segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Amor e Outras Drogas

Anne Hathaway e Jake Gyllenhaal formam o casal nada perfeito em "O Amor e Outras Drogas", em cartaz no Unibanco Artplex. O filme é dirigido por Edward Zwick. Família reunida, pais e filhos discutem empregos e realização profissional. É a família de Jamie (Jake Gyllenhaal).

Como milhares de outros, os pais de Jamie sonham que o filho tenha a mesma profissão do pai, médico. Mas Jamie não consegue, tem a Síndrome de Déficit de Atenção, além do que, quer mesmo é contrariar o pai. Assim, consegue entrar para o ramo da indústria farmacêutica. O sonho é chegar à Chicago, mas para isso terá que convencer ou subornar muita gente. Bajular médicos, secretárias e enfermeiras para enfim conseguir empurrar novos medicamentos que serão receitados de forma maciça para os infelizes doentes. Hoje em dia, muitos médicos estão conscientes e sabem dos perigos que representa prescrever medicamentos "sugeridos" pelos grandes laboratórios. Sabem do risco que muitas pacientes correm ao fazer reposição hormonal. Você notou que atualmente fala-se muito em depressão ou também em transtorno de déficit de atenção? Qualquer coisinha o paciente é classificado nesta ou naquela doença, e dá-lhe Prozac ou ritalina. "O amor e Outras Drogas" trata dessas e das drogas do amor como dois lados de uma mesma moeda. O filme se passa no auge do Prozac, medicamento que rendeu fortunas à Elli Lilly.

Jamie além de ter o trabalhão de cooptar o médico de ética flexível, tem que enfrentar o duplo concorrente ao tentar colocar no mercado o também anti depressivo Zoloft do Laboratório Pfizer. O cara grandalhão que subornava todas as mulheres para vender seus produtos também era o ex de Maggie.

Os problemas aparecem dois dois lados. A situação esquenta quando o Viagra é lançado no mercado incendiando o imaginário dos senhores aposentados de cabelos brancos. Se Jamie é arrivista, não quer compromisso com ninguém e só pensa em subir na vida, ela Maggie (Anne Hathaway) é uma jovem de 26 anos que possui sintomas precoces de Parkinson.

O que não convence muito são as três partes meio descoladas do filme, a do Jamie "vendedor" charmoso e falastrão, o tempo do sexo descomprometido até chegar ao momento de humanização do personagem. Com Maggie acontece o mesmo, ela também não deseja comprometimento nos relacionamentos amorosos. Sabe que sua doença evolui para estágios cada vez mais difíceis.

Assim as cenas de sexo animal tornam-se lugar comum, até os personagens se cansam de tanta irresponsabilidade. Maggie entra para um grupo de apoio, se convence que é preciso viver com dignidade e enfrentar desafios. Descobre que portadores de Parkinson podem fazer coisas inimagináveis como tornar-se atletas, corredores. Maggie descobre que exemplos de superação podem transformar sua vida. É preciso sonhar e ter metas a atingir. Quando menos esperam estão verdadeiramente apaixonados. O tempo passa, Jamie vai ficando fraquinha e debilitada. O casal precisa tomar decisões vitais.


domingo, 30 de janeiro de 2011

O Primeiro que Disse

O título original é ''Mine Vaganti", que significa Bala Perdida, o apelido da avó, personagem chave do filme. O diretor turco-italiano é Ferzan Ozpetek. No Brasil chama-se "O Primeiro que Disse", numa explicação da história de relações familiares e amores impossíveis.

Todos os personagens da família são apresentados ao espectador, com seus dramas e dificuldades. Desde o início, a avó (Ilaria Ochini) com um olhar triste e desesperançado conhece os problemas de cada um. Está à frente do próprio filho, de quem se envergonha. Por isso é capaz de criticá-lo.

