terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Álbum de Família

Em minha opinião ''Álbum de Família"  é um exagero. Tudo é muito complicado como um novelão da Globo, ou como diziam antigamente, como um melodrama mexicano. Difícil encontrar  família tão problemática. E Meryl Streep como sempre se esmera em cada papel exótico que interpreta. Ninguém mais suporta a atuação "over" da dama de Hollywood! Desta vez me pareceu mais louca que  a mãe da Zerina, a vizinha da minha mãe, que teve muitos filhos, caminhava  com as costas formando ângulo reto com as pernas, cabelos nos olhos, descabelada e olhar abilolado. Ha! ela não fazia almoço, comia lanches do supermercado a vida inteira. Atravessava a rua sempre olhando para baixo. Um belo dia, foi atropelada! Não poderia ter sido diferente. A Violet (Meryl Streep) de Álbum de Família me faz lembrar essa senhora. Os personagens do filme são estereótipos,  exageros. John Wells, o diretor faz sua história baseada na novela August: Osage Count .
Tudo começa mal, com o casal que vive junto, mas que se odeia. Meryl Streep de início começa seu showzinho de interpretação para o espectador ficar chocado com a pobre personagem, quase careca, sofrendo com os efeitos da quimioterapia! Até pode-se pensar que é  por isso que se comporta como uma megera! Logo depois, Violet coloca sua peruca - à moda da mãe da Zerina - e vira um verdadeiro desastre! O marido, interpretado por Sam Shepard só podia cometer suicídio, com tal companheira de uma vida inteira. Violet  só tem  amargura, acusações e sarcasmo para dividir com os outros. Quase no final, revela - como se isso pudesse justificar sua maldade-  sobre  o triste dia em que recebeu de sua mãe como presente de Natal, um par de botas, sujas e rasgadas.   Nem o fato de Violet estar chapada, quando a tragédia se abate sobre sua família, justifica seu comportamento.  
Como ninguém é santo, quase todos sabem dos pecados do marido e da cunhada e ninguém nunca disse nada. Violet tenta dar uma de superior e finge que não sabe de nada, de tudo o que se passa na frente de seu nariz! Enfim a julgar por suas palavras, ainda se acha superior a todos os parentes. Diz que não precisa de ninguém, que se julga mulher liberada e dominadora, melhor e mais forte que todos. Os outros, coitados,  os parentes, em sua opinião são  fracos e covardes.
Três filhas, três problemas,  as atrizes estão ótimas. Desta vez gostei de Julia Roberts interpretando Barbara. É com ela que a plateia tem melhores possibilidades de se identificar. O marido de Barbara, interpretado por Ewan McGregor, já é o ex e a filha de 14 anos é a adorável garotinha que cresceu, Abigail Breslin- vocês lembram de Pequena Miss Sunshine? Problemas com o ex e com a filha tornam difícil a vida de Barbara que ainda precisa se dedicar à mãe. 
A segunda filha é a própria caricatura da cafonice, um exagero! Vocês lembram de Juliette Lewis em "Cabo do Medo" e outros filmes? Pois em Álbum de Família ela é Karen e está literalmente no bagaço. A própria Juliette tem apenas 40 anos! Observem o sorriso, os dentes, um horror! excesso de quilometragem, deve ser isso! Por mais que o personagem exija...
Enfim, para formar um enredo de novela mexicana, e muita canastrice o namorado de Karen, o cinquentão Steve ( Dermot Mulroney) assedia a garotinha de 14 anos! 
Para finalizar e completar o drama você precisa descobrir os podres da família, o segredo   que envolve a vida do sobrinho que se atrasa para o enterro. Segredo guardado a sete chaves, mas que, para muitos parentes não é nenhum segredo...
Não deixe de assistir a Álbum de Família e se escandalize também! 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Questão de Tempo

Poucas vezes em minha assisti a um filme que  trate do amor de uma maneira tão delicada. O relacionamento  entre  os dois jovens Tim Lake ( Domhnall Gleeson)  e  Mary ( Rachel Mc Adams)  é narrado  do ponto de vista masculino.  
Ele tem um visual frágil. Descreve a si mesmo para a platéia, dizendo que é muito alto e magro. Pensei alto, nem tanto! Leonardo, meu ex - aluno  é muito mais alto. Porém o que o moço tem é muito encanto. É simplesmente uma gracinha e não tem nada daqueles jovens atléticos e sarados de hoje em dia. Os ombros são pequenos,  o cabelo é avermelhado. Os lábios violáceos são o que ele tem de mais bonito. E assim Tim é muito britânico,  possui uma pele quase cor de rosa se é que dá para entender.  Quem sabe, essa composição do visual facilite a identificação da plateia com o personagem. E, óbvio dá certo!
Ela Rachel McAddams é tão graciosa que pensei, mas como já vi essa moça, onde? Sei que não foi no cinema. Pura ilusão do “ déjà vu” !
A genialidade do diretor Richard Curtis reside na tentativa de mostrar para o espectador a passagem do tempo, de alguns segundos a minutos ou ainda a passagem dos anos. O interessante - no início,  e você deve prestar atenção - - são as peripécias de Tim para reencontrar a jovem que faz balançar seu coração. 
Finalmente  a grande motivação do filme. O pai Tim, interpretado por Bill Nighy, lhe conta um segredo, os homens da família tem a capacidade de viajar no tempo. Não para mudar o destino da humanidade, não para matar Hitler antes  do holocausto, mas se o próprio assim o desejar, pode  mudar pequenos ou grandes acontecimentos da própria vida em frações de segundos. Você lembra de tudo o que poderia ter feito e não fez, no calor do momento, na atrapalhação da emoção?
E Tim se concentra, volta ao passado e corrige o tempo. Absolutamente genial. Você já pensou se tivesse conseguido explicar para ele tudo direitinho naquele dia fatídico? Pensou se não tivesse dito aquilo que disse sem pensar, tudo teria sido diferente? E hoje que estamos fazendo o balanço de 2013, que tal  poder mudar tudo o aconteceu e que você gostaria que não tivesse acontecido? Poder voltar no tempo e corrigir os próprios erros?

Enfim é disso tudo e de muito amor que “ Questão de Tempo” nos fala. Para nós simples humanos nos resta com muito esforço e reflexão tentarmos corrigir nossos próprios erros sem a mínima chance de voltarmos no tempo não é mesmo? Por isso tudo,  é tão bom ir ao cinema, sonhar e tentar arrumar a casa das próprias emoções e pensamentos! Voilà!

