisioneiras que matou o marido a machadadas lhe diz: " Run", " Fuja". Impossível, até as letras da palavra são apagadas pela chuva como a prenunciar a tragédia. Nas cenas seguintes vemos Teddy separado do mundo pela tela de arame da Ilha, simbolizando a sua própria prisão.
Daniels encontra a lucidez e a explicação nas palavras da verdadeira Rachel Solando, que nunca teve filhos, portanto, nunca os matou! Verdade ou imaginação? A fugitiva lhe diz que quando recebemos a pecha de "loucos", tudo o que fizermos depois será como um depoimento contra nós mesmos, servirá somente para confirmar que somos loucos! Se tivermos o instinto de sobrevivência, a psiquiatria dirá que temos excelentes mecanismos de defesa. Os amigos não farão nada por nós, todos dirão que não aguentamos, que endoidamos!
Para o dr. Cawley, sua atividade é uma missão, o que faz é uma fusão moral entre ordem e cuidados clínicos, que incluem dopar pacientes, ministrar drogas camufladas - sem que os pacientes saibam - em cigarros, dar medicamentos que provocam pesadelos e tremores, e finalmente praticar a lobotomia orbital. O método que deixaria os pacientes dóceis, uma vez que quem comanda tudo é o cérebro. Comanda a dor, o sofrimento, a alegria e a tristeza. O paciente vira um zumbi. A idéia é recriar um homem sem sentimentos e sem lembranças. Sem memória, e sem passado. Tudo é válido para que o detetive jamais consiga denunciar os métodos nazistas que vigoram em Shutter Island.
Entre tantos problemas psicológicos Teddy sente-se culpado. Carrega toda a culpa do mundo. Sente-se culpado por não ter conseguido salvar os filhos. Em seus pesadelos as vítimas são sempre as mesmas, em diferentes situações. Sente-se culpado por não ter conseguido salvar o povo judeu da sanha do nazismo. Com certeza o detetive não é dono de sua vida, mas com certeza ele sabe que não podemos viver sem nossas lembranças mesmo que nos causem profunda dor, mesmo que nos diminuam e nos causem vergonha.
Ei a questão, é melhor viver como um monstro do que morrer como um homem bom? um zumbi? Estes questionametos também foram feitos por Stanley Kubrick em "Laranja Mecânica". Como Kubrick, Scorsese está atento ao mal e à violência que pode dominar a natureza humana. Que ambos sirvam de exemplo para todos nós!

domingo, 7 de março de 2010

Direito de Amar (A single man)

Colin Firth é candidato ao Oscar de Melhor Ator, hoje à noite, por sua interpretação em "A single Man", " Direito de Amar", de Tom Ford. O filme é de uma delicadeza extrema. Colin Firth é outra pessoa, interpreta o professor de inglês homossexual, George Falconer, que perdeu o companheiro. Tom Ford, o diretor é um estilista que trabalhou na Maison Gucci e na Saint Laurent. Faz um filme de atores, daí a presença de Colin Firth e Julianne Moore. Levou muitos anos para decidir-se pela história de Christopher Isherwood.
As primeiras cenas mostram o acidente de carro, na neve, onde morre o companheiro de George Falconer. Como num sonho, vestido de professor, com sapatos de sala de aula, George caminha na neve, ajoelha-se e aproxima sua cabeça, da cabeça do jovem morto. Ali, o beijo de despedida. Os dias restantes são insuportavelmente tristes, de um luto que não termina.
A mais bela das cenas mostra um George carinhoso e sensível. Seus dois cachorros estavam no carro, na hora do acidente, um morre, o outro desaparece. O professor afaga um cachorrinho, muito semelhante aos seus, com o doce consentimento da dona. A emoção sempre toca em cada um de nós, de forma muito particular. A mim o bichos sempre emocionam, muito, muito...
Colin Firth é mostrado em close, podemos analisar seu rosto, nariz, olhos, cabelo, boca , maneira de falar e não nos cansamos de fazer isso. Adoro olhar rostos de todo mundo, por isso não esqueço as pessoas. Fico achando o nariz parecido com o do fulano, os olhos de alguém que amo muito e daí por diante, vou buscando semelhanças que ninguém vê, só eu.
Poucos filmes mostram a emoção no rosto do ator como "A single Man". E eu que não gostava do Colin Firth, passei a amá-lo! "A single Man" mostra a melodia e a intensidade do olhar do professor para o mundo que o rodeia. O filme se desenvolve entre o cotidiano de George, tomado pela idéia mortífera de cometer suicídio, sozinho em uma enorme casa projetada por arquiteto. E nós, na platéia, dialogando com ele. O revólver muda de lugar a toda hora. Pensamos, não! ele não deve estar levando a sério essa besteira! Ensaia tantas vezes a própria morte, que não pode estar levando a sério! Por um momento o revólver chega a estar no colo de Kenny ( Nicholas Hoult) , o aluno sexy que assedia o professor.
Inutilmente torcemos para que o professor elabore sua perda e siga em frente. Em sua última, aula ele fala a seus alunos sobre o medo que paralisa. A América dos anos 60 tem seus medos e pavores, por isso reprime. George sabe que a violência é resultado do medo. Assim ele explica o pavor que os americanos sentem em relação a Cuba. Ou, o medo que a tradicional família americana tem do homossexualismo. Os familiares do companheiro morto negam a sua simples existência. Não querem ouvir falar do professor. Sua presença é indesejável na cerimônia de sepultamento. Para eles George não existe. E para George é impossível lidar com a perda e a rejeição.
Se o professor não existe para a família do morto, é desejado e desperta o interesse de outros. Se desiste da vida, a vida não desiste dele. De que adianta isso? Casualmente George tem um encontro com Carlos ( Jon Kortajarena) , o michê espanhol, que se sente atraído por ele. Ambos solitários tem uma conversa que não leva a lugar nenhum. Kenny, o aluno de história vai atrás do professor, descobre seu endereço...
Julianne Moore - em uma interpretação exagerada- é Charley, a mulher da vida de George. Se algum dia foram amantes, agora são amigos. Charley, relegada, custa a entender como a coisas funcionam... Não acorda do sonho, continua pensando ser a melhor opção para o professor. Tudo fica claro neste filme intimista e de muito sofrimento. A cada sequência do relacionamento do professor com as pessoas de sua vida, um ciclo irreversível se fecha, sem possibilidade de retorno, como uma despedida: com a bela menina - o próprio símbolo da vida e da beleza -, com Carlos, com Charley e finalmente com Kenny. A tela mostra duas portas escuras (correr), que se fecham separando o professor destas outras vidas.
O terrível banho de mar com Kenny, é a grande despedida, como uma apoteose os dois são quase engolidos pelas ondas do mar e assim como quem não quer nada, ela, a morte chega muito silenciosa... e George continua sonhando e revivendo o único amor de sua vida...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Zumbilândia

