domingo, 16 de outubro de 2011

Eder, tudo bem? Que bom que gostaste do que escrevi sobre "Meu País". É verdade, não consigo colocar os trailers. É claro que aceito a tua ajuda. Segunda feira, amanhã pode ser? Abraços. Doris Maria

Medianeras, Buenos Aires na Era do Amor Virtual

Gustavo Taretto cria o roteiro e dirige "Medianeras, Buenos Aires na Era do Amor Virtual". O filme de Taretto segue a regra em pauta, se é um filme de "los hermanos argentinos", vale a pena conferir. A comparação com a arquitetura é instigante. Buenos Aires é uma cidade sem planejamento. As pessoas vivem alienadas e enclausuradas em caixas cinzentas, onde não entra sol. As sacadas são tão pequenas, que não cabe sequer uma cadeira. Os prédios e as pessoas são separados pelas "medianeras", aquelas paredes cegas, de cima abaixo, que os arquitetos, no Brasil, chamam de empenas. "Medianeras" é mais bonito. Paredes que enfeiam a cidade, cheias de propaganda gigantesca - a lei que proíbe esse tipo de publicidade ainda não chegou a Buenos Aires. Como quem procura Wally, um serzinho humano pequenino e comum, no meio da multidão, a câmera se aproxima de Martin (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala). Mariana é arquiteta, jovem e bonita, causa a impressão de " déjà vu". Verdadeira, no caso, pois foi vista no filme "Lope", como Elena Osorio.


Enfim, se as ruas das cidades são cheias de fios, se os apartamentos são mal ventilados e iluminados, se os maridos traem as mulheres, se as pessoas são infelizes, se sofrem de depressão, se não dormem direito e vivem abaixo de remedinhos, vejam só! Tudo é culpa dos arquitetos que foram incapazes de fazer a sua parte e contribuir para a felicidade das pessoas! Essa parte é a mais engraçada! Quem sabe mesmo, se pensando bem os arquitetos não seriam os culpados pela merda em que vivemos! Ou pelo menos em que vivem Martin e Mariana. He! he! he! Os arquitetos que deveriam planejar e organizar a cidade são os culpados de tudo. Vendidos, constróem cubículos, prédios ditos "chics", com depósito de lixo sem ventilação e perto do hall de entrada com piso brilhante de porcelanato! E aí, proíbem a gente de circular com Lana e Lola - as cachorrinhas de Doris Maria - nas áreas de uso comum! Esqueceram o fedor da lixeira empestando o belo hall! Esqueceram os conselhos da enfermeira Florence Nightingale que por sua vez inspirou Le Corbusier, no seu Sprit Nouveau. "Medianeras" mostra a vida das pessoas no século XXI, escravas da internet, escravas das novas tecnologias e dos computadores. Martin tem "Transtorno de Pânico", não sai de casa. Vive encerrado em seu cubículo, com o olho grudado na tela do computador. Ganha um bom dinheiro, mas não tem amigos e não vai ao cinema. Quando faz um acerto com mulher é pelo computador, segundo ele, sempre é tão decepcionante quando um Big Mac! Mariana não consegue trabalho como arquiteta. Trabalha como vitrinista, tem medo de elevador, e prefere subir dezoito pavimentos a entrar num deles. Assim os dois vivem uma vida de escuridão, de cegueira, completamente sem a "jouissance" , sem o prazer que toma dos personagens de ''L'Amant", de Marguerite Duras -sempre é tempo para alguém iniciar-se na obra da grande escritora. A escuridão que toma conta do quarteirão quando falta luz, simboliza a escuridão em vivem Martin e Mariana, incapazes de reconhecer um ao outro, diante da banca onde compram velas. Os dois se descobrem pela internet, são vizinhos e não sabem... Começam a romper com o vazio quando ignoram as leis dos arquitetos e os Códigos de Obras, que proíbem aberturas sobre as "medianeras". Cada um na sua "medianera" abre o proibido buraco, a janela por entra luz e vida. Ele mostrando sua masculidade, no centro da cueca gigantesca da propaganda, ela auxiliada pelo desenho da seta, como quem diz: " me olhe, estou aqui". Viram só? A escuridão em que vivemos depende de cada um de nós e de nossa vontade de sair dela e da mesmidade! Dá-lhe!


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Nosso País

Marcos, Tiago, Manuela, Giulia e Armando são a família de "Meu País", dirigido por André Ristum. Rodrigo Santoro é Marcos, o irmão mais velho. Tiago como o próprio pai avalia, "não faz nada'', mas é um bom menino. A história é tocante porque fala de amor, solidão, perdas, e responsabilidade. Enfim, da vida como ela é... André faz um filme doce e intimista. Tão doce e intimista que faz lembrar "Os três irmãos" (1981) de Francesco Rossi. Este conta a história dos três irmãos, um juiz, um professor e um trabalhador braçal, que se reencontram na cidade natal para consolar o pai e enterrar a mãe. O impacto da volta à casa paterna é um baque na vida das pessoas. Tudo que parecia tão grande quando éramos crianças, adquire uma dimensão muito menor e parece gasto, mostrando um tempo que passou, e que não há como recuperar. Apesar da dor e sofrimento é importante, pelo menos uma vez na vida, voltar para acertar as contas consigo mesmo, nem que seja... Santoro e Cauã estão ótimos, como os dois irmãos, opostos em tudo, que no fundo se amam. Afinal, são o próprio retrato da família. O personagem de Rodrigo Santoro- a cada dia fica mais bonito!- é Marcos um homem capaz de repensar a vida quando vê que é imprescindível para os irmãos. Marcos e Tiago, após a morte do pai, descobrem que têm uma irmã, Manoela, uma garota de 24 anos, deficiente. Para sobreviver, ela precisa do amor e do convívio com os irmãos. A cena que surpreende e toma a todos de surpresa emociona silenciosa e lentamente. Manoela revê o vídeo em que o velho pai cantarola uma canção de ninar para ela. Tiago e Marcos, surpresos se aproximam para ver e ouvir melhor o canto dedicado à irmã, como se um pouco do carinho do pai lhes tivesse sido roubado. Agora, por milagre da tecnologia a canção de ninar é devolvida e embala os três irmãos. Cada um de nós sabe porque esse temas emocionam...