quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Star Wars

Assistir a Star Wars, episódio VII é como visitar um  passado  que está se reinventando. Esqueci muita  coisa,  e me  surpreendo ao ver que o  tempo passou para Hans Solo e  a princesa Leia. Tento lembrar-me de minha  vida nessa época, esqueci, não lembro nada… Mesmo assim, ao que parece os cinquentões e sessentões de hoje são os que mais amam a série de George Lucas.
O novo diretor J. J. Abrams se permite algumas mudanças, mas o essencial está ali. A luta do Bem contra o Mal, o eterno embate entre jedis e os que optaram pelo lado sombrio da Força. Adoro esta parte, e sempre me inquieto e surpreendo com os que, como Darth Vader  e Kylo Ren ( Adam Driver),  escolheram a escuridão do Mal.
Desta vez a estrela é a catadora de lixo, Rey (Daisy Ridley),  interessa muito mais saber que são seus pais, do que se preocupar com a identidade de Kylo, o herdeiro da Darth Vader. Hans Solo e Leia  comentam sobre a ambiguidade do filho, que teria nascido ao lado das forças do Bem, por isso  não desistem de tentar reconquistá-lo…
A série reproduz momentos da história da humanidade, a cena que mostra o grande exército da Primeira Ordem, pronto para a guerra, é a mesma que vimos no documentário Nazista sobre o Terceiro Reich, em Nuremberg, dirigido por Leni Riefenstahl.
A primeira Ordem tem em  Snoke (Andy Serkins), o líder supremo, que insiste em completar o treinamento de seu pupilo Kylo. Porém quando este último enfrenta Rey, surprende-se com a grandiosidade da Força não treinada da jovem, mesmo assim, capaz de combater o Mal. Aguardem os próximos episódios, com certeza Rey será a grande atração!
Kylo, comparado a Darth Vader, é frágil, franzino, desengonçado. Sua voz não assusta nem criança… Talvez o dIretor tenha escolhido o ator Adam Driver para mostrar seu lado ambíguo e indeciso. O jovem com uma veste negra e cabelos cor de ébano parece  mais conquistador espanhol , daqueles que dizimaram as culturas indígenas das Américas.
Kylo sofre, não consegue decidir-se inteiramente pelo Mal, surpreende quando, finalmente toma a decisão fatal e mata o pai! Credo, que horror para os espectadores que se perguntam, mas Star War sobrevive sem Hans Solo? Sabemos que para crescer e tornar-se adulto, qualquer filho, na face da terra, psicologicamente, mata o pai, pois J. J. Abrams levou esta máxima ao pé da letra!
Não deixe de assistir a Star War, preste atenção à beleza das naves, quem sabe anunciando um futuro próximo e se delicie com os robôs R2-D2, C-3PO e o novo BB-8, são eles os detentores do segredo do episódio! 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O Clã

Pablo Trapero é  genial em O Clã. Nos últimos tempos, poucos filmes causaram-me tanta emoção! Ao que parece, os argentinos estão anos-luz à nossa frente, pelo menos no que se refere ao cinema e à capacidade para denunciar  a corrupção e o desmoronamento da intituição família…
A história é real e fala sobre o Clã dos Pucci.  Arquímedes (Guillermo Francella), o pai,  é um verdadeiro produto da ditadura militar, na Argentina. Veja-se as referências a Comodoro, que dava-lhe todo o apoio. Na falta do que fazer, com a evolução da sociedade argentina em direção à democracia, Arquímedes, especialista em aprisionar e matar, durante a ditadura militar,  sequestra pessoas ricas, exigindo resgate. Nunca devolve a vítima  às famílias, um tiro certeiro termina com tudo.
O mais chocante é que as pessoas  ficam presas em sua própria casa. A mulher e os filhos fingem que não sabem o que  se passa.  Nos telefonemas aos parentes, fala em nome de uma suposta organização guerrilheira.
Impressiona  a calma e frieza com que o suposto bom pai de família  envolve os filhos em seus planos diabólicos. A mãe ao que parece, venera o marido, solidariza-se com ele, em uma atitude de submissão, tipicamente machista. Muitas mulheres adotam esse comportamento sem ter a menor consciência de quem, ou do que  são. Além de alienada, a mãe  é uma criminosa,  tão podre quanto o vilão.
Em todas as cenas, Arquímedes não perde a fleugma. Domina o filho ( Lanzana) , suposto herói de um time, Os Puma. No final, quando quer que este  o agrida para parecer que apanhou na prisão, humilha-o  a tal ponto, que fora de si, Lanzana bate para valer, a tal  ponto que o pai pede clemência! Pablo Trapero é soberbo quando mostra a decadência da família, alternando cenas de sexo selvagem - do filho, dentro de um automóvel - com a sequência de sequestro! E a música! Deus é absolutamente perfeita para as cenas de violência! E Arquímedes trai a todos, muitos dos sequestrados o conhecem e acolhem na pura ingenuidade… Em casa, no doce recanto do lar ensina a filha a fazer os deveres da escola.
Você consegue imaginar se um diretor brasileiro fizesse um filme sobre a vida e a personalidade do presidente da Câmara dos Deputados? Pense bem, até as famílias, os dois clãs, tem suas afinidades…, pelo menos no que se refere ao silêncio da mulher e filhos. Não sei se resolveria alguma coisa, mesmo assim, seria interessante. 
Para dominar Lanzano, o pai lhe oferece dinheiro, se havia qualquer resquício de dignidade ou  honestidade, tudo cai por terra, o filho se vende ao pai. Enfim, o que mobiliza e choca a todos é esta história de destruição da família.  No final, tal qual  Judas, Lanzana desespera-se e tenta o suicídio.
Quando os créditos revelam o final desta história dramática, sinto-me profundamente abalada e dominada pelo  mais triste e doloroso dos sentimentos - dor e pena do filho. Na tentativa de acabar com tudo,  ele simplesmente sobrevive... 
Surpreendendo a todos, o pai , condenado à prisão perpétua ainda - quem sabe? - realiza seu último sonho, formar-se em Direito!
Não é uma verdadeira loucura e insanidade esta história de argentinos?
Corra, vá ao cinema , assista ao Clã de Pablo Trapero!