domingo, 26 de fevereiro de 2012

Tão Forte e Tão Perto

O drama da ausência e da perda do pai vai muito além do limite em "Tão Forte tão Perto". O filme do diretor Stephen Daldry - o mesmo de "O Leitor" e "Horas"- discute a importância do pai na vida de um filho. Daldry é importante em Hollywood. Escolhe contar histórias trágicas e destinos fatais que afetam as pessoas, para filmar o pouco que sobra de cada um depois da grande tempestade. Tanto em "O Leitor" como em "Tão forte e tão perto" foram as grandes desgraças que moveram seus personagens a mudar os próprios destinos e não aceitar as limitações que a vida parece impor a cada um. Thomas Schell Jr.( Tom Hanks) morre no atentado de 11 de setembro, não sem antes ter feito de tudo para preparar seu filho para a vida. Mas o pequeno Oskar Schell (Thomas Horn) é um menino sensível e delicado que se expressa de forma exatamente oposta como se numa tentativa de defender-se da vida. Cheio de medos e temores, vive preocupado com a própria segurança. Sem coragem sequer para soltar o corpo no balanço do parquinho. E o pai de Oskar estava lá, incentivava o filho com jogos e enigmas que precisavam ser resolvidos.
A tragédia de 11 de setembro cai com uma bomba na vida dos americanos, do mundo inteiro e no caso, na vidinha pacata de Oskar. O menino não consegue recuperar-se. Um ano depois adquire a coragem para olhar os pertences do pai. Quebra um vaso azul, que contém uma chave dentro de um pequeno envelope amarelo, com a palavra "Black". Para Oskar aquilo parece mais uma das charadas criadas pelo pai para desafiá-lo. Entra de corpo e alma num jogo para desafiar o enigma que acredita ter sido proposto pelo pai. De fato, o menino precisa enfrentar seus medos.
Em sua grande aventura, procura os n Black das listas telefônicas. No meio do jogo, encontra laços de família perdidos no tempo. Max Von Sydow - o grande ator de Ingmar Bergman- que desaparecera da vida filho, tem a sua chance de representar o papel de pai. Precisa apenas ser o avô desta vez. Para um homem fraco e destruído, que caçou a própria palavra, ser e representar a si mesmo para o inocente neto, é muito difícil, praticamente impossível...
Assim, vemos o menino correr, gritar, berrar, procurar, encontrar n pessoas da família Black.. Oskar passa a viver uma nova vida. E não há como não emocionar-se com os abraços, as rezas e a solidariedade de todas a essas pessoas que partilham a dor de Oskar.
Atrevo-me a dizer que uma solução na história beira à pieguice. Sandra Bullock, a mãe que foi praticamente esquecida no desenrolar do filme, revela que sabia de tudo e seguia os passos do filho. Até elaborava mapas com endereços dos Black, como recomendava o pai, nos jogos. Parece uma solução um pouco forçada para marcar um fim de luto e um fim de crise, que - diga-se de passagem -, algum dia precisaria terminar!
Entretanto, Stephen Daldry dá uma lição de vida para o mais comum dos mortais. Nos ensina que muitas vezes as grandes perdas alertam para mudanças que precisam ser feitas na vida de cada um. Por maior que seja a crise, por maior que seja a dor, ela poderá levar à mudanças interiores, que poderão trazer o amadurecimento, a compreensão de si mesmo e apontar para dias melhores. A grande crise poderá levar ao enfrentamento dos medos, nem que seja por 20 segundos! Assim Oskar, você e eu poderemos descobrir que enfim não sabíamos que poderíamos de ir muito além de nosso próprio destino, quem sabe, um dia?