O filme conta a história dos Cantone, uma família italiana frente aos novos tempos. Entre os personagens principais estão os dois filhos homens, que fazem sua opção sexual, gostam de homens. A preocupação está em como discutir o assunto em família. Quando se refere a algum membro do grupo familiar, o tema tem sido tratado como tabu. Ninguém fala, ou melhor ninguém falava. Quantos pais hospedaram a vida inteira aquele "amigo" de seu filho, sem pronunciar palavra? Pais que não vêem porque não querem ver.

"O Primeiro que Disse" tem início quando um dos irmãos, Tommaso (Ricardo Scarmachio), diz ao outro que durante o jantar da família vai contar aos pais que é homossexual. O outro, Antonio (Alessandro Preziosi) se antecipa e conta que ele, sim, é homossexual. A confissão cai como uma bomba na mesa de jantar. É muito engraçado! O bom mesmo é rir dos próprios problemas, não é verdade? Não importa de que tipo. Quando o fazemos nos colocamos no lugar do outro, saindo do próprio turbilhão de erros que nos amarra. E o espectador ri muito com a forma como Ozpetek coloca o tema da homossexualidade. Aliás, o próprio diretor acha que a palavra tem uma conotação de preconceito. Concordo. A apresentadora de TV, no filme "Volver", de Almodovar, revelava seu preconceito quando apresentava Agustina (Blanca Portillo) aos espectadores dizendo: "Agustina tiene câncer"! Ou aquela sua amiga que diz, quando apresenta você para as outras "amigas": "Fulana é safenada"! Enfim, somos capazes de sentir a sutileza do preconceito nos menores gestos, não é mesmo? Ou ainda, aquela criatura que faz distinção entre filhos adotivos ou não, e diz: "Ah! o filho do fulano é de criação"! Deus meu, de criação é cachorro que a gente cria, não é mesmo? O seu pai alguma vez o chamou para dizer-lhe se você é filho de barriga ou não? Ozpetek afirma, sempre que se usa a palavra homossexualidade é com uma conotação negativa ou pejorativa.

Assim, "O Primeiro que Disse" mostra o drama de Tommaso. O pai passa a chantageá-lo emocionalmente, considerando-o o verdadeiro homem da família. Agarra-se pegajosamente ao filho, como se este fosse sua última salvação. Tommaso que sonha ser escritor, sem coragem assume a dianteira dos negócios da família. O olhar da avó é lúcido, mas triste e sem esperança. Não foi preciso dizer palavra, ela sabia. Não por acaso, as cenas iniciais são as mais bonitas, a noiva atravessando o campo de oliveiras, a subida nos degraus de uma casa de pedras, belíssima, o depósito com botaréus, inteiramente construído em pedras, mostram a beleza da cidade de Lecce, e o drama da avó, que no dia da casamento vivia um amor impossível pelo cunhado.

Assim Vicenzo Cantone, o pai, literalmente tem um ataque, um infarto! Vai parar no hospital. O personagem é um cretino incapaz de julgar seu próprio comportamento equivocado. Furioso com o filho, expulsa-o de casa e da gerência dos negócios. Ainda na cama do hospital, praticamente na frente da mulher, se esfrega na amante, velha e peituda - um nojo. A esposa passivamente aceita a situação. Mas o filho, ha não! O filho é considerado um pervertido e não pode voltar ao convívio familiar.

Muitos amores impossíveis são flagrados na tristeza dos olhares contemplativos. Alba, a jovem elegante, apaixona-se por Tommaso, com quem divide responsabilidades de trabalho. Assim sem eles pronunciarem palavra, sentimos a tristeza de seu olhar perdido, observando as figuras de Tommaso e seu companheiro Marco. Mas Tommaso também sente-se atraído por ela. Observe, é tão lindo que poderia ser neto de Tony Curtis (os olhos verdes lembram os de Tony). Conformado com a própria opção dá-lhe um casto beijo no rosto.

Preste atenção às piadas que tratam da preocupação da família com o falatório, quando a mãe encontra uma mulher na rua, esta lhe diz que vai casar o filho, e como toda mãe sonha casar um filho! Finalmente a revanche, a mãe responde: "Ha! seu filho vai casar com aquela que tem o apelido de ''praia'', onde todos passam e fincam o guarda sol ? "he, he, he!

