segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vincere

"Vincere" é simplesmente "Vencer". Marco Bellochio dirige este belíssimo filme que conta uma história feminina, de resistência e teimosia. Faz um cinema que em termos de denúncia é tão ou mais importante que o trabalho de historiadores que fazem uma história a contrapelo, a história dos vencidos. O filme é impressionante, prende o espectador do início ao fim. Ficamos envolvidos e estupefatos com o sofrimento de Ida Dalser, a amante de Benito Mussolini - relegada e abandonada - com quem teve um filho.

Bellochio conta o início da vida política do ditador fascista. Quem viu o filme não esquecerá as cenas de sexo entre Mussolini e Ida. A mulher perdida de amor e Mussolini, de olhos abertos, saltados, enormes. Olhos que brilham na penumbra, parece que vão estourar e sair das órbitas. Ninguém melhor que Bellochio para caracterizar a falta de sentimentos do ditador. O rosto adquire uma falta de expressão tal, que o homem parece apenas um touro reprodutor. A partir daí Mussolini aparece poucas vezes. Em uma delas, descaradamente, aceita a oferta de Ida, que tinha vendido tudo o que possuía, para o amante poder fazer rodar seu jornal. Os objetivos do ditador são claros, vida política, domínio e poder, custe o que custar.

Para ele Ida foi um tropeço, um incômodo a ser evitado. Para ela, Mussolini era tudo. Ida nos parece uma mulher alienada. A atriz Giovanna Mezzogiorno emociona como a amante que deseja ser reconhecida como esposa e mãe. Prestem atenção à cena em que assiste ao filme de Chaplin, " O Garoto" , às cenas dramáticas do menino erguendo as maozinhas em súplica pelo pai.

É inevitável a pergunta, como pode Ida ter se apaixonado pelo ditador? Se vale o ditado o amor tem razões que a razão desconhece, acho que se aplicaria à ela. Terminamos por aceitar, de fato Ida amou Mussolini, mais que tudo. E tinha tanta certeza desse amor que jamais aceitou o abandono. Jamais calou-se para não sofrer represálias. Sofreu e continuou repetindo o quanto o amava. Foi transgressora para a conjuntura fascista da época. Por isso foi perseguida, por querer ser reconhecida como a primeira e verdadeira esposa de Mussolini, com seu primogênito.

O pior de tudo - por incrível que pareça - é que Mussolini fazia sucesso com as mulheres! Até as freiras a invejavam, diziam que devia considerar-se feliz, por ter sido amante e ter tido um filho com o ditador. Qualquer ex-amante poderia desfrutar de um certo status, mas jamais poderia ambicionar legalizar sua relação amorosa com o Duce. O ditador bufão era tudo o que as mulheres desejavam! sic! Acredite se quiser!

Ida não era o modelo de mulher desejada pela sociedade repressiva da época. Seu psiquiatra a aconselhava a fingir pelo menos, tornar-se uma mulher obediente, ligada às lides domésticas. Não ficar gritando aos quatro ventos que era a signoria de Mussolini, que tinha um primogênito com ele! Inútil, Ida teimava e sofreu um implacável processo de perseguição. Tornou-se cega para a vida. Nunca aceitou aquilo que as pessoas dizem que uma mulher separada ou desquitada ou divorcida ou ainda abandonada pelo marido deve fazer: refazer sua vida. Ida negou-se a ver que o psiquiatra estava apaixonado por ela. A resistência minou qualquer sinal de bom senso. O filho , coitado, nunca teve a menor chance. Viveu pobre e abandonado, sem a menor dignidade.

A sociedade italiana dos anos 30 era tão repressiva quanto o Irã de Ahmadinejad. O que o ditador reservou à Ida possui analogias com o castigo imposto à Sakineh, a irariana supostamente adúltera que foi condenada à morte por apedrejamento. A história das mulheres sempre foi repleta de dor e sofrimento. Por isso, a personagem Ida apesar de contraditória é um símbolo da luta e resistência feminina contra a opressão. O caso de Ida é mais um exemplo, mas que espanta, causa estranhamento e vergonha na Itália de hoje. Daí a sua importância, a personagem trágica, que não abre mão de seus direitos e luta até o fim.

