quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Concerto ( Le Concert)

Radu Mihaileanu dirige "O concerto", um dos melhores filmes de 2010. Mihaileanu é um cineasta judeu romeno radicado na França. O filme é baseado em texto de Héctor Cabello Reyes & Thierry Degrandi. Se a história é emocionante, a forma de contá-la é inteligente e bem humorada. O filme se passa na Rússia pós Brejnev. O diretor caracteriza os russos impiedosamente. É preciso dar um empurrão para se mexerem, são uma "mulas" segundo Olivier Duplessis, o diretor do Teatro Châtelet. Radu Mihaileanu diverte-se com o saudosismo dos senhores idosos e ultrapassados, pertencentes ao Partido Comunista. Na França, o Partido está tão decadente que precisará vender o belíssimo prédio projetado por Niemeyer.

Esses detalhes, porém, fazem parte da conjuntura do filme, pois o acontecimento central deu-se em 12 de junho de 1980, no dia do concerto do maestro Andrei Filipov. A solista era a grande violinista Léa Strum. No meio do espetáculo, Ivan Gravilov quebrou as batutas de Filipov e proibiu-o de exercer a profissão de maestro. No regime de Brejnev, o maestro foi reduzido à condição de faxineiro do teatro e os judeus foram perseguidos. Mas Filipov jamais abandonará sua grande paixão, a música. Intercepta um convite dirigido à Orquestra do Teatro Bolshoi para apresentar-se em Paris. Decide reorganizar a sua, em substituição à oficial. Afinal sua orquestra era muito melhor que a do Bolshoi!

Os preparativos para a partida incluem piadas em série sobre as dificuldades e desorganização dos russos. A falta de experiência para gerenciar o empreendimento faz com que Filipov tenha que se valer do mesmo homem que o humilhara em sua última apresentação, Ivan Gravilov. O encargo é aceito de imediato, mas ele leva na bagagem uma enorme bandeira do Partido Comunista...

Valeriy Barinov, que interpreta Gravilov está muito bom. Seu francês tem um sotaque russo carregado. Por isso mesmo é divertidíssima sua conversa ao telefone com o diretor do Châtelet. A Aliança Francesa deveria usar o filme sem legendas para fazer os testes de final de unidade. Seria mais fácil entender Gravilov, do que a gravação com aquela voz falando muito rápido. A platéia divertiu-se muito com os gags nos preparativos para a viagem. Entre outros tiveram que caminhar 7 km à pé, com bagagem para chegar ao aeroporto! Os franceses por sua vez, improvisaram um novo letreiro na entrada do restaurante Le Trou Normand - uma das exigências da troupe -, o verdadeiro deixara de existir há muito tempo!

O drama central está centrado na identidade da solista, Anne-Marie Jacquet, convidada por Filipov. Mélanie Laurent, a Shosanna de "Bastardos Inglórios", interpreta Anne-Marie. Filipov era fixado em Léa, a antiga solista que fora deportada para a Sibéria, em razão dos acontecimentos de 1980.

Irresponsavelmente os membros da orquestra se perdem em Paris, a cidade das luzes. Fazem de tudo menos comparecer ao ensaio. Sobram quatro para realizar o concerto. E Filipov não deixa por menos, apresentarão o Concerto de Tchaykovsky... Radu Mihaileanu pode ter se inspirado em Fellini que, em "Ensaio de Orquestra", mostra os músicos como pessoas egoístas e cheias de defeitos. Porém, quando pegam seus instrumentos, e começam a tocar, tornam-se divinas, parece que têm parte com Deus. Em "Concerto" acontece o mesmo, finalmente Filipov consegue mostrar seu brilho e talento. A música supera todas as mediocridades, eleva-se em plano superior realizando o desejo do maestro de voar até a harmonia suprema!

A sequência final é extremamente emocionante e agora o silêncio da platéia é sepulcral. Não há como conter as lágrimas... Se leigos se comportam assim, imagine o maestro Frederico Gerling. Com certeza teria se emocionado muito... E eu, com tristeza soube de sua morte neste momento...

