domingo, 30 de dezembro de 2012

As aventuras de PI

Ang Lee fala de si mesmo e daquilo em que acredita ao criar o personagem PI. As aventuras de PI conta a saga do menino que sobrevive no mar em companhia de um tigre de Bengala, por mais de duzentos dias. O diretor faz uma reflexão sobre questões existenciais, de fé e humanidade. Fala também de como nossas vidas se transformam, como qualquer um de nós pode ser capaz de se reerguer nas piores e mais difíceis situações. Através do menino PI, fala de si mesmo e de você. PI mostra sua religiosodade desde pequeno. Mãe e pai o advertem dizendo que não é possível acreditar em três deuses ao mesmo tempo.

As aventuras de PI é própria relação do menino com Deus, com a vida e com os animais. Ele acredita mais na companhia dos animais do que dos seres humanos. Explica que a origem de seu nome, a décima sexta letra do alfabeto grego, não se refere ao número 3,1416, mas ao nome de uma piscina localizada em Paris, onde seu tio Mamadi nadava. Era a mais límpida piscina do mundo e chamava-se Piscine Monitor Patel, daí o nome PI. Embora o menino conseguisse preencher muitos quadros negros com os números de PI, colegas e professores o chamavam de Pipi.
O filme fala de Karma e destino, da energia transcendente, invisível e imensurável que deriva das ações dos seres humanos. Nas aventuras de PI, os caminhos do Karma são os caminhos de Deus. Em sua vida, tudo é mediado pela relação com Deus. Os efeitos do Karma são vistos como experiências mutantes no passado, no presente e futuro. Cada um pode escolher entre fazer o bem ou o mal, mas deve arcar com as consequências. Entre tantas opções religiosas PI opta por ser hindu católico. Relata como conheceu a Deus nas montanhas, quando fez uma aposta com o colega e bebeu água benta na igreja. Descobre o amor e a fé em Deus através de seu filho Jesus. Leva uma vida calma e feliz, quando conhece Anadi, a jovem que conquista seu coração.
Até que o destino o leva ao mar em companhia da família e dos animais do circo. A grande tempestade arrasa com tudo e PI se vê em alto mar, dentro de um bote, com uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de Bengala. PI conhecerá a força de sua fé quando precisar testá-la. Assim, se prepara para enfrentar o desconhecido. Descobre que não é tão forte para enfrentar Richard Parker, o tigre, mas que sua astúcia e fé poderão salvá-lo.

Impotente, vê a hiena matar a zebra e o orangotango. Descobre a força de Richard Parker, quando este de um salto acaba com a hiena em segundos. Descobre também que precisa alimentar o tigre para os dois sobreviverem.
 
Assim em completa solidão vemos cenas belíssimas, de PI e seu companheiro no mar. E como PI encontra-se frente a Deus, como conversa com ele. Quando não tem mais como lutar contra a natureza, se entrega a Deus, sabendo que não poderia estar em melhores mãos. A simplicidade da relação emociona, nada é muito complicado. Quando a tempestade insiste em destruí-lo, reza: "Deus, me entrego a você , sou o seu canal, o que vier depois eu quero saber, me mostre". E o menino fala alto quando está sozinho, acima de tudo sabe que não pode perder a esperança!

Descobre que o olhar do tigre não é apenas o reflexo do próprio olhar. Para ele Richard Parker tem alma. O tigre cai no mar e se apóia no barco. Seu olhar para PI é um verdadeiro pedido de socorro. Como alguém se atreve a dizer que no olhar do tigre vemos o apenas o nosso próprio reflexo?

Em desespero dá violentas marteladas no peixe que deve ser a próxima refeição de Richard Parker. O olhar do peixe o traz de volta à razão, chora e agradece a Deus por ter vindo sob a forma de um peixe para salvá-los. Enfim, a fome pode mudar tudo o que você sabe sobre você mesmo, não é verdade? E se fazemos pouco caso de questões tão importantes , não devemos esquecer que nesta questão nunca fomos testados. Você consegue perceber a beleza que Ang Lee deseja compartilhar conosco?

Se Richard Parker não pode ser domado, com a vontade de Deus pode ser treinado e os dois se testam, dividindo o espaço exíguo no barco. PI também descobre que Richard Parker salva sua vida. Atender às necessidades dele lhe dá um propósito na vida. E você descobriu seu propósito na vida?

Finalmente o barco bate nas areias da praia da salvação. Richard Parker desce, caminha em direção à floresta e desaparece. Sem sequer voltar a cabeça para trás, sem olhar para PI, como numa despedida. Richard Parker o abandona sem a menor sem cerimônia! E PI deixa para trás a infância e a adolescência, amadurece.

Você lembra, se de fato se despediu de seu pai quando o viu pela última vez? ou se despediu-se de seu bicho predileto? Claro, como aconteceu com Richard Parker e PI, não era possível uma despedida...
 

 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Hobbit: uma jornada inesperada

Hobbit: uma jornada inesperada,  por enquanto é o melhor da série de Peter Jackson. John Ronald Reuel Tolkien, tornou-se famoso com suas histórias Hobbit, O Senhor dos Anéis e Smilgram. Ele cria a idéia de um Mundo Secundário, onde Arda é a Terra povoada de magia e seres fantásticos como os Valar,  Maiar, os hobbitt, elfos, anões, ocs e trolls. Hobitt se passa na Terceira Era, 2463 quando o reino dos anões - a Montanha Solitária - é destruído pelo dragão Smaug. Bilbo Bolseiro (Martin Freeman), o hobitt vive em uma casa subterrânea, uma espécie de tubo com uma decoração rústica e ambiente cheirando a lar doce lar. Liderado pelo Mago Gandalf (Ian McKellen), Hobbit é convidado a reunir-se a um  grupo de treze anões, apesar dos protestos destes, que não acreditam em sua capacidade. Bilbo, o Bolseiro tem papel importante na luta dos anões para recuperar o Reino de Erebor.
Liderados por Thorin Escudo - de - Carvalho (Richard Armitage), os anões precisam vencer os obstáculos interpostos pelos inimigos Trolls e Ocs. É uma eterna luta do bem contra o mal, onde os heróis precisam sofrer muito antes de atingir seus objetivos. Como Ulisses antes de voltar para casa. Precisam descobrir a saída dos túneis para encontrar a salvação.
Hobbit encontra-se com um anão, Gollum, interpretado por Andy Serkis, o ator que especializou-se em interpretar personagens de computação gráfica, onde seu corpo serve de molde para a criação digital. Andy Serkis era o King Kong, o César de Planeta dos Macacaos e agora o Sméagol, ou Gollum. Em priscas eras, Sméagol matou seu primo Déagol para apoderar-se do Um Anel, pertencente ao Senhor das Trevas Sauron. Dominado pelo mal, Sméagol passou a fazer um som horroroso na garganta. Ganhou o apelido de Gollum e seu corpo sofreu profundas modificações. Ficou magro e disforme. Os olhos se dilataram, viraram duas enormes pedras azuis, o cabelo caiu e a boca virou um horror de  dentes sujos e caquitos em ponta.
O encontro entre Gollum e Hobbit é uma das melhores partes do filme. Por obra do destino o Um Anel de ouro, mágico e poderoso encaixa no dedo de Hobbit. Gollum, morto de fome de gente, quer comer a macia e gostosa carne de Hobbit. Para vencê-lo o homenzinho lhe propõe, decifrar charadas. Gollum não consegue vencer o jogo e Hobbit torna-se invisível por mérito do Um Anel maravilhoso.  Assim em 2941 Hobbit rouba o Um Anel que tem vontade própria.
Gandalf aconselha e oferece a Hobbit a espada prodigiosa, que fica azul quando o perigo se aproxima. O pequeno segue à risca o conselho do Mago: a coragem não está em saber quando tirar uma vida, mas em saber quando poupá-la! E Hobbit poupa a vida de Gollum quando foge da caverna.
Finalmente o clímax ocorre durante na batalha final, em cenas tão perfeitas que a gente pensa. É isso, Deus, cinema é esta sequência magistral de Peter Jackson. O diretor cria um herói anão, mais  alto que um verdadeiro anão. Talvez a razão seja porque ele é o herói?! Como se anões, ou heróis, com  corpos e caras de anões não pudessem ser belos e heróis!? É isso! a estética grega ainda domina sobre o mundo. Com uma vasta cabeleira negra e um mantô escuro,  Thorin - lindo de morrer - luta contra o monstro de quem tinha cortado a mão. Mas, perde a batalha. Vencido, parece morto, quando aves gigantescas entram na luta  para vencer. Arrancam Thorin das garras do inimigo, como o fazem contra suas presas  na hora da rapina. Desta vez a rapina é a forma de proteção. As patas gigantescas seguram o pequeno Thorin, como um bebê que deve ser protegido. Tudo está conectado e tem parte com a magia de Gandolf que conta com a proteção da única mulher do filme, Galadriel, a belíssima Cate Blanchett . Visão do paraíso, ela é como uma efígie com vestes azuladas e transparentes, que se movimentam como num desenho de Klimt, mas de um Klimt leve e esvoaçante que nunca existiu .  Não perca, as sequências de luta são perfeitas. Aliás tudo é beleza no filme de Peter Jackson, que nesse aspecto supera o Avatar de James Cameron.