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Isto não é um Filme

Jafar Panahi continua em prisão domiciliar enquanto "Isto não é um Filme" passa a ser visto no mundo todo. Qualquer pessoa que quiser se informar sobre Jafar Panahi ficará sabendo do absurdo que acontece no Irã. Todos os jornais do mundo noticiam. Leia o Estadão de 10 de fevereiro de 2012, às 20h12: "O Irã bloqueou desde esta quinta-feira, 9, o acesso à página inicial do Google e outras associadas ao buscador e também do serviço de correio eletrônico Hotmail da Microsoft, segundo pôde comprovar a Agência Fed. Redes sociais, versões estrangeiras do buscador e blogs também não podem ser acessados por usuários do país." Tudo é resultado da repressão, ditadura e tentativa de prolongar um regime que desrespeita todo e qualquer direito humano. Um regime que condena mulheres a serem apedrejadas e um regime que condena um cineasta pelo fato de fazer filmes. Liberdade de imprensa e de criação"? Jamais para Ahmadinejad!
Jafar Panahi tem grande representatividade no movimento Iranian New Wave. O cineasta teve seu valor reconhecido no mundo inteiro. Críticos e teóricos de cinema são unânimes em avalizar o seu trabalho. Ganhou diversos prêmios, entre os quais o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza e o Urso de Prata, no Festival de Berlin de 2010. Em 20 de dezembro de 2010, foi condenado a seis anos de prisão domiciliar e banido da condição de cineasta pelo período de 20 anos. Foi proibido de escrever roteiros e dar qualquer tipo de entrevista, bem como deixar o país.
Você deve lembrar de Juliette Binoche dedicando seu Prêmio a Jafar Panahi, na cerimônia do Oscar em 2010 e pedindo ao mundo que se posicione em relação aos absurdos que acontecem no Irã. Você precisa assistir ao filme "Balão Branco" para entender um pouquinho da sensibilidade deste grande diretor. Panahi mostra a vida de duas crianças, no Irã. Sempre lembro do cenário da cidade. A pequena aldeia é completamente diferente das ocidentais. No centro da rua existe uma calha por onde corre a água. Água encanada e saneamento não se sabe se existem. As casas não possuem fachadas. Circular pela vila de "O Balão Branco" é andar por caminhos estreitos e curvos, até chegar a um muro alto, com portão de madeira todo fechado. Ao fundo fica a casa da família. Não existe uma configuração espacial com formas diferentes para cada habitação. A forma se repete como um motivo, dando continuidade e unidade ao conjunto. É interessante essa visão de um mundo diferente do nosso. Agora que pensávamos estar privados de usufruir da obra e do talento de Jafar Panahi, eis que chega até nós "Isto não é um Filme".
Você pode pensar: Bem, "Isto não é um Filme" porque trata-se da vida real, ou seja isto não é um sonho de Méliès, porque deve ser mesmo um pesadelo. Ou "Isto não é um Filme" porque Jafar Panahi não pode fazer um filme . Ele está preso e não tem a menor condição de fazê-lo. Pois bem, acredite, é as duas coisas.
"Isto não é um Fime" mostra a vida reclusa do diretor, em sua própria casa. Ele conta um filme que não pôde apresentar ao público. Improvisa em sua sala e fala sobre esse outro filme. A história trata de uma jovem que foi aceita na Universidade de Teerã, mas cujos pais a proibiram de frequentar. Óbvio, contar um filme não é a mesma coisa que fazer um filme. O melhor mesmo é fazer ou assistir ao filme. Acreditem, como Panahi não tinha o quarto fechado para contar a história, simula uma planta-baixa no tapete da sala, com uma fita adesiva. Panahi tem senso de humor para brincar, diz que faz como as cabeleireiras que quando não têm clientes, cortam o cabelo umas das outras.
Voltando ao "Isto não é um Filme", não concordo com Sr. Panahi em um único detalhe. Ele não aceitou cuidar de Quicky, o cãozinho da vizinha. Havia incompatibilidade entre o cachorro e seu iguana de estimação. Apesar de ser um direito do diretor, nesse momento, Panahi pode ter perdido uma oportunidade de se exercitar para vencer mais um desafio.
A solidão de Jafar fica expressa em sua relação com as poucas pessoas que o cercam. O funcionário do condomínio, que recolhia o lixo, - na realidade não era um funcionário, fazia um favor à irmã - torna-se um tema central do filme. Em um cinema-verdade, de câmera na mão e sem idéias pré-concebidas na cabeça, Panahi improvisa. Observe o detalhe, a câmera na mão é a de um celular! O jovem é filmado recolhendo o lixo em cada pavimento do prédio. Nem o próprio acredita que faz parte de um filme. Quando se sente filmado quer se arrumar, trocar a camisa. Ficamos sabendo ou não, o motivo pelo qual alguns moradores colocam o lixo no corredor e outros não. O cenário é opressivo, simbolizando o reduzido universo do diretor.
Pessoas no mundo inteiro vivem na mais absoluta solidão. Óbvio a situação de Panahi é diferente. Essas pessoas vivem como seres transparentes e apagados. Não são notados por ninguém, nunca recebem um telefonema, não têm parentes, não conversam com ninguém. Agora Panahi se alinha a eles. Os funcionários do condomínio são seus interlocutores, aliás são eles os interlocutores dos solitários e dos idosos. Foi preciso que um cineasta tão importante e famoso como Panahi desvelasse este pequeno mundo. Um mundinho microscópico, o da palavra de agrado do porteiro, do varredor ou do lixeiro. Jafar Panahi é um lutador que não desiste. É paradoxal que neste momento difícil, em que precisa suportar dias iguais, possa contar com pessoas simples, porém valiosas para o ligarem à vida.
Em outubro de 2011 a sentença de Jafar Panahi foi confirmada. O mundo precisa fazer alguma coisa a respeito.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret (Hugo)

Quando terminar a sessão de cinema de "A Invenção de Hugo Cabret", olhe para trás, você verá o cinematógrafo montado por Georges Méliès- interpretado por Ben Kinsley - e quem sabe, o próprio Méliès passando o filme para você. É sobre esse encantamento do cinema que "Hugo" nos fala. No início, Martin Scorsese mostra Hugo ( Asa Butterfield) , o menino que vive entre as paredes da Central de Trens de Paris, a Gare du Nord, projetada por Jacques Hittorff, entre 1863-1864. Além da história genial de Scorsese, baseada no livro de Brian Selznick, 2007, conseguimos viver junto com Hugo em um dos melhores exemplares da arquitetura do ferro, na França. E tem mais, quando Hugo vai pesquisar na Biblioteca da Academia de Cinema de Paris, observem, o cenário é a Sala de Leitura da Biblioteca de Santa Geneviève, projetada por Henri Labrouste. Se o filme é didático, para crianças, também é uma lição de arquitetura. Aproveitem, observem as grades de ferro que os arquitetos empregavam como entrepiso, uma vez que a nova tecnologia era empregada em locais menos nobres, pois o público tinha um gosto conservador. A fachada em alvenaria revelava o gosto historicista da época.

Hugo é um menino órfão, com enormes olhos azuis, que vive escondido entre as paredes da Gare du Nord. Seu único familiar sumiu. Ninguém pode saber que ele acerta os relógios da estação em substituição ao tio. "Hugo" discorre sobre o cinema, esta máquina de fazer sonhos e enlevar o espectador para muito além de seu pequeno mundo. Se "Hugo" mostra a grande descoberta dos irmãos Lumière, 1895, mostra também a genialidade do mágico ilusionista Méliès.

Hugo é próprio diretor-menino. Como Hitchcock, Martin Scorsese se deu ao luxo de aparecer em uma única cena, procure-a. No início, o menino vive nas sombras, em um mundo limitado, como alguém que de fato não existe. Vemos o pequeno Hugo observando o mundo de dentro do número quatro do relógio, como o olho da câmera cinematográfica. Depois, Hugo observa um mundo mais amplo e vê a paisagem de Paris, também de dentro do relógio. Quando foge do guarda e se mete nos labirintos da estação, fica pendurado no ponteiro do relógio, parodiando Harold Lloyd em sua interpretação inesquecível do cinema mudo, "O Homem Mosca" (1923). Quem muito bem lembrou de Harold foi minha amiga Helena Perrone, que assistiu filmes mudos quando era criança, passados por seu tio, que tinha um cinematógrafo.

O menino vê as pequenas cenas da vida cotidiana, a senhora com seu cachorrinho que espanta um possível pretendente. O guarda (Sacha Baron Cohen), que arrasta uma perna ferida em combate, e que caça crianças órfãs; mas que também faria qualquer coisa para impressionar a florista Lisette (Emily Mortimer). O dono da pequena loja de brinquedos rouba de Hugo seu caderno de ilustrações, única lembrança do pai morto, vivido por Jude Law.