Se a platéia de "Simplesmente Complicado" era formada em sua maioria de senhoras na faixa dos 50-60 anos, a platéia de "Zumbilândia" era de "teens". Me diverti muito com tudo isso.

Óbvio fui assistir "Zumbilândia" para conferir a performance de Woody Harrelson, candidato ao Oscar por sua atuação em "O Mensageiro". Se o filme é comercial e trata de um mundo em decadência, tomado por zumbis repulsivos e contaminados, que comem seres humanos, paralelamente, trás mensagens saudáveis para os " teens".

"Zumbilândia", nas entrelinhas, quer nos dizer que neste mundo o importante é não perder a inocência. Não deixar sufocar a criança que vive em de cada um de nós. Para sobreviver você deve:

- Adquirir condicionamento físico. Melhorar o desempenho do seu coração. Ele é um músculo, sem o qual você não vive, eu que o diga.
- Não esquecer de colocar o cinto de segurança! Somente eu não sei o que fazer, quando o meu ônibus não tem cinto de segurança. É um absurdo a lei proteger um veículo, que por ser de 1997 (não era exigido cinto) pode circular sem cinto de segurança, colocando em risco a vida dos passageiros!

- Levar pouca bagagem, como canta Alfredo Zitarrosa "son mas largos los caminos p' el que va cargado demás".

- Atirar duas vezes para matar. Este não é exatamente um conselho saudável, mas um dia poderá ser necessário, que Deus nos livre.

- Nunca deixar de olhar para trás.

- Não bancar o herói, embora isso também algum dia poderá ser inevitável. Afinal toda regra tem exceção.

O filme é dirigido por Ruben Fleischer e estrelado por Harrelson e seus três pupilos, Jesse Eisenberg, Abigail Breslin ("Pequena Miss Sunshine") e Emma Stone, quatro seres desgarrados e solitários. O grupo descobre que os laços de amor e de pertencer a um grupo são sentimentos guardados, em cada um de nós, que podem ser despertados.
"Zumbilândia " é cheio de clichês, zumbis batem no vidro carro, que arranca em alta velocidade; produtos inúteis da sociedade de consumo são destruídos a porradas pelo grupo.

Se você é um "teen" confira, se você não é, por que não tenta se divertir?

terça-feira, 2 de março de 2010

Simplesmente Complicado

"Simplesmente Complicado" ( It´s complicated) nos mostra uma outra Meryl Streep. Ela é Jane, mulher divorciada, bem sucedida na vida, que decide desenvolver o seu lado feminino, mesmo após os sessenta. Justamente quando todos esperam que as mulheres se contentem em ser avós.

Jane não aceita estereótipos e vive um triângulo amoroso com o ex-marido e seu arquiteto. O filme é divertido, tem piadas ótimas e momentos de emoção. Alec Baldwin faz Jake, o ex-marido. Um cara meio bobo, que não sabe porque largou a mulher e agora tudo o que deseja é voltar para ela. Alec Baldwin está muito gordo. Observem, no início do filme, que não se consegue visualizar nem a cor dos seus olhos (azuis), sumidos na cara gorda. Mesmo assim, é charmoso e está em boa fase.

Steve Martin faz Adam, o arquiteto. Desta vez, ele não está em uma comédia pastelão. Tanto Steve quanto seu personagem são tão sem graça que só cumprem seu papel na história, não convencem ninguém. O rosto liso parece resultar de uma plástica, que acentou a falta de expressão e os olhos de chinês.

Assim, quem brilha é Meryl Streep, bem soltinha, despreocupada com as rugas, vivendo as trapalhadas com o ex e o arquiteto. O genro, interpretado por John Krasinski é a revelação do filme. Manja todas as tiradas dos pais de sua noiva.

Inseguros com o complicado namoro dos pais, os filhos nos reservam a emoção. A cena dos três dormindo juntos, como crianças abandonadas é emocionante. " Simplesmente complicado" é uma graça, não perca. Meryl encanta a todos!