De repente, depois de muito riso, somos tomados pela emoção, fique atento às cenas finais que tratam da avó e de suas responsabilidades perante a família. "O Primeiro que Disse" com certeza está entre os melhores filmes de 2011.


domingo, 23 de janeiro de 2011

Abutres (Carancho)

"Carancho" é uma ave de rapina que se alimenta de animais mortos. É conhecida no sul do Brasil e na Argentina. Ouvi muito essa palavra em Dom Pedrito. No filme, "Carancho" são os advogados que se aproximam dos clientes da pior forma. Quando acontece algum acidente de trânsito, em que as vítimas são socorridas pelos "Anjos do Asfalto'', médicos e ambulância , junto, como que trazidos pelo vento, vêm os caranchos, os profissionais que se oferecem para tratar dos interesses das vítimas. Conseguem indenizações das seguradoras e ficam com a maior parte, deixando aos clientes o ínfimo.

Como filme de denúncia "Abutres" é excelente. Mas Deus! causa um profundo mal estar. Catarse? Nunca... nem pensar! Nicole Kidman pelo menos em "Dogville" matava todos que a maltratavam, o espectador passava por momentos de catarse. Em "Abutres", todos os minutos são de constrangimento, espanto, dor e tristeza.

O filme argentino denuncia os problemas de corrupção que de fato existem em Buenos Aires. Pablo Trapero é o diretor. Ricardo Darin o ator argentino de "O Segredo dos seus olhos" volta no papel de Sosa, um advogado corrupto, ligado à máfia das indenizações. Nessas andanças termina apaixonando-se pela médica plantonista Luján (Martina Gusman, esposa do diretor). Sosa por alguma razão, que parece ser sórdida perdeu sua licença para advogar. Sobrevive com os trambiques enfrentando porradas daqui e dali. Procura suas vítimas na hora do acidente, nos velórios ou em casa, prometendo mundos e fundos, fazendo-as assinar uma procuração em seu nome.

"Abutres" denuncia não apenas a corrupção da máfia das indenizações, mas as condições de trabalho desumanas a que são submetidos os médicos plantonistas. Luján, de início não está contaminada por toda a corrupção. Quando descobre as atividades de Sosa, por quem se apaixona, faz com que ele jure abandonar o esquema mafioso. Porém, as rédeas da corrupção são com tentáculos que atraem, envolvem e amarram. A crise galopante envolve a todos de forma tal, que é praticamente impossível reagir. É um pouco como a guerra do tráfico que vimos em "Tropa de Elite". Os personagens se afundam como nos pesadelos, o famoso momento sem volta está ali, na frente de Sosa e Luján...


sábado, 22 de janeiro de 2011

O Turista (The Tourist)

Parece que a crítica não gostou do filme de Angelina Jolie e Johnny Depp. Adorei. Sempre faz bem a todos a sensação do belo, e "O Turista" tem tudo isso; Angelina Jolie, Johnny Depp e Veneza. A atriz cada dia está mais bonita. Ela é assim, parece um desenho em 3D de verdade, na concepção de um grande artista. Já veio pronta e estilizada. É verdade que tem pernas finas, isso não tem a menor importância. Observem os detalhes do rosto da deusa, sua pele como é macia, sedosa e brilhante. Johnny nem parece tão bonito perto dela, mas está muito bem, com o penteado desfeito que deve ter levado horas no cabeleireiro. "O Turista "é a refilmagem da comédia francesa "A caçada ", de Anthonny Zimmer.

Além dos dois, Paul Bettany faz o inspetor John Acheson. Lembram do desvairado em "Código da Vinci" ou da biografia de Charles Darwin? Bettany é um de meus atores prediletos. Desta vez se não é quase o vilão, pelo menos é o do contra.

O diretor Florian Henkel von Donnersmarck fez "A Vida dos Outros", um drama. Na sequência, "O Turista" se inscreve como um espectáculo de suspense e comédia. Em seu filme anterior "Salt" Angelina era acusada de ser agente da KGB, em um jogo de aparências e falsidades. Em "O Turista" o enredo é semelhante, afirmando a atriz em papéis que envolvem duplicidade, porém o thriller tem muito mais de romântico que suspense.