 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Entre o Amor e a Paixão

Como quer o título, o filme de Sarah Polley fala de amor e paixão.Diz ainda mais dos problemas psicológicos dos personagens. Tudo muito escondido e camuflado, sob o manto do belo. Tudo é muito bonito. A atriz Michele Williams, a ex de Heath Ledger é uma garota linda, magra, loira, parece uma visão de sonho, com roupas despojadas de menina moça. Vive com o marido, mas sente atração pelo vizinho.
O décor é perfeito: objetos de decoração na casa do jovem casal criam a ilusão do lar perfeito, do sonho de felicidade. A louça vermelha e verde, os quadros nas paredes, tudo é meticulosamente pensado. O sol bate nas madeixas louras de Michele, que abre um sorriso lindo.
Mas algo se esconde por baixo da perfeição.  Margo ( Michele Williams) tem medo de conexões aéreas. Sente-se insegura quando está entre um e outro (avião). No caso, o problema se repete na vida real. Ela também vive entre  um amor e uma paixão.
O marido Lou (Seth Rogen) é a única criatura por onde a beleza passou correndo. É chef de cozinha, um chato, especialista em cozinhar frangos, que se esquiva dos carinhos da mulher.  Como pode?
O candidato a amante é lindo, gostoso, tentador. Quando finalmente consegue ocupar todo o espaço no coração de Margo, a situação volta ao ponto zero.
A lacuna que existia na vida de Margo se abre como uma chaga, aumenta, toma conta de tudo. Ninguém sabe, ninguém explica as razões dos sentimentos de Michele. Depressão? Lacuna? Vazio existencial? Você sabe o que é isso?   
 

Na Terra de Sangue e Mel

Angelina Jolie, a bela, faz um filme sobre o tema mais doloroso da face da terra. Sobre o tema mais difícil de entender - pelo menos para nós, brasileiros- a "Guerra da Bósnia", um país onde as diversas etnias têm problemas seculares e irreconciliáveis entre sérvios cristãos ortodoxos, croatas católicos e bósnios muçulmanos.
Em sua vertente de defensora das causas humanitárias, Angelina faz uma veemente denúncia dos abusos e crimes contra a humanidade que aconteceramn na antiga Iugoslávia, entre 1992-1995. Desde a Segunda Guerra Mundial nada de tão violento e criminoso tinha acontecido. Os militares sérvios dominam pela força, adotam métodos de extermínio e limpeza étnica semelhantes aos do nazismo.
Em Na Terra de Sangue e Mel assistimos à cenas repulsivas e de extrema covardia. Os créditos mostram a extrema violência contra as mulheres, duas em cada dez mulheres foram violentadas. Os números oficiais confirmam entre 20.000 e 44.000 mulheres que foram sistematicamente violentadas pelas forças sérvias.
A população fica à mercê da barbárie. Bombardeios e execuções destróem praticamente tudo. A Bósnia é um país devastado, onde não seria difícil contar os poucos que sobraram.
O foco está em dois personagens que tinham uma relação amorosa antes da guerra. E o que poderia ter sido amor se corporifica em conflito entre homem e mulher, em  relação doentia entre vítima e torturador. Psicólogos explicam a relação de dependência abjeta que existe entre  a vítima e seu algoz. Danijel (Guran Kostic) o militar sérvio,  tem a ambiguidade característica de filho dominado pelo pai, ditador-totalitário.
Na Lista de Schindler sentimos a ambiguidade do nazista, que empregava mão-de-obra judaica em benefício próprio. Mesmo assim, ele construiu sua lista e salvou muitas vidas. Danijel,  ao contrário, viveu atraído por Ajla (Zana Marjanovich), mas foi incapaz de amá-la, dominado pelo preconceito contra os muçulmanos.
Ajla também é ambígua. Se lutou em prol de suas crenças e de seu povo, isso a diretora deixa para o espectador concluir.
Sentia atração é ódio por Danijel, infiltrou-se para fazer o papel de espiã, e o fez? Quando foi abandonada pelo amante no museu em ruínas, caminhando de salto alto, com um mantô azul, delicada e feminina, teria avisado seus companheiros?
Danijel é o covarde, o filho fraco. Apanha do pai como um menino levado, mas não tem coragem de enfrentá-lo. Mesmo sabendo que foi ele quem ordenou o estrupro de sua vítima por um soldado raso. Humilhado e desesperado Danijel reage. Emprega o método de execução nazista, que conhecemos do cinema. Um tiro rápido na cabeça da vítima , que não percebe a própria morte. Forte com os fracos, perde a voz diante do pai dominador. Que nojo!
A dúvida permane Ajla lutou por seus princípios ou entregou-se à dolorosa dependência na relação com seu dominador- amante-torturador?
É preciso conhecer a Guerra da Bósnia para saber onde está o inferno. Imagine , Angelina Jolie disse que algumas cenas foram cortadas simplesmente porque não suportaríamos.
 
 
 
     

domingo, 16 de dezembro de 2012

Infância Clandestina



O relato de Benjamin Ávila possui muito de autobiográfico. O próprio diretor pode ser o menino Juán (Teo Gutérrez) que teve uma infância clandestina e cancelada. Desde os 13 anos, desejava ser diretor de cinema. Benjamin mostra o horror da vida na Argentina entre 1976-1983.
 
Trinta e seis anos depois, a história emociona. Nós brasileiros estaríamos distantes de tanta dor? Não, aqui o sofrimento e o cancelamento de muitas vidas e infâncias também existiu. Os jovens dos anos 70, hoje estão com mais de sessenta anos. Ao participarem das lembranças de Benjamin, podem refletir e pensar que as vidas de cada um de nós também foram roubadas durante a ditadura militar no Brasil.
 
Benjamin conta que muitas cenas são lembranças verdadeiras, outras ficção imitando uma realidade assustadora. Lembra a última vez que viu a mãe, quando ela foi visitar uma amiga e nunca mais voltou. A história do massacre, desrespeito a qualquer tipo de direitos humanos sangra em violenta exposição. Os pais, Daniel (César Troncoso) e Charo (Natália Oreiro), exilados políticos, optam por voltar à Argentina de forma clandestina. Nomes e vida falsa, lutam com o grupo de guerrilheiros montoneros. Benjamín fala que seu pai e o tio Beto ( Ernesto Alterio) não lutavam para sacrificar a própria vida em nome de um sonho, mas  sim por uma nova vida.
 
Assim Júan se transforma em Ernesto, em homenagem ao Che. O ator tem 12 anos. Juán teria a mesma idade quando passou a viver na clandestinidade atendendo pelo nome de Ernesto, o menino que veio de Córdoba. Na família de Ernesto,  mãe e  pai estão seguros de estarem fazendo a coisa certa. A avó não compartilha dos mesmos sentimentos, por isso são duras as palavras e farpas entre mãe e filha. Trinta e seis anos depois a avó teria um pouquinho de razão?
 
O Ernesto adolescente consegue ter uma vida normal, na escola, por alguns momentos apenas. Pelo menos ele gostaria de ser um menino normal, que pudesse estudar, brincar e namorar, difícil para um adolescente entender e compreender. Tanto mãe como pai, para suportar a situação são duros, persistentes e focados nos objetivos. Cego de dor e sofrimento o adolescente critica ambos. A relação com o tio é doce como o "dulce de chocolate com mani", que ele vende. Beto ensina ao pequeno Ernesto  alguns truques de bem viver, aprender a namorar, e de como aproximar-se de Maria, a menina dos sonhos de Ernesto. O tio em verdadeira preleção afirma que a vida e o sexo devem ser saboreados como o  "dulce de chocolate com mani". Você coloca um pedaço do chocolate na boca, deixa derreter, sente gosto e sabor em verdadeiro  prazer. É preciso aprender a degustar a vida e o sexo. Saborear, ensina o Tio.  Ernesto nunca esqueceu as lições. Beto, o mais sonhador e intempestivo,  contraditoriamente não hesita um segundo em acabar com a própria vida ao ser descoberto. 
 
Se o Ernesto dos doze anos queria libertade para viver seu amor com Maria,  não aceitava as limitações de vida que seus pais lhe impunham, ao realizar "Infância Clandestina"- acredito- ele encontra a paz e se reconcilia com a mãe. É como se o diretor, ao realizar o filme se libertasse do sofrimento, da dor e do medo. É como se a mãe, em sonho viesse  abraçá-lo e apertá-lo entre os braços. Benjamin Ávila está livre da dor e do ressentimento. Nos créditos dedica o filme à memória da mãe. 




Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/benjamin-avila-conta-como-sua-familia-inspirou-filme-infancia-clandestina-6942429#ixzz2EmFjt3Jk
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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Argo

Ben Affleck dirige e atua neste filme de americanos para americanos. O fato é verdadeiro e conta o episódio de resgate de seis diplomatas durante uma das tantas crises no Irã. Desta vez foi em 1979, após a queda do Xá Reza Pahlavi. É mais uma das tantas histórias da CIA. Ben Affleck dá credibilidade ao filme e recria o personagem de Tony Mendez, o agente da CIA, com perfeição. O melhor do visual do ator fica por conta do blazer de lã e do corte de cabelo, muito dos anos 70.
Mais de 58 americanos tornam-se reféns dos iraquianos, mas seis diplomatas conseguem refugiar-se na casa do Embaixador do Canadá, durante a crise. Mendez com a ajuda de John Chambers  (John Goodman) e do produtor cinematográfico Lester Siegel  (Alan Arkin) cria a farsa de "Argo", o filme de ficção científica. Se a história é verdadeira, o filme é falso diz a propaganda de "Argo". A fantasia que estariam produzindo é um filme tipo "Star Wars". Os produtores precisariam de cenários exóticos, por isso estão em Teerã. Os seis diplomatas devem transformar-se em atores e precisam acreditar nesta história tola, considerada pelo próprio Mendez como muito idiota, mas ao que parece teria sido a única coisa em que conseguiram pensar. 
O filme não emociona até a cena final, esta sim vale as 2h30m que ficamos sentados. A aeronave prepara-se para levantar vôo. As cenas se alternam, o enorme avião  prepara-se para decolar & os iranianos desesperados fazem de tudo para reverter o que permitiram acontecer. O avião da Swissair nunca levantou vôo de forma tão bonita. Como um verdadeiro falcão, poderoso, alcança os céus e a liberdade, enquanto na terra, os homens bradam com fúria a sua impotência... O vôo é emocionante porque todo homem, no fundo de seu ser deseja voar como Ícaro, subir aos céus, voar e desfrutar o vento, livre como um pássaro. Naquele bendito dia dos seis diplomatas o avião da Swissair se transformou no pássaro e os homens em seres minúsculos...
 
