quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Corações de Ferro




Segunda Guerra Mundial, um esquadrão suicida enfrenta o exército alemão. Além do tema, do maior interesse, o ator principal é Brad Pitt. E o elenco não fica por aí Shia LaBeouf, Logan Lerman, Michael Peña e Jon Bernthal brilham como membros do grupo liderado por Don Wardaddy Collier (Brad Pitt). Como indica o nome, é o papai guerreiro da hora!
Estratégias ou outros acontecimentos interessam menos do que a aventura dentro de um tanque de guerra, que hoje, nos parece jurássico. É verdade, o diretor, David Ayer, no início, explica que os aliados tiveram muitas dificuldades para enfrentar os tanques alemães com tecnologia superior.
Assim,  num filme de guri, fiquei ali, de olhar grudado na tela! Senti muito frio, seria a emoção ou o ar condicionado? Os dois.
Cada soldado é apresentado ao espectador, em meio a um cenário esverdeado, com muita neblina,  corpos e mais corpos, mortos, pedaços de braços, barro  e sangue, muito sangue! É a primeira vez que vejo a Segunda Guerra Mundial sob um olhar que desvenda a barbárie, mas que enfim, em nenhum momento esquece os heróis.
Personagens truculentos, grosseiros, mal educados, mas heróis, é isso o que o diretor nos passa. Outro detalhe, muita coisa acontece ao sabor do acaso, do destino como dizia o personagem de Shia LaBeouf, o “Bíblia”.  Quando terminava a jornada e nenhum tinha morrido, afirmava que o Senhor tinha lhes dado mais um dia de vida. O que não deixa de ser pura verdade, tipo “assim estava escrito”!
Logan Lerman é o menino despreparado para a guerra, que por ironia do destino vai parar no grupo de Wardaddy Collier. O ator está perfeito e faz um contraponto com os brutamontes. Detalhe, o diretor chama a atenção para a única pureza do filme, os olhos azuis e límpidos de alguns personagens. Até quanto pude observar, tanto Brad Pitt, como Logan Lerman mostram olhos azuis cristalinos, enquanto os de Shia LaBoeuf  são castanho-esverdeados.
Norman Ellison ( Logan Lerman) explica que foi treinado para escrever sessenta palavras por minuto! Com certeza não vai matar o nazista, pois odeia aquilo tudo! Mas o que fazer? Não há como fugir da guerra! E papai guerreiro mostra quem manda e o obriga a atirar. Logo em seguida, Norman entende onde está, e o que precisa ser feito.
Como em todos os filmes de guerra, existe aquele momento em que a carnificina  fica em suspenso, Norman e Don entram no casarão onde estão duas mulheres,  tia e  sobrinha, esta última, uma jovem loura, alemã e muito, muito bonita. Don considera seu trabalho uma verdadeira missão. Como pai e mestre deseja transformar Norman em um homem, oferecer a seu menino algo muito mais doce do que aquela metralhadora com que o obrigou a matar o inimigo. E os quatro se reúnem em torno da mesa para jantarem como pessoas civilizadas. Momento sublime, o diretor permite o encontro de duas almas sensíveis, Norman toca ao piano, e a alemãzinha o acompanha cantando. A visão do paraíso é interrompida pela entrada do grosseiro e beberrão Grady  “Coon-Ass” Travis. O animal debocha da situação, que considera no mínimo, inadequada,  lambe o ovo frito que estava no prato da garota. Em momento contemporizador, Daddy passa o ovo lambido para o seu prato e serve-se com garfo e faca! Genial! Lembrei meus anos de pensionato!
Dizem que na vida o tempo não conta, que devemos aproveitar alguns momentos de felicidade, eis que eles realmente usufruíram e Don explica para seu menino, que se ele não transar com a garota, ele o fará. Esse lado lúdico e divertido dos personagens, o contraponto entre a maneira de ser de cada um,  dá o ritmo do filme.
E o final tinha que ser tipo “The Dirty Dozen”, a empreitada suicida é escolhida pelo chefe, que explica a seus comandados, “este tanque é a minha casa”!
Observem a cena final e me digam se o diretor não fechava em tudo com a religiosidade do “Bíblia”, o adorável Shia LaBoeuf?




quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O Jogo da Imitação



Nos últimos dias este é o terceiro filme que conta a história de uma vida real. Nesta semana, tenho mais dois para assistir, a Teoria de Tudo e Sniper Americano. O primeiro foi o filme de Angelina Jolie, O Invencível, o segundo Grandes Olhos, agora,  O Jogo da Imitação.  Está estreando o filme de Clint Eastwood, Sniper Americano, com Bradley Cooper.
Benedict Cumberbatch está ótimo como  Alan Turing. Em primeiro lugar, para compreender a vida de Alan, é preciso entender o quanto ele foi verdadeiramente um gênio. Não era modéstia comparar-se a si mesmo com Einstein ou Newton. Em geral, as pessoas têm dificuldades para aceitar os gênios, simplesmente porque eles são diferentes da mediocridade que reina na face da terra. No caso do matemático, suas descobertas somente vieram a público 50 anos depois. Que pena! Pelo menos agora seu valor está sendo reconhecido!
O menino Alan era diferente, por isso não era aceito pelos colegas e comeu o pão que o diabo amassou, na escola pública Sherborne Foi até emparedado embaixo do assoalho pelo bando de coleguinhas ditos normais. Desde criança apaixonou-se pelo amigo Christopher, cultivando um amor platônico o resto da vida. Os atores que os interpretam na adolescência são muito bonitos e convincentes.
Morten Tyldum, o diretor, nos mostra sua obra em três tempos. Inicia no terceiro, quando o professor Turing tem a casa roubada. Na verdade o que ele menos queria era a polícia interferindo em sua vida. Foi denunciado pela vizinhança. Sem o menor aviso Tyldum volta para a infância de Turing em Cambridge, para depois, mostrar o segundo tempo. 1939, as pessoas abandonam a cidade, início da Segunda Guerra Mundial. O jovem matemático se candidata a um cargo no  Bletchley Park, no condado de Buckinghamshire, onde deveria desenvolver um projeto secreto para decifrar as mensagens nazistas.
Tyldum é extremamente lógico e lúcido em suas colocações, mostrando um Turing genial na tecnologia e desastrado nas relações humanas. Aliás foi esta espécie de déficit na capacidade de relacionar-se com os outros seres humanos, que permitiu-lhe o estalo para a descoberta da fórmula que decifraria o Enigma nazista.
A máquina desenvolvida por Turing, deveria fazer 159 trilhões de checagens das mensagens , o que seria impossível dentro do tempo previsto. Levaria vinte milhões de anos para concluir seu trabalho.
Em contraposição, no pub, nosso herói não entendia nada das técnicas de sedução , cantadas e namoricos empregados pelo membros do seu grupo. Seus olhos estalam quando a garota conta  que está apaixonada por um nazista que inicia todas as mensagens com as letras C -I-L-L-Y. Enfim Turing percebe que precisa fazer que nem ela - perceber que algumas palavras  chave se repetem e permitem a compreensão da mensagem. Conclui que não é necessário checar todas, regulando somente as que tem palavras decifradas  repetidas. Vejam só, Alan absolutamente não entendia que a jovem sabia que seu amigo Hugh - a quem estava paquerando  - falaria com ela em quinze minutos, simplesmente porque ele tinha fixado os olhos nela e depois não tinha olhado mais.
Imagine só, sua  descoberta foi tão genial que nos dias de hoje está na crista da onda a ideia de que as máquinas podem pensar e decidir coisas a fazer. Alan projetou uma máquina que pensava de forma diferente dos homens, era universal,  capaz  de  reprogramar-se e decidir o que fazer. Por muitos anos a humanidade estudou as “Máquinas de Turing”, que hoje em dia são chamadas  computadores.
A vida privada do gênio foi sofrida, difícil, de cortar o coração! Foi doloroso saber que, na Inglaterra até 1967, a homossexualidade era considerada um crime!
Após uma série de investigações Alan Turing é  obrigado a escolher entre a prisão ou a castração química que o destrói por completo. Sua amiga, interpretada por Keira Knightley não conseguiu ajudá-lo.
Era um pacifista, contra a violência. Pensava que as pessoas amam a violência porque ela produz uma sensação agradável, prazerosa. Entretanto, é passageira, sendo em seguida substituída pelo vazio.
Nos momentos mais difíceis de sua vida quando as pessoas o surpreendiam repetia: “Aqueles de quem menos esperamos fazem coisas que nem imaginamos!”

Nem esse conseguiram ajudá-lo. Foi abandonado em seu drama, não suportando suicidou-se no dia 7 de junho de 1954 . Um dia depois das comemorações do Dia D. E eu que achava que tudo era heroísmo, todas conquistas e batalhas vencidas. Mal sabia  - e todos nós - que Alan Turing trabalhava em segredo numa pequena cidade britânica, perto da fronteira.