domingo, 15 de dezembro de 2013

Um Toque de Pecado

"Um toque de Pecado", de  Jia Zhang-ke, é filme para ser levado à sério. O tema é forte e surpreendente. Tudo é muito depressivo e sem esperanças. A crítica ao sistema capitalista que toma conta da China seria responsável por tanta violência? Muito provavelmente não, a China sempre foi um país violento. E violência por violência, sempre ouço o Luiz Carlos Merten dizer que Porto Alegre é uma das cidades mais violentas do Brasil. E os porto-alegrenses adoram o seu Portinho violento... Meus amigos me perguntam porque vou assistir a filmes violentos? Suporto a violência na tela, na vida real, Deus me livre! E sabem de uma coisa? Adorei o filme de Jia Zhang-ke. Sei que a cultura chinesa é diferente da nossa. Eles são dramáticos, reservados e  violentos. Porém, em cada caso, entendemos as razões.
As quatro histórias são paralelas, não existem heróis, mas seres enigmáticos, que sofrem muito e se comunicam muito pouco. No decorrer das histórias, as pessoas quase não falam umas com as outras. A não ser sobre contratos de trabalho ou obrigações familiares.
A primeira história começa com um motoqueiro, que ao ser atacado por ladrões descarrega sua pistola, mata a todos, friamente,  um por um. Depois vai para casa e não acontece nada... A não ser que seu filho e sua mulher, ao que parece, estão melhor sem ele...Não existe punição para as mortes e assassinatos...Por antecipação todos já estão no esquecimento... Embora as histórias tenham sido inspiradas na crônica policial.
A segunda, mostra o homem de meia idade, sem mulher, infeliz, fumante. Aliás todos fumam, no filme, do garoto de 18 anos até o mais velho da comunidade. Na China devem ser altíssimas as estatísticas de mortes por câncer de pulmão! Um horror!
O senhor fumante revolta-se contra o administrador da aldeia, que vende uma fábrica, promete 40% dos lucros para a comunidade e fica com o dinheiro. O cenário de fundo mostra um povo oprimido, com medo do regime totalitário, que se mistura ao capitalismo selvagem. A qualquer momento, qualquer um podem ser revistado ou preso. Cheio de ódio, não sem antes ter apanhado muito com um taco de golfe, o homem se revolta. Faz justiça com as próprias mãos e sai ensanguentando a tela. Vai matando, vai matando e o  espectador, ali, frio e insensível. A música é tênue. Jia Zhang-ke não deseja "pegar" o espectador pela emoção.
O diretor mostra personagens que perdem suas raízes. Quando voltam para casa, a casa não é mais a casa. A mãe já não é mais a mãe. Tudo está diferente, e é preciso partir novamente, em busca de quê? Nenhum dos personagens sabe o que busca.
A história dramática que deu o que falar é a da jovem chinesa, uma verdadeira boneca, com pele de porcelana. Trabalha na recepção de uma sauna e é confundida com uma prostituta. Na China se é que estou com um mínimo de razão, as mulheres têm sido humilhadas e exploradas pelos homens há séculos. Libertação feminina deve ser tema recente, imagino. Enfim, a bela apanha do cretino com uma maço de notas de dinheiro! Como não vibrar com a explosão de violência da jovem com seu punhal? Você lembra o pacato professor universitário, interpretado por Dustin Hoffman, em "Sob o Domínio do Medo", de Sam Peckinpah? Quando a violência escapa a qualquer controle?
Até poderíamos fazer uma analogia entre a violência de Jia Zhang-ke e a de Sam Peckinpahn, com a diferença que em Peckinpah, os personagens femininos sempre foram negativos e odiados. Jia faz de sua personagem uma deusa do ódio e da violência! É ela, a mulher,  trágica e desgarrada,  que vaga pelas estradas vazias e escuras, ao longo de rochas encarpadas.
Finalmente a mais triste das histórias, mostra o jovem  esquecido e incompreendido, vítima de um sistema que explora a todos. Vocês notaram como funcionam as fábricas, cujos produtos "Made in China" são vendidos para o mundo inteiro? E que nós compramos a todo momento?
Enfim se o corpo que cai já não surprende o espectador, pelo menos chegamos ao momento de catarse, quando o criminoso que diariamente bate em seu cavalo é abatido com um tiro certeiro! Ao pobre bicho resta voltar sozinho para casa...
 
 

Última Viagem à Vegas

"Última viagem à Vegas" obedece à  fórmula que tem dado certo: um grupo de atores famosos se reúne para fazer mais um filme; eles riem de si próprios, nós deveremos rir deles e ao fazermos isso estaremos rindo de nós mesmos! Os quatro já foram galãs de arrancar suspiros das fãs, agora estão idosos e nem por isso pretendem  fazer "nada"!. Continuam representando seus papéis no cinema. O recado do diretor tem dado certo: É importante viver a terceira idade com coragem, diversão, nenhum idoso deve entregar-se ao excesso de cuidados com a saúde e muito menos privar-se de sexo. O grande conselho para os idosos: não se submeta à tirania nem à autoridade dos filhos. Cada idoso deve mandar em si mesmo até o fim de sua vida! Enfim as dicas do diretor Jon Turteltaub são excelentes. Todo idoso deveria seguir seus conselhos. Mas, o mais importante que ele prega:  o amor não tem idade.
Piadinha atrás de piadinha, tudo começa a dar certo para o grupo que resolve se encontrar para comemorar a despedida de solteiro de um dos quatro. Porém, mesmo reunindo um elenco impecável, todos acima dos 60: Michael Douglas (1947-) , Morgan Freeman (1937-), Kevin Cline 1947-),  Robert De Niro (1943-) e Mary Sttenburgen (1953-) o filme permanece  no plano médio. Algumas piadinhas são geniais como aquela em que os idosos bêbados, de ressaca sentem a cabeça e a cama girando. De fato estão num chiquérrimo apartamento de um hotel em Las Vegas, onde a cama gira!
Algumas  piadas prontas fazem rir. Embora às vezes eu comece a ficar inquieta e desejar que tudo termine logo! Experimente você e assista à "Última Viagem à Vegas". Afinal, não esqueça que idosos estão na moda. Voc6e lembra do filme de Stallone "Os Mercenários 1" com um bando de idosos: Arnold Schwarzeneger ( 1947-), Sylvester Stallone ( 1946-), Bruce Willis ( 1955-)  e Dolph Lundgren ( 1957-)? Já houve "Os Mercenários 2" e em 2014 será lançado "Os Mercenários 3", desta vez com a participação de Harrison Ford (1942_ ).
 

sábado, 30 de novembro de 2013

Blue Jasmine

     
Desta vez fiquei feliz, Veríssimo, o mais genial escritor de Porto Alegre concorda comigo. Ele também não gosta do Vicky Cristina Barcelona de Woody Allen. Porém, timidamente, mas muito timidamente mesmo, me atrevo a discordar do gênio Veríssimo. Eu não daria o Oscar para Cate Blanchett e sim para Tom Hanks por Capitão Philips. Cate está linda em Blue Jasmine. É uma excelente atriz, mas a história da personagem que Woody criou e deu para ela interpretar não convence e não emociona. Talvez pelo próprio distanciamento do diretor ao contar a história.
Não sei bem porque, mas Blue Jasmine me parece uma sessão de terapia, onde todos os personagens falam para o terapeuta. Como se, de tanto ir ao psiquiatra - será que Woody vai mesmo ao terapeuta toda semana? Todo dia? - Woody tivesse feito uma coleção de sessões e colocado no filme. Além da caricatura psicológica de cada personagem, fiquei esperando que alguma coisa acontecesse e nada...
Woody Allen fala demais em seus filmes, ou ele ou seus personagens. Muitas vezes esse lado do diretor era simplesmente o máximo, como quando ele procurava uma certidão de nascimento em Poderosa Afrodite ou quando entrava na casa dos outros, na ausência dos moradores, para descobrir o assasino, como em Um Misterioso Assassinato em Manhattan. Esses detalhes eram muito engraçados e só um grande talento como Woody conseguia criticar tão bem, através do riso. Tudo isso faltou em Blue Jasmine. Os personagens, muito gregas e cafonas, não paravam de brigar e falar, parecia novela das sete!
E alguém consegue acreditar que a bela e poderosa Cate Blanchett se transforme numa coitada que caiu em desgraçada pela traição e morte do marido? Uma mulher fica destruída e falando sozinha somente por ter dois de seus casamentos destruídos? Os dois noivos não valiam um tostão. O marido, - representado por Alec Baldwin e o noivo medíocre ( Peter Saasgaard) - eram um desastre! Além do que, foi- se o tempo em que Baldwin era lindo e casado com a bela Kim Basinger. Hoje usa os cabelos pintados e está até adequado à breguice de seu personagem. O pior é quando o filme termina e ele continua com aquele penteado...
Quanto ao segundo pretendente, fraco e aliado às convenções, só uma mulher muito crédula poderia cair na sua conversa. Enfim, ninguém era inocente na história toda. Um verdadeiro massacre na cabeça do pobre espectador. Se pessoas sérias como Veríssimo encontram afinidades entre Blue Jasmine e Um Bonde Chamado Desejo, em que Marlon Bando destrói Vivien Leigh, desta vez Baldwin é apenas uma sombra do que foi Marlon Brando no auge de sua beleza e fama. Desta vez faltou tudo aquilo que Woody Allen tem feito com perfeição em sua carreira, humor! 




segunda-feira, 18 de novembro de 2013

domingo, 17 de novembro de 2013

Cap. Phiillips

O personagem de Tom Hanks pode se transformar em verdadeiro ícone. Hoje, Marinalva estava no meio do verdadeiro dilúvio que tomou conta de Porto Alegre. O pior foi ter que voltar e fazer o caminho novamente por ter esquecido as roupas que deveria usar. Quando se desvencilhou da tranqueira, acelerou o carro. O Irinho voava , mandando água para todo lado, parecia uma lancha, quando sem querer molhou por completo um azulzinho vestido de amarelo, pode? E  Marinalva repetia em voz alta para si mesma:
- Não sou o Capitão Phillips, mas tenho lá a minha coragem!