 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Gonzaga de pai para filho

"Gonzaga de pai para filho" não é um filme qualquer, é muito, muito bom! Tem mais, além de falar da vida de Luiz Gonzaga e de seu filho Gonzaguinha, fala um pouco de todos nós. Você pode se ver lá dentro, como fã de Luiz. Enfim, se não era você, era seu pai, não era? ou quem sabe seu avô? Você também pode identificar-se com o personagem do jovem Gonzaga. Como muitos brasileiros, ele precisou sair de casa em busca de um lugar ao sol. A experiência no exército foi particularmente dura. Imagine um jovem de 18 anos encontrar, no militarismo e no autoritarismo, a saída para enfrentar o mundo. Naquela época, ao conseguirem dar baixa do exército, muitos soldadinhos se recusaram a voltar ao quartel para receber o soldo!  
Afinal Luiz Gonzaga andou pelo país inteiro dirigindo seu caminhão.  Até parece aquele hino (?) que fala do Oiapoque  ao Chuí, pois não é que Luiz Gonzaga viajou de norte a sul, e chegou a Dom Pedrito? Só sei que meu pai curtiu muito. Só podia. Você consegue imaginar que só um grande talento poderia compor Asa Branca?

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação


Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação


Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão


Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão


O hino Asa Branca me parece que não é só do nordeste, é nosso também, é brasileiro antes de mais nada. Quando Luiz Gonzaga dançou e cantou encantando uma multidão, na laje de um hotel no Rio de Janeiro, aquilo me pareceu o máximo da consagração do artista. Fez o mesmo sucesso dançando na carroceria de um caminhão em inúmeras cidades do Brasil. Imagine eu um dia estive lá, em Dom Pedrito, e assisti ao vivo esse deus da música brasileira. Não lembro muito, é verdade, mas minha irmã - a outra, não a gêmea - falou que ele dançou na carroceria de um caminhão. Não sou só eu quem fala que adora ver Luiz Gonzaga cantando "Baião de Dois"  ou "Vira e Mexe", quem fala de cátedra são nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Dorival Caymi e Raul Seixas, os outros deuses que sempre amaram e respeitaram o grande cantor e compositor.
 
O diretor Breno Silveira não faz concessões ao personagem, mostra suas virtudes e fraquezas, qualidades e defeitos. Gostei, desconhecia a verdadeira relação de Luiz Gonzaga com seu filho Gonzaguinha. E eu que achava o Gonzaguinha muito chatinho, reavaliei, compreendi o personagem. É importante tentar melhorar, compreender, entender e aceitar as pessoas. 
 
Algumas cenas são tão emocionantes que provocam uma profunda dor na garganta, não dá para aguentar... a gente  só pode mesmo chorar. Você já pensou que só mesmo um verdadeiro artista pode decidir que um anão e um engraxate desconhecidos  - assim, sem mais nem menos - farão parte de sua troupe? Pois é Luiz Gonzaga substituiu dois músicos beberrões pelos dois, o anão e o engraxate! Ensinou-os em uma tarde, todos dançando pelados dentro de um rio. O resultado foi um sucesso! E o anão era uma graça requebrando! A historia é verdadeira e eles se chamavam  Osvaldo Nunes Gonzaga e Juraí Miranda. Dois que nunca souberam nada de música, viraram artistas da tarde para a noite. O show foi um sucesso em Santo Antonio de Jesus.
 
Assim prepare-se para ser feliz e sofrer junto com "Gonzaga de pai para filho". Finalmente cabe assinalar os ótimos atores que representaram Luiz Gonzaga nas diversas fases de sua vida. Destaque para o jovem (Land Vieira) e para o velho Gonzaga (Adélio Lima), imbatível, com olhos vermelhos e muitas cicatrizes
 
 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Skyfall


Sam Mendes dirige mais um filme da série James Bond. Pela terceira vez Daniel Craig interpreta 007, o agente com licença para matar. Difícil dizer qual dos três filmes é o melhor. Acho que é este último, emocionante e eletrizante. Pelo menos a cena de perseguição deixa o espectador com o coração na mão. O insólito acontece, uma retro escavadeira morde um trem em alta velocidade. Depois de ficar voando, pendurado no trem pela mão direita, Bond consegue pular para dentro. Indiferente e genial, fala para a fiscal: "Inspeção sanitária!". Deus, é de bater o pé! Ficamos sabendo que teremos muitas emoções.
É a vigésima terceira vez que a série é estrelada. Depois de Sean Connery, Craig é o melhor. Skyfall é o lugar de origem do último Bond, filho de Andrew e Monique Lacroix Bond. Quando ele retorna à casa paterna, encontra um cenário em ruínas. Da casa sobram as paredes de pedra, recordações e problemas mal resolvidos.
Desta vez, a história está mais focada na relação entre Bond e M (Judy Dench) a chefe do M16. Ela participa mais das cenas e torna tudo muito interessante. Bond é encarregado de solucionar o caso do desaparecimento de uma lista contendo nomes de agentes que combatem organizações terroristas. As coisas começam a dar errado quando Bond é alvejado pela colega de trabalho Eve Moneypenny (Naomie Harris) que obedece a uma ordem impensada de M. Na luta corpo a corpo com o assaltante Patrice, Eve não consegue focar o alvo. Dá o tiro errado e um corpo cai no abismo. Bond é dado como desaparecido. M comparece a seu funeral e lhe rende homenagens. Quando se reapresenta, Bond é um agente combalido e envelhecido. Volta com um pouco de raiva. Sentimento este que o acompanha e nos inquieta. Justamente, está presente a idéia de superação, o que torna o filme belíssimo. Enfim, precisa ser submetido a novos testes para readmissão. M é pressionada a aposentar-se.
O novo chefe, Gareth Mallory representado por Ralph Fiennes, é tudo o que se pode imaginar sobre o oposto de Bond, fleumático e desinteressante. Para o cúmulo, usa calças largas com suspensórios. Do corpo, não se pode imaginar nada. Sabe-se que foi herói um dia. O que Bond não sabe é que foi reprovado nos testes. Apesar de tudo, apesar de ser a durona, apesar de ter sido ela quem ordenou Eve a dar logo aquele tiro errado, M o ama. Do jeito que for sempre ficamos indecisos em relação a qual tipo de amor. Como filho? Como homem ou como a extensão de seu ser? Como aquele ser forte e saudável que faz o que ela não consegue fazer, eliminando os inimigos da pátria mãe, Inglaterra?
O resto do elenco aparece, mas desta vez com menos brilho. A figura do assassino sanguinário e vingador é representada por Javier Barden. Com os cabelos pintados de louro, Barden representa direitinho o homem vingativo que odeia as mulheres. Mas somente entre nós, Barden é um chato. Assim, tudo bem se é o assassino.
Depois de sessenta minutos de filme, vi que faltava alguma coisa. Claro! Faltava uma mulher, uma heroína à altura de Eva Green, a Vesper Lynd de Cassino Royale. Naomi é engraçadinha, mas tão trapalhona quanto um jogador de futebol dando gol contra. Quanto à outra mulher sexy do filme, Sévérine (Bérénice Marlohe), aparece pouquinho. Não tem tempo para representar outro papel que não seja o de vítima, o que não recomenda ninguém. Sofrendo muito, Sévérine é mais uma vítima do sanguinário e insuportável Javier Barden - Raoul Silva- que obriga Bond a disputar com ele, qual dos dois acerta o copo de bebida que ela equilibra na cabeça. Não sobra tempo para Bond envolver-se com Sévérine.
Enfim, o que minha irmã gêmea - "ma soeur jumelle"- sempre fala é que Daniel Craig é uma tesão. É um dos mais belos corpinhos do cinema. Se não possui grande estatura, isso não tem a menor importância. O caminhar dele é leve, não caminha, desliza como um gato, com o corpo perfeito e o abdômen mais reto que se possa imaginar. Lindo! Falo para minha "soeur jumelle", o que é isso mulher? Ela dá boas risadas!Prepare-se para a sequência final onde Bond tem tempo para fazer seus acertos com M. Será que os dois conseguirão resolver suas diferenças? Diga-me, por que Daniel Craig faz tanto sucesso como Bond? Será pelo caráter do personagem que mostra lassidão, tédio e indiferença, com aqueles olhos líquidos de quem tem aversão à autoridade em razão de problemas não resolvidos na infância? Ou dificuldade em relação ao que resolveu fazer na vida?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As vantagens de ser invisível

