quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo)

"Compramos um Zoológico" é um filme raro. A história é verdadeira, Benjamin Mee um viúvo inconsolável resolve mudar de vida e buscar novas aventuras. Descobre o local ideal para sua família. No auge do entusiasmo pela casa de seus sonhos, não importa-se que ela seja um zoológico. Não existem vilões, a não ser o inspetor Walter Ferris, de quem depende a autorização para funcionamento do zoo. À reboque, para Benjamin cuidar vêm não somente leões, leopardos, cobras e zebras, mas uma equipe de cuidadores, entre os quais está Kelly (Scarlett Johansson).

Matt Demon vive o papel de Benjamin com tal convicção que se eu um dia conhecesse o verdadeiro Benjamin preferiria a versão do ator. A ficção é melhor e mais emocionante que a realidade, não sei bem porque.

Benjamin não suporta a falta de Katherine, mas precisa levar a vida e cuidar dos dois filhos, Dylan e Rosie. Maggie Elisabeth Jones interpreta Rosie e dá um show de graça e simpatia. Poderia ganhar um Oscar de interpretação. É uma menina-prodígio, que nem Shirley Temple. Gosto mais de Maggie, é menos afetada. Faz carinhas e tem tiradas irresistíveis.

Thomas Haden Church vive o irmão mais velho, nada convencional, e que tem muito amor para dar para o seu mano. Adoro histórias de irmãos que se dão bem. Acho lindo! Pois é "Compramos um Zoológico" parece um pouco sessão de matiné de domingo no interior, nos anos 50. Algumas cenas são de uma beleza tão sutil, que podem fazer você chorar, ou talvez nem notar. Tudo depende do eu de cada um. Em uma das cenas mais bonitas Benjamin e Rosie estão olhando para o leão Salomão. Nesse momento, a felicidade dos três é silenciosa. Benjamin, Rosie e o leão num momento de cumplicidade. Existe uma ligação entre os três, a câmera pára no rosto de Rosie, analisa o rosto de Benjamin, que não contém a emoção diante da nova aventura e de tanta responsabilidade. A relação daquele olhar triangular termina nos olhos cristalinos e amarelo- esverdeados do leão, plácido e satisfeito, como quem compreendeu que está em boas mãos e pode reinar descansado em seu recinto. E isso é a mais pura verdade. Os animais sabem quando estão bem, sob as asas do dono. A nova concepção de zoo baniu a palavra jaula. Agora os animais estão em recintos e têm outro tipo de cuidado e dedicação. Aliás cuidado e amor não faltam na equipe formada por um grupo bem estereotipado, mas convincente. Onde não poderia faltar o brucutu MacCready, de cabelos escuros e crespos. Outro com uma enorme cabeleira black power. Um terceiro não se separa de seu adorável "monkey". A fofoqueira Rhonda não poderia faltar e Kelly, a jovem consciente que ama e respeita os animais poderá transformar-se na mulher da nova vida de Benjamin.

Os conflitos ficam por conta de delicada relação entre Benjamin e seu filho adolescente Dylan , cujo nome não se deve ao cantor, mas à história de um cachorro. Após muita rebeldia, expulsões e desentendimentos com a doce menina Lilly, Dylan o menino exótico da cidade conseguirá adaptar-se à nova vida, acabar com o luto, acreditar no amor do pai e em si mesmo. Pois afinal como o irmão de Benjamin muito bem lhe ensinou. Na vida é preciso enfrentar os grandes problemas com apenas 2o segundos de coragem. Então pessoal, vamos em frente! Amanhã ao levantar não esqueça que você precisa de somente 20 segundos de coragem para enfrentar aquele problemão!









segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Missão Impossível

"Missão Impossível, protocolo fantasma" é o quarto filme da série. O primeiro foi dirigido por Brian de Palma, o famoso diretor americano, que criou uma forma própria de dirigir thrillers de ação e suspense fazendo citações aos grandes diretores do cinema como em "The Untouchables", em que refilmou a famosa cena da escadaria de "Encouraçado Potemkin", de Sergei Eisenstein. "Missão Impossível", dirigido por Brad Bird, é um dos melhores filmes da série. Tom Cruise tem 49 anos, não é mais o jovem que contracenava com Nicole Kidman e fazia tudo o que ela lhe ordenava, em "Far and Away"( Um sonho distante). Duvido que outro ator esteja em melhores condições físicas. Dublê para Cruise? Nem pensar! Depois que fiquei sabendo que o ator fez questão de interpretar todas as cenas, quase não acreditei. Cruise escalou o Burj Khalifa, o arranha-céus mais alto do mundo. O prédio foi projetado por Adrian Smith, o arquiteto que trabalhou com a SOM (Skidmore, Owings and Merrill) até 2006. "Missão Impossível" é um excelente thriller de ação e suspense nos moldes dos melhores de 007. A conjuntura é de tensão entre Rússia e Estados Unidos. Ethan recebe ordens do presidente para procurar códigos nucleares dentro do Kremlin. Descobre que o super vilão Hendricks (Michel Nyqvist) chegou antes e roubou os códigos. Hendricks explode o Kremlin e Ethan é acusado do atentado. Sua empresa, a IMF, é desativada e seu grupo é desautorizado. Mesmo assim ele recebe a incumbência de impedir que Hendrincks concretize seus objetivos de provocar uma guerra nuclear. A nova operação chama-se "Protocolo Fantasma". Se Ethan falhar será considerado um terrorista qualquer, não terá apoio e não será reconhecido pelo governo americano. Oficialmente o grupo está desautorizado e não recebe qualquer apoio. Os três membros do comando em ação contam apenas um com o outro; Benji Dunn (Simon Pegg), Jane Carter (Paula Patton) e Simon Pegg (Jeremy Renner), um ex-agente que agora trabalha como analista. A trama se desenvolve em uma sequência de ação de deixar o espectador sem fôlego. A melhor é a escalada de Ethan pela "courtain wall" da torre. O grupo está no 130 o pavimento e precisa chegar ao 164 o. Como um verdadeiro atleta, Ethan conta com luvas aderentes que sinalizam azul, para ok e vermelho para morte. Lembrando Ulisses, o herói da mitologia grega, nosso herói passa por muitas situações entre a vida e a morte para conseguir seus objetivos de alcançar a mala de prata que contém os códigos nucleares. As piadas divertidas ficam por conta de Benji e Simon, que agradecem por seus pápeis secundários que lhes garatem não serem nenhum dos escolhidos para escalar a torre pelo lado externo. Mas Jane Carter, a belíssima Paula Patton, mostra a que veio, reservando-nos belíssimas cenas de sedução e sensualidade quando fisga o outro vilão, um indiano idiota, amigo de Hendricks. Essa sequência foi filmada no Burj Al Arab, projetado por Tom Whright, da WS Atkins PLG, com formato de vela, a mais alta estrutura hoteleira localizada em Dubai. Embora no filme a sequência seja na Índia. Se você não identificou, Paula Patton é a professora do filme "Precious"( 2009) e Jeremy Renner é o soldado americano que desarma a bomba em "The Hurt Locker", que retrata o dia a dia de uma brigada anti-explosivos atuando no Iraque. A diretora é Kathryn Bigelow. O filme tenta sensibilizar o espectador em relação a esses soldados que desarmam armas explosivas. Como se eles devessem ser considerados "heróis"! (Sic! Dá para entender essa visão de americano?). Finalmente cabe citar a tenacidade de Hendricks como vilão, que não se entrega e vai até o fim. Ficamos levemente agitados quando aquele olho de quem já estava morto se abre, para fechar-se logo em seguida vencido pela morte. "Missão Impossível" mostra Tom Cruise como um herói de farwest, um solitário que sacrifica a vida privada. Preparando a sequência, Ethan reserva apenas um olhar amoroso e à distância para sua mulher. Não perca , e depois veja de novo...






domingo, 18 de dezembro de 2011

A chave de Sara

Voltei, e revi "A chave de Sarah", um dos filmes mais emocionantes de 2011, baseado no romance de mesmo nome de Tatiane de Rosnay. Kristin Scott Thomas é Julia, uma jornalista que pesquisa o massacre dos judeus em 1942, na Paris ocupada pelos nazistas. Gilles Paquet-Brenner dirige esse belíssimo filme em três tempos. Alternam-se passado e presente. O passado da barbárie e a Júlia dos anos 2000 tentando descobrir a verdade e reorganizar a própria vida. Cena inicial, duas crianças, Sarah e seu irmão Michel, brincam e riem debaixo das cobertas. Será a última brincadeira, a última risada de criança. Fortes e ameaçadoras, as batidas à porta interrompem para sempre a brincadeira dos irmãos. Nazistam arrecadam judeus para prendê-los. Nunca mais se ouvirá o riso infantil. Sarah, e seus pais são levados para o velódromo Vel d'Hiv. O drama que acompanhará Sarah pelo resto de sua vida é simbolizado pela chave. A verdade aterradora que destruirá sua vida é simbolizada pela chave, que desvenda a verdade. A menina esconde e chaveia o irmão dentro de um armário. Michel em sua inocência pensa que está brincando. "A chave de Sarah" sensibiliza o espectador profundamente. Marcou a vida de Sarah e de milhares de judeus. Os acontecimentos dramáticos não têm retorno, ninguém jamais devolverá Michel ou Sarah aos braços da mãe. O mal esmaga para sempre. Por isso o personagem de Julia Tézak- embora ela preferisse usar seu sobrenome de solteira- é forte e importante, busca a verdade para colocar as histórias, os sentimentos, os sofrimentos e as dores nos seus devidos lugares.
Graças à Julia os que participam da história - inclusive ela própria - podem conhecer, reconhecer e rever seu passado. A primeira condição para superar a dor e o sofrimento é o conhecimento e a aceitação da verdade. Se esta possui um preço, é infinitamente melhor encará-la- mesmo que obrigado - para enfim conseguir aceitar o passado e a própria identidade.
Assim, se você nasceu na "Lagoa do Forno" grite em alto e bom som: "sou de lá" de Dom Pedrito, sou da "Lagoa do Forno"! A "Lacfourville" da história do Curso da Aliança Francesa, a paródia do "Cão dos Baskerville" de Sir Arthur Conan Doyle! Mas essa é outra história...
A menina Sarah Starzynsky (Mélusine Mayance)tenta voltar à casa para salvar o irmão. O episódio envergonha a França, que enviou milhares de judeus para o velódromo de inverno de Paris, o Vel d'Hiv, condenando-os à morte, ao confiná-los e mantê-los presos em condições desumanas.
A pequena Mélusine garante a dramaticidade da primeira parte. Outros atores como Kristin Scott Thomas, Niels Arestrup (o pai adotivo de Sarah) e Aidan Quinn ( seu filho) também estão excelentes. Preste atenção, observe-os. Perceba a emoção em seus olhos, no sorriso e na forma como articulam as palavras. Aidan Quinn é um grande ator - embora não seja tão popular. Lembrava James Dean quando era jovem e mais magro.
Sarah consegue voltar para salvar Michel, mas o tempo passou. Jamais conseguirá superar o sofrimento do encontro com o corpo do irmão morto. Jamais irá superar as recriminações do pai, quando ele lhe pergunta incrédulo porque deixou o irmão preso no armário? Ou ainda quando perde a chave e a encontra embaixo do sapato do soldado nazista.
Na segunda parte do filme Sarah cresceu. É uma jovem bela e amargurada. Foi adotada por Jules e Geneviève Dafaune(Dominique Frot).
As histórias de Júlia e Sara se cruzam quando a jornalista ao preparar a matéria sobre a vida de Sara Starzynsky descobre que a família de seu marido viveu no apartamento da família Starzynsky, desde que foram deportados e mortos. Descobre que Sarah nunca foi deportada, pode estar viva.
Os obstáculos ao trabalho de Julia são colocados pelos próprios personagens da história. A família do marido Bertrand opõe-se às suas buscas. O sogro sabe de tudo, mas todos desejam enterrar e esquecer um passado de vergonha. Afinal teriam se apropriado do apartamento dos judeus deportados? Ajudavam Sarah como quem distribui esmolas? Para aplacar consciências?
A parte final nos reserva o resultado da alienação. William , o filho de Sarah usa outro o sobrenome, Ransfeld. Não tem passado, não sabe quem é verdadeiramente. Seu pai ocultou-lhe a verdade. Julia, a presença incômoda, salva-se a si mesma ao salvar o outro. Quando o pai moribundo conta a verdade a William Ransfeld, o filho descobre que é judeu, que é um Starzynsky. Sua mãe negava-lhe o sobrenome para protegê-lo. Assim, um após outro os personagens emocionam o espectador, Julia e Sarah pela coragem. Sarah, com o instinto de sobrevivência e o amor de mãe, nega a verdade. Julia, para sobreviver, busca a verdade. E William, hah! William é o grande personagem alienado e equivocado que reencontra o seu ser, sua consciência e a identidade. Somente o enfrentamento com a verdade produz as condições de superação da dor e do sofrimento. E, finalmente permite o crescimento de cada um dos personagens desta história trágica e verdadeira.
Você sabia que segundo o professor Gunter Weimer, os Bittencourt- que significa plantador de beterrabas- eram judeus novos, que fugiram para Portugal? Como Sarah renegaram a própria identidade e adotaram outros nomes. Esta poderia ser a sua própria história? Hah! Entendi tudo agora!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Refém de Ilusões

