quinta-feira, 31 de março de 2011

Em um mundo melhor (Haeven)

Suzane Bier dirige "Em um mundo melhor". O título insinua o mundo melhor que Suzane gostaria que existisse em seu país. O filme ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010. A produção é dinamarquesa e sueca. Anton, o personagem principal, é um médico sueco que se muda para a Dinamarca. Em alguns momentos ele é agredido e sofre preconceito por ser estrangeiro - embora esse não seja o tema principal do filme. "Em um mundo melhor" é um drama sem precedentes. Como se em um país como a Dinamarca, onde as pessoas aparentemente não têm grandes problemas financeiros, paradoxalmente, fossem muito infelizes. Dizem por aí que os jovens nos países nórdicos são propensos ao suicídio. Enfim nas noites intermináveis a depressão tomaria conta de todos? Por outro lado, os personagens sofrem muito, com dramas e situações em que pais, filhos e diretores de escola afundam em problemas, que talvez pudessem existir e ser resolvidos de forma mais amena.

Anton (Mikael Persbrandt) é um médico que trabalha na África. Seria dos Médicos sem Fronteiras. Suzane Bier filma por alguns minutos a vida do médico em um campo de refugiados. A dor e o sofrimento seriam imensos se comparados ao drama de sua própria família que vive sem sua presença na Dinamarca? O espectador que tire suas conclusões.


Anton é casado com Marianne (Trine Durhlom). O casal tem dois filhos Elias (Markus Rygard) e Morten (Toke Lars Bjarke). Elias tem sérios problemas na escola. Sofre bullying. Um bando o chama de dente de rato. Agridem e debocham do garoto. Na sala de aula chega Christian que emigrou com o pai para a Dinamarca. O professor manda os dois sentarem juntos. Imediatamente a camaradagem se instala entre ambos. Parece que bullying na escola é um problema mundial. Parece também que nessa escola especificamente, os professores não encaram o problema com a seriedade devida. Transferem a culpa para os pais de Elias, que teriam problemas conjugais e estariam se divorciando. Anton não é um pai presente, daí o problema todo.

O menino Christian é duro. O rosto é uma pedra apesar dos traços doces. Christian culpa o pai por seus problemas. Está de luto profundo. Não aceita a morte da mãe e culpa Claus (Ulrich Thonsen), que não teria feito tudo o que podia para ela viver. Christian tenta imputar ao pai um sentimento de culpa que de fato não deveria existir. Afirma que o pai não fez o que poderia ter feito, que desejava a morte da mãe. Fragilizado, Claus assume a maior culpa do mundo. De fato, quando sua mulher estava no estágio final da doença ele desejou sua morte. Para que o pesadelo terminasse e ela parasse de sofrer. Até aí o espectador entende. Quem precisava ser muito sacudido é Christian que leva todos de roldão em sua neurose.


No início, quando o amigo sofre nas mãos do brutamontes, Christian reage e dá porradas no agressor, com uma bomba de bicicleta. Elias é frágil, usa aparelho ortodôntico e possui dois dentões na frente. Daí o apelido de "Rato". Bem que o grandalhão mereceu as porradas!


Christian afirma que o loiro mereceu a agressão e que essa era a única forma de ser respeitado. A diretora coloca o problema de tal forma que parece que concorda com Christian. Depois da surra, o personagem do loiro agressor desaparece, como se aceitasse o merecido castigo e desistisse de revidar.


Suzane concentra-se no personagem do pai, em sua ambiguidade. Se continua amando a mulher, Marianne, paralelamente não desiste de suas aventuras na África, onde cumpre a missão de salvar os pobres "desposseídos". Anton é um homem civilizado, posiciona-se contra a violência. Tenta ensinar a Elias e Christian sobre as vantages da civilidade, sobre a necessidade de não agredir o outro. Um azarão faz com que leve uns socos gratuítos de um mecânico que encontra em uma praça, onde as crianças brigam e se desentendem. O filho e o amigo querem que revide. Anton explica, mas não convence, sobre o porquê devemos ser civilizados e não fazer justiça com as próprias mãos.

Anton parece um fraco perante o filho. De fato nem ele tem consciências da própria força. Todos tem seu limite. E Anton chega ao seu, quando, na África, é provocado por um paciente considerado um criminoso, um agressor e um matador de mulheres grávidas. Nesse momento, abandona seus pruridos de civilidade e não agressividade, quando arrasta o porco criminoso e permite que a turba sedenta de vingança o desencarne. Parece ao espectador que saltam pedaços do bandido para todo lado. As mulheres estão vingandas. Agradecemos.


Esgotado, mal sabe Anton do drama do filho, quando Christian, inconsequentemente, propõe a Elias um ato de vandalismo, que pode ter consquências gravíssimas ...


Em mais uma sequência a diretora mostra que os agressores levam a pior, que no fundo mereceram seu infortúnio. O loiro leva porradas com a bomba de bicicleta. O criminoso matador de mulheres encontra uma morte trágica e o mecânico que agrediu Anton tem seu carro destruído. Os três somem da história como se tivessem merecido suas desgraças.


Tudo o que a Suzane discute é justamente o que fazer, como devemos educar os filhos para evitarmos que o mal aconteça! Não acredita nos benefícios da tecnologia. Coloca a internet sob desconfiança. Quer um mundo melhor para seus filhos. Como fazer isso num país como a Dinamarca?


E Anton, o belíssimo ator Mikael Persbrandt um europeu branco e muito bronzeado pelo sol africano volta aos seus amores. Não desiste de salvar a humanidade, mas quer de volta sua mulher e filhos.

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