Sentir-se invisível é muito mais comum do que você pensa. Sair da invisibilidade pode ser o grande desejo de metade da humanidade. Entretanto, sair do invisível e de fato ser portador de invisibilidade pode ser a condição de alguns seres humanos.
A questão pode se referir a uma auto condenação ou uma espécie de punição imposta pelo outro, a qual o inseguro se submete. Pense, é possível que para alguns de seus falsos amigos seja melhor que você se torne invisível. Só assim eles poderiam sair da invisibilidade. Palavra adequada para essa criaturas: mediocridade. Fuja dela como o diabo da cruz. Só assim você terá uma mínima chance de candidatar-se à felicidade. 
"As vantages da invisibilidade" trata desses questionamentos, da questão do "ser ou não ser invisivel". Do ser invisível por motivos de insegurança, ou da condenação a um estado de invisibilidade, ou ainda do ficar no limbo, sem ter plena consciência do porquê.
Stephen Schbosky escreveu e dirigiu o filme. O drama se desenrola na adolescência de Charlie (Logan Lerman), quando ele troca de escola e se sente, mais que nunca, só e abandonado. Encontra  Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson). Muito mais do que a garota, Charlie e Patrick sentem-se estranhos num ambiente escolar hostil e cínico. Poderiam pensar que são extra-terrestres. No ônibus ninguém sentaria perto de um ET. Charlie se sente como esse ET. Os relacionamentos com as meninas são um desastre. Após muito sofrimento e reflexão, Charlie se questiona sobre a capacidade de amar. Alguém consegue sintetizar: aceitamos o amor que julgamos merecer e por isso mesmo aceitamos que nos tratem mal. 
As razões do drama do adolescente são profundas. Aos poucos o espectador é introduzido na fixação que o menino tinha na tia; nos terríveis problemas que  podem acompanhar  crianças molestadas sexualmente. Seria a razão maior da invisibilidade.
Enfim "As vantagens de ser invisível" trata com seriedade dos dramas familiares e de como cada um pode  superar a condição de mediocridade que impõe aceitar um amor de migalha, um amor de curta estatura por não sentir-se grande e merecedor.  
 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Moonrise Kingdom

Assistir a " Moonrise Kingdom" é uma experiência semelhante a de abrir um livro de histórias infantis, com belíssimas ilustrações.  Desde o início, nas cenas que mostram as crianças em seus recantos dentro de casa, ouvindo música clássica, tudo é o próprio décor de contos de fadas.  As tomadas externas da casa da família Bishop, pintada de vermelho, os planos parados com o policial de um lado e a mulher com a bicicleta do outro, tudo são como ilustrações de um livro. Esse mundo aparentemente idílico está caindo de podre.
No fundo, as próprias experiências do diretor Wes Anderson podem estar se manifestando em sua obra de arte. Quem sabe, o autor se sentido também um menino diferente,  resolve contar as experiências de um outro menino órfão...
A história se passa na Ilha de New Penzance e conta a vida de Sam Shakusky (Jared Gilman) filho de pais adotivos. Aliás pais que o abandonam, pais que  não sabem o que é ser pai adotivo. Ser pai ou mãe é para sempre. Não se abandona filho nenhum,  muito menos adotivo. Pois os pais malucos do filme abandonam Sam simplesmente porque o menino apronta as suas.
Em "Moonrise Kingdom" vemos os adultos de um lado simplesmente vivendo, vidas vazias, sem ter nada para oferecer aos filhos. Com adultos palhaços e confusos, que não sabem porquê fazem o que fazem todo dia, as crianças tomam a dianteira. Precisam amadurecer e tomar as próprias decisões. Abrem os próprios caminhos. Pais adúlteros, crianças de fato abandonadas numa situação de quase orfandade. 
Sam, o órfão problema,  frequenta um acampamento de  escoteiros, o Khaki Scout, comandado pelo monitor  Randy Ward, tão idiota que sua ronda matutina pelo acampamento parece uma grande brincadeira. No mundo do disfuncional só pode florescer o amor dos 12 anos. Suzy (Kara Hayward)  e Sam fogem de casa, ela leva o gato, seis livros e o toca-discos. Conseguem até um monitor para celebrar a cerimônia de casamento.
A crítica sutil do diretor ao mau desempenho dos representantes das instituições que decidem a vida das crianças faz o espectador dar boas gargalhadas. O monitor é ridículo - belíssima interpretação de Edward Norton. Da mesma forma, Walt Bishop (Bill Murray),  o pai de Suzy  não é menos patético com seu barrigão. Dá-lhe cerveja, para apagar as mágoas de homem traído. Pasmem, mais engraçado ainda é o chefe militar, interpretado por Harvey Keitel. Na hora de fugir, o coronel precisa buscar o remédio! Termina sendo carregado nas costas pelo monitor. Tilda Swinton, como toda assistente social está a serviço do poder constituído e não pensa em mais nada, a não ser obedecer. Não enxerga um palmo diante do nariz. Sabe apenas cumprir ordens. Terá que levar Sam para um reformatório onde talvez ele seja submetido a uma terapia de eletro choque! Pode? 
Com personagens tão caricatos só podemos rir! Quando até a natureza se rebela contra os absurdos que estavam acontecendo, o policial Sharp (Bruce Willis) que amou uma vez na vida e perdeu a coragem de viver, tem o seu momento de iluminação, movido por não se sabe que força, ele faz acontecer. A cena final é deliciosa, não perca!

domingo, 14 de outubro de 2012

Os infratores

John Hillcoat dirige "Os Infratores", um filme envolvente, violento, que oferece tudo que você busca no cinema. Não é exatamente uma nova versão do faroeste porque o herói não é um solitário e não parte sozinho no final, em busca de novas aventuras. A história é verdadeira e conta a vida de três irmãos, Forrest, Howard e Jack. Estados Unidos, 1929, estamos em plena Lei Seca. Óbvio, os heróis são os três irmãos Bondurant. Aliás os três viveram a lenda e o próprio Forrest acreditava que eram imortais. A história foi escrita por Matt Bondurant, neto de Jack. O livro chama-se Wettest County in the World. John Hillcoat afirma que sua inspiração veio dos filmes que assistia quando adolescente , " Meu Ódio será tua Herança" , de Sam Peckinpack e "Uma Rajada de Balas" ou "Bonnie &  Clide", de Arthur Penn. Eu completaria a lista com "Caçada Humana", do próprio Arthur Penn,  com Marlon Brando. Os diálogos vem do próprio livro de Bondurant.
Filmes como os clássicos dos anos 60 e  "Os Infratores" despertam verdadeiro turbilhão no espectador, algo  indescritível. Deve ser essa a razão que explica nossa paixão pelo cinema. John Hillcoat conta uma história de pessoas comuns que as circunstâncias colocam no limite. O drama familiar fica implícito nas relações entre os três irmãos. O mais velho, Tom Hardy - o Forrest- é instigante, olhar duro, intenso, de meter medo e boca belíssima, deixa o próprio Tom Hardy para trás. Dá para entender? A ficção sempre é mais bela e emocionante que a realidade. Por outro lado, você consegue imaginar Forrest como o monstro Bane que batia em  Batman (Christian Bale) em " O Cavaleiro das Trevas Ressurge" , acredite, é o mesmo ator! 
Jack , o caçula, tem  um modelo de perfeição a ser seguido, o próprio irmão mais velho. Para os menores, o irmão mais velho sempre é mistério e adoração. Jack (Shia LaBeouf)  não foge à regra. Todas as suas açóes tem por objetivo transformá-lo em alguém, no mínimo muito semelhante ao irmão em termos de coragem e valentia. Ou quem sabe? Jack se atreve a ter o sentimento de conseguir superar o irmão? Mesmo quando está impreganado desse desejo, mantém intactos  o amor e adoração pelo irmão mais velho. Defeitos no irmão? Jack, não enxerga,  ninguém vê. Tanto que todos acreditam piamente na imortalidade do trio que escapou tantas vezes da morte. Howard  ( Jason Clarcke) o irmão do meio, talvez seja o que mais sofre. Como Forrest, Howard, não fala muito,  é incondicionalmente fiel à família. Prefere distribuir estrondosos socos no inimigo, para deleite do espectador.
Os ingredientes de violência são da própria história dos americanos. Sadismo e maldade tudo é incorporado no inspector corrupto Charlie, vivido por Guy Pearce. Charlie é enviado pela máfia de Chicago para  sufocar o sucesso dos irmãos Bondurant. Para completar o charme e interesse deste belíssimo filme temos a presença de  Gary Oldman, como o famoso gangster Floyd Banner. " Os Infratores" conta ainda com a presença de personagens muito doces, Mia Wasikowska, como a namorada de Jack e Dani De Haan, como o esperto amigo de infância  que descobre o carro a álcool! Finalmente, a bela Jessica Chastain tem  Faye Dunaway  de "Bonnie and Clide" como o modelo a ser seguido nesta recriaçâo dos grandes filmes do cinema .