No fascismo italiano, a condenação estendeu-se ao filho bastardo. A mãe, Ida, só não foi executada, mas teve a condenação de ser presa em um hospital psiquiátrico. O destino do filho é mais trágico ainda. Inocente, o jovem torna-se dominado e exasperado pela figura do pai, a quem nunca conheceu. Imitava com exasperação, até à exaustão, o discurso louco, desesperado e tresloucado de Mussolini .

Instituições disciplinadoras como prisões, hospitais psiquiátricos e internatos, apesar de terem sido criadas no século XIX, funcionam a todo vapor na Itália fascista dos anos 30, prenunciando o nazismo que se abaterá sobre o mundo, logo em seguida. "Vincere" causou polêmica na Itália quando estreou. O fantasma do fascismo ainda tira o sono dos italianos.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Baarìa, a porta do vento

"Baarìa" ou Bagheria é uma comuna italiana. Fica na Província de Palermo, Sicília, possui 50.321 habitantes e é a cidade natal do diretor. Giuseppe Tornatore conta a história da Itália, faz a crítica do fascismo, da máfia e até do comunism0. O tom é de comédia. Tornatore diz coisas sérias, mas faz suas críticas em tom leve e de brincadeira. Acompanha a trajetória de Peppino Torrenuova, desde menino, sem aprofundar o interior do personagem. Assim todos os personagens interessam na narrativa, que busca captar o tempo e os acontecimentos que cristalizaram a história da pequena Baarìa. Através do conjunto dos personagens Tornatore mostra as mudanças e a passagem do tempo, em sua cidade natal e na vida de Peppino, o personagem principal.

Tornatore aprendeu com os mestres Fellini e Ettore Scola. Lembra os maneiristas dos séculos XVI e XVII, que sem superar o Renascimento, tentavam fazer de uma outra maneira, reelaborando os clássicos. Os mestres Fellini e Sccola chegaram à perfeição no cinema. Assim Tornatore imita suas maneiras buscando lapidar a sua arte cinematográfica. Dá a sua contribuição pessoal e tira partido dos melhores precedentes. Busca resultados notáveis, e talvez seja justamente isso o que incomoda os críticos.

Fellini em sua narrativa mostrava o mundo e os personagens como um grande circo. Aliás era o circo que o fascinava.Os personagens eram caricatos, uns ensadecidos, outros loucos mas todos nos emocionavam muito. Ettore Scola em " O baile" também reconstituía parte da história da França abrangendo muitas décadas. Em "O Jantar" desenrolava muitos dramas paralelos, muitos personagens e muitas vidas, reunidos em uma mesa de jantar. Era uma comédia dramática, que tecia a relação entre todos os personagens. Scola privilegia a política, bem como Tornatore. Mas ninguém vai superar a crítica da miséria que Scola faz em "Brutti, sporchi e cattivi" (Feios, sujos e malvados), bem como ninguém vai superar o Fellini de "Abismo de um sonho", um dos filmes de minha vida.

Assim "Baarìa" , bem como "Cinema Paradiso", nos provocam aquela sensação da ilusão do já visto. Coisas da psicologia, embora tenhamos a sensação do já visto, nenhuma situação no mundo se repete, igual, duas vezes. Então por que não aproveitar o cinema de Tornatore?

A favor do diretor temos a escolha dos atores, Peppino (Francesco Scianna) e Mannina (Margareth Made). Ambos são lindos. Ele parece ter inspirado escultores clássicos como François Rude, na Marselhesa (do Arco do Triunfo). Rosto e perfil do ator são uma verdadeira escultura. Ela lembra Sofia Loren, não tanto pela semelhança, mas devido à beleza e sensualidade.

