domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Vencedor (The Fighter)

"O Vencedor" é um dos filmes candidatos ao Oscar em 28 de fevereiro. O diretor David O. Russell conta a história de dois irmãos, Dicky Eklund e Micky Ward. Irmãos muito próximos, mas que possuem diferenças enormes. Mark Wahlberg é Micky, Christian Bale é Dicky. Mais que uma história de boxe é uma crônica da família moderna americana. A mãe Alice (Melissa Leo) e Dicky (Christian Bale), o meio-irmão dominam Micky, um lutador jovem, que vem de uma série de derrotas e precisa de uma luta para vencer. Unidos, mãe e irmão não têm pruridos de o entregarem aos leões, quando acertam uma nova luta, em que o adversário é substituído por um peso pesado, mais forte que ele. Sem nada encaminhado na vida, sem nenhuma certeza, Micky ainda é massacrado pelo adversário.
Pergunto-me se o fato de Micky servir de "trampolin" para outros lutadores brilharem nos ringues estaria se repetindo na vida real? Afinal, o candidato ao Oscar de ator coadjuvante é Christian Bale e não Mark Wahlberg . É visível que David O. Russell dá mais espaço para Christian do que para Wahlberg até a metade do filme. Afinal a questão que se coloca: quem é mesmo o ator coadjuvante? Por que tanta oportunidade para o estrelismo de Christian Bale?
A criação do personagem também é quase uma caricatura. Dicky é magro, magro, com péssimos dentes, aliás faltam alguns maxilares. O ex-lutador é viciado em crack, vive rodeado dos piores elementos e está enredado com a polícia. Não foi possível notar a fala tatibitate de Christian Bale, que se superou como o viciado que deseja dominar o irmão. Mas que fundamentalmente não se importa com ninguém, a não ser seu vício destruidor.
Micky é agenciado pela mãe e pelo irmão. Em sua insegurança, precisa de Dicky, sem o qual não consegue treinar. Encontra uma namorada, Charlene Fleming -interpretada por Amy Adams - que o faz conscientizar-se de sua situação de desvalia perante a família e o resto da cidade. Para conseguir ser um "vencedor" é preciso mudar tudo.
A luta do personagem - parece que também é a do próprio Mark Wahlberg- é a busca da superação da própria insegurança e da libertação dos laços familiares castradores. Todos os olhares da família estão grudados em Micky. O bando das sete irmãs, verdadeiras bruxas loiras o persegue e à sua namorada. Em momento crítico parece que Charlene vai apanhar das tresloucadas.
Finalmente vence a persistência e a teimosia. A família de Micky é representativa da família da atualidade. A mãe é casada pela segunda vez. O pai não é o verdadeiro pai de todos os filhos. Casualmente é o que dá mais apoio à Micky. Os pais são desconectados e não podem servir de exemplo. As irmãs não ficam atrás, são mais loucas ainda. O irmão Dicky, muito menos seria o bom exemplo. Paradoxalmente, Micky faz a sua opção. Quer todos por perto, a mãe, o irmão e o amigo treinador. Dicky vence a vaidade e procura Charlene para um acordo: todos unidos em prol de Micky. Se a história passa pelo desencanto pela família, onde a mãe ainda prefere um dos filhos, no final a sua força está na união como grupo, que apóia "O lutador" .
Micky é sim exemplo de superação quando afirma: "Nunca se sabe o que pode acontecer. Não se pode desistir nunca! Quanto a isso estou plenamente de acordo. Além do que gosto muito de Mark Wahlber e de Melissa Leo também. Ela está ótima como a mãe cafona, de cabelos loiros, duros e muito mal vestida!
Um recado para os espectadores que não gostam da violência do boxe. "O Vencedor" é menos violento que "Cisne Negro" que trata da delicadez do balé...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Biutiful

"Biutiful" é a forma como os espanhóis pronunciam a palavra "bonito" em inglês, falada nos poucos momentos de doce convívio entre o pai (Javier Bardem) e seus filhos, no filme de mesmo nome, de Alejandro González Iñárritu. Javier Bardem, mais uma vez, está em papel desafiador. Ele deve gostar desses personagens homem-limite. Que eu lembre, o primeiro foi em "Mar Adentro". Representava um paraplégico que insistia pelo direito à eutanásia. Nesse filme, pareceu-me que a vida do doente não era tão ruim para ele desejar tanto a morte...