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Hotel Transylvania

As crianças amam os monstros exóticos que circulam no Hotel Transilvania do Conde Drácula, dirigido por Genndy Tartakovsky.
Afinal de contas, a história toda é uma discussão sobre a relação entre pai e filha. Essa que deixa as mães do lado de fora da porta. Embora, no fundo, toda mãe deseje um pai para sua filha, quando isso acontece e os dois a deixam de escanteio, ela se pergunta: - " Oh meu Deus! Será que minha filha me ama?"
No caso a dúvida não existia, a mãe tinha sido morta num incêndio criminoso, deixando a garotinha Mavis, de 118 anos aos cuidados do pai.
Drácula, o super-pai vampiro deseja festejar o aniversário de Mavis. A festança deve acontecer no Hotel Transylvania, para onde são convidados os mais ridículos e bizarros monstros.
A produção da Sony é impecável, personagens insólitos circulam para lá e para cá. Diálogos inteligentes e bem humorados repetem conversas de adultos. Afinal, o que criança mais gosta é imitar pai e mãe. E depois estes ainda se admiram com as saídas de seus pimpolhos. Espelho deles próprios! Até por isso Hotel Transylvania é tão divertido!
Rapidez de montagem genial, em frações de segundo Mavis se transforma numa morceguinha com asas, ou o Drácula vira um morcegão torrado pelo sol. Alcança um avião em milésimos de segundo!
Cada monstro traz uma novidade. A Múmia é impagável com a enorme dentadura e dois pontos iluminados fazendo às vezes de "olhos".
A festa seria um mega sucesso, não fosse aquele menino - humano ter caído no Hotel Transylvania por acaso!
O pior, ou o melhor? Apesar de Johnny - em termos de beleza - não chegar aos pés da estonteante vampirinha, travestido de primo do Frankstein, ele apronta as suas e conquista o coração de Mavis. Em dúvida ela se pergunta: - " Você é ridículo ou é fofo?"  
Fiel ao ditado que toda donzela tem um pai que é uma fera, Drácula faz o que pode para estragar o namoro.
Até que um dia a casa cai e a ficha cai. O pai percebe que é preciso criar os filhos para o mundo, que nossos bebês de 30 ou 118 anos precisam poder fazer suas próprias escolhas. Kalil Gibram já tinha
dito isso há muito tempo:
- " Vosso filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. Embora vivam convosco, não vos pertencem..."
É isso, muito bem humorado, Hotel Transylvania conta ainda com as vozes de Adam Sandler, Selena Gomez e Steve Busemi. Não perca!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Fausto

Fausto é a releitura do poema trágico de Johann Wolfgand von Goethe. O próprio autor é citado no filme. As questões giram em torno de questionamentos filosóficos e  indagações: Quem sou eu? Por que existo? Qual a minha finalidade na face da terra?  O que é a alma? Qual a relação entre a alma e meu corpo?  O corpo se separa da alma após a morte? Porque após a morte o corpo é apenas fedor e podridão? Como desvendar o mistério da vida?
O diretor Alexandr Sokurov utiliza imagens escuras e paisagens esverdeadas e pressagas para o espectador questionar-se a respeito dessas indagações. O décor carregado representa a  podridão, sofrimento e fedor dos personagens. Aliás como o cinema ainda não chega até nós com cheiro, ouve-se muito a palavra fedor, para reforçar o sentimento do mal, do inferno e  imundície dos personagens. 
Fausto é um dos filmes mais violentos  que assisti. Você verá. O personagem principal vende a alma para o diabo. Então, sua fraqueza, sujeira e podridão são oferecidos ao público durante todo o filme, sem trégua.
Imagine você, sempre achei divertido pesquisar a história da passagem do limpo para o sujo, no Brasil a partir do período colonial. Do fazer a História da Merda, da Difícil Batalha do Excremento, na acepção de Alain Corbin. Me divertia com a expressão de espanto e escândalo dos outros.
Vi Fausto e me escandalizei, aquela histórinha da merda era coisa pequena, muito pequena...Fausto toca fundo no espectador. Provoca nojo, medo e asco em função da imundície e promiscuidade na vida dos personagens. Repúdio também por ver a fraqueza quem não domina os piores sentimentos e se vende. Repúdio também por aquele que tem absoluta falta de princípios para reger a própria vida. Pior, na vida real esse espetáculo é diário. Não tendo ética - e isso se aprende com pai e mãe -  nem moralidade, os Faustos da vida real também vendem a própria alma ao diabo.
O filme inicia com uma tomada distante da pequena aldeia medieval, incrustrada no rochedo. A visão idílica logo é desvelada com a merda, o fedor e a podridão!
O Fausto de Alexandr Sokurov tem influência do expressionismo alemão. Porém tenho certeza que o Fausto de Murnau de 1926 era muito melhor e bem mais impressionantre que este.
Querem saber? Odiei esse filme de autor!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Bem Amadas

O filme é realizado em família e a história trata do que acontece na vida real. Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni como as personagens Madeleine e Vera também são mãe e filha. A história trata das diversas fases da vida amorosa de cada uma. O restante do elenco são atores interessantes como o belo Louis Garrel, Milos Forman e Paul Schneider.  Ludivine Sagnier é Madeleine na juventude. Tudo tem início na Paris dos anos sessenta. Madeleine é  uma mulher jovem, loura, sonhadora e feminina.  Caminha pelas ruas de Paris com o futuro marido, um médico (Milos Forman). Ingenuidade e juventude  a impedem de perceber que Milos não é emocionalmente estável. Deseja outras mulheres, a trai sem o menor pudor. Casamento caído por terra e Madeleine volta à Paris. Saltando no tempo a vemos gorda, velha senhora, com cirurgia plástica no rosto. Pior, cirurgia que ao invés de ajudar piora o visual. Esta é a bela Cathérine, "A bela da tarde". Óbvio , inesquecível. Sempre será chamada de bela, embora a beleza verdadeira esteja somente em nossas lembranças. A vida de mãe e filha vai aos trancos e barrancos.  Faltam objetivos de vida para todos. Invariavelmente os personagens enveredam por caminhos  obscuros. O ex marido, por sua vez, volta para relações com a ex mulher que só poderiam resultar em  poeira levada pelo vento.  Nunca assumiu o papel de pai. A filha não encontra rumo, sua vida resulta de um tal enredo, que não consegue manter um relacionamento.
Madeleine, depois da primeira traição não ama ninguém. Casa com outro, não o ama. E o diretor Christophe Honoré fala de pequenas vidas, de amores infelizes que não foram. Deixaram   de ser antes de existir. Mas que, apesar de tudo enredaram três pessoas pelo resto de suas vidas. Todos  passaram a fazer parte de uma família, diferente, mas família.
A vida de Chiara tem um bocado de drama, é a personagem trágica. Chega a ser patética. Não aceita Garrel, mas apaixona-se por um homossexual. Para afastá-la  ele afirma: "I am gay". Tanto mãe como filha criam situações limites  e insustentáveis. Ambas cometem profundo erro ao não tentar uma auto descoberta, antes de buscar o outro. Mãe e filha buscam o próprio inferno, são responsáveis pelas próprias desgraças.
Vera se humilha, se esforça para conseguir a própria destruição e humilhação. Vai para a cama em trio, com dois gays. Constrangimento que só pode terminar em tragédia. E assim a nossa patética heroína inferniza um pouco mais a vida do resto da família...

domingo, 9 de setembro de 2012

O Legado Bourne ( The Bourne Legacy)

Em junho o ator Edward Norton esteve no Brasil para participar da  Rio + 20 como embaixador da ONU em assuntos sobre biodiversidade. Aproveitou para promover o filme de Tony Gilroy. "O Legado Bourne"  é inpirado na história de Robert Lundlum, por sua vez inspirada no livro de Eric Lustbader. A franquia consta de três filmes estrelados por Matt Damon, que contam a dramática experiência de Jason  Bourne. O filme de Gilroy vem precedido pela trilogia, o que não lhe retira o brilho. Damon mostrou o seu preparo físico em : "A Identidade Bourne" (2002), "A supremacia Bourne" ( 2004) e "O últimato Bourne" ( 2007). Sempre pensei que ele poderia ganhar a maratona correndo reto como um robô. Era justamente esta a idéia, deveria ser uma espécie de robô, ou de super-homem, pois tinha sido submetido a um misterioso experimento.
Tony critica o poder nos Estados Unidos, afinal, falar em criticar o poder na América fica meio estranho, considerando que a nossa realidade de latino-americanos não tem nada a ver com a do país de Obama. Lá sim, eles sempre estão às voltas com questões de espionagem, intromissões em países distantes, com bases em Manila ou Guantánamo, por exemplo. Desta vez Edward Norton é o superior de uma agência - parece a CIA - com tentáculos no mundo inteiro. Edward dirige essa agência, que deseja ascender a um poder que rivaliza com o  do próprio Estado.
Por mais politicamente correto que Edward Norton seja - ao defender a causa da biodiversidade-, na telona não é nenhum mistério! Não entusiasma nem as "retraites" ! Leia-se aposentadas! he! he! he! É bem sem graça! É o homem poderoso da agência que criou Bourne como uma máquina de matar e agora lança suas garras sobre o novo Bourne, Aaron Cross, estrelado por Jeremy Renner.  Aaron é agente secreto do governo, envolvido  no programa Treadstone. Os experimentos cientícos melhoram sua perfomance como ser humano, transformando-o em uma espécie de El Matador. Quando descobre que está sendo alvo de extermínio por parte da própria agência decide reagir, dando um basta naquilo tudo. Além de Jeremy Renner,  Rachel Weisz e Edward Norton você vai notar a presença de três senhores,  são os atores Stacy Keach, Albert Finney e Scott Glenn. Deus! como envelheceram ! Stacy Keach e Albert Finney ficaram horrorosos, tipo assim, excesso de quilometragem. Keach está mais para bolão e Finney segue o mesmo caminho. Mas Scott Glenn pelo contrário, está muito bem. Você lembra dele em "Os Eleitos"? O filme era tão bom que eu jurava que não era um filme, que eles eram os verdadeiros astronautas em um documentário. Pelo menos Scott Glenn está bem com seus 69 anos também.
Jeremy Renner é um ótimo ator que sempre é interessante rever. Além de "O Assassassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford" em sua filmografia constam " Guerra ao Terror", "Missão Impossível : Protocolo Fantasma"," Thor" e "Os Vingadores". Se as cenas de  perseguição são excitantes e eletrizantes, você vai amar a música. Preste atenção na cena final. é a mesma música da série de Matt Damon.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Os Intocáveis