A história é esclarecida aos poucos. Hugo precisa recuperar o livro para poder consertar o fantôma. A mensagem do pai é revelada pelo pequeno robô, e tem tudo a ver com a descoberta de Hugo de seu propósito na vida. Se Scorsese não explica o que é "A Invenção de Hugo", podemos afirmar que é a sua capacidade de consertar objetos e pessoas avariados, recuperando-os e devolvendo-os a seus verdadeiros objetivos. Assim, cada um de nós tem um propósito na vida e uma razão para existir, devemos teimar e buscar nossa razão de ser. Hugo e Isabelle ( Chloe Grace Moretz) tentam devolver a Méliès sua razão de viver.

Os personagens se cruzam e se enredam. Tudo tem sua razão de ser. Martin Scorsese conta a história de Méliès, o diretor que fez mais de 500 filmes e paradoxalmente morreu na miséria. Méliès não quer ouvir falar da profissão que abandonou. Além de mostrar - agora com tecnologia 3D - os truques do diretor para seu clássico "Viagem à Lua", Scorsese, talvez lembrando-se de como foi iniciado no cinema, mostra o editor (Christopher Lee) que presenteia Hugo com um livro de Robin Hood, o proscrito.

No enredo, Hugo encontra pessoas que amam o cinema, o professor René Tabard possibilitará resgatar Méliès de seu poço profundo. Possibilitará ao mundo rever "Viagem à Lua", e os truques de Méliès, que pintava manualmente cada fotograma de seus filmes. Se os irmãos Lumière filmavam cenas da vida cotidiana, Méliès filmava o sonho e a fantasia. Casualmente descobriu o truque do stop-action, quando deixou a câmera parada e ao voltar descobriu cenas inusitadas. Scorsese nos deixa entrever que os primeiros cineastas levaram pouco tempo para descobrir os truques da câmera; stop-action, câmera parada, close-ups, tomadas panorâmicas, quadros congelados e fusões. Levaram pouco tempo também para desenvolver as técnicas narrativas em flashbacks, flash-forwards e eventos simultâneos.

Por isso mesmo, a magia do cinema só poderia ter a grande contribuição de um mágico que fazia os truques com sua musa, a mulher amada, Jeanne Méliès. "Viagem à Lua" tem 14 minutos e foi um dos filmes mais imitados no mundo. Abriu caminho para "Flash Gordon", "Uma Odisséia no Espaço" e "Guerra nas Estrelas". Segundo Philip Kemp, em "Tudo sobre Cinema", "Viagem à Lua" é um filme sobre a violência infantil, os exploradores matam os nativos e assassinam Grand Lunar. É ligeiramente satírico, na cena do desfile, quando é dada ênfase à cerimônia de lançamento e à entrega de medalhas. A cena da Lua ficou imortalizada, no rosto humano, coberto de massa e chorando, quando o foguete entra em seu olho e em seu mundo encantado. Em ''Hugo'' atente para as cenas clássicas de perigo, quando o menino cai sobre os trilhos em busca de seu fantôma e a locomotiva se aproxima perigosamente. A cena foi repetida "n" vezes no cinema, como em "Fantômas", o empolgante policial, em cinco episódios, de Louis Feuillade.

Nos primeiros filmes, nas cenas clássicas em que o trem entrava na estação, as pessoas fugiam , levantavam correndo da sala de projeção com medo do trem que saía da tela. Não é preciso ir muito longe para sentir essa sensação. Você lembra do filme "O trem", 1964, de John Frankenheimer, com Burt Lancaster, em que o diretor abusava dessa sensação de esmagamento? Vi esse filme com meu pai, quando nós dois quase morremos esmagados, he, he, he. Agora, quando terminar o filme não esqueça de olhar para trás, você poderá ouvir Méliès lhe falando baixinho: "Você conhece a origem dos sonhos? Ela está aqui no cinema, nesta máquina de fazer sonhos! Por isso, volte sempre!"

A Dama de Ferro ( The Iron Lady)

Apesar de todas as denúncias que "A Dama de Ferro" possa ter feito à política conservadora de Margaret Thatcher, o filme tem a visão do colonizador. América Latina e latino americanos, na acepção da biografada Thatcher são medíocres assassinos. As Ilhas Falkland, Malvinas para nós, são uma verdadeira ambição para os britânicos. Assim, quem está coberto de razão é Luiz Fernando Veríssimo (Zero Hora, 13 de fevereiro de 2012) quando escreve que " as ilhas Falklands são os últimos farelos de maior sistema colonial que o mundo já conheceu. Um sistema que levou à expoliação comercial, à prepotência e à morte- junto com o parlamentarismo, o críquete e o chá com bolinhos- a todos os limites da terra, e ainda se apegava aos seus domínios , muitas vezes por orgulho imperial, quando outras potências coloniais já tinham desistido." Por isso mesmo ninguém se admira quando vê a Sra. Thatcher praguejando contra os argentinos, chamando-os de assassinos covardes. Há poucos dias o primeiro-ministro britânico David Cameron chamou os argentinos de "colonialistas" (sic!) por desejarem incorporar as Ilhas Malvinas ao seu território. Assim, a posição do diretor Phyllida Lloyd incorpora esse pensamento colonialista de uma forma inconsciente, quem sabe? Mais uma vez citando Veríssimo, "chutzpah " é a palavra adequada para definir o cinismo britânico em relação aos países colonizados. A palavra é de origem judaica e um "chutzpah" é o maior cara de pau do mundo, aquele tipo que mata o pai e pede clemência para o filho órfão. Como diz o ditado, mata o pai e vai chorar no entêrro.
Antes de preocupar-se em dizer que Meryl Streep está bem, que Meryl representa bem sua personagem devemos refletir sobre esta característica britânica. A Scotland Yard, por exemplo, é considerada a polícia melhor equipada do mundo, mas confunde com terrorista um simples brasileiro que vai pegar o metrô e o abate friamente, sem conferir previamente. Esta é a forma como a Inglaterra trata imigrantes e latinos. Então que dêem o prêmio para a Sra. Streep - não engrandece, se ela não tiver uma visão crítica. O importante é que o espectador consiga estabelecer uma separação entre o sucesso da atriz e a personagem histórica. A paparicação em torno de Meryl Streep, como uma das preferidas ao Oscar não deve influenciar o público em sua apreciação de Margaret Thatcher. A primeira ministra continuará sendo percebida uma personagem ingrata e conservadora. Infelizmente, para ela, foi tratada com desprezo tanto pelas elites como pela classe média e proletária. As classes dominantes consideravam-na a eterna filha do quitandeiro, alguém sem berço, que exercia o cargo de primeira-ministra como quem administra economia doméstica.
Porém, em alguns momentos, não há como não solidarizar-se com Thatcher, na velhice. Todo idoso, em certo momento da vida precisa provar aos filhos e ao mundo que ainda não enlouqueceu de vez, que ainda não foi tomato completamente pela demência. E os médicos fazem os testes: Fique num pé só! Coloque sua mão direita no rosto! Quantos filhos a senhora tem? Que dia é hoje? Se é que Thatcher tem Alzheimer no dia do exame estava em melhores condições de cabeça do que seu medíocre médico . Deu respostas brilhantes e à altura. Não há como negar também que a Sra. Tatcher conquistou a Inglaterra com suas próprias forças. Foi uma estudante brilhante, chegou à Universidade graças ao próprio esforço e interesse. E teve a sorte de casar-se com alguém que a amou e apoiou muito. Denis, o marido é interpretado por Jim Broadbent, um grande ator que também merece o Oscar.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cada um tem a Gêmea que Merece

