domingo, 31 de agosto de 2014

A oeste do fim do mundo

"A oeste do fim do mundo",  o filme de Paulo Nascimento, tem muito a ver comigo. Como se eu tivesse vivido antes… Quem sabe memórias de infância, de um lugar parado no tempo, onde não acontece absolutamente nada. Passei por Uspallata para ir ao Chile, nada a ver, era diferente, o lugar mais frio que conheci. 
Quando inicia, parece o faroeste de Sérgio Leone, "Era uma vez no oeste". Os westerns irritavam e encantavam, pela música, pelo silêncio e pelos sons. Procurei ouvir o barulho do bater de asas da mais irritante das moscas, não tive certeza se ouvi. 
"A oeste do fim do mundo" é assim, prende o espectador, não pela palavra, mas pela imagem e pelos sons,  incomodam, são repetitivos, marcam a passagem do tempo do abandono. 
Com certeza o objetivo do diretor é mostrar a tensão e a solidão do lugar, através do ruído.Criança chorando - na vida e no cinema - é a mesma coisa, quem não fica tenso ouvindo todo o dia - no rádio ou na TV -  o choro do menino Bernardo, assassinado pelo pai e pela madastra? Ou o choro da criança em "Os Intocáveis"?
Você já pensou em algo mais irritante que o som de um telefone a romper um silêncio absoluto? Ou uma janela mal fechada que bate ao ritmo do vento?
A história mostra dois personagens derrotados que fogem de si mesmos, buscando refúgio no meio do nada, montanhas geladas, céu límpido e azul e uma estrada poeirenta. Não havia nenhum bicho no filme, nenhum gato ou cachorro para acompanhar o solitário Leon, veterano das Malvinas. 
Paulo Nascimento marca o tempo estendido, com Leon, comendo, colocando gasolina nos carros que param para abastecer, ou ainda atendendo o telefone sem falar...
Sabe-se que existe algum grande drama na vida do personagem, fala  pouco e nega-se a conversar com o filho no telefone. Atende, ouve a voz do menino e desliga.
A atriz brasileira  - faz o papel de uma brasileira, óbvio - é uma graça. Chama-se Ana, e também está com o pé na estrada em busca de si mesma. Intencional ou não, existe  uma citação a Jack Kerouac ou Easy Rider. A presença da moto, a ser consertada, diariamente, cada dia um pouquinho, poderia significar todo o tempo que o personagem necessita, para recuperar-se e voltar a relacionar-se com o filho, com a mãe e ser capaz de assumir um relacionamento com Ana.
"A oeste do fim do mundo" é emocionante, toca fundo no espectador. Não perca, acompanhe o processo de transformação e superação dos personagens. E concorde comigo, Ana é belíssima, até quando corta o cabelo de qualquer jeito.
Acho que vi sim um lugar tão solitário quanto esse quando era muito criança...


domingo, 10 de agosto de 2014

O Mercado de Notícias

Sendo  filme de Jorge Furtado, todo brasileiro ou estrangeiro deveria conferir. Depois de assistir à Ilha das Flores, O Homem que Copiava, Saneamento Básico e Meu Tio Matou um Cara, o espectador sabe que se trata de um diretor absolutamente genial. Desta vez, o tema é o jornalismo. Talvez interesse mais aos jornalistas, porém não custa nada aprender um pouco com o diretor.
Fui ao cinema às 14,00 h. Sala vazia, mas como? De repente, entra o pai do Thiago Prade, o jovem ator do filme, o crespo. Fiquei sabendo porque ele falava muito alto! Na saída, lhe dei os parabéns, me emocionei imaginando que entre os presentes que os pais receberam no dia de hoje, poucos foram tão bonitos quanto o de Thiago para seu pai.
O documentário alterna depoimentos de "estrelas" do jornalismo e a apresentação de uma peça de teatro "The Staple of news", de 1625. Ben Jonson , o autor é perspicaz ao mostrar como as notícias são criadas e manipuladas. Foi um dos autores mais cultos dos seiscentos, na Inglaterra. Enfim, a peça de teatro poderia ter sido criada quem sabe em 2014? porque não? 
Treze jornalistas participam do filme, todos conhecidos na mídia. Entre eles, Luis Nassyf, Mino Carta, José Roberto Toledo, Jânio de Freitas, Paulo Moreira Leite, Renata Lo Prete, Geneton Moraes Neto, Cristiana Lôbo, Bob Fernandes e outros.
O rosto de Mino Carta é de uma pessoa extremamente simpática, cativante. Faz-me lembrar alguém que conheci... uma fisionomia familiar. Mas como? Deve ser a famosa ilusão do já visto da minha professora de filosofia Dulce da Fonte Abreu, no Colégio Nossa Senhora do Horto, em Dom Pedrito. 
Entre tantos depoimentos, os jornalistas frisam: exercer o jornalismo não exclui uma  expectativa política e interesses econômicos. Não existe o jornalista neutro e é ingenuidade pensar que jornais seriam vendidos devido à honestidade e capacidade destes profissionais. Eles são menores frente à publicidade.  Quem vende - dizem os entrevistados - é a publicidade. É mais ou menos o que acontece no ensino privado, os alunos são clientes.
E os jornalistas reforçam: todo mundo mente! Cada jornalista deve saber que suas "fontes" não devem se transformar em pessoas amigas. Não são seus amigos!
Quando Cristiana Lôbo fez o seu depoimento, fiquei surpresa. Com certeza, tão perto do poder, deve ter uma relação muito delicada com suas fontes. Lembrei o que aconteceu com a jornalista Miriam Leitão, que teve seu perfil, na Wikipédia, alterado por um computador do Palácio do Planalto.  Imagine que tema polêmico para figurar no filme de Furtado!
O mais divertido foram os episódios da bolinha de papel na testa do candidato Serra, que se transformou em "atentado" e o quadro de "Picasso", que passou a valorizar a sede do INSS. Acredite, pagaram pela famosa obra de Picasso que está no museu Guggenheim! 
O ruim quando tem pouca gente no cinema é que na hora de rir, os outros não riem! Não aguentei, ri muito da falta de cultura dos coitados jornalistas que acreditaram ser um verdadeiro Picasso! Por  uma destas é que penso, para ser jornalista é preciso ter muita, muita cultura geral ou pelo menos procurar se informar quando não sabe, como sugeriu o jornalista do documentário. 
Não perca, descanse antes de assistir este filme. Você necessitará de toda atenção!