Léa cujo grande desejo é conhecer o olhar de seus pais, poderá finalmente saber sua própria origem e identidade. Mélanie Laurent é uma atriz fora de série, parece que enxergamos sua aura. Passa uma espiritualidade e uma autenticidade tão grande a seus personagens que você precisa saber, se for um filme com Mélanie Laurent, corra e vá ao cinema, não importa o filme. Mas se for "Le Concert" serão muitas as razões para assistí-lo. Feliz Ano Novo!


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

72 Horas (The Next Three Days)

Russel Crowe passa a sensação de credibilidade. Os diretores quase sempre reservam o papel de herói ao ator, mesmo que tenha de enfrentar causas perdidas. Carismático e fortão com doces olhos azuis, assim é o John Brennan de "72 Horas". Por isso tudo, a platéia não acredita que as coisas possam dar errado para os personagens de Russel Crowe. Apesar dessas sensações a vida do casal Brennan se transforma em verdadeiro inferno.

O professor John Brennan (Russel Crowe), sua mulher Laura (Elizabeth Banks) e o filho de 6 anos George ( Brian Dennehy) levam uma vida pacata, em Pittsburgh. Alguém bate à porta, o casal cuida dos afazeres da casa, da educação do filho e faz a foto diária da família, planejada para acontecer nos próximos 10 anos, até George completar 18 anos. Um bando de policiais entra na casa, com truculência, sem grandes explicações prende Lara acusando-a de assassinato.
Paul Haggis, o diretor, faz um triller movimentado, com muita ação e suspense. O drama se desenvolve em Pittsburgh, uma cidade moderna e high tech. O cenário é o de uma arquitetura contemporânea, destacando-se também o pós-modernismo de Michael Graves no "sky line".

Laura é acusada de assassinar sua chefe, com quem havia discutido. Todas as evidências a condenam. Estava na cena do crime, suas digitais estão na arma do crime e sua roupa está manchada com sangue da vítima. Brennan não precisa perguntar a ninguém para saber que sua mulher não é uma criminosa. Assim como as 72 horas de UTI em que os pacientes correm risco de vida, ele tem seu tempo reduzido a 72 horas para salvar sua família.

Paul Haggis mostra o papel do acaso. Por mais que um homem tente e consiga modificar a realidade, com vontade inabalável e crença em vencer o impossível, a vida de cada um é definida por momentos, principalmente os inesperados, regidos pelo acaso. A força interior de Brennan faz com que ele jure a sua mulher que a vida dos dois não continuará assim, ele cuidando do filho enquanto ela permanece presa, acusada injustamente. Ele não parece pertencer a este mundo, quando opta por viver do outro lado, como um fugitivo, capaz de quebrar todas as regras de cidadania.

Mas o diretor mostra também, a incompetência da policia, encarregada de reunir as provas que condenariam ou inocentariam Laura. Como portadores de "déficit de atenção", os policiais não conseguem enxergar o que está a sua frente.

Assim, Brennan deve atentar aos conselhos de Damon, o homem que conseguiu fugir sete vezes ( Liam Neeson) da prisão. Brennan terá que ser capaz até de matar, ou derrubar velhinhas em sua rota de fuga. Enfrentar os mais perigosos momentos. Se não for capaz de ir até o fim, o melhor será desistir antes, nem sequer tentar...


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Aparecida- O Milagre

Em 2010 que eu lembre são três os filmes religiosos. O primeiro, nem tanto, era sobre a vida de Chico Xavier, os outros dois sim efetivamente ressaltam a fé religiosa. Paulo Thiago, o produtor afirma que "Aparecida" não tem nada a ver com a onda de religiosidade que toma conta do país. Mas sempre foi assim, não é mesmo? O Brasil é um país religioso. Enfim, tudo faz parte de um grande negócio. Filmes religiosos eu só assistia em minha infância, no cinema dos padres ou no colégio das freiras. Lembro de "Marcelino , pão e vinho" e de outro, belíssimo, sobre a vida de Santa Maria Goretti. Era italiano, dirigido por Augusto Genina, de 1949, em preto e branco. Em meio a um cenário dramático e escuro, Maria Goretti prefere a morte à entregar-se a seu algoz. À distância, adulta, constato que o problema era a violência e a pedofilia. O mesmo que se abate ainda hoje sobre o Brasil.