Já vimos em outros filmes itaianos, a pobreza da região de Palermo, rochosa e desértica. Confirmamos, continua belíssima. Os personagens são lugar comum, como os pobres interesseiros que só querem comer massa, ou o patrão desonesto que explora e tortura seus empregados, as velhas fofoqueiras, os jovens belos e inexperientes, os velhos desdentados e cansados. Os adolescentes que só pensam em sexo. Não importa, apesar da caracterização simplória, a crônica de "Baarìa" possui o seu lado interessante.

Divertido mesmo foi o amigo de Peppino que queria se matar. Pediu um veneno para o farmacêutico e se deitou para morrer... Impagável e irritante era o cara que vendia dólares na frente da Igreja, onde tudo acontecia tudo, desde passeatas, casamentos, protestos do Partido Comunista, bem como a prepotência da máfia. Com o passar do tempo passou a vender canetas.

As reminicências de Tornatore viraram filme. Se um pedritense fizesse um filme do tipo, apareceria a igreja, o Padre José, o Goda - o mendigo que dava um soco nas costas da gente- o Baldito, as beatas d. Maria e a d. Netinha -a professora de Educação Física, uma gorda que não fazia exercícios -, a Caixa d´Água, as brigas entre o Partido Trabalhista , o PL e a UDN. Tudo em volta da Praça e da Caixa d´Água, sem esquecer - é claro! - a Rua da Estação. Ha! E sem esquecer, óbvio, o Cine Teatro Glória, que era a verdadeira jóia da cidade! É isso gente, o filme de Tornatore mesmo maneirista universaliza as lembranças do diretor e remete também às reminiscências de cada um de nós.


Nanny McPhee e as lições mágicas (Nanny McPhee and the Big Bang)

Emma Thompson ganha todas em Nanny McPhee. Estamos no cinema, a experiência é tão agradável quanto abrir um livro de histórias infantis, todo aquarelado, com cores luminosas, muitos azuis, amarelos e toques de vermelho, com a vantagem da animação e de tudo o que o cinema pode nos oferecer. Nanny McPhee é a continuação de "Nanny McPhee, a babá encantada". O filme, dirigido por Suzana White, se baseia no livro de Christiana Bond, em que a Nanny chama-se Nurse Matilda.

Isabel Green (Maggie Gylhenhall) é a mãe. Ewan Mc Gregor, o pai, está ausente servindo no exército, é a Segunda Guerra Mundial. O elenco recomenda: Emma Thompson é a adorável Nanny, um bicho de tão feia, com um dentão a dominar a boca. Ninguém liga, amamos essa Nanny que faz mágica para conter as crianças pestinhas. Pena que o pai apareça tão pouco. Ewan Mc Gregor continua com aquele sorriso cativante, que mostra os dentes superiores e inferiores. Acho adorável esse sorrisão com muitos dentes à mostra. Na sequência temos o antipático Ralph Fiennes, Maggie Smith e Rhys Ifans.

A vida em família já estava bagunça, com uma mãe que não conseguia acabar com a briga entre seus três filhos. Chegam dois sobrinhos que moram na cidade. Vieram passar uns dias na fazenda. Loirinhos e almofadinhas são muito mal educados, aprontam demais! A menina chega ao cúmulo de pegar o vestido de noiva da mãe. Anda para todo lado com aquele vestido lindo, que vai ficando preto de barro... Então surge o milagre! Nanny McPhee, a babá, que somente aparece quando alguém precisa muito dela. Mas, mesmo que você a ame, ela não ficará com você se não for necessário.

Com toda a diplomacia e muita magia Nanny vai conquistando a criançada aos poucos. Entre uma lição e outra vai contando os louros. Hoje aprenderam a primeira lição, parar de brigar. Hoje aprenderam a segunda lição, dividir irmamente. Até que conseguem chegar à quinta lição, aprender a ter fé.

A história é cheia de peripécias, com porquinhos que correm, roliços e gordinhos, nadam sincronizado. E ainda temos pássaros inteligentes que pensam e arrotam muito! E mais uma motocicleta voadora!

A platéia é formada por pais e seus filhinhos. Os pais adoram, o filme fala por eles. E parece até que as crianças aprenderam a lição mesmo! Se você não tiver uma criança para levar pela mão, não ligue, vá assim mesmno!