Os Intocáveis dirigido por Eric Toledano, por enquanto é o melhor filme de 2012. Não sei bem como isso acontece, mas sei quando estou diante de um grande filme e foi exatamente a sensação que tive quando o filme iniciou. O trailer antecipara as emoções de Philippe ( François Cluzet) francês rico que após um acidente fica tetraplégico. Na tela o motorista negro, carrega seu passageiro para emoções extremas. A cena é uma loucura, mesmo que o espectador esteja farto das corridas  de carro de filmes americanos, aqui é diferente. Um deus grego faz o carro voar, roncando como louco pelas ruas da grande cidade. Philippe vibra com a emoção que Driss (Omar Sy) lhe proporciona, alegria e felicidade que ninguém permite a um tetraplégico. Nem que para isso o motorista tenha que transgredir muitas regrinhas de bem viver. Na verdade o que impressiona o espectador é o contraste entre a força de Driss, o cuidador  e a fragilidade de Philippe. Quando  o primeiro se apresenta simplesmente para conseguir uma assinatura para um seguro desemprego, atrai a atenção de um homem doente, mas saudável a ponto de não aceitar a piedade de ninguém. 
Philippe vive em um palacete, rodeado de governantas, cozinheiros, secretárias e jardineiros. Driss chega  com uma tal vitalidade e alegria de viver que ofusca a todos. Torna-se alvo das atenções.  Óbvio, também tem seus problemas. Não aparece em casa por seis meses simplesmente porque está  preso por roubo. Ninguém fica sabendo. Isso não se conta para ninguém.   Quando volta, o surpreendemos tomando banho numa minúscula banheira com os joelhos dobrados. Agora tem direito a um quarto com banheira e muita sofisticação bem dentro do gosto dos franceses pela tradição. A decoração do palacete é inspirada na tradição clássica do Ancièn Régime. Não possuindo sofisticação, Driss fala o que pensa e diz algumas verdades não permitidas aos membros da elite freqüentada por Philippe. É justamente este lado do caráter de seu cuidador que o atrai e o faz dar boas gargalhadas nas horas em que normalmente deveria estar sentindo-se o mais miserável dos homens. 
Não é apenas o espectador, ninguém consegue  parar de olhar para Driss. Pudera, de onde saiu criatura tão exuberante? Que nem a Vênus Negra, aqui temos o Apolo ou o Júpiter Negro. O visual é o de um atleta com 2,00 m de altura aprontando todas as travessuras inimagináveis com seu "boss"' e sem papas na língua!
Assim aparentemente sem a menor qualificação para o posto, Driss surpreende, ensina e propõe a Philippe mil e uma formas de superação. Quando o vemos empurrando a cadeira de Philippe em um passeio na madrugada à beira do Sena, não temos a menor idéia do que um poderá aprontar para o outro em termos de desafios. E quando vemos tudo o que os paralímpicos são capazes de fazer, constatamos que nosso lema além de ser a frase de Jean Cocteau: "Ele não sabia que era impossível, foi lá e fez", também poderá ser: "Desista dos limites, acabe com eles, faça com que deixem  de existir; destrua de vez esses limites".  Afinal se vive uma só vez! Esta é a lição de grandeza e humanidade que Driss foi capaz de ensinar a Phillipe, que por sua vez também ele foi capaz de transformar uma vida, com uma mente aberta, forte e sem preconceito. 

sábado, 1 de setembro de 2012

Um Divã para Dois

Desta vez Meryll Streep está imbatível. Quem reclamou dela em " A Dama de Ferro"  não está mais aqui. A dama do cinema aparece com o mesmo visual que deve ter na vida real. Aliás parece um pouco mais velha do que seus sessenta e dois anos. Meryl Streep - se é que é verdadeiro - é dessas mulheres que há muito tempo assumiu rugas e sinais da idade. É verdade, poderia emagrecer um pouquinho, será pela personagem?  Kay (Meryll Streep) é uma mulher a um passo de ser classificada na terceira idade. E isso não tem volta, é uma barra! Com cintura grossa, anquinhas, rugas e um vestido rodado e curto! Ai meu Deus! O batom levemente fora do lugar, com rugas verticais que cortam os lábios... O visual de Kay não recomenda. E ainda para o cúmulo, é uma senhora insatisfeita com seu casamento de 31 anos. "Quem me dera ter um casamento de 31 anos"! É o que muitas mulheres diriam, não é verdade?
O marido Arnold é interpretado por Tommy Lee Jones. O ator está tão bom quanto Meryll. Não... ela está um pouquinho melhor. Enfim, Arnold, antes de mais nada, virou um velho rabugento, com uma barriga proeminente, igual a todos os senhores idosos que circulam pela cidade, pelas ruas, pelas academias, enfim por todo lugar e por toda Porto Alegre. Um horror. Sempre me pergunto, quem fica mais feio? Eles que não se cuidam, ou elas? Ainda não encontrei a resposta... Mas com certeza, Arnold é um senhor do tipo que faz as outras mulheres pensarem: " Credo ainda bem que esta criatura não é meu marido! Se é para ter um marido assim, é melhor ficar sozinha!" 
O fato é que Kay ama seu homem. Porém descobre que seu casamento  no momento é um completo fracasso. Ele, como muitos homens se nega a enxergar um palmo diante do nariz. Kay sabe que seu casamento chegou no limite. Ou tenta resolver o problema, ou é melhor acabar com tudo de uma vez. Arnold com sua barriguina e com grandes óculos que escondem o rosto, pensa que basta ter filhos criados e sustentar a casa, para que a harmonia reine no lar. Sexo, nem pensar, ele e Kay vivem que nem operários dividindo um barracão de trabalho,  como afirma o psquiatra Dr. Feld (Steve Carrell), a quem Kay recorre como última opção.
Para Arnold a vida vira um inferno, com o tal psiquiatra de casais. Para ele é inaceitável discutir seus medos e problemas mais íntimos com um estranho. O psiquiatra dá tarefas que o casal deve cumprir, como etapas para uma recuperação amorosa. Aos poucos Kay e Arnold descobrem que as mágoas, os ressentimentos foram causados por ambos. Um sonhava com coisas que pensava ser uma verdadeira transgressão, que o outro não aceitaria jamais. O outro por sua vez, nem sonhava em tudo que seu companheiro gostaria de fazer em termos de sexo. Assim,  sonhos e desejos foram ficando para trás... Cada um passou a viver fechadinho  em seu quartinho. Nem sabiam o que era tocar um no outro. O roteiro, as falas caracterizam com perfeição a crise do casal. Igual a todos os dramas que devem estar acontecento neste momento com milhares de casais, no mundo inteiro.
E o diretor sabe muito bem o que é isso. É de arrepiar quando as tentativas fracassam... Quantos casais se viram na tela? E quantas mulheres tiveram a coragem de Kay, de botar para quebrar e tentar sob todas as formas resgatar a sua vida conjugal? Quantos casais desistiram antes e terminaram tudo para viver uma vida de solidão e ressentimento, lutando na justiça por guarda de filhos, por pensões alimentícias  irrisórias ou tendo ainda que recorrer à prisão do ex-marido? Deus, quanta miséria e mediocridade... Não é bom nem pensar. Por isso mesmo é que você deve adotar Kay como a sua heroína da semana! Vá ao cinema, assista às belíssimas interpretações de Meryll Streep e Tommy Lee Jones e veja se não tenho razão!


domingo, 26 de agosto de 2012

O Vingador do Futuro (Total Recall)

Total Recall é a segunda versão da história de Philip Dick, filmada em 1990 por Paul Verhoeven. O primeiro filme é melhor. Parece difícil para Colin Farrel e Kate Beckinsale  competir com  Schwarzeneger e  Sharon Stone. Entretanto, se voltarmos no tempo e revermos a primeira versão, não suportaremos a película gasta pelo tempo, com Schwarzeneger e Stone, tão jovens e amarelados! E que tecnologia incipiente... se é que dá para entender...  
O fato é que as novas tecnologias tornam o cinema atual um verdadeiro espetáculo. O décor futurista, as cenas eletrizantes, a movimentação de Colin Farrel em luta pela sobrevivência contra robôs sintéticos, por si valem o filme. 
Colin Farrel preparou-se para as filmagens durante cinco ou seis meses de exaustivos exercícios físicos. Ficou com um corpinho impecável. Não é nenhum brutamontes como Schwarzeneger, mas está lindo. Você pode observar nas primeiras cenas em que aparece de torso nu (de propósito é claro, para mostrar a musculatura e a barriga de tanquinho do ator). Se interpreta com perfeição ou não, ninguém na platéia está precupado com isso.  
A história conta que no futuro, após guerras e destruições a terra é dominada pela Federação Unida da Bretanha. Do outro lado do mundo, no local onde era a antiga Austrália, resta a Colônia, um local onde vive a maior parte da população oprimida pela Federação Unida da Bretanha,  liderada pelo chanceler Cohaagen (Brian Craington). Colin Farrel é Doug Quaid, um operário que descobre que não é quem ele pensa que é. As memórias que possui não são de um passado verdadeiro, foram implantadas em seu cérebro. Descobre também que sua mulher não é sua mulher, mas sua maior inimiga, interpretada por Kate Beckinsale. Doug descobre tudo da pior forma, quando Kate - que também é a esposa do diretor Len Wiseman- tenta lhe dar um abraço mortal. Aliás Kate está tão magra e forte que nem acredito, mais parece uma bruxa furiosa!
A partir daí começa a perseguição implacável. Se o filme peca pelo excesso de ação, de repente tanta cena eletrizante se transforma em mesmidade. Ao mesmo tempo, tento manter os olhos bem arregalados para aproveitar todo aquele cenário genial!   
O inspirador também pode ter sido Ian Fleming, o criador de James Bond. Aliás é a homenagem do diretor ao grande escritor.  Doug lê Fleming quando senta no ônibus espacial que se move na velocidade da luz. O espaço físico é sombrio, uma massa de concreto e metal, definindo o lugar onde os homens vivem, como um espaço sem privacidade, sem portas ou janelas, tudo definido através de meios planos. Lembra a concepção de habitação dos povos primitivos, composição homogênea, com unidade, em versão futurista. Seria uma outra visão do Raumplan, de Adolf Loss? Também me parece inspirado nas obras fantásticas de Yona Friedman, na sua cidade espacial do final dos anos 50, com estruturas em balanço a 45 graus. A movimentação é como a de um bairro chinês de New York, gasto, molhado e escuro. A cidade vertical possui inúmeros níveis. Sugere uma antevisão de um futuro desastroso para New York. De repente Doug e sua companheira Jessica Biel estão no meio do fogo cruzado, numa plataforma de circulação de carros que se movimentam acima do solo. De fato essa é a beleza que interessa no filme de Len Wiseman