Brincadeiras à parte, Capitão Phillips é um dos melhores filmes de 2013. Tom Hanks está muito, muito bom, você não consegue sequer imaginar. A emoção toma conta do espectador. Meu coração acelerou. Quando o capitão foi sequestrado, pensei: Só me faltava esta, morrer agora,  de emoção, na sala de cinema, vendo Tom Hanks. 

A história é verdadeira e conta o sequestro do navio Maersk Line Alabama, cujo capitão é sequestrado. 

Quatro somalis provocam o terror dentro do navio. Ao mesmo tempo nos perguntamos, como aqueles quatro esmirrados e subdesenvolvidos conseguiram enfrentar o todo poderoso EUA?

O enfrentamento transforma-se em risível espetáculo. Atrás da baleeira estava o navio Maersk, do próprio Phillips, outro enorme navio de guerra americano, anti pirataria, e muitos helicópteros girando. O clima de tensão vai num crescendo até se instalar o caos total no espacinho claustrofóbico da baleeira. Os tempos do filme são perfeitos e Tom Hanks está simplesmente maravilhoso. Óbvio Paul Greengrass faz um  filme para elevar aos céus a potência americana, embora não deixe de fazer uma sutil crítica: a verdadeira tropa de elite encarregada de salvar o Capitão é formada por um exército de brutamontes, verdadeiros robos com excesso de massa muscular.
Quanto  aos sequestradores, vilões da história, de fato são uns coitados, sem esperança e sem futuro. Tão magros que, provavelmente passaram fome na infância. A verdadeira barbárie seria a situação econômica e política que gera esse tipo de conflito. Aqui Greengrass mostra um filme maniqueísta, com o mau e o bom, mas Moses, o capitão dos bandidos passa a sentir admiração por seu sequestrado. Inevitável não é mesmo?  


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O conselheiro do Crime de Ridley Scott é amargo como fel. Hermético na narrativa o diretor pinta com tintas carregadas de ódio o mundo do crime sob todas as suas formas. É impiedoso com os fracos, com os indiferentes e com os incautos que se arriscam no tráfico de drogas e entorpecentes.
Cenas tórridas de sexo e violência são o tempero do filme. Mas precisava matar Brad Pitt daquele jeito?  Um dos poderosos do submundo fala com o anti-herói ( Michael Fassbender) e lhe diz mais ou menos o seguinte:
- Cada um de nós teve a liberdade para escolher o seu caminho. Todos nós estivemos diante de uma encruzilhada e por livre arbítrio escolhemos um rumo. No mundo do crime, principalmente, - e no mundo do dia a dia também- é impossível voltar atrás e refazer o caminho. O nosso mundo, aquilo que criamos para nós e nossos filhos é o resultado de uma construção feita por nós mesmos. E tudo o que é nosso e está sob o nosso poder vai desaparecer, no dia de nossa morte. Assim, as decisões que tomamos podem se refletir no futuro e o preço a ser pago será muito maior do que sequer imaginamos.
Esse é o recado do diretor.A história fala do advogado ( Michael Fassbender) , que está muito próximo de casar com sua noiva ( Penélope Cruz. Envolve- se com um cartel de drogas mexicano, que domina o tráfico de milhões de dólares. Seus contatos, experimentados bandidos, desaparecem rapidamente, quando as coisas não dão certo. Mal sabe ele o preço que terá que pagar. Além dos atores  citados, o filme conta com a participação de Javier Barden e Cameron Diaz.
Em tempo, em The Conselor vence o mal e Cameron Diaz está pior que a Malvina Croela. O diretor permite que o espectador se perca olhando os detalhes de seu rosto contorcido. Entendi, ela nunca se encaixaria na proporção áurea de Leonardo da Vinci. As proporções de seu rosto jamais atingiriam o ideal de beleza de Da Vinci. Cameron Diaz é feia mesmo! E nós pensávamos o contrário! Ceguinhos?

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Diana


Diana é a história da princesa que todos conhecemos. Mas desta vez, o inédito é que Marinalva foi comigo assistir ao filme de sua adorada princesa. Óbvio, sofreu junto com a princesinha todas as suas decepções. Imagine só - pensa Marinalva - ficam falando por aí que a princesa não era uma mulher brilhante e que sem o apoio da realeza, só afundou em sua própria mediocridade.
Minha amiga não acredita nisso, para ela medíocre mesmo é a idéia de no século XXI ainda existir rei, rainha, monarquia etc., e um povo inteiro curtindo uma idiotice dessas, quando há mais de mil anos os gregos nos ensinaram o que é democracia!
Pensa na princesa, alta, loira e magra - Naomi Watts, nem tanto- mas tão adorável quanto a verdadeira Lady Di. Imagina com tristeza, que Diana não poderia ser uma personagem de Walt Disney. É como uma Bela Adormecida, que jamais seria acordada pelo príncipe encantado. Pois antes disso, o próprio virou o sapo que sempre foi e não conseguiu mais esconder sua própria condição animalesca.
Marinalva sempre sonhou com as histórias de fadas e percebe que Diana é a própria visão da princesinha ao contrário. Como falam em arquitetura, é a própria desconstrução da idéia de princesa! E finalmente ela ama a princesa por sua coragem em lutar em benefício dos povos africanos e da luta contra as minas terrestres. Uma coisa também pensou: O médico e sua família indiana eram bem complicadinhos não é mesmo?
Enfim, se a princesa foi infeliz no amor, pelo menos conquistou os corações de milhares de comuns mortais, como ela Marinalva! Não é mesmo?

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Gravidade

Gravidade é uma experiência única. Você consegue imaginar que um dia não sabe quando sentiu a mesma sensação de Ryan Stone? Como isso se explica não sei, não se explica, então. Mas em sonhos ou pesadelos de criança sei que estive no espaço. Brincadeira, deve ser imaginação. E você alguma vez sentiu-se solto no espaço? Até por isso o filme vale pela experiência, assim, como provar um brinquedo que lhe oferece mil e uma emoções sem sair da poltrona! Ora! grande descoberta! Cinema é exatamente isso! 
George Clooney e Sandra Bullock fazem os personagens Matt Kowalski e Ryan Stone. Os dois trabalham no ônibus espacial Explorer. Desde o início, o espectador pode sentir a imensidão do espaço e ter uma pálida idéia do que Ryan e Kowalski podem estar sentindo. Engraçado, em todos os filmes do gênero algumas coisas se repetem. Por exemplo, para aliviar a tensão os personagens conversam bobagens, Kowalski fala de uma traição e de como reencontrou a ex com alguém cabeludo! Na hora H de revelar quem era o cabeludo, surge  uma tempestade de destroços, literalmente do nada. O pesadelo provém de um acidente com uma nave russa. Os destroços provocam um verdadeiro caos. Projetados no espaço, os dois se soltam. Perdidos, giram sem rumo,  no centro do azul infinito e daquele  pedaço de terra azul. 
Sandra Bullock está diferente, o visual despojado lhe cai bem, o cabelo curto ficou ótimo! Preste atenção, se os físicos revelam que o cabelo de Ryan deveria se soltar sob o efeito da ausência de gravidade, imagine você, tem gente que acorda de manhã com o cabelo em pé e não tem efeito da gravidade que faça o  dito cujo descer! Só chapinha mesmo e por poucos dias. Assim o simples espectador não dá a mínima para esse tipo de erro.
Quem lançou a moda da regata de algodão e do shortinho minúsculo nos filmes de astronautas foi Sigourney Weaver, a Ellen Ripley da série Aliens. A sequência de  Ryan Stone, com a regata despojada, solta no espaço, é muito muito bonita.  Finalmente, o herói Kowalski, se sacrifica. Não sem antes   conscientizar Ryan sobre o verdadeiro valor da vida e sobre a importância de recomeçar.
As cenas da viagem de volta são surpreendentes, e a gente se pergunta: Como eles conseguiram ir e voltar naquelas cápsulas horrorosas, com a Nasa errando sempre?
Finalmente você pode pensar que Gravidade é um espetáculo da forma pela forma, mesmo assim, não importa, é simplesmente genial!
 