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

White Material

O filme estrelado por Isabelle Huppert e Christopher Lambert chama-se "White Material". Na África, o "white material" refere-se aos objetos de uso exclusivo dos brancos. A diretora é Claire Denis, que trabalhou com Win Wenders e Jim Jarmush no início de sua carreira.

Não gostei muito do filme e com certeza não sou fã de Isabelle Huppert. O filme conta uma história de violência, guerra e rebeliões em um país da África. Isabelle é Maria, uma francesa, proprietária de uma fazenda de café. Na África ela representa a mulher colonizadora. Ninguém é fiel à Maria, que não possui aliados e não se alia a ninguém. Uma das pessoas influentes locais - que faz negócios excusos com seu ex-marido André (Christopher Lambert)- lhe diz que pessoas muito brancas, como ela, causam mal estar, na África, podem ser perseguidas e são portadoras de uma espécie de mau agouro, ainda mais com os cabelos vermelhos como os dela. Lembro do texto sobre a oposição entre escravo e senhor, da questão do escravo em seu desejo de branqueamento para aproximar-se da figura do senhor.

Diante da série de rebeliões todos abandonam o local. O filme mostra essa movimentação de pessoas, todos fugindo. E Maria, em um vai e vém, tenta voltar para casa. Sempre a situação se repete e Maria, como em sua própria vida busca uma saída pela estrada. Sempre está tentado ir a algum lugar ou voltar para casa, onde tudo foi abandonado.

Muitas vezes não há som, as pessoas não falam. Lembra os filmes de Glauber Rocha, os retirantes no meio da estrada, caminhando na desolação, como no cinema novo brasileiro. O que mais impressiona é a figura de Maria, uma mulher delicada, com vestidinhos curtos, pernas finas, muito frágil, muito branca, pálida mesmo, com aqueles cabelos muito vermelhos. O vento bate em seu corpo, revela formas magras e assexuadas. A gente se pergunta como é que pode? Isabelle Huppert alguma vez foi símbolo sexual? Se algum dia o foi, em "White Material" transformou-se. Então é uma grande atriz? Não sei dizer...

Vê-se destruição e personagens problemáticos, ninguém se salva. Lembra a idéia de destruição e desesperança que Saramago mostrou em "Ensaio sobre a Cegueira". Maria houve do amigo com quem conversa, que não soube educar o filho. Não impressiona-se com o comentário. Ri, sacode os ombros. O filho, depois de ser abandonado nu, por jovens que lhe roubam, arma-se, raspa o cabelo e prepara-se para uma guerra particular. Une-se aos rebeldes, querendo destruir tudo e todos.

Christopher Lambert é André, o ex-marido. Mas se Christopher nasceu em 1957, tem 53 anos. No filme parece muito mais velho. Quase não acreditamos que o belo e sexy Lord Greystoque, de 27 anos em "Greystoke, the legend of Tarzan" (1984) transformou-se no desgastado André de "White Material". Observem, a diferença é de arrepiar!

Bem, André tenta armar um plano de fuga, mas sabe que Maria dificilmente aceitará. O final é o desencontro e a vitória da loucura, do abandono e da destruição. Ninguém é herói, todos são alienados e destróem uns aos outros. Como denúncia de um mundo caótico e desumano o recado de Claire Denis funciona. Falta mesmo é a esperança.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ao anônimo que me escreveu sobre o filme Origem

Bom, é verdade que muitas vezes não consigo não contar o final do filme. Mas "Origem" é tão complexo, dá tantas voltas que a gente nem sabe onde anda, se no sonho ou na realidade. Pretendo revê-lo. Ha! Esta semana não pude ir ao cinema. Estava fazendo uma pesquisa do meu trabalho sobre "Estruturas de Madeira na Rio Pardinho Strassendorf", uma pesquisa de história da arquitetura da imigração alemã. Pretendo publicar um CD. Assuntos de minha vida acadêmica.

