"O Príncipe do Deserto" é um dos filmes recomendados desta semana.
Claro, existem muitas razões para gostarmos do filme. O diretor é o francês
Jean Jacques Annaud, um talento, autor de filmes como "O nome da
Rosa", "L'Amant" e "Sete anos no Tibet", apenas citando
os que lembro de ter visto. É um respeitável diretor, tem 68 anos e estudou
cinema no Institut des Hautes Études Cinématographiques (IDHEC), em Paris. É
preciso dizer mais alguma coisa?
A história fala de honra, lealdade, laços de família, amor fraterno,
princesas do deserto, guerreiros fiéis e para completar, descreve a beleza do
deserto. Adoro filmes que mostram as grandes planícies do desérticas, onde não
se vê viva alma. De repente, ao longe vão se formando pontinhos, que se
transformam em colares de pessoas. Crescem, aproximam-se rapidamente e mudam a
situação de qualquer filme em milésimos de segundo!
É isso, "O Príncipe do Deserto" parece já visto, mas como dizia a
minha professora de psicologia, nenhuma situação na vida se repete. E esse
"déja vu" é pura ilusão. É um já visto muito bonito e repaginado.
Você lembra ou já ouviu falar em "Beau Geste" aquele belíssimo filme
com Gary Cooper?
O pano de fundo são os países árabes dos anos 30, com inúmeras tribos em
disputa. A história conta que dois irmãos Saleh (Akin Gazi, lindo de morrer!) e
Auda (Tahar Rahim) são deixados como garantia de que o acordo entre dois chefes
tribais será cumprido. O pai dos dois, Ammar, o Sultão de Salmaah
e Nesib (Antonio Banderas), o Emir de Hobeika selam um acordo de não ocupação
da Faixa Amarela, uma terra de ninguém que existe entre os territórios de
ambos. Após a morte da mãe, que pertencia à tribo Zamiri, os filhos são criados
por Nesib.
O motivo da disputa é a Faixa Amarela, rica em petróleo, que o Emir decide
explorar, aliando-se aos americanos. Ammar é interpretado por Mark Strong. O ator
encarna com perfeição o Sultão árabe, magro, calvo, barbas levemente
encaracoladas, olhos líquidos e esverdeados. O Sultão representa a oposição aos
desígnios de Nesib. É contrário ao desejo de riqueza material. Nesib não tolera
a pobreza e pensa que no século XX, os árabes são os garçons no banquete dos
países enriquecidos com petróleo.
"O príncipe do Deserto" é instigante porque sempre vai nos fazer
lembrar alguma coisa que lemos, não sabemos quando, nem onde. É recheado de
parábolas pronunciadas pelos personagens, mostrando a sabedoria dos povos do
deserto e lembrando quem sabe, "As mil e uma noites "ou "Malba
Tahan". As belas citações de Ammar conferem encantamento ao filme. No
início, o Sultão consola o filho e diz: "Não chore, lágrimas são água
desperdiçada"! (pense sobre essas palavras de Sultão) .
Auda é o jovem pacato, intelectual, que lê muitos livros e encarrega-se da
biblioteca do reino. Saleh deseja voltar para Salmaah. A figura de Saleh, com sua águia treinada impressiona mais que a de Audi, que sequer pratica atividades físicas. Seu meio- irmão, o Dr. Ila (Riz Ahmed) diz que
ele é como um filhote de águia. Muito mais forte e inteligente do que aparenta.
Assim, Audi volta para Salmaah como emissário de paz, representando os interesses de Nesib. Muda de idéia, une-se ao pai, com quem aprende valores tão importantes para sua vida, como
aqueles que o pai de cada um de nós nos ensinou. O Sultão de Ammar é contra a
exploração petrolífera, toda e qualquer riqueza material:
_ "Para que quero dinheiro se fui abençoado mil vezes?", afirma.
Ou ainda:
_ " É melhor morrer por uma causa nobre do que apodrecer na
prisão". De fato, Ammar não concorda que petróleo e dinheiro governem o
mundo. Prefere morrer.
Porém, o mundo do pai não é o mundo filho. Audi se descobre um predestinado, como seu irmão Eli previra. Vence seus inimigos. Transforma-se no grande líder
de todas as tribos, no príncipe magnânimo, moderno e conciliador. Sabe usufruir
dos benefícios do petróleo e ainda poupa o Emir de Hobeika, que sequestrou sua
infância, mas o criou como filho.
Audi aprendeu com seu pai a máxima, que afirma, "tudo o que pode ser
comprado não tem valor". Você já pensou na importância do pensamento de Ammar em nossas vidas? Você já pensou que nossos seres amados, sejam pessoas ou bichos, adquirem importância em nossas vidas devido à importância que nós conferimos a eles? E que isso é o que preenche nossas vidas? E que por isso mesmo jamais poderíamos trocá-los por ouro ou prata? Enfim podemos repetir Ammar, "tudo o que pode ser comprado não tem valor", não é investido de amor. Por isso é muito verdadeiro aquele versinho que cantávamos quando criança, nas brincadeiras de roda: "A minha filha eu não dou, nem por ouro, nem por prata, nem por sangue de barata!"
Assim, sem mancha, Audi pode voltar para sua bela
princesa Leila. Não é a princesa Léia? As cenas de guerra e luta são tão
geniais que às vezes parece que estamos assistindo à "Star Wars".