domingo, 13 de outubro de 2013

A Bela que Dorme

Marco Bellochio dirige este filme belíssimo, diferente de tudo o que você viu até hoje. A Bela que Dorme usa o caso verídico de Euliana Englaro para discutir a eutanásia. A verdadeira Euliana sofreu um acidente em 1992, permaneceu em coma durante 17 anos. Seu pai lutou pelo direito de desligar os aparelhos que a mantinham viva. Tendo esse cenário dramático como pano de fundo, "A Bela que Dorme" confunde o espectador: É Rosa (Carlota Cimador), filha da Divina Mãe (Isabelle  Huppert)? Só pode ser, pois era a única "bella addormentata". Bellochio mostra outra mulher em coma, a mãe de Maria (Alba Rohrwacher), filha do senador Uliano Beffardi (Toni Servillo). O mesmo drama atormentava a consciência do político que se vê compelido a desligar os aparelhos que mantém sua mulher viva, contra a vontade da filha. Bellochio alterna as cenas dramáticas de protestos frente à clínica para onde teria sido transferida Euliana Englaro e aos poucos desata os conflitos entre os personagens. Para o diretor não interessa saber: De quem é o corpo doente? Ele apenas quer falar desse corpo doente, a própria Itália, ou o Congresso que sustenta o Governo de Berlusconi. Quem sabe já nessa data, não estaria caindo de podre? Observe que no congresso italiano existe um psiquiatra que receita calmantes para  deputados e senadores, todos corpos vivos e doentes. Todos mancomunando em banhos públicos do tempo dos romanos.
Assim, os dramas se unem, se cruzam e se separam. Todos têm um ponto em comum, o desejo de posse de um ser humano em relação ao outro. A super mãe pode ser vista como o símbolo da loucura, de quem não quer libertar o ser amado, que de fato está morto para a vida. A exagerada Divina Mama não emociona o espectador. Querer preservar um ser humano, há 17 anos em coma, é loucura e desamor. Nisso o pai de Euliana tinha razão. Em todos os casos, o diretor mostra que existe um momento diante da morte, em  que o desejo de posse sobre o corpo doente é inútil e desnecessário.
Bellochio mostra outros conflitos relacionados à posse do outro. O caso do jovem  esquizofrênico (?) que termina vencendo e impedindo o irmão de viver a própria vida. Roberto ( Michele Rondino)   apaixona-se por Maria, a filha do senador, mas não consegue levar adiante o romance, impedido pelos grilhões dos compromissos familiares. No fundo, falsos compromissos, que não escondem o desejo de posse do filho ou do irmão, não importa..., desejos que  se transformam em verdadeiras prisões, das quais os prisioneiros só tomam consciência quando o tempo passou. Perderam a juventude e o ser amado... Em todos estes dramas venceu a morte, mas Bellochio aposta na vida quando a teimosia do médico Pallido ( Pier Giorgio Bellochio) luta contra o desejo de morte de sua paciente. Com garra, finalmente, o filho do diretor,  toma conta de Rossa, com o mesmo desejo de posse do outro, mas uma posse que devolve a vida!
 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O Tempo e o Vento

Acho que Érico Veríssimo apreciaria a versão de “O Tempo e o Vento” de Jaime Monjardim. Thiago Lacerda faz jus a tudo o que a Lucinha diz dele: É lindo! Encarna com perfeição o personagem, corajoso, inquieto e atraente. Representava o ideal masculino da época, apaixonado por guerras, lutas e batalhas, mas que respeitava os desejos de uma mulher: - “Se a senhorita Bibiana não quiser falar comigo, vou embora deste lugar agora mesmo”.  A paixão pela jovem é insuficiente para transformar o herói num pacato dono de bolicho. Os pontos fracos do moço afloram... Afinal Rodrigo sentia-se à vontade em meio a uma luta corpo a corpo, com punhal, faca ou espada. Mas o que restava para fazer naquele Rio Grande medonho, com tanta pobreza e dificuldades? Restava balançar para o lado dos maragatos ou pica-paus. Aliás, Monjardim não usa esta palavra. Ele fala na luta entre maragatos e republicanos. Capitão à parte, graça mesmo é o personagem do índio Pedro. Li o livro há muito tempo, sabia que Pedro morreria, mas mais uma vez, quis mudar o desfecho da história. O Rio Grande da época era um lugar masculino, de homens, de lutas com uma violência desmedida. Capitão Rodrigo lamentava não ter conseguido completar a voltinha do R, que marcara na cara do inimigo. Imagine você, a platéia aplaudiu! E eu me diverti muito! Para os gaúchos muito provavelmente o filme vai tornar-se um épico. É impressionante como Thiago Lacerda está sedutor, m-u-u-u-i-to alto, verdadeiro herói de contos de fadas! Pergunto-me: Não haveria certo exagero naquele chiripá vermelho? A roupa usada por Bento Gonçalves em “O homem das sete mulheres” interpretado por Werner Schunemann, me pareceu mais adequada. Aliás, no “Tempo e o Vento” de Monjardim, o brilho fica por conta de Thiago Lacerda. O filme é feito para ele, e somente ele - o Capitão Rodrigo - é a verdadeira estrela. As mulheres, lindas e adoráveis, passam ao fundo, como sombras. Como dizia Ana Terra, as mulheres teciam, esperavam e choravam. E as atrizes sumiram junto com suas personagens. Pensando bem, o filme não seria machista? No fundo poderíamos pensar que foi realizado para celebrar o homem dominante - el hombre. Seria uma ode ao macho gaúcho! Coisa que este povo vive sonhando e celebrando, tudo misturado, a saga de Érico Veríssimo com as histórias inventadas por tradicionalistas desavisados. Ainda bem que o mundo mudou! Que o Rio Grande mudou!  E que as mulheres pararam de chorar, tecer e esperar.
 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Steve Jobs

Gostei do filme sobre a vida Steve Jobs. Quem sabe quantos de nós o endeusávamos?  Terminamos chegando à conclusão que apesar de seus talentos foi um ser humano, com defeitos e virtudes. Enfim, desconhecíamos o outro lado, os problemas e fragilidades do super-homem da Apple. Por mais má vontade que alguém tenha, por mais preconceito, nunca poderá negar a genialidade de Steve Jobs.
Alguns detalhes no filme me surpreenderam, ficaram muitos bons. Na cena inicial, quando Ashton Kutcher vai começar seu discurso, pensei que era uma filmagem do verdadeiro Steve Jobs. O corpo esguio, em calças jeans largas que lhe acentuam a magreza, pés enormes metidos em tênis, Deus!,  ficou igual ao verdadeiro Jobs. Muito bom, dava gosto olhar o gingado de Steve ao caminhar. As filmagens tiraram partido da caracterização de Ashton de seu personagem. Steve, meio orangotango, com pernas arqueadas - dava vontade de rir - de tão bom que ficou!
Enfim, o verdadeiro homem da Apple era diferente, quem sabe, super dotado? Viram que ele nem ligava, gostava de tirar os sapatos e sair por aí de pés descalços? E não fazia gênero, como muitos o fazem, para chamar a atenção. Era autêntico.
Foi bom conhecer o outro lado do super-homem. Jobs foi um menino adotado, e não conseguia entender como um pai e uma mãe têm um filho e o jogam fora? Claro, ele esqueceu que essa guinada do destino fez a felicidade de seus pais adotivos, Paul e Clara Jobs.
Eis a questão, talvez por todos esses questionamentos Jobs relutava em reconhecer a filha. Porém, quando decidiu colocar o nome Lisa, em seu computador, estava se entregando ao papel de pai e ao amor da filha. Achei lindo!
Quanto à Apple, só com um cara genial como Steve Jobs conseguiu ser em 2012 a empresa mais valiosa do mundo!
E aí? Mirem-se no exemplo dele e tentem fazer a diferença, como Steve aconselhava. Por menor que seja, nos atos mais simples do dia a dia. Acho que o incentivo vale a pena! Tente ser criativo e não aceite jamais a pecha da palavra Medíocre!
 