"Aparecida" é dirigido por Tizuka Yamazaki. Só o nome da diretora recomenda a obra, por isso fui ao cinema. Trata-se da história de um pai, descrente e mal humorado que mais prejudica seu filho que o ajuda. Interpretado por Murilo Rosa, Marcos, o pai , é caracterizado como um personagem dos anos 40. Murilo Rosa é magro, veste-se como um homem conservador e usa um corte de cabelo e bigode parecido com as fotos de meu avô. O que falta ao ator é a intensidade no olhar. Como o cinema é a melodia do olhar, falta-lhe muita coisa. Seu grande problema é possuir olhos fundos e inexpressivos. Vejam só, é considerado um galã! sic!

Maria Fernanda Cândido é a amiga e protetora do pai descrente. O casal permanece em cima do muro. Tizuka destaca a angústia do personagem, por isso ele não consegue desenvolver um relacionamente amoroso. Na infância Marcos revoltara-se contra Nossa Senhora Aparecida, considerando-a culpada da morte trágica de seu pai.

Bete Mendes é Julia, mãe de Marcos. A ex-mulher, interpretada por Leona Cavalli é uma pianista de sucesso. Conseguiu consolidar a carreira artística após separar-se do marido. O personagem que reúne todos os predicados é o filho Lucas (Jonatas Faro), um jovem lindo e bem comportado, que não é compreendido pelo pai.

Quando o inevitável acontece, Marcos tem a oportunidade de dar a grande virada em sua vida. É o momento de humanização do personagem. Precisa vencer problemas que só podem ser superados através da fé. "Aparecida" procura mostrar que a fé remove montanhas. Concordo, é preciso ter fé, não importa se em Nossa Senhora Aparecida, em outros santos, ou ou... Quando esse filme sair em DVD vou comprá-lo para minhas amigas Enedina e Alice. Elas vão adorar.

Detalhe interessante, a casa onde morava Marcos e seu filho foi projetada por arquiteto. É uma casa modernista dos anos 60. O cenário por si vale o filme. Observem o espaço unificado no interior da residência, a escadaria inserida em um cilíndro espelhado com influências de Le Corbusier. E a relação entre interior, exterior. Belíssima. Infelizmente não consegui reconhecer a autoria do projeto.


domingo, 19 de dezembro de 2010

Para Eder

Eder, tudo bem?

Bom te rever em meu blog. Frost/Nixon é um filme muito bom. Já assisti, vou revê-lo. Valeu a dica. Um grande abraço e Feliz Natal e Ano Novo, que todos os teus desejos se realizem.
Doris Maria

Tetro

"Tetro", o novo filme de Francis Ford Coppola com certeza não merece os dois pontinhos que ganhou na cotação de Zero Hora. É muito mais que isso. "Tetro" é diferente de tudo que vi até hoje. O diretor ama Buenos Aires, La Boca e Palermo. Certíssimo, Buenos Aires é uma cidade envolvente, misteriosa e encantadora. Minha filha me disse que os idosos são bem tratados em Buenos Aires, melhor que no Brasil. Nossos irmãos argentinos são diferentes de nós. Coppola sabe disso, conhece o charme da cidade e a tradição literária dos argentinos.

Mas, "Tetro" possui apenas uma fraqueza, não é falado em espanhol, apenas algumas palavras. E o diretor não fez a menor menção ao tango, alma dos argentinos. Sei, talvez não quisesse cair no lugar comum. Mas ele, Coppola nunca cairia no lugar comum citando o tango.

"Tetro" é um filme denso e pesado. Trata-se da história trágica da família de Bennie (Alden Ehrenreich), o jovem de 18 anos, que chega a Buenos Aires em traje de marinheiro, como garçon de um navio. Vem em busca do irmão Ângelo.

Desde o início vemos uma Buenos Aires em preto e branco, verdadeira obra de arte. Os grandes diretores de cinema sabem o valor das nuances de luz e sombra no branco e preto. As cenas externas com iluminação focada em determinados pontos mostram o encanto da noite, os bares do bairro La Boca, uma descoberta da cidade, muito distante da visão produzida para turistas.
Bennie é um encanto, o próprio Coppola afirma que o garoto lembra Leonardo Di Caprio quando era menino (assisti à entrevista do diretor no programa do Jô). Verdade, o sorriso e a pureza do ator são irresistíveis. O irmão é o oposto. Não há como simpatizar com Ângelo (Vincent Gallo), por mais sofrido e trágico que seja o destino de seu personagem. Lembro de Vincent Gallo em "A Casa dos Espíritos", onde interpretava Esteban Garcia. O personagem marcou o ator, que por transferência passou a ser odiado (por mim, pelo menos), um Esteban representante da ditadura chilena.