"Refém de Ilusões" é um filme argentino dirigido por Eliseo Subiela. Daniel Fanego interpreta Pablo, um escritor e professor de 60 anos, que cria personagens tão verdadeiros quanto a história sangrenta da didatura militar na Argentina. Os fantasmas dos argentinos mortos, desaparecidos e assassinados batem à porta do escritor. Desesperados, voltam vida com seus males e suas dores, clamam por vingança e justiça. Mas somente o autor conhece o destino que pretende dar a seus personagens.
Repentinamente Pablo sai da ficção e entra na vida. Encontra Laura (Romina Ricci) uma ex-aluna dos tempos da Faculdade, que na época estava apaixonada por ele.
Laura é cheia de vida, dedica-se intensamente a seu novo amante-professor. Os dois vivem intensamente seus dias e noites de paixão tresloucada. Apesar da dedicação à amante, Pablo não pretende oferecer-lhe mais nada além de outras e outras noites de amor. E daí? Um amante pode ser tão limitado quanto um marido? Alguém entusiasmou-se pelo amante de Marguerite Duras, no "Amante", com aquele enorme complexo de inferioridade do colonizado? E que também nunca conseguiu oferecer mais nada à sua amante senão banhos e depois... cama?
Se os problemas de Laura fossem apenas esses ainda suportaríamos sua história de amor que terminaria em zero. Pablo jamais trocaria sua esposa pela amante! Pior, o fantasma que paira sobre os argentinos sombriamente toma conta de Laura. Pablo descobre que ela desapareceu, teve um ataque psicótico. Mas como, asssim? De repente a desculpa é o desequilíbrio de Laura?
Em cenas anteriores a vemos feliz, brincando e debochando dos milicos que vivem marchando, batendo continência, tocando tambor, corneta e cantando hinos à Pátria defronte à sua sacada portenha (bem pequeninha). Laura odeia os milicos. Apenas ela? Laura odeia o autoritarismo. Apenas ela?
Em algum momento a personagem desconfiou de seu pai, um coronel que aposentou-se após a Guerra das Malvinas? Todos sabem que muitos filhos de prisioneiros desaparecidos foram adotados por militares... Laura estaria no meio dessa vergonha? desse absurdo? Como se sente um filho adotivo de pais desaparecidos adotado pelo próprio torturador? Você algum dia pensou nisso? O horror e o paradoxo só poderiam trazer o inferno para essas crianças, que hoje teriam a idade de Laura...
"Refém de Ilusões" discute, insinua e devolve ao espectador a barbárie da ditadura militar na Argentina. De fazer pensar e deixar-nos arrepiados e apavorados. Os fantasmas que perseguiram as mães da Praça de Maio ainda assombram argentinos e brasileiros, acreditem... Brasil e Argentina são países irmãos, mais ainda nestas tristes lembranças que teimam em voltar em "Refém de Ilusões". Óbvio sofremos dos mesmo males.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Pele que Habito

"A Pele que Habito" é mais um na lista de fimes insólitos de Almodóvar. Luiz Fernando Veríssimo refere-se a ele como um filme louco, estranho e diferente..., mas que deve ser visto por todos. Lembrando os filmes de Almodóvar, penso que relatam histórias incríveis, com uma trama tão enredada como nenhum de nós jamais conseguiu imaginar. Não por obra do acaso, alguns dão o tiro certeiro e tocam nos pontos frágeis do espectador, nas lembranças mais dolorosas, nos sentimentos mais escondidos, no mais sensível do ser.
Em determinados momentos alguns de seus filmes rasgam nossa alma, nos fazem chorar, depois rir. Quando o filho de Manuela é atropelado, em «Tudo sobre minha mãe» o espectador é pego de surpresa. A mãe trabalhava com doações de órgãos, precisa inverter seu papel. Ao invés de receber os órgãos de parentes transtornados pela morte de seus entes queridos, transforma-se na doadora dos órgãos do filho. A sequência é extremamente emocionante.
Em « Volver » algumas sequências são inesquecíveis. A mãe - em uma atuação genial de Carmem Maura- supostamente morta, aparece para uma das filhas. Esconde-se embaixo da cama para a outra filha não saber que continua por ali, conversando com sua irmã. Apesar de morta precisa resolver assuntos pendentes... «Volver» mostra um jeito espanhol - pode tornar-se universal - de conviver com a morte. Vivos e mortos convivem em situações hilárias. A relação entre a mãe – morta - e a filha nos diz que podemos conviver bem com nossos mortos, como se eles estivessem vivos. Quando precisamos enfrentar situações difíceis, sempre podemos fazer como Raymunda (Penélope Cruz)e dizer tranquilamente para a mãe morta: – « Mãe ainda bem que passaste sem esta. Estás livre»!
Em dois de seus filmes « Fale com Ela » e « A Pele que Habito » surgem especulações em torno do corpo feminino. Em ambos o corpo da mulher é cultuado, limpo, construído e tratado como obra de arte. Em « Fale com ela», o enfermeiro fascinado pela mulher, imóvel e silenciosa, fala com ela, usa a narrativa como forma de se comunicar e fugir da solidão. Em «A Pele que Habito» o inescrupuloso cirurgião transforma o homem e cria a mulher. Cria um novo corpo e uma nova mente feminina. Assim, o criador apaixona-se pela criatura. Almodóvar discute a questão do masculino-feminino, a identidade sexual. Se somos XX ou XY - homem e mulher - cada um com seus cromossomos femininos e masculino, a questão da homo ou heterosexualidade ainda precisa ser remetida ao âmbito cultural.
Até que ponto somos homem ou mulher? Ou ambos? O tema fascina e enlouquece Almodóvar. Como se o diretor ou espectador pudessem se identificar com o feminino, com a perfeição do corpo feminino e negassem a alteridade. Além de falar com ela, quero ser ela. Não interessa a alteridade, mas ser o outro, ser a mulher, transformar-se nela. O corpo feminino, eis o grande mistério e o grande mito. O mistério do feminino, para quem não se reconhece dentro de um corpo masculino, ou vice versa.
Em «A pele que Habito» o cirurgião Robert Ledgard (Antonio Banderas) pesquisa a criação de uma nova pele desde que sua mulher morreu em um incêndio. Suas cobaias humanas talvez sejam algumas daquelas tantas pessoas que desapareceram. Quando desconfia que Vincent (Jan Cornet) é o responsável pela infelicidade de sua filha Norma (Bianca Suárez) - o rapaz a teria seduzido e violentado - decide vingar-se. Seu desejo de vingança o envolve em um emaranhado de acontecimentos inacreditáveis. Resultado de seus experimentos surge Vera, a mulher perfeita, o corpo esculpido, feminino e delicado. Afinal qual é a identidade sexual de sua criatura? Ela deixou de ser? Perdeu a própria identidade sexual?
E aí, a psicóloga Rosa Helena Schuch Santos contribui com meu blog. Segundo ela a vingança maior de Ledgard pode esconder suas verdadeiras intenções. Ele deseja possuir a mulher, desde que ela tenha os cromossomos masculinos. Aliás ele é o único que sabe que Vera - ainda que mulher - é Vincent! Ledgard camufla sua verdadeira identidade homossexual.
Para nos escandalizar um pouco mais, como na relação entre torturador e sua vítima, a criatura sente-se atraída por seu torturador... Será? Enfim Almodóvar sempre esteve fascinado pela questão da identidade sexual. E você?

sábado, 5 de novembro de 2011

O Palhaço

Selton Mello é "O Palhaço" Benjamin, Benja para os íntimos. Faz os outros rirem, mas quem o faz rir? Benja não escolheu a profissão, herdou-a do pai, o velho palhaço que ainda atua - interpretado por Paulo José. Benja é ingênuo e triste. Em sua vida só cabem preocupações. Como se tivesse somente deveres e nenhum direito, ou pelo menos, nenhum direito à felicidade. "O Palhaço" lembra Fellini em seu amor ao circo, embora os personagens do grande mestre do cinema fossem mais exagerados e inusitados. Sua obra é uma reflexão amarga sobre a vida anônima de seres esquecidos, que muitas vezes representam seus próprios papéis.
Selton é felliniano quando mostra o pequenino Ferrugem, o menino que fazia sucesso em programas de televisão nos anos 70, agora adulto e patético. Benja tem múltiplas obrigações desde comprar tinta para clarear os cabelos de seus artistas - para parecerem russos - até conseguir um enorme soutien para a mulher tetuda, que rebentou o seu. Selton é felliniano ainda quando faz a cena antológica do esquecido Moacyr Franco. O humorista superou-se representando o delegado, irritado por perder tempo com Benjamin, ao invés fazer o que realmente gosta, confraternizar com seu gato Franklin! Com certeza essa é a melhor cena do filme!
Senton Mello, ao mesmo tempo, atrás e na frente das câmeras é excelente, todos sabem, mas não custa repetir.
"O Palhaço" puro lirismo e inocência, é mais ingênuo que Fellini. O próprio Selton Mello, no auge de seus 38 anos tem uma carinha de menino inocente. E vejam a graça do ator quando meche no cabelo encaracolado e cria múltiplas facetas.
A simplicidade de "O Palhaço" é ressaltada com as cenas de câmera parada. Ao que parece é uma forma econômica de filmagem, sem excesso de recursos técnicos, mas com uma qualidade que garante cenas belíssimas, verdadeiras obras de arte, com os personagens parados, enfileirados olhando para a câmera.
Claudia Llhosa, a sobrinha de Mário Vargas Llosa faz o mesmo em "La Teta Assustada". Daí a beleza de muitos enquadramentos, como a cena do sofá, que aparece ao fundo, em cores fortes e características da arte latino-americana. Fausta a personagem de "La Teta..." passa de um lado ao outro da tela.
Benja sente-se usurpado em sua incapacidade de buscar a felicidade. Precisa afastar-se de seu próprio personagem para descobrir que ser palhaço é verdadeiramente a sua grande vocação.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Contágio

Thomas Emhoff (Matt Demon) é o último a saber, a bela Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow) o traía em mais uma de suas inúmeras viagens a trabalho. Por simples acaso é justamente ela a primeira a contrair o vírus mortal, mutante, capaz de dizimar a humanidade. O filme de Steven Soderbergh é bom, convincente e verdadeiro. Sem emoção parece um documentário, ou uma reportagem , em que o espectador vai recebendo as informações necessárias aos poucos. Os personagens são muitos e os atores famosos dão credibillidade ao filme. Kate Winsley é a médica, Erin Mears, que tenta salvar a humanidade, mas sucumbe, vítima do contágio.Jude Law é Alan Krumwiede, o jornalista desajeitado que adora criar polêmicas com propostas de tratamentos alternativos. Jude Law faz gênero, que nem em "A estrada da perdição". Transforma-se num jornalista comum, feio de dar dó, que não se sabe porque cargas d'água não tem o seu ortodontista. Hoje todo mundo alinha os dentes, menos Alan Krumwiede e Ronaldinho, ambos não economizam sorrisos com seus dentes horrosos!
Steven Soderbergh discute seriamente o problema das doenças infecto-contagiosas que assombram a humanidade desde sempre. Quando se trata de combater epidemias, os momentos críticos da história da humanidade revelam os múltiplos interesses que se chocam. Se existem heróinas como as doutoras Mears e Orantes (Marion Cotillard), ou ainda a jovem epidemiologista que inocula o vírus em si mesma para testar a vacina, os interesses espúrios andam à solta.
Medo do contágio e pânico são o grande perigo. Podemos tentar nos convencer que não temos nada a ver com isso - pura ilusão - quem não lembra do pavor da gripe H1N1?Quando as férias escolares foram prolongadas e as pessoas entravam no ônibus com o rosto coberto por máscaras! Cruz credo, que "meda"!
Quem leu os jornais de Porto Alegre de 1917 ficou sabendo. A "espanhola" matou tanta gente, que naquele ano houve mais mortes que casamentos e nascimentos! Na Espanha morreram 1% da população, segundo Soderbergh. Diretor sério, rodeou-se das pessoas certas como o virologista Ian Lipkin, que o assessorou nos meandros da terrível doença. "O Contágio" foi dado a conhecer como nos atos de uma peça de teatro, primeiro dia, segundo dia e lá se foi além do décimo oitavo dia. Não deixe de assistir e descubra como os personagens do filme que nós também poderíamos estar à mercê do vírus mutante, resultado de prosaica mistura entre excreções de morcego que alimentam porcos!

domingo, 16 de outubro de 2011

Eder, tudo bem? Que bom que gostaste do que escrevi sobre "Meu País". É verdade, não consigo colocar os trailers. É claro que aceito a tua ajuda. Segunda feira, amanhã pode ser? Abraços. Doris Maria

Medianeras, Buenos Aires na Era do Amor Virtual

Gustavo Taretto cria o roteiro e dirige "Medianeras, Buenos Aires na Era do Amor Virtual". O filme de Taretto segue a regra em pauta, se é um filme de "los hermanos argentinos", vale a pena conferir. A comparação com a arquitetura é instigante. Buenos Aires é uma cidade sem planejamento. As pessoas vivem alienadas e enclausuradas em caixas cinzentas, onde não entra sol. As sacadas são tão pequenas, que não cabe sequer uma cadeira. Os prédios e as pessoas são separados pelas "medianeras", aquelas paredes cegas, de cima abaixo, que os arquitetos, no Brasil, chamam de empenas. "Medianeras" é mais bonito. Paredes que enfeiam a cidade, cheias de propaganda gigantesca - a lei que proíbe esse tipo de publicidade ainda não chegou a Buenos Aires. Como quem procura Wally, um serzinho humano pequenino e comum, no meio da multidão, a câmera se aproxima de Martin (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala). Mariana é arquiteta, jovem e bonita, causa a impressão de " déjà vu". Verdadeira, no caso, pois foi vista no filme "Lope", como Elena Osorio.


Enfim, se as ruas das cidades são cheias de fios, se os apartamentos são mal ventilados e iluminados, se os maridos traem as mulheres, se as pessoas são infelizes, se sofrem de depressão, se não dormem direito e vivem abaixo de remedinhos, vejam só! Tudo é culpa dos arquitetos que foram incapazes de fazer a sua parte e contribuir para a felicidade das pessoas! Essa parte é a mais engraçada! Quem sabe mesmo, se pensando bem os arquitetos não seriam os culpados pela merda em que vivemos! Ou pelo menos em que vivem Martin e Mariana. He! he! he! Os arquitetos que deveriam planejar e organizar a cidade são os culpados de tudo. Vendidos, constróem cubículos, prédios ditos "chics", com depósito de lixo sem ventilação e perto do hall de entrada com piso brilhante de porcelanato! E aí, proíbem a gente de circular com Lana e Lola - as cachorrinhas de Doris Maria - nas áreas de uso comum! Esqueceram o fedor da lixeira empestando o belo hall! Esqueceram os conselhos da enfermeira Florence Nightingale que por sua vez inspirou Le Corbusier, no seu Sprit Nouveau. "Medianeras" mostra a vida das pessoas no século XXI, escravas da internet, escravas das novas tecnologias e dos computadores. Martin tem "Transtorno de Pânico", não sai de casa. Vive encerrado em seu cubículo, com o olho grudado na tela do computador. Ganha um bom dinheiro, mas não tem amigos e não vai ao cinema. Quando faz um acerto com mulher é pelo computador, segundo ele, sempre é tão decepcionante quando um Big Mac! Mariana não consegue trabalho como arquiteta. Trabalha como vitrinista, tem medo de elevador, e prefere subir dezoito pavimentos a entrar num deles. Assim os dois vivem uma vida de escuridão, de cegueira, completamente sem a "jouissance" , sem o prazer que toma dos personagens de ''L'Amant", de Marguerite Duras -sempre é tempo para alguém iniciar-se na obra da grande escritora. A escuridão que toma conta do quarteirão quando falta luz, simboliza a escuridão em vivem Martin e Mariana, incapazes de reconhecer um ao outro, diante da banca onde compram velas. Os dois se descobrem pela internet, são vizinhos e não sabem... Começam a romper com o vazio quando ignoram as leis dos arquitetos e os Códigos de Obras, que proíbem aberturas sobre as "medianeras". Cada um na sua "medianera" abre o proibido buraco, a janela por entra luz e vida. Ele mostrando sua masculidade, no centro da cueca gigantesca da propaganda, ela auxiliada pelo desenho da seta, como quem diz: " me olhe, estou aqui". Viram só? A escuridão em que vivemos depende de cada um de nós e de nossa vontade de sair dela e da mesmidade! Dá-lhe!


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Nosso País

Marcos, Tiago, Manuela, Giulia e Armando são a família de "Meu País", dirigido por André Ristum. Rodrigo Santoro é Marcos, o irmão mais velho. Tiago como o próprio pai avalia, "não faz nada'', mas é um bom menino. A história é tocante porque fala de amor, solidão, perdas, e responsabilidade. Enfim, da vida como ela é... André faz um filme doce e intimista. Tão doce e intimista que faz lembrar "Os três irmãos" (1981) de Francesco Rossi. Este conta a história dos três irmãos, um juiz, um professor e um trabalhador braçal, que se reencontram na cidade natal para consolar o pai e enterrar a mãe. O impacto da volta à casa paterna é um baque na vida das pessoas. Tudo que parecia tão grande quando éramos crianças, adquire uma dimensão muito menor e parece gasto, mostrando um tempo que passou, e que não há como recuperar. Apesar da dor e sofrimento é importante, pelo menos uma vez na vida, voltar para acertar as contas consigo mesmo, nem que seja... Santoro e Cauã estão ótimos, como os dois irmãos, opostos em tudo, que no fundo se amam. Afinal, são o próprio retrato da família. O personagem de Rodrigo Santoro- a cada dia fica mais bonito!- é Marcos um homem capaz de repensar a vida quando vê que é imprescindível para os irmãos. Marcos e Tiago, após a morte do pai, descobrem que têm uma irmã, Manoela, uma garota de 24 anos, deficiente. Para sobreviver, ela precisa do amor e do convívio com os irmãos. A cena que surpreende e toma a todos de surpresa emociona silenciosa e lentamente. Manoela revê o vídeo em que o velho pai cantarola uma canção de ninar para ela. Tiago e Marcos, surpresos se aproximam para ver e ouvir melhor o canto dedicado à irmã, como se um pouco do carinho do pai lhes tivesse sido roubado. Agora, por milagre da tecnologia a canção de ninar é devolvida e embala os três irmãos. Cada um de nós sabe porque esse temas emocionam...

domingo, 18 de setembro de 2011

Larry Crowne , o amor está de volta

Depois de quinze anos afastado da direção, com "The Wonders , o sonho não acabou", - alguém notou como passou esse tempos? - Tom Hanks dirige "Larry Crowne , o amor está de volta". A história tem a parceria de Nia Vardalos, de "Casamento Grego". "Larry..." reforça a imagem de bom moço, que Tom Hanks conquistou ao longo de uma carreira impecável. Assim, não é nenhuma novidade dizer que sou sua fã. Em "Larry Crowne...", ele convence com o jeito e de moço ingênuo, puro e honesto. Aliás, o que sempre foi em todos os personagens que interpretou. A isso soma-se a idéia de persistência. Tom Hanks sempre faz personagens persistentes, que vão fundo para concretizar seus sonhos e acertar na vida. Com Larry não é diferente. O personagem vive feliz, trabalhando no U-Mart. Pensa que será escolhido o funcionário do mês, quando, sem mais nem menos é despedido. Tudo devido à contenção de gastos e porque nunca estudou em uma universidade. Por isso nunca poderá ser promovido! Divorciado e desempregado, Larry separa-se de objetos que tornam-se desnecessários quando precisa mudar de vida. Impressiona a forma como aceita os novos fatos. Consegue matricular-se em uma universidade, separa-se da camioneta e adota uma moto simplezinha. Algumas coisas são muito simplificadas, como sua relação com o bando de motoqueiros e com a garota -namorada do motoqueiro de preto - que lhe dá lições de vida, arruma seu bagunçado apartamento, tudo numa boa, sem a menor maldade ou outro sentimento que não seja amor e bondade em relação ao outro. Ou será que estamos habituados a clichês? que basta ver um bando de motoqueiros para achar que vai haver confusão e violência?

Na universidade faz cursos de orátória e administração, encontra a professora Mercedes, a Mercy (Julia Roberts) por quem se apaixona. E eu que tinha perdido a paciência com Julia Roberts gostei da professora, de suas dicas de oratória e de seu cativante sorriso. Se os críticos se queixaram da falta de química entre o casal, pensem que a idéia era essa fazer um filme casto, com personagens puros e honestos, que tiveram a coragem de recomeçar suas vidas.



domingo, 11 de setembro de 2011

Cowboys & Aliens

"Cowboys & Aliens" é uma novel graphic history criada por Scott Mitchell Rosenberg. Transformou-se no romance de mesmo nome de Joan D. Vinge e está entre as novidades da Livraria Cultura. Foi adaptado para o cinema por John Favreau. O elenco impressiona, Daniel Craig, Harrison Ford, Adam Beach, Sam Rockwell, Olívia Wilde e Paul Dano. Preocupações existenciais passam ao longe. John Favreau faz um western clássico, invadido por alienígenas do mal. A perspectiva dos aliens não interessa. Destes somente aparecem monstros horrendos querendo devorar seres humanos. Quando os homens do velho oeste descobrem, usam de todas as suas forças para destruí-los. Na cena inicial, Craig encontra-se só, no meio do nada, sem lembrar o passado. Não sabe porque usa um bracelete. Descobre que este pode ser usado para abater naves alienígenas. Antes de incorporar o 007 com licença para matar, Craig já era o machão. Apesar de não possuir grande estatura, distribui seus socos e tiros certeiros, sem perda de tempo. Aplica somente os golpes necessários para deixar seus oponentes fora de acção. Durão, Craig quase sempre está envolvido com uma bela mulher, muito delicada e feminina, cujo destino pode ser trágico. Lembram da morte de Eva Green em "Cassino Royale"? Em ''Cowboys & Aliens" a bela é apenas uma lembrança esfarrapada em sua confusa memória. Surge então a misteriosa Ella (Olivia Wilde) que vem de um lugar desconhecido para ajudá-lo a combater os alienígenas. Porém, na luta entre "Cowboys e Aliens" Harrison Ford, o velho Indiana Jones ainda é o melhor, com seu olhar maroto de quem no fundo está rindo daquilo tudo, e não se importa em ter seu nome em segundo lugar. Vale anotar as presenças de Adam Beach, interpretando Nat, o filho adotivo de Harrison Ford, ou pelo menos o filho que o velho empedernido sempre sonhara ter e Sam Rockwell, o Doc, como o homem pacífico que precisa pegar em armas para finalmente conseguir a tão desejada paz. " Cowboys & Aliens" reza pelos mandamentos dos westerns clássicos, por isso mesmo vale a pena conferir.

O Homem do Futuro

Cláudio Torres, o filho de Fernanda Montenegro e Fernando Torres é o diretor e autor da comédia & ficção científica "O homem do Futuro". Parece brincadeira, mas não é. Gostei demais de ''Mulher Invisível". Em certos momentos "O Homem do Futuro" é um pouco cansativo. Mas conta com a presença de Wagner Moura, que está sempre bem. É uma delícia para as fãs vê-lo na telona. A história é criação do próprio diretor. ''O Homem do Futuro'' é um professor de física, caracterizado como um maluquinho excêntrico, que descobre uma nova forma de energia com um acelerador de partículas. O professor aciona o acelerador de partículas, fazendo parte da experiência. Diz ele: - maravilha! - depois disto vocês não pagarão mais contas de luz! Volta ao passado e tenta corrigir erros ou equívocos da própria vida. Assim Wagner Moura interpreta o físico em diversas idades. Faz uma carinha de criança, irresistível, quando é bem jovem, na famosa cena que marca sua vida em 11 de setembro de 1991. Quando o próprio volta de novo ao passado, luta para que as coisas se cumpram e aconteçam, no passado, como teriam de fato acontecido. Pois, a trama entre passado e futuro é um enredo em que um precisa do outro para existir da melhor forma. Assim a cena de humilhação do nosso querido personagem teria mesmo que acontecer, para Zero crescer e tornar-se como diz a frase feita: "um verdadeiro homem". Assim, não esqueça , se você lembrar em seu passado de momentos difíceis, em você acha que sofreu muito, foi preterido, não foi amado ou ainda foi humilhado, não esqueça, isso deveria acontecer para você tornar-se quem é hoje. Você agora é uma pessoa madura e segura de si , não é mesmo? Não esqueça, nada acontece em vão! Parece que é isso que Cláudio Torres tenta dizer em seu filme. Bom, muito bom. Ah esqueci, Alinne Morais está uma graça no filme. E Gabriel Braga Nunes o malvado interessante da última novela das oito é o personagem mau, vestido de anjo de tiara, muito sem graça! Mas como pode o belo Gabriel estar sem graça? com bracinhos magrinhos e sem nenhum músculo? Não entendi!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Octubre

O filme peruano dos irmãos Vega, Daniel e Diego explora o miserabilismo. Sabe? aquele prazer em mostrar um mundo onde todos os personagens são cretinos, pobres, miseráveis, desonestos e exploradores. Os irmãos diretores conseguem humanizar os personagens, quando - dentro da história dos embrutecidos pela miséria - Clemente (Bruno Odar) e Sofia ( Gabriela Velásquez) acolhem a pequenina abandonada em uma cesta de vime.


O gesto de amor é insuficiente para salvar o filme. Pior, filme selecionado para exibição em Cannes e fazendo parte da Mostra de Cinema. Ao compararmos "Octubre" com os "Brutti, Sporchi i Cativi ", o filme de Ettore Scola de longe é superior, chocante e surpreendente. Ao passo que "Octubre" embora neo realista, mostra a pobreza e a infelicidade de uma forma nua e crua, que não emociona. Não é possível identificar-se com nenhum dos personagens, todos são mesquinhos e sórdidos. Apesar de ser classificado como comédia dramática, ninguém ri, nem quando Sofia "dá água da bunda para Clemente beber". Aqui no Sul, reza o ditado que quem bebe "água da bunda de alguém" torna-se escravo fiel dessa pessoa! Era o que dizia Cecília, mãe do Luiz (o Merten).


Clemente é um homem que pouco fala, nunca ri e vive de explorar o outro. Funciona como um banco, cujo cofre é o forno do fogão, sem chave! Pensa que seu dinheiro está bem guardado, mas todos conhecem o local do "cofre". De início parece um homem forte a quem todos temem, mas seus devedores terminam descobrindo que se não pagarem as contas não acontece nada. Clemente é faroleiro. Sexo no filme é pago, tudo é feito por dinheiro. E o que Clemente gosta é de sexo com putas, velhas gordas, com barrigões enormes. Cansamos de ver aquele homem tirar a roupa, fazer sexo e vestir-se novamente. As gordas com cabelo crespo e enorme só comem pão com manteiga. Clemente toma um café magro com pão com ovo! Puro colesterol! E as cenas se repetem para o espectador sentir o tempo passar. Nenhuma mulher é bonita, todas são de meia idade, gastas e mal cuidadas. Sofia ama Clemente apesar de todos os seus defeitos. Mas também ela não é nenhum anjo. Apronta das suas com o homem amado e no minuto seguinte está rezando para o "Señor dos Milagres de Octubre". Outro detalhe que repete até o Cinema Novo brasileiro, a procissão com as beatas rezando, levando o Cristo e gritando histericamente, todas com véus brancos iguais - devem ter sido comprados pelo diretor na mesma loja!


Um belo dia quando volta para casa, Clemente encontra um bebê abandonado pela mãe, a outra sua amante prostituta. A história de Diego e Daniel Vega mostra que a fragilidade e a inocência do bebê é capaz de salvar os personagens. Sofia dedica-se inteiramente à pequenina. Conseguirá sensibilizar o coração do "maledeto" Clemente?

domingo, 4 de setembro de 2011

Um Conto Chinês

"Um Conto Chinês (Un Conto Chino)" é mais uma belíssima produção argentina. Ou melhor uma co-produção hispano-argentina dirigida por Sebastián Borenstein. Ricardo Darin está genial. Interpreta um homem comum, um argentino solitário. Vive sozinho, amargurado e cheio de manias. O amigo que faz a entrega dos jornais sabe que melhor seria se ele tivesse uma companheira. O rosto de Ricardo Darin é perfeito para incorporar o homem de meia idade, com cabelo levemente grisalho, algumas rugas, bolsas incômodas sob os olhos - o próprio nunca deve ter notado- mas com olhos de derrubar corações femininos, como afirma Mari (Muriel Santa Ana).

Os filmes argentinos tem um humor muito irmão, parecido com o nosso. Roberto solta palavrões a cada minuto, esses sim bem ao gosto argentino, pois os brasileiros tem predileção por outros palavrões. A narrativa é engraçada, mesmo que trate de coisas sérias. Roberto é proprietário de uma ferragem que herdou do pai. Cuida dos mínimos detalhes. Obcecado, é capaz de contar quantos pregos existem em todas as caixas que comprou. Fica furioso quando descobre que foi ludibriado, as caixas têm menos pregos. Aliás é o que acontece conosco todo dia, não é mesmo? Se os psicológos analisassem seu comportamento encontrariam, quem sabe, algo de compulsivo e repetitivo. Apesar das manias como afirma Mari, a mulher perdidamente apaixonada por ele, todos sabem que Roberto tem um coração e uma bondade enormes.

E o "Conto Chinês" fala da vaca que caiu do céu em cima dos noivos que faziam juras de amor eterno, bem na hora das alianças. A noiva morre, o noivo vem para a Argentina em busca do tio, sem saber uma só palavrinha de espanhol! Por obra do acaso, vai parar na casa de Roberto, que também por acaso colecionava casos absurdos publicados em jornais. Acredite ele recortou o caso da vaca que caiu em cima do casal de noivos! E, em meio a essa história absurda o diretor filma a vida, o amor, as carências , a capacidade de acolher o outro, de ser humano. Sebástian mostra também como a vida é efêmera, que as coisas podem mudar de um minuto para o outro. Se hoje somos que dá as cartas e dita as ordens, em poucos minutos tudo pode mudar. Como diz a propaganda da Band: "Em 20 minutos tudo pode mudar!" O que eu sempre digo pode parecer lugar comum, mas também é verdade: "A vida é rua de mão de dupla, tem a ida e tem a volta!". E para descobrir a sua volta Roberto precisa assumir que é preciso mudar, que é preciso correr atrás da felicidade e de repente, esquecer de olhar o relógio, esperando chegar as 23:00 h para apagar a luz e tentar dormir.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quero matar meu chefe

O elenco de "Quero Matar meu Chefe" é de primera, mas ninguém avisou aos famosos atores que era para representar, interpretar alguma coisa ou ser ator. Para o espectador parece que eles apenas repetem com algum enfado as falas do roteiro. Mesmo assim é possível dar boas risadas. Pior, a gente ri de piadas politicamente incorretas ou machistas e depois até fica meio sem graça.


Dave Harven (Kevin Spacey), Julia Harris (Jennifer Aniston) e Boby Pellitt (Colin Farrell) são os três chefes insuportáveis dos pobres coitados e insatisfeitos Nick Hendrick (Jason Bateman), Dale Arbus (Charlie Day) e Kurt Buckman (Jason Sudeikis). As sessões de humilhação chegam a tal ponto, que os três se unem e resolvem um matar o chefe do outro. A situação parodia o enredo de Hitchcock, em Pacto Sinistro, o que até é citado no filme, como uma homenagem ao grande mestre do suspense ou para mostrar a erudição do autor. Só que no filme não há suspense, nem brilho. O "Horrible Bosses" de Seth Gordon é uma distração de fim de tarde.


Algumas coisas porém são dignas de nota. A caracterização de Colin Farrell como o patrão maluco, careca, com uma testa proeminente é muito boa. Parece mesmo um cara bronco e limitado, que ama cheirar coca e gastar o dinheiro da empresa em orgias. Jannifer Aniston parece uma papagaia a repetir o texto. Viram como o tempo passa para todos? Até Jeniffer já fez seus preenchimentos. Ou intervenções estéticas na face? Bem, a dentista tarada é uma chata que inferniza a vida do recatado noivo Dale Arbus.


Seth Gordon por outro lado pode ser considerado brilhante ao recriar "Os três Patetas". Os três amigos aspirantes a assassinos não conseguem levar adiante seus planos sem a ajuda do ex presidiário esperto (Jamie Fox), consultor para assuntos de execução de crimes supostamente perfeitos. He, he, he! Perfeitos se não fossem concretizados por Larry, Moe e Curly-Joe!

domingo, 28 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos: a Origem

"Planeta dos Macacos: a Origem" é um dos melhores filmes de 2011. Extremamente envolvente, não nos dá tempo para respirar ou sentir o tempo passar. O genial é o contato entre seres humanos e símios, capazes de desenvolver uma inteligência que nos deixa perplexos. Emociona também o amor que se desenvolve entre homem e macaco, se é que podemos chamar Caesar dessa forma. Deixa de ser animal para transformar-se em ser inteligente, que desafia o homem.


Rupert Wyatt é o diretor. James Franco interpreta o cientista Will Rodman - que nesta versão é muito jovem, outro sinal dos novos tempos! Trabalha em uma empresa que pesquisa a cura de doenças degenerativas. O novo medicamento ALZ 112 poderá ser aplicado em seres humanos para a cura do Alzheimer. Eu que adoro James Franco só poderia gostar ainda mais do filme! Testado em animais, paralelamente o produto desenvolve a inteligência. De início, os macacos são sacrificados devido a uma fuga. Entre eles está uma fêmea prenhe. Milagrosamente o filhote é salvo e resgatado por Will. Como um verdadeiro pai, o cientista adota o filhotinho. Embala o pequeno nos braços e o leva para casa. Essa cenas iniciais são de uma doçura incomparável. Lembram o filme "Greystoke: The legendf of Tarzan, de Lord of de Apes ", quando o belo Christopher Lambert faz o papel do homem criado pela macaca. Greystoke volta à civilização, mas não consegue adaptar-se à hipocrisia da sociedade londrina do século XIX. Quando a mãe macaca morre, o grito de dor e desespero de Tarzan é inesquecível. Assim, quando Caesar consegue segurar a mamadeira, igual a uma criança, com um dia de vida, o espectador sabe o que está por vir. Óbvio ele se transformará no poderoso Caesar. Como o próprio nome simboliza, tão forte quanto o grande guerreiro e imperador romano. E aqui tem início uma sucessão de erros que culmina com a revolta e separação entre homens e símios.


Will tenta salvar o pai, Charles (John Lithgow), que sofre de Alzheimer. Caesar, interpretado por Andy Serkis, passa a fazer parte da família. Charles liga-se cada vez mais a ele, melhora com sua presença e com o tramento experimental. Mas a situação é insustentável. Caesar crescerá e desenvolverá seu poder. O inevitável confronto com humanos preconceituosos aconteceria um dia. Caesar agride o vizinho, em defesa de Charles. É encarcerado em um zoológico de quinta categoria, assim, uma espécie de campo de concentração nazista para animais. Thomas Andrew Felton, funcionário do zoo, é o protótipo do homem errado, mau e equivocado. Merece o destino que o diretor lhe reserva, já que temos um filme maniqueísta. E Caesar descobre da pior forma que os macacos unidos tornam-se fortes e poderosos.


Quando Will, como um pai amoroso o convida a voltar para casa, responde: " Eu estou em casa". E o bando se apodera da floresta de sequóias. Do topo das árvores observam a paisagem da New York que se descortina, uma cidade a ser conquistada. Caesar não precisa mais de braços compridos, que em determinado momento da evolução serviam para movimentá-lo e saltar entre as árvores. Agora como o homo erectus, Caesar caminha com suas poderosas pernas. Usa a inteligência para dominar a terra. Aguardem a próxima versão de Planeta dos Macacos, que ocorrerá após a contaminação da terra por via aérea. O globo terrestre é iluminado pela rede interminável de vôos que forma a terrível cadeia de contaminação. Sentiram que a trilha sonora de Patrick Doyle, dramática, não dá descanso ao espectador? Vai num crescendo a anunciar um tempo, em que uma nova inteligência poderá dominar a terra. Caesar não faz nada sem pedir permissão ao pai, como quem pede licença para crescer. Em sinal de submissão, a mão aberta e voltada para cima é tocada pela mão do pai que o criou, como a mão de Deus, pintada por Michelangelo, criando Adão. Foi nesse dia que o homem pensou que era Deus. Assim o cientista toca a mão de Caesar, que estendida, aberta em concha, e voltada para cima o liberta da tutela do homem.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Super 8

Na primeira cena de Super 8, o logotipo da Amblin, com a criança voando em uma bicicleta, carregando o ET nos fala que Super 8 só pode ser mais um bom filme com a participação de Steven Spielberg, que desta vez é um dos produtores. Óbvio que ET é inesquecível. E eu que terminei descobrindo há pouco tempo que quem amava mesmo os filmes de Spielberg era eu e não a Lucinha, minha filha... Fiquei um tanto surpresa... O fato é que Super 8 , dirigido por J. J. Abrams tem muito das mensagens de ET. Os personagens centrais são crianças. A história com seus ingredientes fantásticos mostra as crianças vivendo em um mundo separado dos adultos. São elas que compreendem melhor as situações e os problemas da família, as carências afetivas. Elas sabem das dificuldades dos pais em manifestar seu amor. E é através delas que os adultos se reconciliam com a vida e se tornam capazes de buscar e encontrar a felicidade.



O personagem principal é um menino. Martin é Gabriel Basso, um ator brilhante. A garota é Alice Dainard (Ellen Fanning). É verdadeiramente emocionante ver o olhar de Martin encantado com Alice, a menina de sua vida. Porém, os revezes estão à frente de todos. Alice é filha do homem que não foi trabalhar e foi substituído pela mãe de Martin justamente no dia do acidente que a vitimou. O momento é de luto e tristeza para Martin. Seu pai Joel Lamb (Joel Courtney) é o delegado e sente-se responsável por toda a comunidade. Não consegue dedicar-se inteiramente ao filho. Os quatro amigos filmam uma historinha de suspense e assassinato que se mistura com os acontecimentos do filme. Repentinamente o trem em alta velocidade entra na cena do Super 8, chocando-se com uma camioneta. Explosões, vagões e estilhaços explodem e saltam para todos lados. As crianças entendem que aquilo não é um simples acidente de trem. De fato, coisas estranhas passam a acontecer. Martin sente falta da mãe. Quando ele e Alice olham o video que mostra ele Martin - bebê - e a mãe brincando, entendemos a doce relação entre mãe e filho: - " O olhar dela sobre mim, me fazia sentir que eu existia , que era gente". O significado dessas palavras é tão bonito, como quando ouvi de alguém - há poucos dias - que as coisas adquirem valor a partir do valor que conferimos a elas. Você entende isso? É belíssimo! O olhar da mãe para o filho era muito especial e fazia com que ele sentisse que existia e que era alguém. De fato, Martin é especial. Tão especial que quando encontra a criatura do filme que vivia nos subterrâneos , impedida de voltar para casa - que nem o ET - faz com que ela pare de destruir, abra os olhos que parecem uvas e o ouça: - "Nem todos são maus". Embora pareça um tanto prosaico, é uma mensagem de paz e de amor e significa também que a partir de algum determinado momento cresceremos, nos tornaremos adultos capazes de fazer o bem e de continuar procurando a felicidade.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Cilada.com

Cilada.com tem feito um mega sucesso de bilheteria em poucas semanas de exibição. Em 14 de julho completava aproximadamente um milhão de espectadores. O filme é resultado do sucesso do quadro cilada.com interpretado e criado por Bruno Mazzeo, que teve cinco temporadas no canal Multishow, depois foi apresentado no Fantástico e agora vira filme. Bruno Mazzeo e Fernanda Paes Leme estão bem, naturais, simpáticos estabelecem empatia com o público. O tema é a internet, esse nova maneira de viver do século XXI, que faz com que as pessoas fiquem com os olhos grudados na telinha e não liguem para mais nada. Pelo menos, negam-se a querer qualquer conversa tête-à-tête contigo, ou comigo, você entende? E, quando querem te mandar um recado, conversam contigo e não dizem nada, depois mandam o tal recado por e-mail. Ai que raiva eu tenho disso tudo! Certo, sou de outra geração, e só de vez em quando me entusiasmo com e-mail. Então passar filmes sobre a intimidade das pessoas e colocar no "Intube'', como fez Fernanda, Deus me livre! coitado do Bruno! A comédia romântica mostra o quanto o personagem é atrapalhado. Bruno é Bruno Mazzeo, que foi pego em rídículo flagrante traindo a namorada em uma festa de casamento, com todos os convidados de boca aberta assistindo ao teatro de sombras protagonizado por ele e pela loura fogosa. Imaginem como Fernanda (Fernanda Paes Leme) vai se vingar? O fato é que ela tinha filmado cenas comprometedoras do namorado em dia de desempenho sexual discutível, Bruno teria concluído o ato sexual em poucos segundos. Depois que o video é divulgado na internet, os prejudicados sabem que remediar, consertar, explicar é tarefa difícil, quase impossível. O video de Fernanda arrebenta nos acessos, são tantos de causar inveja até para Obama ou William Bonner! Assim, Fernando vai se enterrando cada vez mais, toda vez que tenta arrumar o embrulho. Cilada.com é cheio de piadas politicamente incorretas. Bruno apesar das boas intenções, só faz basteiras. Contrata Marconha (Sérgio Loroza) para fazer um video capaz de recuperar sua reputação de macho barbaridade, como dizem aqui no Sul. Filmes como Cilada.com precisam ser assistidos no grande grupo, com platéia cheia, onde existem aqueles que morrem de rir de qualquer coisinha e você cai junto na risada geral. Azar meu, quando fui ao cinema tinha no máximo 10 pessoas assistindo. Mas, foi Marconha quem me fez rir, no quiproquó com a faxineira de Bruno: ela dizia que ía no apê de Bruno umas três ou quatro vezes por semana. Fazia escondidinho e ele repetia umas quatro vezes! Marconha pensava que ela era a prostituta que ele tinha contratado para fazer o video que transformaria Bruno em grande amante!!! He! He! He! Marconha ganha de Bruno no fazer rir! Quando se entusiasma, fica nu, gordo como ele só, e depois vexado, se cobre com um cacho de bananas. Não aguentei e ri muito. Imagino que a platéia venha abaixo quando o cinema está cheio! E tudo o que Bruno precisa fazer para demonstrar seu amor por Fernanda é conseguir dizer EU TE AMO! Somente com o auxílio de Mônica (Carol Castro) Bruno se conscientiza e reconhece que precisamos querer cuidar de alguém e querer também que alguém cuide nós! Que bonito! E ele precisa fazer algo com a maior urgência! Se você ainda não viu, corra para assistir à próxima sessão. Espero que tenha muita gente para deixar o sr. diretor Alvarenga Jr. ainda mais feliz! Agora sei porque gostei tanto de Divã.
Ontem falei com o Luiz (o Merten). Ele me disse que um de meus leitores lhe perguntou se eu tinha desistido do blog. Então, vim dizer aos meus leitores que não, é claro. Sumi mais ou menos por um mês, primeiro tinha que encerrar os trabalhos do primeiro semestre, pois sou professora em um curso de arquitetura em uma universidade de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Assim, viajo para trabalhar. Depois, fui a São Paulo visitar minha filha. Na semana seguinte voltei a dar aulas em um curso de férias na universidade. Na próxima semana irei à Brasília acompanhando alunos em uma viagem de estudos. Por isso não pude manter meu blog atualizado. A partir de 17 de agosto pretendo retomar minha rotina e voltar a escrever toda semana, ok?

domingo, 31 de julho de 2011

Singularidades de uma rapariga loura

" O que não contas a tua mulher, o que não contas a tua família, contas a um estrangeiro, em uma estalagem da Galícia'' . Eis a história de Macário ( Ricardo Trepa), o personagem de Eça de Queirós, do conto ''Singularidades de uma rapariga loura''. O filme é do cineasta português Manuel de Oliveira, que o dedica à família de Eça de Queirós. Lindo, lindo, faz jus à obra do grande escritor português. Tudo é perfeitamente adequado à descrição de Eça, desde o décor, às cenas de interiores, com o mobiliário pesado, muita madeira em tons amarelados até as tomadas externas, mostrando a arquitetura portuguesa e a paisagem distante da cidade. Vê-se a antiga fortaleza com grossas muralhas e o perfil da igreja de duas torres, que se destaca do casario, subindo a elevação. Cor e iluminação, na paisagem, marcam os episódios do conto e a passagem do tempo, na pacata Lisboa, onde vive Macário. Se você quiser dar uma olhada nas raízes portuguesas da arquitetura brasileira, verá, está tudo no filme de Manuel de Oliveira, mesmo que ele sequer tenha pensado nisso. Lá estão os casarões, os cunhais pesados, os pedestais, as portas de vidro e madeira, as varandas e os balcões de ferro.



Eça de Queirós foi um implacável crítico da sociedade portuguesa e de sua falsa moral, no século XIX. Desta vez seu personagem, o jovem Macário, é íntegro e correto, mas muito ingênuo. Sofre agruras em nome do amor e da atração que sente por Luísa (Catarina Wallenstein), a jovem loura, que rouba seu coração. Mulher belíssima, sacode o leque com graça inigualável. Romântico, crédulo, Macário consegue provar a seu tio Francisco, que além de ser um homem honesto é capaz de enriquecer e levar os negócios à frente. Por isso, o tio que a princípio desaprovara seu casamento com Luísa, volta atrás. Não só o readmite, como o aceita como sócio, incentivando o matrimônio com a rapariga loura. Eça mostra que a jovem Luísa linda, perfeita, loura, que bate o leque como ninguém existe apenas na imaginação e nos sonhos de Macário... E assim, vemos Macário, no vagão de trem contando seus dissabores e seu infortúnio para uma estranha. Se você um dia sentir necessidade de contar para um estranho o que nem por sombra você contaria para sua família, não hesite, faça como Macário conte sua vida para um estranho e desabafe... Faça de conta que você é um personagem de Eça de Queirós, quer coisa mais emocionante, maior glória?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Catherine, a deusa

Catherine Deneuve, a deusa veio mais uma vez para mostrar que ainda é a musa do cinema francês. Como estrela inacessível, foi elevada a um status superior por seus fãs que se recusam a aceitar sua falibilidade de comum mortal. Como pode a bela Catherine, a "'Bela da Tarde" ficar igual à outras senhoras idosas de sua idade? Assim, um pouco gorda, com plástica que não deu certo, sem cintura e de pernas finas ? Sobraram somente as perninhas fininhas, parecendo um passarinho como tantas senhoras. Ou ainda, está com o corpo da mãe da Luluzinha. " C´est la vie". O tempo passa até para as estrelas de alta categoria. Os fãs não aceitam, embora a própria Catherine o faça, assim, sem maiores preocupações. Acreditem, Catherine fuma e não se preocupa com atitudes politicamente corretas. Catherine e Depardieu não se importam com sua forma física. Devem pensar que já fizeram o que tinham que fazer, a aparência não importa mais. Mas Depardieu exagera na decadência. "Potiche a esposa troféu" é um filme feminista. Catherine está perfeita no papel da mulher que adquire consciência, supera seu grande opressor, o próprio marido e não se contenta com amores do passado. É uma mulher livre que dá aulas de decência, consciência, honestidade, coragem e liderança a todos que a rodeiam. A secretária , amante do marido transforma-se em sua fiel seguidora. Catherine dá lições de vida à filha, fraca e mesquinha, que trai a mãe, negociando cargos para o marido, e pior, com o próprio pai. Em sua trajetória ascendente Catherine transfere a estatueta de "esposa troféu" para o marido. Patético, transforma-se ele em ''marido troféu", que assiste - babando abraçado aos netos e à filha - a vitória de sua mulher nas urnas. A caracterização dos anos 70 é muito boa. As pessoas parecem gente como a gente, de Porto Alegre, por exemplo, a capital da cafonice feminina, a capital das mulheres peruas! Observe o cabelo da deusa, inflado, enorme, com muito laquê. Poderia frequentar o Shopping Moinhos, o Shopping Laquê, onde as senhoras aposentadas, com muito laquê nos cabelos desfilam e se divertem nos cinemas, lojas e cafeterias! De longe, com muito boa vontade podemos reconhecer aquela onda no cabelo da jovem Catherine dos anos 60, de ''Os Guarda Chuvas do Amor '' , ''Bela da Tarde" ou "Pele de Asno" . Afinal, nada disso importa uma vez deusa, sempre deusa!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Meia noite em Paris

Gil o personagem representado por Owen Wilson em " Meia Noite em Paris" é quase o "Cinderelo Sem Sapatos", o Jerry Lewis de 1960. Os dois últimos filmes de Woody Allen são muito bons. "Meia Noite em Paris" só não é melhor que "Poderosa Afrodite", o filme com a super Mira Sorvino deixando todos boquiabertos com seu requebro. Desta vez o interesse recai sobre Owen Wilson e acreditem o ator dá conta do recado. Sempre achei Owen um chato, com boca carnuda em formato de coração. Mudei de opinião. Deve ser um milagre do diretor. Somente um intelectual brilhante - para quem é lugar comum falar e pensar no dia a dia em nomes como Ernest Hemingway, Gauguin, Pablo Picasso, Salvador Dali ou Gertrude Stein - poderia criar o enredo de "Meia Noite em Paris". Gil (Owen Wilson) viaja a Paris com a família da noiva. Woody Allen sempre repete e critica os estereótipos componentes do grupo familiar. A família de Inez ( Rachel Mc Adams) não é diferente. Pessoas medíocres, cheias de preconceito, que não aceitam o diferente. Ricos, pobres de espírito e hipócritas que não sabem o que fazer com o dinheiro. Pessoas capazes de trair ou de fazer qualquer coisa para salvar as aparências. Assim, Gil precisa tomar medicamentos, pois sofre ataques de pânico desde que ficou noivo. O espectador só fica sabendo quando ele confessa suas fraquezas para um de seus ídolos, nos doces momentos em que entra no conto de fadas. Sai a passear sozinho pelas ruas de Paris, quando não mais que de repente batem as doze badaladas da meia noite. Como um Cinderelo ao contrário ou como Jerry Lewis em "Cinderelo sem Sapato" ele entra no mundo dos sonhos. Suas aventuras lembram o clássico musical de Vincente Minelli, onde Gene Kelly e seu amigo como num passe de mágica descobrem a cidadezinha de Brigadoon, parada no tempo e ainda com a bela Cyd Charisse. Na carruagem ou no carro antigo, Gil encontra Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda. Discorrem sobre literatura. Pergunta se Gertrude ou Fitzgerald aceitam ler o manuscrito de seu novo livro. Os sonhos do escritor se realizam. Os grandes escritores e artistas com quem convive não apenas lêem seu trabalho, como também o aconselham. Hemingway o apresenta a Picasso e Bunuel, a quem ele sugere o enredo de um filme, onde os mendigos tomam conta da casa. He, he, he, Bunuel deve ter seguido à risca o conselho. Filmou Viridiana, onde os mendigos reproduzem a cena da "Última Ceia" de Leonardo da Vinci. Conhece Adriana (Marion Cotillard) por quem se apaixona. Hemingway lhe confessa que um homem somente deixa de temer a morte quando descobre que está verdadeiramente apaixonado. O amor faz com que o homem paire acima das banalidades da vida, dos temores da morte e atinja o sublime. Gil descobre que nunca sentiu isso por Inez , mas que acaba de sentir tudo e mais um pouco por Adriana. Mas... sua musa vive nos anos 20 e tem relacionamento com Pablo, o Picasso sabe? Assim em suas adoráveis conversas com a jovem, descobre como é viver no tempo das vanguardas dos anos 20 ou na Belle Époque em Paris, convivendo com Toulouse Lautrec e Gauguin. Através de Hemingway descobre que está sendo traído. Gil é um noivo infeliz porque nega a realidade. Ao criticar o personagem do livro, Ernest lhe abre os olhos. O personagem se redescobre, aprende a conhecer a si mesmo. Sai à procura da felicidade. Descobre que é melhor viver no presente, do que sonhando com a nostalgia de um passado distante, mesmo que seja nos anos 20, rodeado por seus ídolos, ou na Belle Époque parisienese.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Copacabana

Isabelle Hupert se supera em Copacabana, outro filme do Festival Varilux do Cinema Francês, dirigido por Marc Fitoussi. Isabelle esbanja talento ao encarnar a mulher solitária. Um tipo comum nos dias de hoje, de libertação feminina. Babou, a personagem, é uma mulher na faixa dos quarenta, mãe de Esmeralda (Lolita Chammah), a própria filha de Isabelle. A garota pretende casar com um jovem de família bastante convencional. Problema, Esmeralda sente vergonha da mãe. Por que? Porque Babou não preenche os requisitos necessários para dar-lhe respaldo diante da família do noivo. Babou é assim mesmo. Ela é tudo o que não somos. Ou será que você algum dia colocou um estranho dentro de casa? em atitude rasgadamente anti convencional? Diante da negação da filha que aparentemente a odeia, diante de suas falhas e de seus fracassos como mãe, Babou se retira. Busca no trabalho, longe, outra maneira de viver. Mas não perde sua personalidade transgressora. Consegue ascender em seu novo trabalho - uma imobiliária - vendendo lofts para turistas. Não se contém e oferece um dos lofts para um casal sem teto e com cachorro passar a noite. No jantar que oferece à filha afloram os desentendimentos. Babou desabafa dizendo o que pensa sobre o futuro genro e sua família. Alguns dias depois o encontra muito abalado. Tinha sido abandonado pela noiva. Babou percebe que seu desabafo foi ouvido, que Esmeralda deu-lhe crédito! Consegue superar obstáculos e inaugurar uma nova forma de relacionamento com a filha. Descobre também que felicidade existe! E que a filha a ama e respeita. Bonito mesmo é ver a atitude de Babou tentando ajudar o ex noivo a recobrar o amor da filha. Isabelle Hupert se supera ao interpretar a personagem, a mulher solitária que sabe que homem deseja para si. A mulher quer reconhece seus erros, seus fracassos e que finalmente consegue se transformar e acertar em seu papel de mãe. Não é mais aquela mãe passiva que aceita as agressões e o desamor da filha, transforma-se em outra, na verdadeira mulher-solitária-mãe-amorosa-poderosa.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Loup

Vivendo em um país onde as preocupações com a sustentabilidade diminuem ao invés de aumentar... tive a agradável surpresa de constatar que ainda existe a possibilidade de mudar e melhorar a relação do homem com a natureza. " Loup" passou no Festival do Cinema Francês de 2011, em Porto Alegre, mas poderá voltar a entrar em cartaz. E aí você não poderá perder a oportunidade de assistir a essa jóia do cinema francês. Dirigido por Nicolas Vernier, ''Loup" mostra a vida de um povo nômade, do norte da Sibéria, que vive em perfeita harmonia com a natureza. Os Évenes não possuem bens materiais, nem propriedade privada. Não vivem como muitos brasileiros economizando uma vida inteira para um dia comprar o apartamento dos seus sonhos. Eles não precisam disso. Para o clã dos Batagai importa a relação de troca com a natureza. Serguei (Nicolas Krioudes) é o jovem que foi escolhido para ser guardião do rebanho de renas. Na verdade ele consegue realizar aquele sonho distante para qualquer ser humano que confraterniza com os animais. Consegue que uma loba selvagem e seus filhotes se transformem em seus melhores amigos. Serguei dá um passo à frente para evitar a extinção da espécie. Consegue mudar a mentalidade de um povo que há milênios considera o lobo como o inimigo do homem. Serguei dá lições de vida ao comunicar-se com Volkan e seus filhotes. Seu amor pelos animais faz com arrisque a vida para salvá-los. A retribuição é imediata. O carinho e a lambida do pequeno lobo o aquecem, salvando-lhe a vida. Serguei ensina ao pai sobre a importância de proteger não apenas o rebanho de renas, mas o lobo. Nikolai, o pai, aprende que o lobo não é inimigo do homem. Mas também não é amigo, conclui, para isso temos os cachorros! Através do filho consegue mudar sua relação de amor e respeito pela natureza. Não perca a cumplicidade entre o casal de namorados na relação com os lobos. " Loup" é um filme belíssimo e inesquecível. Na montanha os lobos permanecem com seu mistério e uivo ecoando para um mundo distante

terça-feira, 14 de junho de 2011

Vênus Negra

O Festival do Cinema Francês em Porto Alegre está apresentando 10 filmes. A Vênus Negra passa hoje às 17 h na sala 8 do Artplex. A Vênus Negra choca e denuncia a exploração de Saartjie (Yahima Torres) a mulher negra, que viveu na África, teve um companheiro e um filho. Foi aliciada pelo patrão, um explorador branco que a levou para a Inglaterra para exibí-la como um animal feroz em espetáculo grotesco. Saartjie sai de uma jaula, é uma mulher-fera, amarrada pelo pescoço, treinada por seu domador. Abdellatif Kechiche, o diretor, denuncia o racismo e o preconceito do branco em relação ao negro, nas sociedades inglesas e francesas. Um comportamento tão bárbaro e cruel, que em tudo se assemelha ao tratamento que o senhor reserva aos escravos no período escravista brasileiro. Abdellatif revela a podridão existente em sociedades que se consideram cultas e civilizadas, como a parisiense e londrina do século XIX. A Vênus Negra mostra o lado escuro, mesquinho e decadente de um povo que considera a mulher negra como uma coisa. Nas apresentações Saartjie tem seu corpo exibido como um objeto, em tempo real. Para o espectador, um minuto de mal estar parece durar meses. Todos se deliciam com o espetáculo de voyerismo em que Saartjie é exibida como a Vênus de Hotentote. O primeiro patrão é questionado na justiça por seu espetáculo degradante, mas a própria Saartjie o libera, afirmando que é uma atriz, que não é explorada. A alienação e a passividade de Saartjie espantam e exasperam. Após ser submetida às maiores barbáries e sevícias, muda, apenas pronuncia duas palavras: " Sim, senhor", "obrigada senhor". Como escrava, é vendida ao Museu de Medicina da Real Universidade de Paris. A Academia de Medicina consegue o direito de explorar seu corpo. O escândalo se agrava, médicos divulgam teses pseudo científicas, em que propalam por antecipação a inferioridade de Saartjie e sua semelhança com um orongotango. Vigoram as teses evolucionistas e cientificistas. A exibição pública do corpo da Vênus Negra para médicos e artistas é vergonhosa e repugnante. Em alguns momentos parece que o diretor abusa das cenas que mostram o voyerismo e a exploração, como se o espetáculo também fosse para seu próprio gozo. Saartjie, em um derradeiro gesto de recato não permite a visão mais íntima de seu corpo. Artistas da Academia a retratam e medem em cada centímetro. E eu que apresentei um trabalho em um Encontro de História sobre a "Visão do feminino, por artistas franceses, no Brasil do século XIX"!? Algumas imagens de pinturas são semelhantes aos retratos de Saartjie, mas podem esconder situações de exploração das modelos pelos próprios artistas. Estou perplexa, não tinha pensado nessa possibilidade. Se você não pensar, é a captação de um momento belo e sublime. Precisamos aprender a ver além das aparências... Embora a situação de Saartjie seja de escravidão e exploração sexual, seus algozes propalam que é uma artista e está ali por livre vontade. E mais uma vez Saartjie é vendida para um segundo explorador que apimenta o espetáculo, distorcendo a situação, como se ela sentisse prazer em ser tocada por uma fila de mãos e dedos imundos. Venham: - "Touchez, donnez-le le plaisir". Clímax do espetáculo, ele monta em Saartjie, como o domador monta no cavalo vencido, e ainda convida as velhas desavergonhas, com uma das tetas de fora, a fazer o mesmo. Detalhe, teta murcha e enrugada, que nojo! : - '' Venham senhoras, toquem nela, dêem-lhe o prazer"! Suprema humilhação! Poucas vezes vi cenas mais chocantes no cinema! Ainda a suprema ironia, após sua morte, mais uma vez seu corpo é vendido. Vergonha! Os bárbaros médicos do Museu da Academia Real de Medicina conseguem realizar o sonho de profanar as partes mais íntimas do corpo de Saartjie! Ela é cortada, retalhada, medida e exposta à execração pública! Mulheres chorem e lamentem pela vergonha!!! O corpo de Saartjie foi devolvido e está enterrado na África desde 2002.

sábado, 11 de junho de 2011

O Homem ao Lado (El Hombre al Lado)

Você já se imaginou morando em uma casa projetada por Le Corbusier? O arquiteto Leonardo (Rafael Spreguelburd) premiado na Bienal de Milão conseguiu a façanha. E a famosa casa não fica tão longe daqui. É logo ali em La Plata, Argentina, a Casa Curutchet. O filme é adorável, os arquitetos se realizam passeando pela famosa casa modernista, com amplos espaços e duas enormes rampas de acesso. Além de arquiteto, Leonardo é professor de design. Ganhou diversos prêmios em Bienais e Exposições de Arquitetura e Design. Efetivamente é um homem de sucesso. Além de morar em uma casa paradigmática é casado e possui uma filha adolescente. Sua mulher dá aulas de ginástica em casa. Enfim, como tudo na vida está recheado de aparências... Repentinamente sem acreditar no que seu olhos dizem, Leonardo vê o vizinho abrindo um enorme buraco na parede limite de seu terreno. Dali ele pode controlar sua vida e de sua família. Literalmente o vizinho, vê tudo! Óbvio, todo mundo sabe que isso é proibido pelo Código de Obras. É assim no Brasil e na Argentina acontece o mesmo. Victor, o vizinho, preocupa-se consigo mesmo e com seu bem estar. Cre na solução imediata. Arrivista de carteirinha acredita mais no que pode fazer por si mesmo do que nas exigências do Código de Obras. A idéia de cidadania nunca passou por sua cabeça. Quando Leonardo reclama e lhe diz que é proibido, que não pode fazer aquilo, Victor argumenta que o arquiteto possui muito sol e que ele precisa apenas de um raiozinho. O arquiteto tenta enganar a todos. Será que engana a si mesmo? De início sabemos que convencer Victor é uma batalha perdida. Leonardo tem medo dos outros. Não importa se o vizinho é uma pessoa simples e sem cultura, um pobre coitado. Na relação entre ambos Victor é o predador, por quem Leonardo fica fascinado. Hábil como ele só, Victor finge que cede, faz promessas que não cumpre. Alicia Leonardo. Convence-o a ir a um boteco jogar conversa fora. O arquiteto cai como o patinho, que sempre foi. No momento de crise afloram os problemas. Entre uma cena e outra Leonardo é surpreendido pela câmera, deitado à noite, de costas para a esposa, sem conseguir pregar no sono. O pensamento recorrente é Victor. Leonardo só pensa nele! Ambos surpreendem um ao outro espionando, um pra dentro da casa do outro! O mais engraçado é que Victor, um picareta, sem escrúpulos possui um charme todo especial e deseja deitar asas sobre a mulher do arquiteto também. Como um predador de olhar penetrante Victor enfeitiça suas vítimas. Os diretores Mariano Cohen e Gastón Duprat são hábeis ao mostrar essa relação, e sacam muitas risadas da platéia! O dúbio caráter do arquiteto fica evidenciado quando Leonardo convida a própria mulher para a espiar as façanhas noturnas do vizinho. o arquiteto mente para si mesmo e para os outros. Mente para os amigos e para a mulher. Os amigos, de fato "são mui amigos". São amigos de interesse que verificam a todo momento o status do dono da casa. O pior do caráter do arquiteto é quando dá uma cantada na aluna! E essa professores? Que feio! Leonardo descobre da pior forma que sua vida é uma merda. Não está bem com a mulher e muito menos com a filha, que não lhe dirige palavra. Fica dançando sozinha isolada do mundo com seus fones de ouvido. Observe, Victor representa seu papel até a última cena. Vejam seu olhar pícaro nos últimos instantes da derradeira e dramática batalha entre ambos! Você já viu essa família ou esse professor em algum lugar? Quem sabe em sua própria casa ou em sua universidade? He! He! He! As aparências enganam começam a desmoronar uma a uma...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

X Man, Primeira Classe

Na linha do tempo Erik Lehnsher passa por experiência traumática e muito sofrimento para descobrir que é um mutante com poderes sobrenaturais. Charles Xavier é o professor de teologia e está elaborando uma tese de doutorado junto às Nações Unidas. Os dois se conhecem na Universidade de Oxford. Descobrem seus poderes e se reconhecem como amigos. Charles Xavier é interpretado por James McAvoy. Entre os jovens atores ingleses, é um dos melhores, rivalizando somente com Jude Law. Se não é mais bonito que Clive Owen, é melhor ator. James McAvoy realizou belos filmes como "Desejo e Reparação" e "O Procurado". Em geral é perfeito para papéis dramáticos, interpretando jovens belos e ingênuos, que pateticamente são envolvidos em situações de problemas limite, que exigem tudo do personagem para superá-los. Ou ainda problemas insuperáveis, como em "Desejo e Reparação", em que é injustamente condenado por um crime não cometido. Em "X Man Primeira Classe", McAvoy é o mutante que encontra Raven Darkholme (Jennifer Lawrence) - lembram-se de Norah em "Um novo Despertar"? - a mulher azul que tem o corpo coberto de escamas. Charles Xavier e Raven assumem uma relação fraternal. A experiência traumática e decisiva na vida de Erik é o encontro com Sebastian Shaw ( Kevin Bacon) , em 1944, em Praga, quando este lhe propõe um jogo de vida e morte, em que sua mãe é assassinada por Shaw, com um tiro certeiro. Apenas porque o filho não consegue mover uma moeda, com a força do pensamento. Ódio e raiva acionam os poderes de Erik, para alegria de Shaw, o próprio símbolo do mal. Mas o que houve com Kevin? Está um desastre, precocemente envelhecido! Sebastian Shaw pretence usar os poderes dos mutantes para dominar o mundo. Charles Xavier compreendendo o drama do amigo Erik aconselha-o a dominar a fera que tem dentro de si. Para enfrentar os problemas é preciso domar a fera que vive dentro de nós. Erik precisa dominar o seu ódio para atingir um estágio superior. Cada mutante possui uma habilidade super desenvolvida. Charles lê mentes. Erik é capaz de atrair um submarino, como um ímã, e fazê-lo flutuar. Anjo possui asas de borboleta, que lhe permitem um vôo de beija flor. Raven se adapta ao meio ambiente. Fera possui pés diferentes, que como mãos lhe proporcionam grande habillidade. O professor Charles consegue acessar o canto mais bonito da memória de Erik e descobre que ele não é só dor e sofrimento, é capaz de amar. Matthew Vaugh, o diretor assinala pontos importantes que se aplicam tanto aos mutantes da Marvel como a qualquer ser humano. Quando deseja impedir que ódio e raiva dominem a mente de seu amigo Erik, Charles Xavier afirma: -"Você quer que a sociedade te aceite, mas antes precisas aceitar a ti mesmo. Para seres o melhor precisas descobrir o equilíbrio entre a raiva e a serenidade. Aí sim serás capaz de atuar e dar o melhor de ti mesmo". O filme é envolvente. A câmera dança em torno dos personagens. Os mutantes fazem a platéia vibrar com suas habilidades espetaculares. Vale a pena conhecer a saga dos heróis da Marvel criados por Stan Lee e Jack Kirb, que fazem o maior sucesso tanto no cinema como na TV.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Um novo Despertar

O filme de Jodie Foster é instigante. Walter, o personagem vivido por Mel Gibson é tomado pela depressão. As causas são desconhecidas e o tratamento com o dr. Macy é abandonado. Em seu drama, Walter atinge sua mulher e filhos. Meredith (Jodie Foster) é uma engenheira que tenta superar os problemas envolvendo-se com o trabalho. O filho caçula torna-se um menino calado. Não se comunica na escola e é jogado na lixeira pelo colega de aula. O mais velho faz um levantamento dos 51 ítens característicos da personalidade do pai, que ele teme possuir, mas nega profundamente. Ninguém acredita na recuperação de Walter, pelo menos, não o espectador. O depressivo pode causar estranheza em sua profunda falta de alegria. Não se alegra por nada nesta vida, nem que seja pelo sol que se levanta cada dia? Como pode ser isso? O filme de Jodie Foster coloca questionamentos que podem contribuir para a compreensão da doença e para que o depressivo seja visto com menos preconceito. Mas, e os que usam a depressão como álibi para não fazer o que deve ser feito ou para serem mal educados e grosseiros? Tema delicado... Jodie Foster além de excelente atriz é competente na direção. É imbatível quando demonstra tensão na maneira de falar e no cerrar de dentes. Mel Gibson que anda enfretando a rejeição de meio mundo por seus maus modos se reabilita, na telona, pelo menos. Afinal ninguém esquece o adorável Mel, o colírio para os olhos, e ainda por cima, com profundos olhos azuis e um doce sorriso quando "ouvia" o pensamento das mulheres em " Do que as mulheres gostam" e tantos outros bons filmes. Walter encontra uma forma de comunicar-se e enfrentar o mundo através de um mediador representado pelo fantoche de um Castor, sua personalidade se desdobra. Castor provoca profundo mal estar no espectador, e em Meredith. É o outro Walter que intervém para salvar Walter. Sem auxílio médico, ele encontra a forma para não sucumbir. Mel Gibson é novamente o grande ator. Com voz cavernosa, dá vida ao próprio braço, toma banho e dorme com o fantoche. A recuperação acontece rápida, mas é superficial. Castor, feio e dentuço assume seu outro eu, mas não consegue transmitir a Walter a serenidade necessária para enfrentar os próprios problemas: a rejeição do filho, por exemplo. Castor exaspera, não pára de falar! A tensão é limite! É preciso silenciá-lo..."Um novo despertar" é um filme doloroso e difícil. Até por isso me senti aliviada quando o filho mais velho e a namorada literalmente roubam a cena colocando a grande verdade, seus dramas e anseios no discurso de formatura. Afinal, se o pai precisa de apoio, a vida dos filhos deve ir adiante.

Boollywood Dreams- O Sonho Bollywoodiano

A Índia vende não somente Bollywood, mas a mística da espiritualidade. As três brasileiras que chegam lá em busca do sonho Bollywoodiano querem ser atrizes. No Brasil estão insatisfeitas com a vida cotidiana, a família e a mediocridade do dia a dia. Tanto, que uma delas opta por deixar o filho. O garoto seria menos importante que a crise pessoal? Apesar das rúpias indianas valerem muito pouco, precisam pechinchar ou, pelo menos, trabalhar. Ana (Paula Braun), Luna (Lorena Lobato) e Sofia (Nataly Cabanas) estão tão bem, tão naturais que parecem fazer parte de nossa vida, como se as conhecessemos. A Índia é diferente, os valores são outros, mas tem suas aproximações com o Brasil, na cultura e vida terceiro mundista. Aqui você não ouvirá de ninguém que Deus gosta de quem trabalha, mas ama quem dança! É preciso dançar para honrar os deuses. E nessa dança de pura alegria as três se divertem com o menino professor. Beatriz Steigner - diretora e roteirista- demonstra sua vivência do mundo indiano com o questionamente colocado à Ana, Luna e Sofia: Você pertence a quem? Você sentiu alguma vez o sentimento de pertencer a alguém ou a algo? Ou ainda, você pertence a si mesma? Você possui ligações profundas, que dêem um sentido para sua vida? O questionamento, em nossas mentes, poderá transformar-se em pensamento recorrente e muitos não terão resposta. Mas sempre poderão buscá-las. As dificuldades se alternam, uma atrás da outra. Depois de muitas aventuras, as personagens percebem que mais do que correr atrás do sonho Bollywoodiano, estão em busca do caminho e do sentido para a vida. Para os indianos - poderia ser para nós também? - em nossas vidas buscamos um caminho, mas nunca alcançaremos o fim desse caminho. Sempre ficará algo por fazer. Se existe o caminho que cada um trilha por livre escolha, também existe o destino. Na maior parte das vezes trilhamos caminhos distintos de nosso destino. O ideal seria fazer dos dois uma unidade. Fazer da estrada da vida e do destino um único caminho. Eis o desafio para Ana, Luna, Sofia e para cada um de nós. Eis uma reflexão que poderíamos enfrentar. Difícil, não é?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Santa Paciência (The Infidel )

"The Infidel", Santa Paciência - no Brasil - é uma comédia divertida e inteligente. Josh Appignanesi, o diretor, conta a história de Mahmud (Omid Djalili), um chefe de família muçulmano, que não é nenhum expert no Alcorão, mas que tem suas diferenças com seus vizinhos judeus. Mal sabe ele que é filho adotivo, e que seus pais biológicos eram judeus. Mahmud descobre sua história! Confusão e crise de identidade instalados. O pior de tudo é que precisa impressionar o futuro sogro do filho, um ativista muçulmano que quer que ele prove o quanto é um muçulmano de verdade! Appignanesi universaliza os problemas entre os personagens. As eternas diferenças entre judeus e muçulmanos. Com certeza, quem vive de fato as duas culturas ri com mais vontade do personagem e de sua ingenuidade. O filme é recomendável para todos aqueles que são tocados pela palavra adoção. Pais adotivos podem rir de si mesmos e de seus pequenos (ou grandes?) dramas. E tem mais uma piada, algo em que eu não havia pensado: Quando morre um pai adotivo sempre existe a possibilidade, para o filho adotivo, é claro, de procurar o pai de reserva - o biológico que o abandonou!- "como a um cachorro ou porque não tinha tempo para criá-lo"? como lamentava-se Mahmud. Enfim, para isso existe um exército de pais adotivos a postos tentando acertar na difícil tarefa de ser pai ou mãe adotivos. Você sabia que hoje é o Dia Nacional da Adoção e que no Brasil para cada 4500 crianças à espera de um lar existem 26.938 pais, candidatos à adoção à espera?

Des Hommes et de Dieux (De Homens e de Deuses)

"Des Hommes et des Dieux" fala de violência, morte e tempos obscuros na localidade de Tibhirine, na Argélia. Conta a história verdadeira do massacre de sete frades católicos, em 1996, instalados em um mosteiro, durante a guerra civil dos anos 90. O filme é dirigido por Xavier Beauvois. Os personagens são Christian (Lambert Wilson), Luc (Michael Lonsdale), Christophe (Olivier Rabourdin), Celéstin ( Philippe Laudenbach), Amédée ( Jacques Herlin) e Jean- Pierre ( Loic Pichon), Abdelhafid Metals (Nouredine). Ganhou o Grande Prêmio do Festival de Cannes em 2010. É imperdível! Paradoxalmente "Des Hommes et des Dieux"é filmado com doçura e muito amor. Emociona. Provoca um tipo de sentimento que faz o espectador chorar quando o filme termina e fica sabendo que a história é verdadeira. Os incautos se perguntam: Onde estava eu em minha alienação? Oito padres pertencentes à religião católica escolhem viver em uma comunidade sob constantes ameaças terroristas. Predominam as tonalidades azuladas, de fim de tarde ou amanhecer, ajustadas ao semblante calmo e doce do padre Christian, o líder. O tempo passa lentamente dentro do mosteiro. Mãos rudes plantam, colhem e limpam. O trator Ursus 2812 faz seu duro trabalho de arar a terra. O Zetor 25K era gracioso quando o Abrilino o manobrava. Meu pai ficou triste quando soube que rolou em uma encosta após ter sido devolvido. Mas esta é outra história. O diretor alterna e contrapõe cenas de religiosidade e introspecção às de violência. Do lado de fora caminhões ruidosos, estradas inseguras, pessoas mortas numa guerra sem trégua. Os sentimentos que perturbam cada um dos oito frades calam fundo no espectador. Autoridades locais ordenam que se retirem. Christian, firme e inabalável, fala para seus companheiros: "Ta vie tu est dejà donné". Não há razão para fuga. A câmera perscruta o rosto de cada um daqueles homens solitários, buscando desvelar suas dúvidas e sentimentos. Ir embora? Abandonar o mosteiro? Voltar para a França, onde vivem os familiares? Haveria algum sentido nisso? Os religiosos buscam uma razão para suas vidas, não querem transformar-se em mártires. A beleza do filme está na interpretação dos atores, revelando o medo, o pavor da morte e da violência, desde Amédée, frágil e amedrontado, até Christophe - com bolsas sob os olhos-, respiração curta, coração angustiado, batendo forte, atormentado até o momento da tomada de decisão. Esse contraponto é belíssimo. A frase de um dos cânticos diz tudo: "Deus, não me dê dor que eu não consiga suportar". Meu Deus! Isso é tudo o que mais tememos. Daí a idéia da fé - presente no filme - e que também é tão importante em nossas vidas. Quando vencem o medo, libertam-se, ao som do "Lac de Cygnes" de Tchaykovski. Podem reassumir suas vidas e fazer uma refeiçãocompartilhada e regada a um bom vinho. Em sua dor e tristeza, os padres sabem que não podem abandonar o rebanho aos lobos. E as beatas, crédulas, repetem: "Os pássaros somos nós, os galhos vocês, se forem embora não teremos onde pousar"...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Agentes do Destino

"Agentes do Destino" é dirigido por George Nolfi e se baseia em conto de Philip K. Dick. Mostra a vida do político David Norris (Matt Damon), candidato a senador nos Estados Unidos. Sua carreira política é prejudicada pela repercussão negativa de uma briga de bar. Mas David é um homem forte. Deixa claro em seu discurso que na vida não importam nossas derrotas ou tombos, mas a forma como emergimos e nos levantamos para continuar a lutar. Preste atenção à força dessa idéia. Inúmeros filmes de suspense ou ficção tratam do poder, de como este se incorpora em instituições autoritárias e totalitárias, com o objetivo de dominar e esmagar o ser humano. "Agentes do Destino" persegue o mesmo viés. David possui uma personalidade forte e instigante. Retoma sua vida política quando casualmente conhece a bailarina Elise Selles (Emily Blunt). Aliás os acasos neste filme - que trata da "anulação do acaso" são justamente os acontecimentos que mudam os destinos. A atração entre David e Elise é muito forte e não pode ser contida. O casal apaixona-se perdidamente. Embora pareça lugar comum, o diretor fala sobre a força do amor. Eis que o "terceiro olho", o olho que tudo vê se manifesta na vida de David. Como em "2001: Uma Odisséia no Espaço" - em que Hal 9000 literalmente via tudo-, "Metrópolis" ou "Minority Report", o poder invisível tenta manipular a todos. Monitorado de perto pelos homens de chapéu, David chega a pensar que as fatalidades que acontecem fazem parte de um sonho irreal. Resiste a uma força superior que não precisa tocar nem torturar para dominar. A idéia do poder, que domina sem revelar sua existência pode remeter a cada um de nós? Estaríamos em situação semelhante? O que você pensa disso? George Nolfi aposta no amor como a mais forte das forças que podem impregnar o ser humano, no amor como um elemento transformador e detonador de ações e atitudes. Reserva-nos um final surpreendente. Nossas vidas podem de fato ser modificadas pelo acaso, pela simples casualidade? Nolfi reafirma a casualidade - apesar do livre arbítrio- ela existe, sim. E tem mais, a presença de Matt Damon e Emily Blunt somente garantem um belo filme! Não perca!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Para Eder

Eder, tudo bem?
Obrigada pelo comentário. Vou comprar o livro que recomendaste, para utilizar nas aulas. Um grande abraço. Doris Maria

Água para Elefantes

"Água para Elefantes", o filme, é a história do best-seller de Sara Gruen, dirigido por Francis Lawrence. Reese Whiterspoon e Robert Pattinson fazem o par romântico. A estrutura do filme lembra "Titanic". Jacob Jakowski, o personagem principal inicia a história em flash back, lembrando sua juventude e aventuras no circo onde encontra Marlena, a grande paixão de sua vida. Os atores não arrastam milhões ao cinema, como Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. Mas são os jovens que fazem sucesso na atualidade. Ele continua belíssimo. Ao que parece entusiasma mais as mães do que as filhas. Diga-se de passagem, em "Crepúsculo", como o vampiro de olhos de ave de rapina era ainda mais sexy. Mas, em "Água para Elefantes" continua lindo. Ela Reese Whiterspoon é uma simpatia e lembra a Cris minha adorável professora de gym.

Jankowski é um estudante de veterinária que tem a vida virada do avesso com a morte do pai. Perde tudo. Sozinho, por acaso, sobe clandestinamente num vagão de circo. Para sobreviver aceita as mais rudes e difíceis tarefas no circo dos Irmãos Benzini. Sua vida passa a ter significado quando se apaixona por Marlena a mulher de August, dono do circo. Christoph Waltz, o grande ator de "Bastardos Inglórius", que conseguiu seduzir a platéia e confundir os espectadores com seu papel de sádico nazista está de volta. Desta vez impressiona menos. Acho que é como Jack Nicholson. Representa sempre o mesmo papel, como se interpretasse a si mesmo. Não é muito diferente do nazista sedutor. Apesar disso, seu personagem é assustador. August é um homem autoritário, sem moral ou ética, sem sentimento algum pelos que o rodeiam. Não hesita em jogar os trabalhadores do trem para reduzir custos. Christoph carrega na interpretação tentando ofuscar os outros atores. Agora já sabemos.

Jakowski somente ganha a confiança do temeroso August, quando consegue descobrir que a elefante era treinada e obedecia a determinados comandos, em alemão? Não faltam as cenas de violência, quando August cego de raiva bate no animal até deixá-lo quase sem vida. Jacob e Marlena precisam lutar muito para sobreviver a um destino, que tinha tudo para dar errado.

Ele precisa incutir na jovem que ela pode e deve lutar pela própria felicidade. Conformar-se com uma vidinha medíocre, jamais! O recado é para cada um de nós. Precisamos nos convencer que nunca é tarde. Sempre há tempo de lutarmos pela felicidade. Temos esse direito.

Como violência gera violência, o mal volta-se contra August, em cenas de destruição dignas dos grandes espetáculos de Hollywood. Apesar disso, "Água para Elefentes" não atrai grande público em Porto Alegre. Mesmo assim recomendo.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O homem que grita, de fato é mudo

"O Homem que Grita" é o filme africano, falado em francês, que está em seus últimos dias de apresentação em Porto Alegre, exclusivamente no Cinemark do Barra Shopping. Veja que o francês de "O Homem que Grita" é mais fácil de entender do que os textos da Aliança Francesa, em Porto. O diretor Mahamat Saleh Haroun relata a realidade do Chade, um país africano que antigamente fazia parte da África Equatorial Francesa. Como sabemos, os países africanos vivem em guerra permanente, a população passa por um tipo de sofrimento cuja dimensão não temos a menor idéia, mas que apavora, sim.



Adam o personagem central (Yossouf Djaro) impressionou o júri do Festival de Cannes e o filme conquistou o Prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. O diretor dá o seu recado ao final quando se lê o pensamento do genial poeta e dramaturgo Aimé Cesairé:"Na vida você não deve se comportar como espectador, porque a vida não é um espetáculo!"



A frase sintetiza o posicionamento equivocado do personagem perante a vida. Adam é um antigo campeão de natação, que tem seu lugar no mundo africano, como cuidador de uma piscina em um hotel frequentado por brancos. Em sua vida ele pouco participou, comportou-se como um espectador destrutivo. A situação de alienação do personagem é percebida quando verificamos que tudo o que ele deseja é reproduzir diariamente a representação do homem colonizado, negro, que ambiciona aproximar-se ou assemelhar-se ao colonizador. Adam, o homem negro permanece dominado pelo homem branco. Adam como espectador da vida, descansa na piscina do homem branco desejando ser como este. A situação de alienação do personagem tem afinidades com a análise de Franz Fanon sobre o colonizado, quando ele estuda a problemática de alienação deste, no que se refere à questão racial em Peau Noires Masques Blanches.



O personagem Adam torna-se patético ao competir com o próprio filho. Quando retira do próprio filho qualquer possibilidade de crescimento e involuntariamente condena-o à morte.



Quando Abdel (Diouc Koma) assume o cargo do pai, na piscina do hotel, Adam é obrigado a servir como porteiro. Não suporta a situação e entrega o próprio filho ao exército. O Chade vive em uma luta contínua entre governo e rebeldes. A dor que tortura o personagem durante o filme e que o torna mudo, não é apenas a dor devido à situação de guerra. Mas a suprema infelicidade que toma conta de um pai judas, que trai o próprio filho, sufoca o grito de dor da nora, Djeneba (Djénéba Koné), de quem também deseja se apoderar. O pai não aceita as conquistas do filho. Em sua autoridade, destrói o outro e a si mesmo.



Os equívocos somam-se e se agrandam. O personagem Adam nunca poderá reparar seus erros, em meio a um país que desmorona diante de uma guerra sem fim. Onde todos foge sem saber para onde. Onde nem o próprio filho se pode enterrar. Onde a paz Adam não encontrará nunca.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Rio

"Rio", o filme, não cabe dentro de um texto. "Rio" é cor, movimento, ação, música, samba, amor e carioquice. Além de ser uma história belíssima e colorida, acima de tudo, trata do amor. Primeiro, do amor de Linda (Leslie Mann) por seu bicho de estimação. Segundo do amor entre Linda e Jade. O diretor Carlos Saldanha -um dos criadores de "A Era do Gelo" - conhece muito bem os temas que mobilizam adultos e crianças. Como pai de Manuel, Julia, Sophia e Rafael conhece os assuntos "crica", que tratam de crianças e cachorros, e que nos emocionam tanto!

"Rio" inicia com o despertar de aves coloridas, que dançam e celebram a vida na floresta da cidade maravilhosa. Mas o mal espreita. "Rio" não esquece o grande drama do Brasil, que precisa despertar do berço esplêndido para salvar suas florestas, seus bichos e suas crianças. Carlos Saldanha não esquece a face escura do Rio, que esmaga sua natureza com o crime do tráfico de animais silvestres. Se Linda tem o seu Blu - que sequer aprendeu a voar- é graças a essas ações criminosas. Consciência à parte entramos no mundo maravilhoso da fantasia, que extasia qualquer um. Você consegue imaginar o que Walt Disney sentiria?

Blu é uma arara em vias de extinção. Seria o último da espécie, quando um veterinário aventureiro descobre que existe uma ararinha azul, Jewel, no Rio de Janeiro, e que portanto ele e Linda podem salvar a espécie. Embora o veterinário deseje o mesmo, salvar a espécie humana, com Linda, de quem se enamora!

O desenho, a criação, o movimento, a expressão dos bichos não é possível descrever. É preciso ver o azul forte que cobre as penas de Blu e suas inúmeras tentivas de aprender a voar. Carlos Saldanha como um verdadeiro carioca que se orgulha de sua cidade natal mostra Blu voando de asa delta, sobre a paisagem do Pão de Açúcar e do Cristo, de Paul Landowski. Vejam só, foi preciso a contribuição de um escultor francês para enriquecer ainda mais uma paisagem por si só maravilhosa. Quando vi o Rio de Janeiro pela primeira vez pensei, Deus estava de bem mesmo com este lugar!

Após chegarem ao Rio, Blu e Jade são sequestrados por um bando. O traficante - muito bem caracterizado: magro, feio e com um cavanhaque desenhado - é auxiliado por dois patetas cujo maior sonho é desfilar em uma escola de samba! Mas o criminoso mór é uma cacatua velha e enrrugada, que arrepia com suas garras ponteagudas e obedece cegamente às ordens do mandante. Imagine todas estas aventuras com muitas aves ajudando Blu e Jewel, que por ironia do destino ficam amarrados por uma corrente e espetados pelo Cupido!


Vozes famosas fazem as falas dos bichos. Blu tem a voz de Jesse Eisenberg, a mais fácil de reconhecer. Jade possui a voz delicada de Anne Hathaway. O Tucano Rafael, meio espanhol tem a voz de George Lopez. Mas o personagem adorável é o buldogue Luiz, um cachorrão muito parecido com a Angel, a buldogue de minha filha Lucia. Possui os dentes inferiores proeminentes e cruzados, tentando segurar uma baba que teima em cair em câmera lenta, numa queda live, vagarosa e ininterrupta. Para mim, a sequência com Luiz é um dos pontos altos do filme. A minha vizinha da vilinha onde morei em São Paulo dizia que todo Luiz é um cara terrível, que os Luizes são danados. Bem, o Luiz do filme não foge à regra. Você precisa ver!


Finalmente um pequeno problema não consegui identificar a voz de Rodrigo Santoro. Li que ele faz Tulio. Mas um personagem tão pequeno? Será? Não lembro. Preciso rever. Desta vez será em 3 D é claro!