Flores Raras

"Flores Raras" não é um bom filme e não leva a sério coisas importantes. Enfim , trata da vida de Lota Macedo Soares, uma mulher que pode ter sido considerada corajosa, mas que antes de tudo foi muito esnobe e prepotente. Se foi corajosa por ter lutado por seus direitos e assumido sua homossexualidade em tempos difíceis, exagerou quando humilhou suas duas mulheres, deixando-as desarmadas, morando uma defronte à outra. Para completar, adotou uma criança envolvendo "moeda" na transação.  Imperdoável e criminoso.
Porém,  ficou verdadeiramente ruim aquela perspectiva do Parque do Flamengo, que o diretor Bruno Barreto deixou passar. Será que a produção não sabia - ou não deu importância? -, que nos anos 60 a representação gráfica em arquitetura estava no auge? Arquitetos, estudantes de arquitetura e desenhistas sabiam desenhar uma perspectiva e certamente não fariam aquele desenho primário. Ou será que era para criticar Lota que de fato não era arquiteta? Ninguém entendeu!
Não foi mencionado o nome de nenhum arquiteto. Affonso Eduardo Reidy assinou o projeto do Parque do Flamengo. E, se a Casa de Lota Macedo Soares foi projetada por Sérgio Bernandes, Bruno Barreto delegou a autoria do projeto à sua proprietária! E o cenário da Casa de Lota era um projeto de Oscar Niemeyer! Enfim atribuir à Lota todos os créditos de autoria do projeto retira do filme qualquer credibilidade.
Enfim , desta vez o diretor fez a história das elites, bem podres do tempo da ditadura, Lota trabalhava alinhada com a UDN e com Carlos Lacerda. E não cabia nenhuma crítica? Carlos Lacerda foi mostrado muito amiguinho! Observe,  filmes  como "Repare Bem " e "Flores Raras" são com água e azeite...
Óbvio, Glória Pires e a atriz que representa Elizabeth Bishop estão ótimas, mas não seguram o filme de Bruno Barreto.
 


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Repare Bem ( Les yeux bleu)

Eduardo Leite, o Bacuri, nasceu em 1945 e morreu assassinado pela ditadura em 1970. Vivi esse tempo, nasci no mesmo ano e fiquei impressionada. Denise Crispin e sua filha, Eduarda Crispin Leite, nos contam uma história estarrecedora. Denise e Bacuri se conheceram em tempos difíceis, se apaixonaram e tiveram uma filha, que não chegou a conhecer o pai. Histórias da ditadura no Brasil são insuportáveis. Seria menos doloroso não assistir a filmes que falam dessa escuridão... Sei que é importante que nossos filhos conheçam essa face do Brasil, enfim...
Denise, na foto aos 21 anos, é tão diferente da mulher sofrida que nos fala que pensei ser outra pessoa; pensei que era uma atriz. Segundo ela, Bacuri era um homem lindo! Além de ter sido torturado por mais de cem dias, teve o rosto e o corpo destruídos. Denise observa que o rosto destroçado de Bacuri, para ela, é como se sua beleza física fosse insuportável para seus algozes. Reconheci sua foto. Deve ter saído em muitos jornais.
A história das duas mulheres é dura, um verdadeiro massacre. Mesmo assim nesse tipo de filme às vezes, um detalhe é o que pode emocionar o espectador. Para mim, a fala de Eduarda, no final, derruba a mais fria das criaturas. Eduarda é linda, com os olhos do pai - adoro ver semelhanças entre pais e filhos! A jovem fala que não conseguia dizer quem era seu pai. Tinha problemas para assumir a identidade do pai. Não sabia o porquê, mas não queria dizer que era filha de um prisioneiro político assassinado pelo regime militar!
Quando o governo brasileiro pede desculpas por tudo o que aconteceu, Eduarda sente que seu sofrimento torna-se menos pesado. Sinto profunda tristeza, pelos milhares de jovens - com a mesma idade de Eduarda - que sofreram problemas semelhantes, e para quem ninguém pediu desculpas ou sentiu-se responsável. O sofrimento no anonimato não é menos doloroso.
Todos os brasileiros foram privados de seus direitos, cassados de sonhos e liberdade. Somos sobreviventes do medo e da desesperança. Maria de Medeiros é uma mulher genial ao permitir a ambas, a realização de um ato de coragem e libertação. Mas Denise alerta: Não vai descansar enquanto o outro lado não contar a sua versão, sua história não terminou. Quer conhecer a versão dos assassinos que não foram punidos até hoje. De Eduardo restam as lembranças dos olhos azuis inesquecíveis.
 

domingo, 25 de agosto de 2013

Tese sobre um homicídio

Os créditos da qualidade de  "Tese sobre um homicídio" devem-se em grande parte à novela de Diego Pazkowski. A trama é surpreendente. Assisti duas vezes e gostei mais na segunda. Hérnan Golgfrid, o diretor, desde o início fornece as pistas para o espectador descobrir o criminoso. Mais fácil do que num romance de Agatha Christie, quem sabe até de forma bastante explícita. Assim, não é segredo para ninguém a identidade do criminoso. 
Em "Tese sobre um Homicídio" Roberto Bermudez (Ricardo Darin),  professor criminalista da Universidade de Buenos Aires, mantém uma espécie de duelo com seu aluno Gonzalo (Alberto Amman).
O espectador talvez não perceba, mas o interesse de Gonzalo pelo professor vai muito além do de um aluno por seu brilhante mestre. Os flashbacks redundam quando mostram Bermudez em festas familiares com Gonzalo, ainda menino, o pai e a mãe. O professor parece próximo demais da mãe do menino... Em conversa com Bermudez, Gonzalo fala que o único desejo de sua mãe era ficar longe de seu pai. A causa da tamanha desgraça que se abate sobre os dois,  seria o desafio de um possível filho mal amado e não reconhecido pelo pai?  As explicações geniais ficariam por conta de psicólogas e psiquiatras. Chamem as psicólogas e psiquiatras, por favor!
O clima do filme torna-se interessante quando se estabelece a disputa entre  Bermudez e Gonzalo. E tudo em tentativa mortal de provar que o aluno é melhor que o professor.
Dentro do campus da Universidade, uma mulher é brutalmente assassinada. Usa uma correntinha em formato de borboleta, Bermudez nota que a correntinha não deixou nenhuma marca no pescoço, após as sevícias que causaram a morte.
Em discusão anterior, Gonzalo dissera ao professor que não exista justiça, que a lei estava a serviço dos poderosos. Se alguém matasse uma borboleta não seria preso, a menos que ela pertencesse a um poderoso colecionador.
A morte é  anunciada, no meio da aula, Gonzalo é o último a levantar-se. Não olha pela janela, como todos os outros, quer ver a reação do professor... Bermudez não resiste a fazer suas próprias investigações. Tem como certa a identidade do assassino. No meio jurídico, e na vida real, uma coisa é suspeitar, outra é provar. Emocionalmente envolvido, o professor tropeça.... Ao perder a cabeça, perde a razão...Invade a casa de Gonzalo, obtendo provas por meios ilícitos.
Ironia do destino, para matar sua próxima vítima,  parece ao espectador, que simbolicamente o assassino usará uma pequena espada da justiça. Não por acaso, Gonzalo tinha entregue uma pequena espada da justiça como presente de seu pai  ao professor.
Parece que Diego Pazskowski e Hérnan Gilfrid se divertem fornecendo  pistas ao espectador...Bermudez vai caindo aos poucos. Todas as suas provas são refutadas e até usadas contra ele. Bebe muito, torna-se um alcoólatra ou já era dependente do álcool, devido a problemas não resolvidos, quem sabe com a mãe de Gonzalo? Isso sim, o diretor deixa para o espectador decidir.
O aspecto de Bermudez piora, ele definha. Os olhos ficam empapuçados de tanta bebida. Mas enfim, e aquela barriguinha proemiente, e as calças sem corte? E os sapatos marrom? Seriam de um professor desleixado ou os homens de meia idade, na Argentina e no Brasil, são descuidados consigo mesmos? Parecia o meu tio de Dom Pedrito, falecido há muitos e muitos anos. A beleza dos olhos azuis, nessa hora, sumiu... Darin tem mesmo bolsas sob os olhos ou é só para interpretar?
E Gonzalo rouba tudo de Bermudez, desde a capacidade de mostrar que é superior até a mulher que atraía o professor. Para humilhar, lhe sussurra ao ouvido, dizendo baixinho, que tem seguido  seus conselhos,  tem praticado muito sexo! Finalmente,  com frieza e crueldade suprema, ironiza  o mestre, quando afirma que não vai prestar queixa à  polícia. É mais ou menos como matar uma barata e esmagar com o pé...
Não perca, os filmes argentinos estão cada dia melhores!