terça-feira, 21 de agosto de 2012

360

Fernando Meirelles dirige 360, apresentado na estréia do Festival de Gramado. Nada de brasileiro no filme, a não ser o diretor. Meirelles baseou-se na peça "La Ronde" do escritor austríaco Arthur Schnitzler. O roteiro é de Peter Morgan e Meirelles consegue juntar duas idéias, corporificar o texto de Morgan com um filme belo e elegante. Embora o diretor afirme que as duas histórias eram meio separadas e que ele estabeleceu a relação entre elas.

No final ficaram nove histórias, com personagens que se entrecruzam e nos emocionam. O elenco conta com Jude Law e outros execelentes atores. Pensem bem, não poderíamos passar uma tarde olhando para Jude Law? Existe boca masculina mais bonita?

Anthony Hopkins  não é ele, com certeza é o próprio pai em busca da filha desaparecida. É tão pungente o sentimento, a dor e a tristeza do pai em busca da filha, que sentimos uma dor na garganta... A gente não consegue sequer respirar, com a atuação de Anthony Hopkins. Na reunião dos alcólatras anônimos ele - ou qualquer um de nós? - lembra que os próprios sonhos voaram, soprados pelo vento. Um vida inteira foi  revirada, nunca mais, nada será como antes... Ela se foi, num estalar de dedos desapareceu, e o pai jamais terá paz enquanto não reencontrá-la... Ele sabe disso, aceita essa nova vida de peregrinação, como quem corre atrás de uma vida perdida. Na mão, consegue apenas segurar o vento e as cinzas douradas que se espalham e não trazem nada de volta... Insiste, busca um sonho que se nega a  revelar-se...

As histórias são interessantes, a maneira competente de filmar liga fatos e personagens através de sons e imagens rápidas, que se fundem na tela e ligam destinos. Aliás em todas as histórias existem os momentos da escolha e do livre arbítrio. Os momentos da vida em que escolhemos nossos destinos. Na estrada sempre existem dois caminhos que podem ser escolhidos. Por que escolhemos um e não o outro?

As histórias entrelaçadas mostram personagens profundamente solitários, em busca da felicidade, lutando contras as próprias fraquezas e limitações. Sergei, o motorista do carrão, dominado pelo irmão carrasco, um dia teria que tomar a grande decisão. Se nosso destino é decidido por nós mesmos, para Sergei chegou esse grande dia, quando apostou no sonho e no amor e mentiu para o irmão, sabendo que era cúmplice de um assassinato. Observe só as contradições do ser humano. Enfim, as duas possibilidades de escolha sempre se apresentam. É e dessas escolhas que 360 nos fala. Como se a vida tivesse 360 possibilidades de escolha, como os 360 graus da circunferência, ou da própria terra. São desses difíceis momentos que que Fernando Meirelles nos fala...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

On the Road

Jack Kerouac, nascido em 1922, viveu uma infância normal, de criança dedicada à mãe. Frequentou um colégio jesuíta e fez sua vida virar ao avesso quando foi obrigado a freqüentar a biblioteca da universidade onde estudava. Ali teve seus primeiros contatos com autores que influenciaram sua obra, Jack London e Louis-Ferdinand Céline. Para desgosto da mãe, Jack adorava viver no limite , em companhia de Neal Cassidy, Allen Ginsburg e William Burroughs. Neal tornou-se escritor e virou símbolo da geração beatnik. Em sua companhia, Jack atravessou os Estados Unidos em longas viagens durante sete anos. Neal é o jovem rebelde, pequeno delinqüente, vindo de reformatórios. Jack conta suas memórias em "On the Road". Na adaptação de Walter Salles o nome dos personagens muda, mas sabe-se que Sal Riley, interpretado pelo ator inglês Sal Paradise, é Jack Kerouac. Neal Cassidy, interpretado por Garret Hedlund é a base do personagem de Dean Moriarty, o amigo carismático, que atrai o desejo de todos. Jack adota um estilo de vida contra e sem qualquer regra. Transgride. Imita Neal nesse desejo de viver perigosamente, com muito sexo, drogas, cigarro, bebida e violência. A época é final dos anos 50. Assim, não pense que esses ingredientes eram exclusividade dos  hyppies dos anos 60. Embora rejeite o apelido beat, Jack vira o mito dessa geração. A adaptação de Walter Salles do romance "On the Road" já tinha sido cogitada Ford Copolla, mas foi o diretor brasileiro que venceu a empreitada.

Os outros personagens são LuAnne/Marylon (Kristen Stewart). Carolyn/Camille (Kirsten Durst). Allen Ginsberg é Carlo Max. O que vemos é o grupo de amigos enfurnar-se dentro de um carro e partir, numa ânsia de viver, com tal fúria que parecem desejar muito mais a auto destruição. Dean Moriarty faz tudo o que seus amigos não têm coragem de fazer. A mim parece que torna-se o objeto de desejo de todos. O transgressor e irresistível Dean é desejado pelo amigo Carlo Max. Dean é capaz de ser homo ou heterossexual, ao sabor dos acontecimentos. Sal Riley o observa com um certo mal estar. Como se também desejasse Dean para ele próprio. Por que não? Afinal ficaram juntos dentro de um carro por sete anos! Tempo demais para uma simples aventura em busca de si mesmo.

Tanto Carlo Max como Sal conseguem  criar uma obra a partir de uma vivência furiosa. Sal está sempre fazendo anotações, dentro do método inédito de Kerouac para registrar as idéias,  de forma espontânea, o sketching. No final, Sal conforma-se com uma vidinha pequeno burguesa, com mulher e livros publicados. Quem não consegue voltar é Dean, interpretado pelo belo Garret Hedlung de Tron, o legado. O susto , a saudade e o mal estar que os dois sentem quando se reencontram é revelador. Parecem amantes que se separaram. Ambos sabem que não há retorno... Ambos sabem que, se é que houve um tempo de se entregarem um ao outro esse tempo passou.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Valente

Valente vê as histórias de contos de fadas de uma  forma diferente. O sonho e o desejo da princesinha é outro. Não acredita no destino de encontrar um príncipe encantado, não se interessa pelos jovens pretendentes e nem eles por ela. O rei  parece um truculento gaulês, feliz com sua esposa, a rainha e seus quatro filhos, a princesinha mimosa e os três gêmeos, que mais parecem três cachorrinhos. Valente possui olhos profundamente azuis, o cabelão é vermelho, fofo e encaracolado. Lembra aquele pelego vermelho, que ganhei quando criança, minha paixão por pelegos vem daí.

A rainha mãe cumpre seu duplo papel, de rainha e de mãe. Organiza um torneio para escolher o príncipe encantado que terá a honra de casar com sua filha. Para Valente aquilo tudo é um tormento. Foge, quer mudar as idéias da mãe. Rebelde como qualquer adolescente, em passeio pela floresta - cheia de perigos - Valente encontra a casa da bruxa, cheia de objetos artesanais, mágicos e encantados. Conversa vai, conversa vem, e a bruxa faz o feitiço que mudará totalmente a maneira de ser da mãe. Era com isso que a garotinha sonhava. O bolo enfeitiçado transforma a bela rainha em uma ursa preta, muito escura e adorável, como a própria rainha. Mas uma ursa tão boba, que nem sabe que para engolir peixes inteiros, basta abrir o bocão quando eles nadam contra a corrente.

Assim, Valente trata da relação mãe-filha. Mostra que as filhas podem carregar seus problemas com as mães uma vida inteira. Podem resolvê-los aos trinta, ou aos cinquenta anos. Também podem não conseguir resolvê-los nem depois da morte da mãe. Ou, ainda podem imitar Valente, cujo grande mérito é fazer do possível ao impossível para recuperar sua relação com a mamã. A partir daí, o filme é uma delícia. A grande ursa preta, quando fica em pé, é comedida e preocupada com a filha. Muito bem comportada, é uma verdadeira rainha-mãe. Lá pelas tantas, o instinto animal que também vive dentro dela, a transforma em uma enorme ursa, gulosa e feroz, que esquece qualquer pose de rainha, esquece a própria coroa! Valente passa por todos os perigos para salvar a mãe. Antes que a aurora surja duas vezes no horizonte ela precisa remendar o que o orgulho separou. Até esse tipo de charada a pobre menina precisa decifrar.