Adam Sandler tem presença dupla em "Cada um tem a Gêmea que Merece", faz o papel de Jack e o de sua irmã gêmea, Jill. o filme é destinado a um determinado tipo de público, que gosta de piadas grosseiras e politicamente incorretas. No Brasil esse tipo de humor faz sucesso. Porque você acha que aos sábados à noite na TV o "Zprra Total" faz tanto sucesso? Atores famosos fazem parte do elenco, Adam Sandler, como Jack e sua irmã Jill, Kate Holmes é Erin, a esposa de Jack e Al Pacino faz o seu próprio papel. Histórias de gêmeos possuem o seu encanto. Se vejo gêmeos, não consigo parar de olhar para tentar ver semelhanças e diferenças. Sempre penso como a mãe deve ser feliz com sua dupla. De fato, gêmeos são fascinantes. Ainda mais que têm a fama de se darem bem, não exatamente como no filme, mas de sentir um a dor do outro.

E Al Pacino porque aceitou fazer parte dessa palhaçada? Não sei. Só sei que como todo bobo brasileiro dei boas risadas. Me diverti muito com as piadas grosseiras. E agora? Bem, não é de hoje que dou risadas escandalosas assistindo ao quadro do metrô aos sábados. Adoro os atores Rodrigo Sant' Anna, a Valéria, e Thalita Carauta , a Janete. Descobri que não era só eu, o Brasil todo adora a dupla! Enfim, de olho num tipo de público pouco exigente é que o diretor Dennis Dugan deve ter rodado o filme.

A história é conhecida e previsível. Jack vive pacatamente, com sua mulher e filho, quando recebe a visita da irmã gêmea Jill, que no filme era chamada de Jootsie, num trocadilho com Tootsie? a personagem de Dustin Hoffman, que ao vestir-se de mulher fazia o maior sucesso? Quando precisa conviver com a irmã gêmea grosseira e sem a menor finesse, Jack se irrita muito. Como publicitário deseja fazer uma propaganda de donuts com Al Pacino. Tudo estaria resolvido se Al se apaixonasse por sua irmã. Pois não é que o grande astro de " O Poderoso Chefão" tem uma queda por Jill, que ele considera a sua Dulcinéia?

Se você não está nem aí para o que os intelectuais dizem e pensam, não perca tempo e vá ao Arteplex, o melhor cinema de Porto Alegre dar boas risadas com os gêmeos Jack e Jill.


domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Bela e a Fera ( Beauty and the Best )

A história original de ''A Bela e a Fera" foi escrita por Gabrielle-Suzane Barbot, a Dama de Villeneuve, em 1740. Vinte e seis anos depois, foi reescrita por Madame Jeanne-Marie LePrince de Beaumont. Tornou-se um dos contos clássicos infantis até os dias de hoje. Periodicamente, "A Bela e a Fera" é reencenado no cinema ou teatro. Em 1991, a Disney Feature Animation realizou a versão de "A Bela e a Fera", transformando o conto em um musical de animação "Beauty and the Best", dirigido por Kirk Wise & Gary Trousdale, com adaptação de Linda Woolverton e canções de Alan Menken & Howard Ashman. Onze anos depois, o mesmo filme é reapresentado na tecnologia 3D. A história invariavelmente apresenta variações. Segundo a Disney, Belle , uma jovem que gostava muito de ler, vive com seu pai, Maurice, em uma pequena aldeia da França. Gaston, um jovem da aldeia, bronco, musculoso, forte e bastante limitado aspira ao coração de Belle, que não o ama. O pai Maurice é inventor. Por isso é considerado excêntrico. Não gostam dele na aldeia. Quando vai apresentar um invento em uma feira, se perde na floresta e é atacado por lobos. Refugia-se em um castelo, onde vive uma criatura diferente, a Fera. Na verdade, a Fera era um príncipe orgulhoso, mal educado e pretensioso que foi amaldiçoado por uma feiticeira que o condenou a viver como Fera. Se um dia fosse amado, antes de cair a última pétala da rosa, ele reconquistaria o seu reino. Assim , Bela se oferece para ficar em lugar do pai, no castelo da Fera. Aos poucos descobre que a Fera é sensível, e sem querer, assim de repente sente-se atraída pelo animal. Para vingar-se, Gaston consegue enviar Maurice para um Asilo de Loucos e ataca o castelo da Fera. Belle que tinha saído do castelo para visitar seu pai, levara o espelho, através do qual conseguia ver tudo. Assim, Belle vê a Fera agonizante. Corre para o castelo e demontra seu amor ao animal que está à morte. Nesse momento, cai a última pétala da rosa, não sem antes quebrar o feitiço que transformava o noivo em animal. O desenho é belíssimo, como todos os da Disney. Mas a transformação da Fera em Príncipe é digno de nota, e faz lembrar o "'Adão" de Michelangelo, sendo criado por Deus com apenas um toque. Observe, cuide!



