terça-feira, 14 de outubro de 2014

Trash, a esperança vem do lixo

Trash, a esperança vem do lixo conta a história de três garotos que procuram alguma coisa de valor  no lixão.  Galbo (Eduardo Luís) e Raphael ( Rickson Tevez) encontram uma carteira. Ficam sabendo que  é valiosa e que está sendo procurada por um policial. Desconfiam que deve ser  importante e se recusam a entregá-la. Procuram a ajuda do outro amigo, Rato (Gabriel Winstein). E aí começa a correria!
Você notou como todo mundo é ágil na favela? Todos cantam e correm! E a propaganda se fez, favela agora é lugar de turista curioso que deseja ver um Brasil exótico. É tema de questão do Enade! Mas que raiva me dá quando fico sabendo que muito europeu pensa que, aqui, encontrará jacaré na rua!
Trash é uma história que tem um pouco desse lado fantasioso, mas nos manda um recado que pode servir de exemplo a ser seguido. Wagner Moura, excelente, lindo, maravilhoso! Como sempre dá aquele sorriso maroto quando consegue atingir seus objetivos, cutucar no esquema de corrupção há tempo instalado no Brasil! Aliás, o diretor poderia ter escolhido outro país, e terminou optando pelo Brasil.
No elenco além de Wagner Moura, temos Selton Mello, fazendo o policial torturador. Assim, um pouco assustador, o próprio mal com cara de bonzinho, e que não hesita em mandar torturar crianças. Com certeza o filme é delas! Os três meninos brilham. A saga da infância se transforma no Código da Bíblia a ser decifrado. Correria que não pára, tem seu encanto!
A mensagem do diretor é o seguinte: Faça a coisa certa, torne pública toda e qualquer corrupção, dê nome aos ladrões e aos que cometem crimes por preconceito ou discriminação! Ou ainda quem maltrata crianças e animais. Por isso, apesar de todo excesso de otimismo sua alma ficará lavada quando o video dos meninos for publicado na internet. 
No instante, fiz a relação com o caso de discriminação contra Luiz Carlos Merten, o melhor crítico de cinema do Brasil. O diretor de Prometo Que Um Dia Vou Deixar Essa Cidade foi a criatura que o agrediu. O motivo teria sido a crítica do jornalista sobre seu filme. Mas a ofensa veio na contra-mão. Em primeiro lugar, o Luiz foi atingido,  não em razão de seu trabalho, mas por causa de sua deficiência física, puro preconceito! Os insultos vieram acompanhados de palavras grosseiras e de baixo calão! Isso é crime! Tão grave quanto o da torcedora do Grêmio!
Eu que conheço o Luiz há mais de 48 anos, sei que é um homem nobre e honesto. Equilibrado, afirmou que esse tipo de argumento nunca tinha sido usado para atingí-lo! Publicou tudo sim, no seu blog de cinema! Parabéns! Dá-lhe Luiz! Eu, a Lucinha e milhares de pessoas estamos contigo! E se és diferente não esqueçamos que Michelangelo e Leonardo da Vinci também eram diferentes!
Você pode encontrar os dois textos do Luiz no seguinte endereço:
http://blogs.estadao.com.br/luiz-carlos-merten/festival-do-rio-1/
http://blogs.estadao.com.br/luiz-carlos-merten/festival-do-rio-3/

domingo, 12 de outubro de 2014

Garota Exemplar

O título cria outra expectativa no espectador. E eu que dizia para mim mesma que ía assistir a um filme sobre uma menina bem comportada... Seria o que os críticos escrevem, uma espécie de misoginia? Não creio, talvez uma triste constatação que o sonho, que a palavra América representa, na verdade nunca existiu, foi forjado,  até mesmo pelo próprio cinema.  
E David Fincher, o diretor, está aqui e agora para desmentir tudo isso. Garota Exemplar é um filme sobre o casal contemporâneo, ou seja, de um tempo, no qual as relações têm as maiores dificuldades para darem certo. Ainda mais tratando-se da Garota Exemplar da América, Ammie Dunne, interpretada por Rosamund Pike. A moça faz de tudo com o marido, desde que lhe seja permitido viver a fantasia da existência perfeita no imaginário de seu público fiel. Até por isso o diretor dá tanto destaque à midia, que o que não sabe, inventa!
Ninguém desconfia quando o Fincher nos mostra aquele aparente paraíso, no início. Logo o sonho de contos de fadas desaparece. Para Dunne, a culpa é do marido, de suas fragilidades e incapacidades. 
E o espetáculo não pode parar! Mal a Garota Malvada desaparece, se instala uma festa no pátio da casa da família rica, para reunir amigos e apoio às buscas pela desaparecida. Tudo é estereótipo, desde o horror que são pai e mãe da moça. Nunca se viu tanta mediocridade, desde os pais  até as invenções da journalista de sucesso, tipo Oprah Winfrey. Você lembra do filme Volver, de Almodóvar, em que Bianca Portillo, a "Agustina tiene cancer"? e que na TV a moça é humilhada e explorada pela apresentadora? Aqui a denúncia sobre os abusos dos meios de comunicação é a mesma,  apenas que Almodóvar é melhor. Ben Afflek, o marido, que tinha seu lado obscuro, de fato inspirava desconfiança. Nem por isso deverria ser considerado criminoso. Mas, era acusado abertamente,  de assassino pela journalista. O mais estranho é que todos acatavam, e aceitavam o jogo sujo dos meios de comunicação. Todos respondiam aos jornalistos, o espetáculo nunca terminava. Noite e dia elles perseguiam os personagens, que também se preparavam para enfrentar os holofotes. Era o espetáculo das falsidades em todos os sentidos, a vida suspensa e substituída pela encenação!
Nossa Menina Malvada chegou a cansar o espectador. Como cometer tantos crimes e barbaridades sem ser percebida?
Será que o personagem do marido era um homme tão desprezível que mereceu o final que teve? O espectador não fica sabendo, mas  nossa Menina Malvada não deixava de ser uma espécie de "colecionadora de borboletas", que colecionou homens devoráveis, fracos e desprezíveis. E agora quando faz do marido um refém?
 




http://youtu.be/tKwEdRC26xA