Ângelo não quer mais ser Ângelo. Ao lado de Miranda (Maribel Verdú) tem uma nova vida e agora chama-se "Tetro". Mas os problemas não foram resolvidos, mudar de nome é simples formalidade, o que precisamos mudar é nosso interior. E Ângelo, ou "Tetro" continua o mesmo, amargurado, ressentido e cheio de ódio.

Bennie vem com doçura, em busca da história de vida, que lhe foi negada. Pouco sabe da mãe, do pai e da família. "Tetro" continua a negar-lhe amor e informações. Chama o companheiro de trabalho de irmão, enquanto nega esta simples referência a Bennie. As brigas e desavenças dentro de casa são marcadas pelas batidas das portas do antigo solar argentino. A porta pesada possui um enorme trinco que faz um estrondo quando fecha, separando o tempo de cada briga.
Aos poucos, secretamente, Bennie pesquisa o interior do irmão. Descobre seu talento e seus fracassos. Não entende, se "Tetro" é um artista, porque sente-se um fracassado por antecipação? Firme em seus propósitos, usa técnicas para ler a obra codificada do irmão. Os talentos de "Tetro" saltam aos olhos, como obras de arte, em criações escondidas de todos, como segredos de estado. O autor nega-se a publicá-las. Descobre também, que "Tetro" ao falar de seus personagens, está falando de si mesmo, e ele, Bennie, faz parte dessa história.

Tenta ajudar o irmão a superar seus traumas, publicando sua obra no Festival da Patagônia, onde a famosa Alone (Carmen Maura) é a figura mais importante. Como sempre a atriz está ótima, de óculos escuros à noite, com toda a sua cafonice, captada com muita sutileza pelo diretor.

"Tetro" mostra o grande drama do personagem -"Tetro"- cuja vida foi roubada pelo próprio pai, um famoso maestro, que esbanjava dinheiro sem nunca ajudar o filho. Para ajudar um filho não basta encher seus bolsos de dinheiro. Assim, o filme evidencia as grandes crises de identidade dos personagens, suas fraquezas e egoísmos. Nesse emaranhado de emoções circula Bennie. Tenta salvar o irmão pela arte, sem saber que ele próprio é a grande vítima do destino.
Maribel Verdú é Miranda, a terapeuta que apaixona-se pelo paciente. A atriz é convincente e adota Bennie como um filho em seu coração. Maribel foi indicada ao Prêmio Goya de Melhor Atriz. Preocupa-se quando o garoto inocente é obrigado a passar a noite em um hotel com duas mulheres experientes! no mesmo quarto! Quando bate à porta no dia seguinte, o garoto é um sorriso só, todo ensaboado!!! Única sequência leve no filme, duro, denso e pesado, mas uma verdadeira obra de arte.


sábado, 18 de dezembro de 2010

Oceans

"Oceans", o filme de Jacques Perrin e Jacques Cluzaud está novamente em cartaz no Artplex. Lembram do Festival do Cinema Francês em junho de 2010? Escrevi sobre esse filme. Assim, sugiro que você pesquise a palavra "Oceans" neste blog. "Oceans" é belíssimo. A gente se pergunta o que é a sensação de beleza pura? Bem, "Oceans" é a própria beleza e nos transmite essa sensação. Paradoxal, a cena que é a própria celebração da vida e da natureza é um momento de luta pela sobrevivência. Observem os animais reunidos no mar, todos juntos, nadando ou voando. Estão em busca do alimento.

Outra cena belíssima se destaca. Vemos Jacques Perrin com uma criança pela mão, caminhando em um museu oceanográfico. Todos os animais empalhados. A voz do narrador - acho que é Jacques Perrin - diz que em poucas décadas, milhares de anos de evolução foram destruídos. Centenas de espécies foram extintas. O narrador nos fala que ainda é possível a parceria entre os homens e os animais. Quando derreter o gelo dos pólos e estes se trasformarem em mares navegáveis, destinados ao comércio, não serão os animais que irão falar mais alto e pedir socorro. É preciso que os homens se conscientizem e tomem uma atidude. Ainda há tempo de salvar a terra!

E prestem atenção ao crime bárbaro, em que as barbatanas e o rabo do peixe são cortados a facão e ele é devolvido ao mar, para morrer lentamente... É o horror e a barbárie. É preciso dar um basta!

Não deixe de assistir, é uma experiência inesquecível.


Moscou, Bélgica

Voltei depois de mais de 15 dias! Trabalhos, viagens e compromissos com alunos...
Moscou, Bélgica é um filme feminino, embora o diretor seja Christophe Van Rompaey. Passou em Cannes em 2008 e ganhou o prêmio Acid. Apesar da história banal, é muito interessante. Quem não ouviu falar na mulher abandonada pelo marido, descasada, que precisa cuidar dos filhos? Só que esta aventura diária de milhões de mulheres no mundo inteiro é contada de uma maneira diferente e com muito humor.
Matty (Barbara Sarafian) mora na Bégica, em um bairro proletário chamado Moscou, na cidade Guent. Os personagens são trabalhadores, proletários que não cuidam da aparência no dia a dia. Em minha opinião está pode ser uma realidade européia, na Bélgica. Não do Brasil onde mulheres e homens, com raras excessões preocupam-se com a aparência, bregas, cafonas ou não, andam nos trinques e muito sensuais, independente de classe social.
Matty tem um cabelo louro que nunca viu pente. O marido que a abandonou é um horror, como ela ainda espera que ele volte para casa? devia dar graças a Deus por aquele bofe ter ido embora. Imaginem um professor de arte, mal arrumado, com dentes manchados, um bigode horrível e um chumaço de cabelo caído sobre a testa, que mais parece um bom-bril! Quando bate o vento vai tudo junto! Nessa cena inicial começa a diversão e já adoramos o filme. O cabelo desgrenhado de Matty teima em cair sobre os olhos e a testa. Ela não dá a mínima.
Quando sai do supermercado em companhia dos filhos, distraidamente bate em um caminhão! A encrenca está formada. Desce o caminhoneiro, um homem muito branco, chega a ser cor de rosa, com cabelo foguinho. Muito machão começa a dizer impropérios, que ela é uma barbeira, que não sabe dirigir, etc. Chegam no ápice da discussão, quando ele fala que Matty está um lixo, acabada de tanto mal arrumada!!! Os dois vão fundo na briga de trânsito! Assunto em que quase todos nós temos remotas e desagradáveis lembranças, não é mesmo?
O caminhoneiro, Werner (Johan Heldenberg) tem duas caras, assim na mesma hora em que fala impropérios, se interessa por Matty, que apesar de ser 12 anos mais velha, de fato é uma mulher interessante. A cantada não pára. Matty está na banheira, tomando vinho e pensando amargamente na vida quando toca o telefone. É o novo candidato a namorado. Ela aceita, argumentando que quer provocar o marido-professor, que abandonou-a por uma aluna, muito mais jovem que ele.
Moscou, Bélgica mostra o processo de libertação e superação da mulher. De início Matty espera , vejam só, que o marido tenha os seus dias de diversão e deslumbramento com a amante, e que depois, tome consciência e volte para casa. Chega a dar um prazo para ele tomar uma decisão. Fica esperando. Pasmem, ela se preocupa, se a outra passa as camisas do marido! Educada para ser submissa, Matty alienada, não se revolta com a situação.
O jovem caminhoneiro apesar dos problemas com a ex-mulher parece ser o homem certo para Matty. Assim, a platéia curte muito a relação dela com os filhos e com o novo namorado. A cena com a filha mais velha, Vera (Anemone Valeke) incentivando-a a se arrumar para Werner é emocionante. Os filhos de Matty são calminhos e adoráveis. Vera é gay, e acha que a mãe ainda não está preparada para conhecer sua namorada. Matty nem liga. Nossa heróina de cabelos louros e desgrenhados, interpretada magnificamente por Barbara Sarafian literalmente dá a volta por cima. Acho que os atores estão ótimos e por isso mesmo, vale assistir com os próprios olhos. O filme está em cartaz no Unibanco Artplex!