A versão de alguns psicólogos é a de que o conto "A Bela e a Fera" transforma o noivo em animal para que em seu crescimento, a criança possa adquirir aos poucos o sentimento da identidade, passando por momentos difíceis, sofrendo privações, enfrentando o mundo com as próprias forças e obtendo vitórias. Assim , ao tornar-se ele mesmo, autêntico, o herói ou a heroína torna-se digno de ser amado. No caso de "A Bela e a Fera", para o desenvolvimento ser pleno, é preciso ser capaz de amar o Outro. Por isso é tão bonita a mensagem do filme. Assim, alcançar ao desenvolvimento da própria identidade pode garantir a cada um de nós a salvação da alma. Mas ainda é insuficiente para que o ser humano atinja à felicidade plena. Para isso é necessário criar um vínculo com o Outro. Como afirma Bruno Bettelheim: - "O Eu sem o Você vive uma existência solitária". Por isso é preciso transcender o próprio isolamento e sair em busca do Outro. Faça isso logo! O que você está fazendo aí sentado?

Leia por favor: de Howard Ashman e Alan Menken
Sentimentos são fáceis de mudar
Mesmo entre quem não vê que alguém pode ser seu par
Basta um olhar que o outro não espera
Para assustar e até perturbar, mesmo a Bela e a Fera
Sentimento assim, sempre é uma surpresa
Quando ele vem nada o detém

É uma chama acesa
Sentimentos vem para nos trazer
Novas sensações, doces emoções
E um novo prazer
Sentimentos vem para nos trazer
Novas sensações, doces emoções
E um novo prazer
Numa estação como a primavera
Sentimentos são como uma canção para a Bela e a Fera
Sentimentos são como uma canção para a Bela e a Fera









sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Artista (The Artist)

"O Artista" é campeão de indicações ao Oscar. Melhor Filme, Melhor Direção para Michel Hazanavicius, Melhor Ator para Jean Dujardin e Melhor Atriz Coadjuvante para Bérénice Bejo. O filme concorre ainda aos prêmios de Melhor Roteiro, Montagem, Fotografia, Direção de Arte, Figurino e Trilha Sonora. A produção é francesa, mas Michel Hazanavicius e Bérénice Bejo, sua mulher, praticamente se mudaram para Los Angeles onde foram rodadas as filmagens. "O Artista" fala do amor de seu diretor e roteirista pelo cinema. É uma obra de arte em preto e branco, e também fala sobre cinema o tempo todo. Ao discorrer sobre a linguagem do filme dentro do filme, emprega recursos de metalinguagem. Usa uma linguagem para descrever algo sobre a linguagem do cinema. Quando George Valentin - uma analogia com o o nome do herói do cinema mudo, Rodolfo Valentin - fala sobre o cinema, o espectador participa da sequência de filmes dentro do filme. Ou seja, o espectador vê o quadro da janela do filme onde o ator, mostra ele próprio, numa sequência de filmes mudos, dentro do filme. Woody Allen, em "A Rosa Púrpura do Cairo" fez o ator sair de dentro do filme para unir-se à espectadora Cecília, representada por Mia Farrow ). Os personagens de Hazanavicius homenageiam os primórdios do cinema. Aí cada um tem a liberdade de fazer suas analogias. Como o diretor ama o cinema, é óbvio que toda a história e linguagem do cinema é o seu material de criação, tudo já foi realizado. Assim, é possível afirmar que George Valentin foi criado segundo o modelo de Rodolfo Valentino, ou do Zorro, Douglas Fairbanks ou até de Clark Gable - embora o bigodinho de Clark Gable seja de 1939 e do cinema falado, em "E o Vento Levou", o filme da vida das mulheres que nasceram antes de 1945).
Jean Dujardin, o George Valentin, é a revelação de 2012. O sorriso é irresistível. Conheço gente que foi assistir ao filme mais de uma vez só para ver de novo o sorriso do herói, com seus caninos em pontinha, muito sexy. Você sabia que dentes caninos pontudos são extremamente sexy? Será uma analogia com o lobo que vai comer a vovó? E um indicativo para Chapeuzinho tomar cuidado com seus sentimentos eróticos? Não sei, psicólogos e psiquiatras explicam melhor... O fato é que cenas de filmes clássicos podem ser revisitadas em "O Artista". Desde "Cantando na Chuva", "Grande Hotel" até "O Garoto". Pergunto-me, afinal ali, dançando, é George Dujardin ou Gene Kelly? E fico feliz quando identifico a frase famosa de Greta Garbo, dita pela bela Peppy Miller: - "I want to be alone".

O filme conta ainda com a presença de James Cromwell, um grande ator, com uma filmografia enorme . E veja só, não consigo esquecer "'Babe", o filme em que James Cromwell fazia o fazendeiro Arthur Hoggett, que treinava seu porquinho para pastorear ovelhas. Quando Babe participa de uma apresentação pública e se sai bem, Arthur lhe diz : - "Você arrasou Porco"! (inesquecível).
E o que dizer sobre Uggie? Que ele é simplesmente genial e torna-se o complemento de seu dono. Os dois combinam à perfeição. Você sabia que Uggie já tem 10 anos, e que é o filho adotivo de quatro patas do treinador Omar Von Luller? E que ele passou por dois donos, que não o quiseram por ser considerado um bicho anti-social? Simplesmente inacreditável. Agora todo dono de cachorro vai querer que seu bicho se jogue no chão e se faça de morto, quando ele fizer a simulação do tiro com os dedos da mão! No filme é possível ouvir George Dujardin chamando Jack. É que Uggie é um Jack Russell Terrier. Ele participou de filmes como "Mr. Fix It" e "Água para Elefantes". Na França recebeu uma indicação ao prêmio "Prix Lumière Award". Em 2011, em Cannes, recebeu o "Palm Dog Award". A cena mais emocionante - em que Uggie tenta convencer seu dono a não cometer suicídio, poderia ser comparada a do filme "O garoto", quando o menino chora pelo pai Chaplin? Um certo exagero não é mesmo? Mas quem sabe? Assim não vá ao cinema esperando grandes enredos ou grandes dramas em "O Artista". Assista ao filme pensando em tudo o que ele representa para o cinema.