Tudo é divertido, o enredo, a atração entre Elise Clifton-Ward e Frank Tupelo, respectivamente Angelina e Depp. Para completar, os canais de Veneza, as tomadas aéreas, a vista da Praça de São Marcos, as pontes e os castelos. Ah! que beleza o Hotel Danieli, onde os dois se hospedam! "Cassino Royale" também mostrava a beleza de Veneza, mas a concepção do filme é diferente. "O Turista" é feito para Angelina Jolie, os outros atores são apenas complemento, mesmo o adorável Johnny Depp. Mas vejam, se Johnny Depp está mais gordo e envelhecido, fazer o quê? De fato ele é doze anos mais velho que Angelina. Não acredito de Depp seja um ator que só funciona com Tim Burton, pois estava muito bem em "Inimigos Públicos", de Michael Mann. Acho que é uma fase de alguns quilinhos a mais...

Detalhe, no início não gostei do penteado de Jolie, parecia um aplique. O vestido de figurino e de desenho de moda ficou lindo. Depois ela esquece as mesuras e solta o cabelo. Fica mais bonita ainda.

O enredo trata da perseguição a Frank Tupelo, que atreveu-se a roubar milhões do bandido Reginald Shaw (Steven Berkoff) e deve para o fisco 74 milhões de libras. Entre uma armação e outra, Elise a todo momento recebe cartas de Alexandre Pearce, que seria o ladrão que rouba ladrão e que também teria roubado o seu coração. Tupelo seria o turista substituto parecido com Pearce, para despistar a polícia. O desfecho é dos melhores e "O Turista" conta ainda com a participação do antipático Rufus Sewell e de Thimothy Dalton, o ex-007, fazendo o inspetor-chefe, que pauta sua atuação segundo o dito popular, "ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão". Não percam!


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Enrolados (Tangled)

Na verdadeira história dos Irmãos Grimm, Rapunzel é entregue pelo pai a uma bruxa. Seu cabelo enorme enrolado em trança, nunca é cortado. Diariamente precisa estender suas tranças compridas para a bruxa subir na torre onde vive presa. Um dia, um princípe que por ali passava ouve seu canto. Fica atento e todas as noites passa a visitar Rapunzel em seu cativeiro. Ingenuamente a jovem entrega à bruxa o nome de seu novo amor. O príncipe é punido com a cegueira. Finalmente as lágrimas de Rapunzel conseguem curá-lo e vivem felizes para sempre.

Na nova versão, digna dos mais belos desenhos da Disney, o autor tomou muitas liberdades alterando a história que faz parte do livro dos Irmãos Grimm, "Contos para a Infância e para o Lar". Desta vez, a colaboração efetiva entre a Pixar e a Disney permitiu a criação deste belíssimo filme de animação, com John Lasseter cuidando de todos os detalhes. Observem o rosto perfeito de Rapunzel, seu cabelo interminável e iluminado, em contraponto com o penteado curto de seu par, Flynn Rider. Os dois personagens encantam pela beleza das expressões faciais. Tudo graças à alta tecnologia da computação gráfica desenvolvida pela Pixar, o super software RenderMan que cria imagens com realismo fotográfico. Ao que soma-se a parceria entre os técnicos da Disney e John Lasseter, o mago diretor de criação da Pixar. Em 2006 a Pixar foi comprada pela Disney por US$ 7,4 bilhões.

Na versão dos diretores Nathan Greno e Byron Howard, Flynn, o maior ladrão do reino é o eleito de Rapunzel. A garotinha foi roubada dos pais, o rei e a rainha, pela malvada Gothel. Fascinada pelo poder mágico dos cabelos de Rapunzel, a malvada prendeu-a no alto de uma torre. Gothel usa os poderes de Rapunzel para manter-se eternamente jovem.