Finalmente, com a ajuda dos gêmeos que também viraram três ursinhos sapecas, Valente lutará para libertar a mãe do feitiço. Os pais reconhecerão que é preciso respeitar as escolhas dos filhos. É preciso que cada pai e cada mãe se convença que os filhos devem ser os agentes de seu próprio destino. Se a rainha mãe pensava que poderia escolher o eleito da filha, finalmente se convence que é preciso deixá-la exercer seu esporte predileto, arco e flecha. Com certeza não tardará o dia em que Valente será flechada pelo deus do Amor. Não importa quando, ela fará a sua própria escolha.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Batman, o Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight Rises)

O terceiro filme da trilogia Batman dirigido por Christopher Nolan está arrebatando emoções,  provocando um turbilhão de sentimentos no espectador. As salas de cinema estão repletas. Não é possível um mínimo de isolamento, para você viver e entrar dentro do filme. Tem sempre alguém do seu lado, fazendo muito ruído ao mastigar  pipocas. Fazendo mais ruído que cachorrinhos comendo ração. Parece que os 100 porquinhos foram ao cinema! É pior quando eles iluminam a sala com o celular, no meio da sessão. Decidido, sento na terceira fila, nem assim fico à salvo.

Batman está de volta. Christian Bale encarna o herói sombrio com perfeição. E eu que implicava com sua maneira de pronunciar as palavras, calo-me. Quando aparece em close revela-se o verdadeiro herói das trevas.

Christopher Nolan é o diretor que consegue captar a essência de Batman e superar a História em Quadrinhos. Faz uma reflexão sobre  a violência da sociedade norte-americana, sobre esse lado "dark"  que atinge limites insuportáveis após 11 de setembro. Tão verdadeiro que a realidade supera a ficção. A violência explode dentro da sala de cinema, em Denver, Colorado. Confunde ficção e realidade. Na estréia de Batman, o  atirador metralha a platéia. Enquanto a violência explode na tela, ele mata ao vivo, 12 pessoas e fere 59. Todos se perguntam por quê? Eu também me pergunto por quê? E mais ainda quais as razões que levam os vilões a se transformar em monstros? Nem Christopher Nolan consegue explicar.

Em Batman ninguém é inocente, Gotham City é quase uma Sodoma e Gomorra, as cidades da Bíblia onde imperava o pecado. O campo de jogo parece um Coliseu destruído, quando Bane explode as bombas, após a inocência cantar o hino. Batman vive recluso, com marcas e sequelas, após a vitória no segundo filme. As cartilagens dos joelhos e braços inexistem, parece um idoso de bengalas. Até a graciosa Mulher Gato, o engana.

O filme mostra o herói duas vezes combalido. Na primeira, quando após viver no anonimato por muitos anos, precisa voltar para salvar Gotham City, e na segunda quando está semi-morto no fundo de uma prisão megalítica e inexpugnável, em formato de cone. Reza a lenda que ninguém fugiu dessa prisão, a não ser uma criança.

Como todos os ladrões, desonestos e cínicos da cidade perdida, o inspetor de polícia Jim Gordon,  interpretado por Gary Oldman, vive uma vida de mentira, no mais escuro dos mundos. Aceitou incriminar Batman, em benefício de Harvey Dent (Aaron Ackhart), que foi transformado em herói.

Por falta de coragem não revela seu segredo, somente Bane o grande vilão não perde nada ao revelar o segredo de Jim. Faz uma revolução às avessas, ao enganar e fazer demagogia com essa falsa revolução do proletariado. Execuções sumárias, tribunais  que decidem a condenação por antecipação, tudo nos moldes do Terror da Revolução Francesa e no livro de Charles Dickens "Um conto de duas cidades" , de 1859.

Imitando a realidade de Denver, não existem explicações satisfatórias para a maldade dos vilões. Por mais que uma filha deseje completar a obra de seu pai, é inexplicável como Miranda Tate, interpretada por Marion Cotillard - uma das mais belas mulheres do cinema - consegue esconder suas verdadeiras intenções. E, porrada mesmo é o vilão-mor, um monte de músculos, altura e gordura, tudo junto, sem cara e sem sentimentos. Por mais que Mariane conte a história de seu protetor Bane, o seu grau de maldade chega a ser um mistério. Aliás, o paradoxal é que Christopher Nolan realiza um filme quase perfeito, com uma única restrição. A máscara que faz às vezes de boca em Bane, lembra a de Darth Vader, o vilão de Star Wars de George Lucas. Enfim essa cara de vilão já conhecíamos. Pelo menos a história de Darth Vader era mais plausível para explicar a maldade. Enfim, volto a dizer a mim mesma, deveras maldade não se explica...

Christopher Nolan faz o espectador sofrer junto com Batman. Somente após duas horas de filme temos a revanche. E nosso herói volta com força total, com seu manto de morcego, moto infernal, de pneus pensantes, voando dentro de túneis. E mais, seu escaravelho voador, brilhante e metálico paira sobre Gotham City! Quando a marca do Batman fisga o pescoço do inimigo, os homens das sombras caem um a um, como cartas de baralho. Nós e Gotham City estaremos à salvo!

Selina Kyle (Anne Hathaway) engana Bruce Wayne, ao roubar-lhe a preciosa lembrança da mãe.  Indecisa, demora a optar por lutar ao lado de Batman. Pequena ladra, finge preocupar-se com igualdades sociais. Mas tem seu grande momento quando irrompe das sombras cavalgando uma enorme moto. Com uma rajada de balas salva o homem que será o amor de sua vida. Anne Hathaway é o próprio desenho em quadrinhos que ganha vida. Está lindíssima. Seu olhar - mais que o de um  "basset hound" - é revelador e diz do medo que sente em relação à essência do Mal que caracteriza Bane (Thomas Hardy). Alta, muito magra, vestida de preto, roupa colada ao corpo, longos cabelos e a máscara de gata.  Selina levanta-se da moto, fazendo  um giro com uma das longas pernas, como num passe de balé. Enfim agora ela sabe o que quer para sua vida. Prestem atenção, a cena é belíssima. Literalmente, é a arte das duas dimensões dos quadrinhos virada  em filme.

Joseph Leonard Gordon-Levitt é o jovem policial John Blake. Embora Christopher Nolan e seu irmão afirmem que desejam colocar um final na história da trilogia, parece que introduzem um possível novo herói,  também órfão. Batman reforça essa idéia quando afirma -  referindo-se a ele próprio, no dia em que  ficou órfão e recebeu o carinho do comissário Jim Gordon: "Batman não é Bruce Wayne, é qualquer um que seja capaz de colocar um casaco nos ombros de uma criança para que ela saiba que o mundo não terminou". Ao que parece, Joseph Leonard Gordon-Levitt,  o jovem órfão é o herdeiro de Batman. 

E finalmente, o grande ator Michael Cane personificando o velho Alfred Pennyworth consegue realizar seu sonho em Florença, à mesa de um bar, provando o seu drink predileto.

domingo, 29 de julho de 2012

Meu lugar é aqui (This Must Be the Place)

Paolo Sorrentino faz um filme diferente de tudo o que você viu até hoje. Sean Penn é o cantor de rock "retired" , mas que continua investindo na máscara que usava como roqueiro. Quer dizer, na maquiagem pesada, implantada numa cara triste, como a dos palhaços. Imagine! O ator está sensacional como Cheyenne. O problema não é dinheiro, isso ele tem de sobra. Seu personagem poderia ser uma nova versão de D. Quixote, possui uma aparência estranha, cabelão azul ruano todo espetado, caindo sobre os olhos. Sopra a madeixa que o incomoda. Num mundo violento de pessoas desprezíveis, Cheyenne usa a maquiagem como arma de defesa. Descobriu sua fonte de renda nas canções de protesto, no pessimismo e na depressão. Não foi ele que cantou com Michael Jaeger, foi Michael que cantou com Cheyenne, sacaram?

A aparência estranha esconde alguém honesto e de bom coração, mas que também esconde muita raiva e sentimento de abandono. Cheyenne começa a agir como D. Quixote, sai em busca de si mesmo? Ou do nazista que torturou seu pai? Sai em busca do amor paterno, que sempre julgou não merecer. Um dia Cheyenne decidiu que seu pai não o amava. Como os jovens, colocou essa idéia na cabeça e não pensou se era verdadeira ou não, se era amado ou não. Passou a vida acreditando ser mal amado. Ao procurar o torturador nazista buscava a reconciliação com o pai.

Vemos o cavaleiro da triste figura com uma mala de rodinhas do século XXI. Tem gente que circula por aí a semana inteira com sua maleta de rodinha, leva tudo o que precida, vocês já viram? Todo de preto, é motivo de chacota numa sociedade imbecil que não aceita o diferente. Quando resolve partir em busca do torturador de seu pai, sai também em busca de si mesmo e de um sentido para a vida. Por isso, quando seu amigo o caçador de nazistas, que é também o Sancho Pança, lhe pergunta porque anda de déu em déu de narizinho para o ar sofrendo daquele jeito? Cheyenne responde: não é que estou gostando de passar por todo esse trabalho?

A mãe inconformada com o desaparecimento do filho, que um dia não voltou para casa, passa o dia inteiro pitando, esperando-o. Cheyenne lhe diz que com todos os seus defeitos, nunca provou um cigarro. Ela responde que ele é como as crianças,  não sentem vontade de fumar. Quando finalmente Cheyenne  prova o gosto do cigarro, volta para casa, sem máscara e sem pintura. O sorriso da mãe, não lembro mas o sorriso de Cheyenne jamais vou esquecer. Sean Penn é o mesmo máximo!