 

domingo, 11 de agosto de 2013

Red 2- Aposentados e ainda mais perigosos

Ninguém deveria deixar de ir ao cinema quando está passando um filme com Bruce Willis, John Malkovich, Helen Mirren, Mary-Louise Parker, Catherine Zeta Jones e Anthony Hopkins. Ainda mais uma segunda versão de "Red, aposentados e perigosos". Sabemos que a diversão está garantida, e o filme não decepciona. É baseado na série em quadrinhos de Warren Ellis e Cully Hamner, publicada pela DC Comics.
 
 A caçada é inevitável quando Frank Moses (Bruce Willis) descobre que seu amigo Marvin Boggs (John Malkovich), oficialmente morto, de fato, não estava morto, mas fugindo de inimigos mortais. A situação fica ainda mais perigosa quando Frank é preso  e descobre que uma bomba abandonada no Kremlin está prestes a ser detonada. O enredo é cheio de surpresas, tudo o que parece não é exatamente aquilo que o espectador pode estar pensando. Han (Byung-Hun Lee) é uma verdadeira máquina de matar. O ator sul-coreano brilha mais uma vez ao lado dos famosos "retired and extremely dangerous". 
 
O tom romântico fica por conta do relacionamento entre Frank e Sarah Ross ( Mary-Louise Parker) . Ele é super protetor e deseja preservar a namorada custe o que custar. Sarah deseja participar de tudo e não se entrega quando descobre que seu grande amor teve um relacionamento com a bela Katja (Catherine Zeta Jones). As saídas de Sarah, são ótimas e Marvin descobre que o grande trunfo da personagem é ser uma mulher de quem todos gostam. Assim, as picuinhas entre as duas atrizes, apimentam e divertem. Helen Mirren está ótima como sempre, como a  ex-companheira Victoria.  Divertido é que todos dão palpites sobre o relacionamento  de Frank e Sarah, e torcem para que ele finalmente atinja a uma estabilidade emocional.
 
O clímax do filme é a cena de ação em que Han dirige um carrão azul, que faz arrancadas laterais. É assim, o carro encaixa embaixo de um caminhão e saí quase voando, rodando de lado, dá para entender? E a nossa bela Victoria, no auge dos seus 67 anos arrasa no tiroteio. Usa ambas as mãos.  Nas janelas laterais do carro, aparecem só as mãos, segurando os revólveres e dando tiros para todo lado! Cuide é o máximo!
 
Não dá finalizar sem falar no genial John Malkovich que, meio estrábico, fica ainda mais engraçado. Você não pode deixar de ver as caretas que ele faz! 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Tabu

Tabu, o filme de arte dirigido por Miguel Gomes, recebeu cinco estrelinhas na cotação de Zero Hora. Para o comum dos mortais não é fácil assistir a Tabu, o nome da Fazenda onde vivia a personagem principal, na África. Miguel Gomes propõe um excessivo distanciamento em relação ao filme. Principalmente na segunda parte, o tom de voz do narrador - falando em português de Portugal - em minha opinião contribui para a antipatia do espectador em relação à obra. A linguagem formal lembra cartilhas de antigamente. Enfim o nosso português para se ouvir e falar é muito mais bonito. O próprio personagem que relata a tragédia, não sente a menor emoção e parece completamente distante do jovem, inquieto e apaixonado que vemos no filme.
A história é relatada em atos, invertendo-se a ordem no tempo. Miguel Gomes inicia mostrando a vida de Aurora, uma idosa, solitária, que aos poucos entra em processo de demência. O diretor mostra um profundo conhecimento da velhice e do sofrimento dos idosos. Ao que parece o filme retrata, em parte, o comportamento de um de seus familiares. Quem acompanhou o final da vida de qualquer idoso, encontrará muita coisa de familiar no Tabu de Miguel Gomes.
Retirando-se esses pontos positivos e o tom belíssimo da fotografia em preto e branco, a segunda parte é previsível. Aurora (Ana Moreira)  é uma jovem mimada e arrogante que vive o poder dos brancos no período colonial africano. Bem casada, possui uma certa bipolaridade no comportamento. Grávida, apaixona-se por Gian Luca-Ventura ( Carloto Cotta). O jovem irresistível é o mesmo idoso que, em outro tempo,  narra a história. Ventura poderia ser uma versão atual de Jacques Perrin,  com muito menos charme e beleza. Aliás, os dois dentinhos da frente, desalinhados, prejudicam o seu sorriso.
Finalmente o espectador descobre que havia algo de podre no reino da Dinamarca. E Miguel Gomes insere elementos em homenagem a Murnau, o diretor alemão que dirigiu Tabu, em 1931. Estão presentes superstições, instintos selvagens e predadores. A presença do crocodilo faz um paralelo com a agressividade de Aurora. Enfim, Tabu mostra desejos,  crimes e paixões inconfessáveis que passam  distantes do espectador.
 Em tempo,  o filme passou na 62 a. Berlinale,  ganhou o prêmio Alfred Bauer e o FIPRESCI, da crítica internacional, como o melhor filme em competição!
 

sábado, 22 de junho de 2013

Faroeste Caboclo

O João (Fabricio Boliveira) de  "Faroeste Caboclo" é o próprio brasileiro fodido, como afirma Niemeyer, em  "A vida é um sopro". Desde criança porta o estigma da desigualdade. Assiste ao assassinato do pai, à morte da mãe, e o único parente - Pablo (César Trancoso) -  a quem resta recorrer, é um traficante. Tudo o que acontece em sua vida propicia seu envolvimento com o mundo do crime. Se a grande vítima é ele próprio, chega o dia em que decide virar herói às avessas e  se transformar no homem sem lei e sem alma, que busca justiça com as próprias mãos.
Digam-me, quem não vibra com os tiros de misericórdia no inimigo? No policial corrupto e no traficantezinho, o covarde companheiro de Jeremias ( Felipe Abib), seu desafeto?
Vejam, fiquei feliz pelo diretor René Sampaio ter entregue o papel principal a Bolivariano. Estou cansada de ver Lázaro Ramos em tudo quanto é filme, como se fosse o único...
O casal João e Maria Lúcia (Ísis Valverde) estão perfeitos em seus papéis. João transformou-se em um homem frio e violento, porém perto de Maria Lúcia se emociona. No  momento fatal, de emoção  pela amada, um centésimo de segundo de distração o leva à morte. Neste aspecto o diretor foi original, diferenciando-se dos clássicos do faroeste.
As cenas de sexo são delicadas, a maneira de filmar é diferente. O perfil do casal se destaca, a risada franca de Maria Lúcia é encantadora.
René Sampaio afirma que sente maiores afinidades pelos faroestes italianos e por Sam Peckinpah do que por John Ford.
Minha amiga Marinalva   gostou do filme, mas ela acha que René Sampaio poderia ter feito uma citação literal aos mestres do faroeste, ou seja,  dilatar o tempo,  colocar uma música muito  alta e enloquecedoura, como a de Morricone. Alternar o foco da câmera, ora em um, ora em outro dos contendores. Enfim, mostrar o rosto, o suor, os olhos ocupando a tela inteira. Em um desses filmes  lembro nitidamente da música, do som exasperante de uma mosca, e uma boca enorme mascando um cigarro... Depois a mão de um e de outro sacando o revóver... Finalmente o bang! bang! René Sampaio poderia ter feito como Sérgio Leone em "Um punhado de Dólares", quando Clint Eastwoood com o pala mexicano e o cigarro pendurado nos lábios, manda bala e encomenda três caixões com antecedência. Porém, inesquecível mesmo é "Era uma vez no oeste" (C' Era una volta il West) com Henri Fonda, Claudia Cardinale e Charles Bronson.
Enfim, se Brian de Palma em "Os Intocáveis" recriou a cena da escadaria do "Encouraçado Potemkim" de Eisenstein, porque René Sampaio não poderia fazer o mesmo?
Marinalva acha que René Sampaio fez um belíssimo filme, mas poderia ter feito uma citação literal aos mestres do cinema, apenas isso. Mesmo assim,  no duelo final, a morte de Jeremias (Felipe Abib) se estatelando no chão é de lavar a alma!
Não perca este belíssimo filme inspirado na música de Renato Russo!