A garota nunca viveu, nunca desceu da torre e nunca viu o mundo. Como uma madrasta má, Gothel com um duplo comportamento, finge-se de mãe superprotetora, que deseja proteger a filha de todos os males do mundo. Rapunzel, ingênua não quer magoar aquela que julga ser sua mãe. Assim, à jovem é negada toda e qualquer possibilidade de crescimento e amadurecimento. A falsa mãe não quer que a filha cresça. Para proteger-se do mundo, Rapunzel nunca descerá da torre. Cuidem-se mães superprotetoras de seus filhos, de seus alunos e de seus cachorros. Não façam como Gothel, permitam que eles cresçam, vivam e amadureçam, e pior sem a vossa presença. As mães, aos poucos tornam-se dispensáveis e precisam acreditar nisso. Claro, que as razões de Gothel eram sórdidas, e as mães superprotetoras pensam estar fazendo o melhor para seus filhos...

Dois personagens animam a história e contribuem para o encantamento, o cavalo Maximus e Pascal, o camaleão. Conforme a situação ele muda de cor, mas sempre está atento para proteger e dar dicas à Rapunzel quando ela precisa dar porradas em alguém, nem que seja em seu amado, he, he, he. Maximus desconfia de Flynn Rider e o persegue farejando o chão como um cachorro.

Você vai amar esse filme. E tem mais, esqueça essa história de levar uma criança pela mão. Vá sozinho mesmo se não houver criança por perto!


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Além da Vida

Clint Eastwood pensa e trata o tema da morte em um filme delicado e sutil. Três são as histórias, cujos personagens se entrelaçam. A primeira conta a experiência da jornalista francesa Marie LeLay interpretada por Cécile de France. Em um país distante Marie descança em uma praia, que é invadida por gigantesca tsuname. Em poucos minutos tudo é destruído e levado pelas águas. Morrem centenas de pessoas. É difícil imaginar a capacidade de destruição da onda gigantesca. Pense apenas que no Brasil as chuvas que pareciam inofensivas, mataram mais de setecentas pessoas no Rio de Janeiro. Ao ser levada pelas águas, Marie bate com a cabeça e morre afogada. Na sequência seguinte, milagrosamente volta à vida. Porém, não consegue esquecer os momentos de sua experiência post-mortem, momentos em que viu luzes, sombras e vultos.

Na segunda história, dois irmãos gêmeos tentam encobrir o descaso da mãe consumidora de drogas. A fatalidade também se abate sobre o mais velho, Jason, que nascera 12 minutos antes de Marcus. Na rua, assaltado por uma gang, ao tentar fugir é atropelado e morre. Marcus sofre a perda do irmão. Inconsolável, procura desesperadamente um contato com a sua metade para conseguir levar a vida adiante. Os gêmeos são interpretados pelos também gêmeos George e Frankie McLaren. Os dois são ótimos atores. Marcus interpreta o menino sofrido com tanta convicção, que merecia o Oscar. A doçura do olhar, a tristeza, a postura do corpo, o meio sorriso, tudo revela a fragilidade do menino de 12 anos, que perdeu o irmão e não pode viver com a mãe.

Todos os personagens de alguma forma buscam uma resposta para o mistério da vida e da morte. Afinal, como diz Marie LeLay, todos passaremos por essa experiência. O que a jovem encontra é o descaso e o medo do desconhecido que geram o preconceito.
Na terceira história Matt Demon interpreta George Lonegan, um vidente. Coloca-se entre as pessoas e seus entes queridos. Através de comunicações, sente, vê e ouve as pessoas com quem seus interlocutores desejam contato. Basta um aperto de mão para George sentir a presença dos acontecimentos que marcaram a vida dos outros. Eastwood trata do espiritismo de forma diferente, sem apologia e sem fazer um filme espiritualista. O que se observa é que existem pessoas que desejam comunicar-se com seus mortos na língua materna, através da palavra falada ou escrita. Não se conformam em tentar comunicar-se de outra forma. Acreditam piamente que para falar com seus mortos, precisam do português, por exemplo, e necessariamente através de um vidente.

George pensa que seu dom não é uma benção mas um peso mortal que o impede de encontrar a felicidade. Busca outras formas de viver que não envolvam seu dom de vidência. Encontra Melanie nas aulas de gastronomia. Ela é Bryce Dallas Howard. Lembram da atriz em "A Dama na água", onde ela interpretava uma espécie de ninfa? O professor de gastronomia pede aos alunos, que aos pares provem determinados sabores com olhos vendados, para descobrir o verdadeiro gosto. A cena de namoro e sedução é uma das melhores sequências do filme. Afinal, para gozar a vida é necessário exercitar todos os sentidos, não apenas o olhar. Lamentável, Melanie ainda não é a mulher capaz de mexer com os sentimentos de George.

Assim os personagens de uma história migram para a outra em um adorável enredo que reflete sobre o amor e a morte, seus mistérios e o medo que nos infunde. Eastwood mostra personagens capazes de enfrentar a solidão e a certeza da morte, capazes de descobrir e acreditar que não estão sozinhos, que seus entes queridos podem estar vivendo neles. Personagens capazes também de encontrar nos mistérios da morte uma nova forma de impulso para a vida e para a busca da felicidade.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Para Juliana

Juliana, que bom que leste meu blog. Ando muito ocupada e sem tempo. Adotei uma cachorrinha que não aprende a fazer xixi na rua! Veja só o problema! Lembro muito do teu sorriso. Um grande abraço, Doris Maria

Incontrolável (Unstoppable)

Denzel Washington e Chris Pine protagonizam os dois heróis maquinistas que tentam parar com sua locomotiva um trem desgovernado. O diretor inglês Tony Scott é irmão de Ridley Scott, também diretor de filmes como Robin Hood, Rede de Mentiras, Cruzada e o Gladiador. Tony trabalhou com Denzel Washington cinco vezes desde Maré Vermelha, Chamas da Vingança, Déjà Vu até O Sequestro do Metrô. Destes, gosto de Déjà Vu porque brinca com a idéia de nosso desejo de mudar os acontecimentos ou as inevitáveis tragédias, em questões de segundos. Assim poderíamos alterar o passado e futuro. As parcerias entre Denzel e Scott revelam um ator em tudo super herói, um pouco exagerado. Apenas alguns detalhes na vida do herói precisam ser aparados.

Em Unstoppable Denzel Washington é Frank, o maquinista que recebe seu aviso prévio, enquanto Will (Chris Pine) de Star Treck é o jovem condutor, com quem vai dividir responsabilidades na direção da locomotiva. Aflora a tensão entre os dois, um considerado praticamente idoso e o outro, o jovem que exerce função semelhante a do experiente Frank. A disputa termina em cumplicidade e ambos se unem para a grande aventura.

Denzel está mais humano, um pouco menos super herói, o que atrai a simpatia do público. Inclusive ao longe vislumbra-se uma sombra branca nos cabelos quase raspados de Denzel. Seriam curtíssimos cabelos brancos?

Efetivamente o personagem principal é o trem. Os dramas dos personagens são detalhes para contextualizar a história. É o ente diabólico, desgovernado, que engole tudo a sua frente, filmado sob diversos ângulos, nas mais criativas tomadas, em fantásticas curvas. Os recursos de tele objetiva aproximam o monstro do espectador. Adoro as cenas em que o trem, à distância parece muito próximo vencendo inexoravelmente as curvas da estrada, aproximando-se perigosamente da zona urbana de Stanton, onde poderá descarrilar com sua carga perigosa.

Entre as mais fantásticas cenas estão as filmagens por baixo daa máquina mortífera que esmaga o espectador, loucamente desgovernada. No início, o diretor prepara o suspense, com o trem atravessando campos, arrabaldes, aproximando-se das cidades. De início, ninguém parece muito preocupado. O funcionário gordo e displicente, irresponsave,mente, desce do trem já em movimento. Balofo, não consegue subir de volta na locomotiva que se afasta como uma fantasma sem motorista. A chafe de trem, Rosario Dawson, de início não percebe a gravidade da situação. Aliás, nenhum ator é muito convincente, com exceção dos dois heróis. As filhas de Frank e o resto dos funcionários da ferrovia acompanham a trajetória desgovernada pela televisão. Quando vibram parece que estão assistindo a um jogo de baseball.