Abraços, continue lendo meu blog. Fico feliz por ter leitores!
Doris Maria

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Destinos Ligados

O colombiano Rodrigo Garcia dirige e escreve o roteiro de "Destinos Ligados" (Mother and Child), produzido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu. O tema é a adoção. Mas o filme poderia chamar-se "Esqueceram a mãe adotiva". Como isto pôde acontecer? Vejam só, Elizabeth (Naomi Watts) foi dada em adoção quando ainda era bebê por Karen (Alexandria M. Sallig), uma mãe adolescente de 14 anos. Após quarenta anos, Karen (Annette Bening) não supera a perda da filha. Elizabeth por sua vez, nunca superou o trauma da rejeição e do abandono. Teme ser abandonada mais uma vez, por isso, abandona os outros antes que a abandonem novamente.

Ao referir-se à mãe adotiva, afirma que nunca teve afinidade com ela. Resume-se a esta frase a referência que Rodrigo Garcia faz à mãe adotiva. Imperdoável, na adoção ela é uma figura importante. A história não se sustenta sem a sua presença. É verdade que o diretor cita uma candidata à mãe adotiva, Lucy (Kerry Washington), cujo destino termina cruzando-se com o de Elizabeth. Mas a mãe adotiva de Elizabeth fica no limbo.

Annette Bening é uma grande atriz, daquelas mulheres que assumem suas rugas e marcas do tempo. Convence como Karen, a mulher solitária que não se perdoa por ter abandonado seu bebê, e que passa a vida procurando-o.


O elenco não poderia ser melhor, além de Annette Bening, temos Samuel Jackson e Naomi Watts, um trio imbatível. Naomi é a advogada bem sucedida que usa o corpo para conseguir o que deseja. Mas sendo tão competente profissionalmente, de fato não precisaria fazer isso, porque o faz? A jovem loura fria não aceita a adoção, não aceita a mãe adotiva. Gostaria de punir sua mãe biológica, como isso não é possível dirige seus ressentimentos e sua dor submetendo a todos com quem se relaciona. A mãe adotiva é o primeiro alvo. Não é considerada mãe. Não serve, no mínimo é considerada a mãe má, apenas uma substituição. O alvo da mágoa é a mãe que abandona, Karen. Mas que paradoxalmente Elizabeth também procura sem parar. Enquanto não a encontra, exerce seu poder sobre todos com quem se relaciona.

Paul (Samuel Jackson), o chefe, desde o início é a figura passiva no relacionamento. Veja-se a primeira cena de sexo entre os dois, onde Elizabeth comporta-se como a fêmea dominante, quase uma abelha rainha. A personagem é trágica, leva sua teimosia ao extremo. Não aceita o amor de Paul, muito menos dividir as responsabilidades da maternidade. Elizabeth somente aproxima-se de pessoas fracas, que se deixam dominar. Até o médico parece não fazer muito esforço para exercer sua profissão com a competência necessária. Deixa-se levar por Elizabeth, e seus sentimentos auto destrutivos.

Karen, a mãe que abandona é uma personagem interessante. Mal arrumada, de cara feia, com os cabelos escorridos, está sempre muito mal humorada. De início cuida da mãe, no leito de morte. Não consegue fazer nada de bom em sua vida, enquanto não souber o paradeiro da filha. Muito menos estabelecer um bom relacionamento com a mãe. Em seu desgosto, não se relaciona bem com ninguém. Até que cai do céu o homem ideal para Karen. Acreditem, esses milagres acontecem no cinema! Bradford Alex é o colega de trabalho que se apaixona por ela, apesar de suas grosserias. Existe uma certa perversidade no comportamento das duas, Karen e Elizabeth. Aos poucos vemos Karen entregar-se ao amor. Aceitar que sua mãe conseguia relacionar-se melhor com a empregada do que com ela. Aceitar que sua mãe tenha presenteado a filha da empregada com uma correntinha de ouro.

Para traçar a trama do destino, temos Lucy (Kerry Washington) a jovem que deseja ser mãe. Aliás faz qualquer coisa para ser mãe. