domingo, 28 de dezembro de 2014

Familia Belier


Em 2013, Louane Emera foi a revelação do programa La plus belle voix, em Paris. Aconselhado pelos amigos  Éric Lartigau  assiste ao programa e convida a jovem a interpretar Paula em seu novo filme A Família Bélier.
A história é emocionante, os atores foram cuidadosamente escolhidos e têm tudo a ver com os personagens que interpretam. Louane é cantora, nunca tinha pensado em fazer cinema. Luca Gelberg, o irmão, é surdo na vida real. Karin Viard e François Damiens  fazem os pais. Karin, François e Louane aprenderam a linguagem dos sinais após meses de dedicação e estudo.
As filmagens aconteceram em Domfront, em l'Orne, um lugar paradisíaco. Moravam em uma casa enorme, com portas vermelhas, construída em alvenaria de pedra. Tudo passava muito longe do "menos é mais" de Mies Van Der Rohe, interior  colorido, muitos objetos de decoração, cadeiras azul "calipso" e muita comida na mesa. Um exagero para quatro pessoas! A família cria gado holandês e produz queijo. Éric mostra uma visão doce, romântica e bucólica do interior da França.
Mesmo sem experiência como atriz, Louane emociona como a filha que precisa decidir entre partir em busca de seus sonhos ou permanecer ajudando a família.
O diretor evidencia as relações familiares e as dificuldades dos surdos para enfrentar as exigências do dia a dia. Uma das coisas mais sensatas do filme é a fala da amiga de Paula, quando  afirma que a surdez  não deve ser encarada como uma  deficiência ("un handicapé"), mas como uma condição. Concordo, sempre achei que as palavras deficiente ou "handicapé" partem do preconceito. Muita gente  tentou inutilmente convencer-me do contrário. Como se eu não tivesse razão!
Assim, tratando de tema tão delicado Lartigau emociona, e muito. Enfim família é das coisas mais importantes da vida. Éric mostra o sofrimento dos pais quando percebem que seus filhos cresceram, que não tem jeito não, que aquelas fotos do bebê nas paredes da sala são de um tempo passado. É preciso acordar para o presente e para o futuro.
Para um pai e uma mãe, superar esses momentos de nostalgia é muito difícil. Mais ainda se sempre tiveram a ajuda da filha para comunicar-se com o mundo. Enfim, com certeza aqueles dois tinham esquecido como era viver antes de Paula ter nascido.
E certamente é a primeira vez que um diretor mostra para o espectador o que é "ser surdo". Na cena em que Paula canta no concurso em Paris, de repente faz-se o silêncio! Como os pais, nós espectadores não ouvimos nada, nos tornamos surdos, nos emocionamos e choramos como qualquer pai faria. O envolvimento da cena é um dos moments mais belos do cinema. Não perca! Chore junto, por você ou por seus filhos!



Emocionante é pouco para descrever esta história de uma família de quatro pessoas, sendo pai, mãe e irmão surdos. Paula, a única filha é a única também que não é surda,  transforma-se em  interlocutora e apoio os três.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Êxodo: Deuses e Reis



O filme bíblico evoca as super-produções de Cecil B. DeMille, na Hollywood, dos anos 50, como os "10 Mandamentos". Óbvio essas lembranças são privilégio de quem está acima dos sessenta e assistiu ao filme! Charlton Heston era bem mais dramático e bíblico do que Christian Bale, embora eu prefira o segundo. Todas as super produções passavam no Cine Teatro Glória, em Dom Pedrito, filas enormes se formavam na calçada. No mundo do cinema do século XXI, Êxodo é o equivalente. A comparação chega a ser impiedosa, se pensarmos na evolução tecnológica do século XXI. 
Adorei, mesmo porque não sou especialista em assuntos bíblicos. Se Charlton Heston exagerava no "overacting", Christian Bale parece mais humant, vai ficando fraquinho no final. Gostei também da forma como Ridley Scott desenvolve o tema. Ninguém precisa possuir determinada crença para gostar do filme. E o espectador começa a ficar feliz quando reconhece John Turturro como o faraó Seti. A maquiagem é muito perfeita, ele ficou parecido com Sesóstris III (1862 a.C.-1844 a.C.) , o faraó que construiu muitas fortalezas no Egito. 
Você pode até não concordar, a melhor parte do filme é quando as fofocas, sobre a verdadeira identidade de Moisés, chegam aos ouvidos de Ramsés I, o irmão, que sempre sentiu-se mal amado. O faraó pai não esconde sua preferência por Moisés. A família real, mãe e irmã são questionadas, Bithiah, a irmã do faraó emociona. Não é para menos - ela recolhe o menino das águas e o cria como filho - e  é interpretada por   Hiam Abbass, a melhor atriz da atualidade. Você lembra de Lemon Tree, O Visitante ou a Noiva Síria? 
Em sequência, assistindo ao sofrimento de seu povo, Moisés, muito lentamente toma a decisão de rebelar-se. Não sem antes ter inúmeras revelações do Senhor, que aparece sob a forma de um menino de 11 anos. Acho que esta foi a parte que muita gente não gostou, o menino discute com o profeta e teima em aplicar um tipo de castigo, tão cruel, que este não pactua. Em uma única noite, morrem todos os primogênitos não hebreus, inclusive o filho do faraó. Aliás a única coisa que tocava os sentimentos de Ramsés. Toda vez dizia para o filho que ele dormia como um anjo - dormir como um anjo é uma expressão que eu adoro! - porque era muito amado! 
E Ridley Scott não esquece das pragas do Egito, começa com as rãs, sangue, moscas, peste sobre o rebanho, tumores nos homens e animais, e finalmente fogo e gelo. Aliás esta foi a  parte da história bíblica que me pareceu atual. Diariamente assistimos na TV a desastres semelhantes, como se a versão bíblica fosse uma espécie de alegoria do desrespeito dos homens em relação à natureza. Quem sabe, aconteceu no Egito, na civilização maia e nos dias de hoje? Aquela água toda destruindo as cidades egípicias não lembra o tsunami que matou 220.000 pessoas no Oceano Índico e que completou dez anos neste último Natal?
E o momento dramático  que rivaliza com a encenação da família  é a separação das águas do Rio Vermelho. Se em Cecil B. DeMille esta era a cena memorável, acredite nas razões pelas quais é tão bom estar vivo e poder assistir às maravilhas das novas tecnologias no cinema! Assista a Êxodo e entenda porque o mar é tão assustador e misterioso, e que por isso mesmo prefiro contemplá-lo e não entrar nele jamais!