Tony Scott não consegue envolver a platéia dentro de seu próprio filme, muito menos a do cinema. Exatamente uma hora após o início, Denzel Washington entra em ação. Mas o herói quase um "retired" - um aposentado - deixa para o jovem Chris Pine as cenas de ação, as clássicas cenas de pular de um carro em movimento para o trem incontrolável. Ou a perigosa missão de engatar o trem louco na locomotiva pilotada por Denzel Washington e que anda de ré. Genial não é?

Fora essa simplificação na criação cinematográfica, onde dramas não interessam, as cenas de ação são belíssimas. Denzel continua o charme que sempre foi e Chris Pine é o novo herói.


domingo, 2 de janeiro de 2011

Tron - O Legado

Tron, Legacy transporta o espectador para uma vida virtual. O original é de 1982, há exatamente 28 anos atrás. Não foi um sucesso de público, nem foi candidato à premiações sob a alegação de ter sido produzido com meios digitais. O mundo mudou, hoje em dia as coisas adquirem valor na medida em que forem realizadas em meios digitais. Você sabia , por exemplo que levantamentos métricos realizados com trena são jurássicos? Hoje existe o super Scanner Laica que faz uma série de fotos sobrepostas do objeto arquitetônico. O Scaner depois de calibrado permite a visualização em plantas baixas, cortes, elevações e perpectivas. As cores e texturas são colocadas a partir das fotos. Fica tudo igualzinho à realidade, só que virtual. O pessoal da UFBA é especialista em empregar o equipamento.

Em Tron, o legado, o diretor Joseph Kosinki cria um mundo virtual, em que os jogadores são gladiadores que participam de uma luta mortal, cuja arma são os poderosos discos. Assim como Minority Riport, Blade Runner, ou Metrópolis, todos mostram uma cidade do futuro, imaginária, opressiva e existencialista. No caso de Kosinki, a cidade é uma criação genial, mas é opressiva, em tons metálicos, cinzas e azuis. Não existe luz, e não existem verdes, muito menos amarelos. Por isso os personagens sentem-se oprimidos e têm dificuldade em imaginar um dia iluminado e ensolarado sobre a face da terra. Idem o espectador, achei o 3D muito opaco e escuro. Possivelmente essa era a intenção do diretor. Kosinski é um artista talhado para o encargo. Estudou arquitetura é o responsável pela publicidade da Mercedes Benz e da Nike. É famoso diretor de filmes publicitários em Hollywood. Veja seus videos procurando por josephkosinski.com (leia o blog do Merten, 8/12/2010). E observem também, como o diretor tem influências do Movimento Moderno na arquitetura. Ele inclusive usa a cadeira Barcelona de Mies Van der Rohe, em um de seus videos.

Em Tron, o diretor de uma empresa de tecnologia, Kevin Flynn (Jeff Bridges) desaparece. Deixa o filho, Sam Flynn (Garrett Hetlund) que é criado pelos avós. O jovem revolta-se contra a posição dos mandantes na empresa de seu pai e vaza suas novas descobertas pela internet, tornando gratuitos programas que renderiam milhões. Todos pensam que Kevin morreu, menos seu fiel amigo que depois de tantos anos, afirma ter sido bipado por ele. Alertado sobre o bipe, Flynn, vai até o antigo depósito de video games de seu pai. Consegue através nossa dimensão e ingressar num mundo cibernético. Nesse mundo virtual, é tratado como um elemento a mais, que deverá participar dos jogos de vida ou morte. Até o momento em que reencontra o pai. Ambos deverão participar de um jogo contra os programas de computação criados pelo próprio pai, numa saga em que a criatura volta-se contra o criador. O elenco é completado com nomes como Michael Sheen , Olivia Wilde e Cillian Murphy. Todos os atores estão bem e vale a pena conferir. Embora seja um filme de guri, não é mesmo?