 
   
  

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Dentro de Casa

François Ozon é genial, como dizem os franceses. Ele subverte as idéias de Hitchcock, ou ainda as recria como no processo canibalístico brasileiro em que, ao copiar, o autor recria algo novo. Percebe-se o "novo" na cena final. Se o personagem de Hichcock, interpretado por James Stewart via a vida através de uma "Janela Indiscreta" que se abre para o mundo, Claude (Ernst Umhauer), o aluno adolescente, faz o movimento contrário. Para ele,  observar a vida do outro - do lado de fora - é insuficiente. A relação entre o professor (Fabrice Luchini) e seu aluno é quase como  a relação entre o criador e sua criatura.
Nada é tão simples. Voltando à essa  relação, o genial para Claude foi ter encontrado alguém que o incentivou a escrever e criar, e ainda discutiu com ele a qualidade de seu trabalho. O professor repetia e analisava cada frase. Perguntava ao aluno sobre determinado texto, se Claude desejava ser um escritor sério ou um comediante.
Marinalva, minha amiga, me disse que isso era tudo com que ela sonhava. Você a conhece? Ela queria muito que o Veríssimo lesse seus textos. Marinalva escreve crônicas como no filme, onde ela é a personagem principal.
Identificou-se com Claude, discutindo com o professor o seu texto. E pensou: esse menino tinha tudo na mão! E o que ele fez? Claude sentia-se tão sozinho, que pensou em adotar e ser adotado pela família do amigo. Foi entrando, se introduzindo e terminou transgredindo. Nem ele sabia o que sentia pela mãe do amigo. Se James Stewart olhava de fora para dentro das muitas janelas à sua frente, Claude escolhe uma e resolve entrar para espionar e viver a vida dos outros, deseja espionar a vida do outro "Dentro de Casa". A solidão do personagem torna-se cada vez maior. 
O genial na história de François Ozon é o resgate da relação professor-aluno. Na seqüência final, depois que quase tudo deu errado, os dois se encontram, retomam o diálogo e a discussão da obra literária, ainda palpitante, em processo de criação. Na verdade o essencial é a relação entre Germain e seu pupilo. 
E François Ozon encerra seu espetáculo homenageando Hitchcock. Na cena em que os dois sentados em um banco, espionam as muitas vidas que transcorrem dentro das muitas janelas iluminadas, à sua frente, na tela as cortinas se fecham. Terminou o espetáculo!

 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Amor Profundo

Rachel Weiss recebeu prêmios por sua atuação no filme. Na verdade a atriz está ótima como Hester. Até aí tudo bem. Amor Profundo trata de frustações e tendências suicidas. Psicólogos e psiquiatras são mais propensos em aceitar e compreender o comportamento suicida. O comum dos mortais nem sempre entende o que leva algumas pessoas ao suicídio ou à depressão. Simplesmente falta paciência para entender como pode alguém não ficar feliz apenas de ver o sol nascer?

Hester tinha um marido a quem deixara de amar. Tinha uma sogra insuportável, que cobrava dela um comportamento que não tinha a menor vontade de adotar. Quando pede o divórcio por estar envolvida com um ex-combatente da Segunda Guerra, não percebe que sua vida não vai mudar. O fato é que Hester vive com Hester, o seu eu vive muito mal consigo mesmo. Desta forma, os problemas permanecem.

Quem não consegue viver bem consigo mesmo, não vive bem com ninguém. Em nenhum momento do filme vemos a personagem preocupada com outras coisas que não sejam suas relações com o ex- marido ou com com o amante que a maltrata. Realizações profissionais? Nem pensar. Preocupações em fazer alguma coisa por si mesma ou pelos outros? Nem pensar! As psicológas estão certas quando afirmam que a falta de amor próprio faz com que as pessoas procurem alguém que as maltrate e diminua. Alguém que reafirme o pouco amor sentem por si mesmas. Complicado, não é mesmo?

Os três personagens não possuem um mínimo de auto-estima. O marido, boa pessoa, é um fraco dominado pela mãe. O herói da Segunda Guerra parou no tempo e não sabe viver em tempos de paz. A única coisa que consegue fazer é bater de frente com Hester, que termina sendo um obstáculo em sua vida. E Hester sem amor e sem opções na vida decide acabar com tudo.

O autor mostra que felicidade e equilíbrio independem de classes socias. A senhoria, mulher equilibrada tenta fazer com que Hester volte à realidade e mostra que amor mesmo é a capacidade de cuidar e se dedicar ao outro em qualquer situação, principalmente diante da doença terminal. Tudo muito esquemático e cansativo. Enfim, suicidas e depressivos me fazem perder a paciência.
 

domingo, 28 de abril de 2013

Atrás da Porta

O filme de Istvan Szabo é impressionante. Nunca vi igual. Trata-se da história de duas mulheres, patroa e empregada. Mas a relação entre as duas é muito especial. À distância, você poderia pensar que Emerenc, a empregada interpretada pela maravilhosa Helen Mirren é uma criatura exótica e abusada. Pode até ser... Mas você precisa conhecer o outro lado de Emerenc. A patroa, interpretada por Martina Gedeck,  acredite, teme a diarista.
Dividida entre a vontade de escrever e as obrigações domésticas, Magda decide contratar uma empregada.Tudo déjà vu, não é mesmo?
Você lembra a alcóolatra, aquela empregada, de cara fechada, a quem você não tinha coragem de cobrar nada? Com Magda, a patroa, tudo é muito parecido.
O fato é que Emerenc tem cada saída! Deixa a patroa perplexa! Representa o próprio sofrimento do povo húngaro, na década de 50, após a Segunda Guerra Mundial. Em sua rispidez e simplicidade, Emerenc explica  para Magda a diferença de classe entre as duas.
- Na vida, existem os que varrem e os que mandam varrer o chão!
Quando, finalmente consegue desabafar com a patroa, relata uma vida tão trágica que só podemos rir. Não dá para não ficar estupefato ante o final de sua mãe e irmãzinhas gêmeas.
Aliás, o diretor Istavan Szabo não dá passagem para a pieguice. Tudo é tão cru, que o tragicômico nos convida ao riso. Até como uma forma de suportar  a dor.
Quem não lembra alguma criatura meio maluca, meio patética, que vivia fechada em casa? Que escondia algum grande mistério?
O fato é, que por amor, Emerenc sofre o maior preconceito, mas salva uma criança judia, assumindo uma maternidade que não é sua. Por amor à sua bezerrinha, Emerenc come o pão que o diabo amassou. Embora adulta, lembra uma criança, quando alcança para Magda a malinha para enterrar seu gato.
Você lembra a menina que colocou o pintinho na merendeira, quando ele morreu, e guardou-o no quartinho dos fundos? Como muitas crianças, Emerenc ainda está aprendendo a lidar com a morte.
Apesar das diferenças, patroa e empregada aprendem o respeito mútuo. Magda, finalmente amarga os tristes acontecimentos que permitiram que ela provocasse a morte pelo simples amor, enquanto Emerenc, tinha devolvido a vida também pelo simples amor.
Não perca este filme emocionante, ame Emerenc e Magda como o diretor as amou. Divirta-se com a rebeldia de Emerenc quando protesta contra a patroa cobrindo o rosto com um paninho branco!
 

