"A oeste do fim do mundo", o filme de Paulo Nascimento, tem muito a ver comigo. Como se eu tivesse vivido antes… Quem sabe memórias de infância, de um lugar parado no tempo, onde não acontece absolutamente nada. Passei por Uspallata para ir ao Chile, nada a ver, era diferente, o lugar mais frio que conheci.
Quando inicia, parece o faroeste de Sérgio Leone, "Era uma vez no oeste". Os westerns irritavam e encantavam, pela música, pelo silêncio e pelos sons. Procurei ouvir o barulho do bater de asas da mais irritante das moscas, não tive certeza se ouvi.
"A oeste do fim do mundo" é assim, prende o espectador, não pela palavra, mas pela imagem e pelos sons, incomodam, são repetitivos, marcam a passagem do tempo do abandono.
Com certeza o objetivo do diretor é mostrar a tensão e a solidão do lugar, através do ruído.Criança chorando - na vida e no cinema - é a mesma coisa, quem não fica tenso ouvindo todo o dia - no rádio ou na TV - o choro do menino Bernardo, assassinado pelo pai e pela madastra? Ou o choro da criança em "Os Intocáveis"?
Você já pensou em algo mais irritante que o som de um telefone a romper um silêncio absoluto? Ou uma janela mal fechada que bate ao ritmo do vento?
A história mostra dois personagens derrotados que fogem de si mesmos, buscando refúgio no meio do nada, montanhas geladas, céu límpido e azul e uma estrada poeirenta. Não havia nenhum bicho no filme, nenhum gato ou cachorro para acompanhar o solitário Leon, veterano das Malvinas.
Paulo Nascimento marca o tempo estendido, com Leon, comendo, colocando gasolina nos carros que param para abastecer, ou ainda atendendo o telefone sem falar...
Sabe-se que existe algum grande drama na vida do personagem, fala pouco e nega-se a conversar com o filho no telefone. Atende, ouve a voz do menino e desliga.
A atriz brasileira - faz o papel de uma brasileira, óbvio - é uma graça. Chama-se Ana, e também está com o pé na estrada em busca de si mesma. Intencional ou não, existe uma citação a Jack Kerouac ou Easy Rider. A presença da moto, a ser consertada, diariamente, cada dia um pouquinho, poderia significar todo o tempo que o personagem necessita, para recuperar-se e voltar a relacionar-se com o filho, com a mãe e ser capaz de assumir um relacionamento com Ana.
"A oeste do fim do mundo" é emocionante, toca fundo no espectador. Não perca, acompanhe o processo de transformação e superação dos personagens. E concorde comigo, Ana é belíssima, até quando corta o cabelo de qualquer jeito.
Acho que vi sim um lugar tão solitário quanto esse quando era muito criança...