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas ( The Help)

Tate Taylor, o diretor, é do Mississipi e queria fazer um filme contando uma história. Sua amiga Kathryn escreveu o livro "A Resposta" (The Help), sobre preconceito racial. Quando este tornou-se um sucesso e uma possibilidade de virar filme, Kathryn exigiu que o diretor fosse Tate Taylor. Segundo ela e Tate, Mississipi é o estado mais racista dos Estados Unidos. A história se passa nos anos 50, 60, quando Marthin Luther King lutava pelos direitos dos afro-descendentes e quando o presidente Kennedy foi assassinado em 1963.
Eugenia , a "Skeeter"( Emma Stone) não se enquadra no padrão de comportamento feminino que se espera de uma mulher nessa sociedade preconceituosa. Seu desejo é tornar-se escritora. Após conseguir um emprego num jornal para substituir uma colunista cujo tema são os assuntos domésticos, Skeeter tem a idéia de escrever um livro com depoimentos verdadeiros, mostrando a visão das empregadas domésticas. Coisa que nenhum branco do Missisipi quer saber.
Entre as atrizes Viola Davis, a Aibileen, é candidata ao Oscar de Melhor Atriz. Octavia Spencer , a Minny e Jessica Chastain, a louríssima e sem preconceito, Celia, são candidatas ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. O cenário é o da burguesia americana endinheirada dos anos 60. As mulheres que fazem parte da história, exemplificam a sociedade da época, são bastante estereotipadas. Tanto Hully Holbrook (Bryce Dallas Howard) como suas amigas, possuem um visual e fala preconceituosa. Representam - de forma simplificada - o grupo social a que pertencem. O filme capta com perfeição o cinismo das senhoras e de seus maridos. As mulheres usam a moda dos anos 60, vestidos coloridos, acinturados, franzidos ou godês, com comprimento abaixo do joelho. Os cabelos tem corte médio e estão duros de laquê. A maioria é louríssima. Efetivamente possuem a pele muito branca. Nenhuma delas dedica-se ao cuidado dos filhos. Sempre em cima de saltos altos, essas jovem senhoras medíocres e extremamente conservadoras não têm nenhum filho para cuidar. Eles são criados e educados pelas empregadas domésticas. Os hábitos escravistas devem estar arraigados nessa sociedade até hoje. Se Abraham Lincoln promulgou a Abolição em 1863, cem anos depois o espírito escravista ainda imperava na cidadezinha do Mississipi. O comportamento conservador das senhoras baseia-se em status e riqueza. Não possuem a menor empatia pelas empregadas que cuidam de seus filhos. Por antecipação o grupo considera que as domésticas são seres inferiores, que devem ser colocados em seus devidos lugares, dominados e subjugados. Assim, nenhuma delas sente o menor prurido em perseguir, demitir ou acusar de roubo as domésticas, que até podem considerar as casas de seus patrões como seus únicos lares.
O processo de tomada de consciência inicia por Aibileen Clark (Viola Davis), que posteriormente consegue a adesão de Minny. O motivo da demissão de Minny foi o quiproquó em torno do uso do banheiro. A patroa não quer que a empregada use o banheiro. Minny desafia a ordem, finge que usou o vaso sanitário e puxa a descarga, com a patroa de ouvido colado na porta. Minny chora amargamente a humilhação. As patroas pregam um banheiro só para uso das empregadas. Não deixa de ser aquela casinha de fundo de quintal que existia - ainda existe - no Brasil da falta de saneamento. E no Brasil? Qual é a origem do programa dos apartamentos que inclui o banheiro de serviço, com circulação independente, uso de elevador de serviço, tudo evidenciando a superioridade do patrão e inferioridade da doméstica? Engraçado, aqui nunca ninguém fala nada, tudo isso é aceito placidamente. O programa de necessidades deve ter imitado a vida dos europeus ou americanos. Não é muito diferente do filme, e os brasileiros gostam de afirmar que não são racistas. Aqui no Brasil e aqui em Porto Alegre, elevador de serviço, entrada de serviço, banheiro de serviço é para cachorro, empregada doméstica e trabalhador. Só não fica especificada a cor da doméstica. Mas o preconceito é o mesmo. As classes dominantes e as emergentes brasileiras são muito parecidas com a turma do Mississipi dos anos 60.
Vale conferir a revanche de Minny, cujos quitutes são verdeira delícia! Vale também conferir a atuação não apenas de Viola Davis e Octavia Spencer, mas também de Bryce Dallas Howard , a terrível Hilly. A atriz possui uma beleza diferente e esteve em "A Dama na Água" e "O Exterminador do Futuro" em que fazia Kate Connor. Ah, e as mães? Tate dá um destaque para as mães idosas, ou quase. Sissi Spacek faz a velha senhora com Mal de Alzheimer e a mãe de Skeeter, apesar de todo o seu conservadorismo, e de não ter tido a coragem de defender sua velha empregada, nunca esquece de dizer: - "Filha eu te amo". Ela demonstra que até os fracos tem seu dia de heróis! Não deixe de assistir a este belíssimo filme.

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres ( The Girl with the Dragon Tatoo)

"Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres" é melhor que "Rede Social", o filme que no ano passado foi candidato ao Oscar. Ou, pelo menos, eu não estou interessada na vida do criador do Facebook, que não era nenhum primor de honestidade, não é mesmo? O filme baseia-se na Trilogia Millenium, de Stieg Larsson, " Os Homens que não Amavam as Mulheres", "A Menina que Brincava com Fogo" e "A Rainha do Castelo de Ar". Os personagens dos três livros são o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) e Lisbeth Salander (Rooney Mara). Como bem afirma o patriarca da família Vanger, o trabalho de investigação que ele confiará a Mikael surpreenderá pela sordidez e pelo mau caráter das pessoas que serão investigadas, os membros de sua própria família.
Se o jornalista perde e é humilhado em sua primeira investida contra o notório golpista Wennerstrom, sua nova tarefa junto à família Vanger não é menos difícil. Deve pesquisar as circunstâncias do desaparecimento de Harriet (Moa Garpendal), neta de Henrik Vanger, com notável interpretação de Christopher Plummer.
Mikael inicia sua pesquisa e recebe apoio da haecker Lisbeth Salander, uma investigadora alternativa que foge a todas as regras a respeito dos estereótipos de investigadoras. Mikael só não sabe que Lisbeth investigou sua vida anterior, contratada pelo mesmo advogado com quem negociou.


Millenium possui suspense e mistério. Em momento algum o espectador fica distraído. A trama é concebida com astúcia. O filme é muito bem montado, alternando cenas de movimento e violência, com o silêncio da pesquisa do jornalista; com Mikael e Lisbeth unidos, mas separados em momentos de sofrimento e tensão, um não sabendo do outro. Os personagens são bem pintados e caracterizados. E descobrimos que não se salva ninguém, nem Mikael. Ninguém é um primor de caráter. Desta vez, Daniel Craig interpreta o jornalista sem todo aquele charme e dureza de 007, o espião com licença para matar. Mikael usa um sobretudo justo, envidenciando sua magreza e fragilidade. A barba está quase sempre por fazer. Quando ele conversa muito próximo à Lisbeth, seus olhos azuis transparentes continuam muito bonitos e só. Existe um momento em que ele parece bem Jeca, com seu pijaminha vermelho quadriculado e a cara amarrotada.


"Millenium - os Homens que não Amavam as Mulheres" é envolvente quando Mikael e Lisbeth evoluem em suas investigações e ele descobre a sequencia de fotos do desfile - ocorrido há quarenta anos atrás - que poderão desvendar o enigma. Pode até ser comparado à "Blow-Up" um dos melhores filmes de Antonioni, em que o fotógrafo Thomas (David Hemmings) ao revelar fotos decobre um assassinato. A sequencia de imagens de Harriet, ao lado de sua prima Anita mostram sua surpresa ao enxergar alguém do outro lado da rua. Mikael fica obcecado em descobrir a identidade dessa pessoa misteriosa. Em ambos os filmes, casualmente um gato é retalhado e colocado à vista de cada um dos personagens, Thomas e Mikael, nos dois filmes, para intimidá-los.
A participação de Lisbeth é o toque de classe do filme. Lisbeth tem 23 anos, mas é tutelada pelo Estado. Desde os 12 anos é considerada mentalmente incapaz. Queimou 80% do corpo do pai quando era criança. O que ele terá feito? Depende das graças de um funcionário do Estado que lhe assegura uma mesada e relatórios de psicólogos sobre sua saúde mental. A vida de Lisbeth sempre foi dura. É uma menina sozinha, que foi e continua muito abandonada. Ela poderia ser a sua filha! Não poderia? Sua filha poderia um dia estar sofrendo os mesmos riscos, não poderia? Ela precisa e merece muito amor. Além de tudo Lisbeth é genial, muito ágil, esperta e inteligente. Sabe tudo de computadores e coloca Mikael no bolso. O visual da garota é uma graça, muito punk, não consegue esconder um rostinho adorável e bem desenhado pela natureza.
De início, Lisbeth é vítima dos abusos sexuais do funcionário do Estado, um gordo porco, perfeito para caracterizar o bandido tarado. A cena do abuso sexual e a da revanche de Lisbeth são duras. A punição do abusador é a catarse do espectador. Nos sentimos vingados. Esse tipo de sentimento é o mesmo que Sam Peckinpah provoca em "Sob Domínio do Medo", quando o professor David Summer, interpretado por Dustin Hoffman explode em violência depois de ser humilhado. Como o herói de Peckinpah, Lisbeth não esquece seu inimigo. A garota ainda tem uma relação muito peculiar com a dor; resiste, não sente medo. É uma dura investigadora. Mikael ao contrário, no final se mostra um alienado. Sem saber, na santa ignorância tem seus problemas resolvidos por Lisbeth, que caça Wennerstrom, seu grande inimigo. Mikael também não sabe - nem quer saber-, cativou Lisbeth, que solitária e carente acreditava que tinha encontrado um amigo e um amante...












domingo, 5 de fevereiro de 2012

A beira do abismo ( Man on a Ledge)

Sam Worthington é a razão para você assistir "À beira do Abismo". Sam era o cyborg Marcus Wright, de "O Exterminador do Futuro"- de McG-, que ofuscava o John Connor , interpretado por Christian Bale. McG afirma que Sam é um raro ator que reune a capacidade de ser agressivo e parecer vulnerável ao mesmo tempo. E prestem atenção, as mulheres adoram Sam Worthington, que tem brilho até no nome, chama-se Samuel Shane Worthington. Em Avatar, de James Cameron, não ficou atrás interpretando o Jake Sully, o jovem paraplégico que tem seu próprio Avatar e vive as maiores aventuras na floresta de Pandora.

"À Beira do Abismo" é um thriller dirigido por Asger Leth, com suspense quase garantido, porque de fato não é um bom filme. Sam, interpretando Nick Cassidy fica parado na cornija de um prédio no vigésimo primeiro pavimento, em Nova York, ameaçando se jogar. Prestem atenção o prédio é antigo e pertence à Escola de Chicago que teorizava o objeto arquitetônico, comparando-o com uma coluna grega, com base ou pedestal, coluna propriamente dita ou parte intermediária e coroamento. Por isso Nick apoiava-se na parte lisa da cornija, que iniciava o coroamento do prédio.


Vamos ao que interessa, o que ele fazia nessa beirada do vigésimo primeiro pavimento do Hotel Rossevelt, gritando que cometeria suicídio e que exigia a presença da bela negociadora Lydia Mercer ( Elizabeth Banks)? O filme não surpreende. Enfim, Nick é condenado a vinte e cinco anos de prisão pelo roubo de um diamante. De fato, existe uma trama liderada pelo vilão David Englander. Ed Harris caracteriza muito bem o vilão, magro, velho, calvo, feio e irreconhecível. Parece uma vela de sebo derretida. Você não vai acreditar como ele era lindo em "Os eleitos, onde o Futuro Começa", de 1983.


Como Nick demora muito para jogar-se e inicia uma identificação com a bela policial pisicóloga, desconfia-se que existe algum plano mirabolante em segredo. Por isso você deve assistir "À Beira do Abismo" para descobrir, afinal Nick vai ou não atirar-se? Lá embaixo a multidão ovaciona e vaia. Todos querem assistir ao espetáculo que Nick teima em retardar. Por que?





Românticos Anônimos (Les émotifs anonymes)

Isabelle Carré e Bênoit Poelvoorde formam o casal de enamorados em "Le émotifs Anonymes", dirigido por Jean Pierre Améris. A trama se desenvolve em torno da paixão pelo chocolate. Jean-Réne, o proprietário de uma fábrica de chocolate e a chocolatière Angelique, se veem pela primeira vez quando ele a entrevista, buscando funcionários para sua firma. É paixão à primeira vista. Porém tudo o que acontece entre os dois é atrapalhado pelos milhões de fios do medo, do pânico do convívio social, do pavor em enfrentar as situações corriqueiras do dia a dia, que envolvem, falar em público, assumir a autoria do próprio trabalho, enfrentar chefias, dar aulas, conversar, pedir o cardápio em restaurantes, enfrentar estranhos etc, etc. O tom de comédia exagera quando trata dos sentimentos dos temerosos e emotivos. E nos faz rir. A comédia é deliciosa, entremeada por canções que se refere à cada tema do filme como: "J'ai confiance en moi", "Attaque de panique", "Les émotifs anonymes" e outras. Ser dominado pelo medo é uma coisa terrível. O próprio Hitchcock afirmava que sentia medo de tudo. E que isso tinha sido incutido por seu pai, que permitiu que ele passasse uma noite na prisão para aprender sobre certas coisas. Até por isso, quem sabe, o grande diretor tornou-se o mestre na arte de provocar o medo. Em "Le Émotifs Anonymes", tanto Angelique como Jean-Réne sofrem crises de pânico, quando submetidos à situações difíceis. Nenhum lembrou de dizer para si mesmo: "Tudo o que você precisa são 20 segundos de coragem, depois vai passar". Assim quando a bela Angelique vai para a entrevista, fala e canta para si mesma, recitando canções de auto-ajuda, que funcionam como um mantra. O texto da canção "J'ai confiance en moi" reforça seu caráter e confiança. Mal sabe ela que seu futuro patrão sente tanto ou mais medo. Ambos procuram ajuda, Angelique frequenta um grupo de auto ajuda, em que cada um conta suas mazelas e é apoiado pelo grupo. Jean-Réne tem seu psicólogo que lhe pede três exercícios. No primeiro ele deve convidar alguém para jantar, no segundo deve tocar em alguém e no terceiro deve dar um presente. Você já convidou alguém para jantar? Tocou em alguém, assim como o psicólogo pediu? E já presenteou alguém? Ou para você é muito difícil dar alguma coisa para o outro? Bênoit é genial em sua interpretação. O espectador sofre junto quando ele leva uma mala cheia de camisas para trocá-las durante o jantar, sem que a amada perceba. Ele suava frio e molhava a camisa... Até que o infeliz, não conseguindo suportar, foge pela janela. Nas crises de pânico as pessoas fogem da situação insuportável que lhes tira a fala, faz tremer, secar a garganta e suar frio. Pior é aquele tremor nas mãos, que teima em balançar o papel de leitura. Se você não tiver pena dê uma xícara de cafezinho para alguém como Jean- Réne. Ele poderá derrubá-lo. Ou ainda, dê um copo d'água. Se o infeliz emotivo tiver senso de humor, vai lembrar de "Jurassic Park", quando a câmera se fixa na água que treme dentro do copo, anunciando o velocirraptor que se aproxima da menina. A coragem e o bom senso algumas vezes vencem . O medroso diz para si mesmo, ne t'inquiete pas , le panique est en toi. Não te inquietes, o terremoto está dentro de ti mesmo. Para alguns funciona, e o pânico pode ser vencido. Não para Jean-Réne, que fraquejou até na hora do casamento. Porém, como noivo e noiva sofriam do mesmo problema, adivinhem o que aprontaram?








sábado, 4 de fevereiro de 2012

A Separação

O filme iraniano não provoca emoção, ou virei uma pedra? Ou minhas feridas e mágoas estão curadas? Tudo muito cicatrizado? Fiquei frustrada, logo eu que choro se ofendem o Pluto.'' A Separação'' é um bate-boca de início ao fim. E aí ? Segundo a mídia temos todos os ingredientes para entender a cultura árabe. Se analisarmos cada briga, cada diálogo vamos entender os árabes? Duvido, muito diferentes de nós, simples brasileiros. De início, a mulher quer ir embora daquele país. Chega daquela terra sem esperanças! Por isso quer o divórcio. Mas, se o marido pedir para ela não ir, ficará. Simples, basta o marido pedir que ela fique! Pois não é que o cara de batata não pede? E a partir daí começam os acontecimentos nefastos. Ele não vai porque seu pai precisa de atendimento, está com o Al, como diz o Dr. Gustavo Barão, da Fisicor. O problema é aquele "stress", quando a mulher vai embora e o marido precisa cuidar do pai, com a pior das doenças! Muito, muito difícil manter a calma nessa hora . O filho se atacou muito , e com razão. Quando a empregada amarrou o pai na cama e saiu, ele caiu no chão. Se falava, desde esse dia ficou calado. Olhava o filho com os olhinhos do Rilquinho (o meu cachorrinho amado). E agora? O dinheiro sumiu, nunca foi explicado. A empregada voltou, cheia de razões. Não tinha roubado, será? Não sabemos. Precisou sair. O drama, foi empurrada pelo patrão, caiu na escada e perdeu o bebê! A partir daí, o patrão precisa provar ao juiz não sabia que ela estava grávida! No Brasil é mais simples, todos mentem , sem o menor problema. Ninguém tem problemas com o Corão, ou o Alcorão? Se o seu pai manda alguém à "puta que pariu", ou à ''la gran puta''! (adoro essa expressão!) , não é problema. E pior, se o cara merecia? O advogado dirá que você deve dizer que não disse o palavrão e tudo fica por isso mesmo! Mas, no caso, o bebê da empregada morreu! O pai sabia que ela estava grávida? Eis a questão transcedental!

Assim, interessa no filme a preservação das crianças, que não são culpadas de tudo o que acontece entre pai e mãe nessa hora. Algum pai ou mãe se preocupou com isso, no Brasil, quando desancam seus ex-companheiros?

"A Separação" mostra a cultura árabe, muito preocupada com a submissão feminina. À toda hora eles querem preservar a honra. Honra esta que nunca foi explicada. Você acha que seu filho escolheria viver com você no caso de uma separação? E não seu ex-companheiro? O que lhe faz presumir isso? O pior mesmo é ser rejeitado, não é mesmo? Você está preparado para isso? Assista "A Separação" e veja todos esses temas em pauta.

E tem mais , não esqueça que "A Separação" é candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012.