sábado, 13 de abril de 2013

Vous n´avez encore rien vu

Antoine d´Anthac poderia ser o próprio Alain Resnais, o grande cineasta de 90 anos. O diretor  ficou famoso com "Hiroshima meu amor", e surpreende mais uma vez com sua genialidade. O filme conta a história da morte do dramaturgo D´Anthac, que convida treze atores que atuaram em sua peça "Eurídice", para a cerimônia de abertura de seu testamento. De fato o legado de Anthac é a discussão sobre o mistério da vida e da morte. Alain Resnais fala de morte, como se estivesse fazendo sua obra póstuma.
Os treze atores são os próprios: Mathieu Amalric, Pierre Arditi, Sabine Ázema, Anne Consigny, Anny Duperey , Hyppolite Girardot, Michel Piccolli, Michel Vuillermoz, Lambert Wilson, Jean Crétian...
Rubem Alves diz que dentro de cada um nós vivem muitos outros, a quem até podemos dar nosso próprio nome ou inventar  outros. Precisamos descobrir esses muitos que vivem cá dentro.
Assim, o dramaturgo D´Anthac pode ser Resnais anunciando a própria morte. E os outros treze, são os muitos Alain Resnais que vivem dentro dele mesmo. O diretor trabalha com a encenação teatral como forma de falar de si, da vida e da morte. Tudo é dramaturgia. De fato não existe público. Aliás, o público somos nós, e não  os atores que assistem à encenação. Os treze  vivem seus próprios papéis, mas não são eles mesmos,  são a matéria usada pelo diretor para falar de si próprio. Cada ator conhece muito bem o seu papel - na história de Orfeu e Eurídice - que é encenada como  se fosse o testamento do autor.
Orfeu apaixona-se por Eurídice, mas surge Aristeu, um ser estranho que ameaça esse amor. Tentando fugir da traição, Eurídice tropeça e é picada pela serpente. Orfeu, transtornado pela tristeza, desce ao mundo dos mortos, tentando trazê-la de volta. A agonia da música de Orfeu emociona Hades - rei das trevas - que atende aos desejos de Perséfone, sua mulher. Permite a Orfeu trazer Eurídice de volta à vida, desde que ele não olhe dentro de seus olhos. No final do túnel, desconfiado, Orfeu olha para trás. Vê Eurídice pela última vez, transformando-se em tênue fantasma, como um sopro que escapa do mundo dos mortos.
Na dramaturgia de D´Anthac, surgem as falas que afirmam que, na vida encontramos seres estranhos, como os que aparecem para o casal de namorados. E Resnais fala de solidão, de como cada um de nós pode estar rodeado pela família, e de fato, sem perceber,  pode estar vivendo na maior solidão. E fala de morte, que pode ser doce e serena. Problemas - estes sim - temos em vida.
Resnais fala das lembranças e de sua importância para  nossas vidas. É preciso estar atento à beleza do filme. Da mesma forma que na tragédia grega, o dramaturgo, que amava finais supreendentes e reviravoltas, faz cumprir o destino de Orfeu.
O mito de Orfeu e Eurídice me fez lembrar a própria infância. Eu adorava ir ao circo-teatro Biduca assistir à peça '' E o céu uniu dois corações" - uma versão caipira do mito de Orfeu.  Enfim, os sentimentos vividos, de dor ou tristeza nos acompanham, não escapamos de nossas lembranças. Mas elas, as lembranças poderão transformar-se em doce consolo: "Nous avons nos souvenirs pour nous défendre." ( Nós temos nossas lembranças para nos defender)...



domingo, 7 de abril de 2013

Thérèse D.

Se ser feminista é rebelar-se contra a dominação masculina, então Thérèse foi uma das primeiras mulheres feministas.  Se confundiu tudo, antes de mais nada, é preciso dizer que a grande vítima foi ela própria.
Thérèse foi o último filme de Claude Miller, falecido em 2012. O romance de François  Mauriac foi publicado em 1927. Depois, Emanuelle Riva viveu duas vezes a personagem. Em 1962, no filme de George Franjou e em 1966 em La Fin de la Nuit, de Albert Riéra.  
O romance é baseado em uma história verdadeira. Em 1905, Henriette Canaby foi acusada
de envenenar o marido Émile Canaby, com gotas de aconitina.
Thérèse vive um tempo de submissão feminina. No filme, a mulher é propriedade do homem, tanto quanto os bosques de pinheiro, que aumentaram o patrimônio da família Desqueyroux. Thérèse é forte. Deseja a libertade. Aquele marido rude, que não se importa com ela, que apenas caça por diversão, que só faz o que está escrito nas convenções sociais, tudo aquilo a exaspera. Mas, na França do início do século, às mulheres é reservado o doce recanto do lar, sob o domínio e o poder do pater familias.
O marido faz tudo para manter as aparências. E aí se articula o crime maior. Thérèse não possui interlocutores. Uma única vez conversa com outro homem, o namorado de sua cunhada. Mas ele deseja divertir-se, enquanto a jovem morre de amores. Porém, é esclarecido o suficiente para saber da condição de submissão de Thérèse. Depois, ela não fala com mais ninguém. Nem sequer tem a oportunidade de trair o marido. Nunca teve uma grande paixão. Não se comunica. Não fala. Atinge o seu limite. Não sabe se pensa, ou o que pensa. Não sabe o que fazer. O marido, involuntariamente, lhe sugere a idéia macabra das gotas de aconitina. Gilles Lelouche vive o marido - Bernard Desqueyroux -  o homem mais medíocre, grosseiro e pobre de espírito que você possa imaginar. Para completar, é dominado pela mãe. 
O filme discute a questão da propriedade e da mulher como objeto. Discute o cinismo da burguesia. No início, vemos a paisagem de pinheiros, fechada, sem saída, sem luz, obscura como a vida de Thérèse. Sentimos um tremor só de pensar o que nos espera. E  as notas de Schubert enlouquecem o espectador. Com certeza o filme é belíssimo. Pontuado. História contada com perfeição.
A violência da burguesia recai sobre os desajustados e rebeldes. Na família Desqueyroux, a mulher é desqualificada como ser moral. Para Bernard e sua família a indiferença corresponde a um estado de espírito em que a impiedade não é reconhecida como tal. Façam o que façam com Thérèse, não importa. Bernard e sua família estão alheados. Além da hostilidade e perseguição, a mulher não é percebida como um ser autônomo - parceiro na obediência a leis partilhadas; como alguém que deve ser respeitado - mas sim, como propriedade privada. E que, neste caso extremo deve ser destruída. 
Assim, o marido, consciente ou não, inicia seu processo de vingança. Audrey Tatou é soberba para revelar a tensão da personagem, e a forma como vai sendo abatida, aos poucos...
Porém surge a dúvida. Bernard seria um personagem contraditório? O diretor deixa algo no ar... Ele ainda sente alguma coisa por Thérèse? Ou quer, de fato, livrar a família da vergonha de ter que admitir que sua mulher tentou matá-lo? Age somente em nome da família e das aparências?
Thérèse livrou-se da acusação porque o marido testemunhou em seu favor...
 

O Último Elvis

O Último Elvis, dirigido por Armando Bo nos faz pensar nos limites  da alma humana. Até onde vai o sonho e a loucura. Minha amiga Marinalva, não tanto quanto Carlos Gutiérrez (John McInerny), sempre amou Elvis Presley. Esse amor vinha desde a adolescência. Porém, chegou um momento em que pensou:-  Deus meu, todo mundo acha cafona gostar do Elvis... Então, devo ser mesmo muito brega!
Tudo isso seria somente porque o ídolo ficou decadente na fase final de sua vida? Mas decadência? Só se for física... Para Marinalva e para Carlos Gutiérrez, Elvis era um Deus, muito melhor que os Beatles.
Carlos Gutierrez era cover de Elvis, imitava-o com perfeição. Acreditava piamente que era um predestinado. Acreditava que era Elvis Presley. Aí terminam as  coincidências com as predileções de Marinalva.
 Armando Bo mostra com perfeição a vida do pobre coitado, em alguma cidade da Argentina. O cotidiano de Guttierrez é muito, muito medíocre, muito pobre. Durante o dia trabalha numa fábrica. Alienado de seu trabalho, sempre está ouvindo Elvis, com seus fones de ouvido. À noite, vive a vida Elvis e acredita que é Elvis. 
Em uma coisa Marinalva e muitos concordam. A voz de Gutiérrez é linda e lembra muito a de Elvis quando ele canta Unchained Melody: Oh... My love, my darling, I've hungered for your touch, a long, lonely time...
A insanidade toma conta de Carlos. Mesmo tentando ser um bom pai, não convence a filha, nem a ex-mulher. Quando as duas sofrem um acidente, Carlos assume o papel de pai e agrada à menina Lisa Marie (Margarita Lopes) - que recebeu o mesmo nome da filha de Elvis. Mas a loucura corre solta. Carlos acredita ter um grande destino a cumprir, que seu grande sucesso está por acontecer. Quando completa 42 anos, a idade em que Elvis morreu, precisa cumprir o seu destino...
Marinalva somente lamentou Carlos não cantar sua balada preferida, Love me Tender...   
 
Love me tender,
Love me sweet,
Never let me go.
You have made my life complete,
And i love you so
 
 
Dá-lhe Elvis, I love you!