Depois Bardem transformou-se naquela criatura caricata dos irmãos Cohen, "Onde os Fracos Não Tem vez". Não gostei do filme, achei um exagero a matança gratuita e sem motivos. A caracterização do personagem pareceu-me "over", mancando, com um cabelo pagem, cobrindo o rosto e arma na mão com silenciador? Um psicopata no mínimo ridículo. A caracterização do personagem em "Biutiful" não é muito diferente. Notaram a postura de homem vencido? Qualquer psicólogo, ou psiquiatra desvendaria o personagem na hora. Ombros caídos, ao caminhar quase não dobra os joelhos e não levanta os pés, que permanecem colados ao solo. Os sapatos são tão retos que grudam o pobre homem no chão. Barba por fazer, pele brilhante e suada, sempre com a mesma jaqueta Adidas -notaram que todo mundo usa Adidas? No Brasil, traficantes, criminosos e o restante da população são clientes fiéis Adidas -, calças jeans, cabelo comprido e imundo, alguns fios brancos indicam que deve ter mais de quarenta anos. Em todo o caso é muito jovem para estar morrendo de câncer na próstata. Enfim... Cansativo não é?

Alexandro Inárritu parece ser adepto do ditado "desgraça pouca é bobagem!", veja-se seus filmes anteriores "21 gramas" e "Babel ". Bardem é o personagem trágico, homem vencido por antecipação. Não consegue ou não quer viver e trabalhar com dignidade. Vive no baixo mundo de Barcelona, na contravenção, agenciando trabalho indigno para grupos de chineses imigrantes, que não possuem documentação oficial.

Aceita - ninguém entende o porquê - a ex-mulher de volta, que o trai com o próprio irmão (dele). A ex, Marambra (Maricel Álvarez), é o tipo de mulher que justifica sua conduta irresponsável e malévola, com a justificativa de bipolaridade. Abandona os filhos e diz abertamente a Uxbal que precisa do prazer e das aventuras de prostituta. A negatividade da personagem faz qualquer um perder a paciência.

Assim como "Babel" mostrava a via crucis de Susan (Cate Blanchett) e "21 gramas" a de Paul (Sean Penn), "Biutiful" relata minuciosamente a decadência e o sofrimento de Uxbal. Alguns momentos, ou melhor muitos momentos são tão dolorosos que parece que o tempo pára. Como em algumas sinaleiras (semáforos para os paulistas) quando tenho a impressão que estou ali parada há meses.

E Uxbal nunca se importou em ir ao médico. Não sabia que para fazer exame de sangue é preciso estar em jejum? Se queria tanto cuidar dos filhos, únicas jóias em sua vida, no mínimo deveria cuidar da própria saúde, para evitar tanta dor e sofrimento. Assim, precisa preparar-se para a morte, sua amiga vidente o avisa sem rodeios. Nada parece fazer sentido. As atitudes impensadas, os erros e equívocos acumulam-se. Uxbal indiretamente contribui para morte dos imigrantes. Tudo dá em nada, sofrimento? arrependimento? ação policial ? Inárritu insiste no acaso, em acontecimentos trágicos, que acontecem como que por ordem do destino, pelo simples acaso ou, na desgraça como decorrência de uma ação impensada, equivocada, mas não intencional. Uxbal é vítima de si mesmo e do destino. E são esses acontecimentos desastrosos e anárquicos que exasperam o espectador.

Se existe uma única luz na vida do personagem são os filhos. As únicas vítimas são as crianças e continuariam a viver sem ele, apesar de tudo. Como afirma a vidente, a vida se encarregaria deles.

Vá ao cinema e prepare-se, para o lúgubre, para o sem esperança e para a escuridão. Justamente por isso, o filme possui cores escuras e carregadas, num contraste muito forte de luz e sombra.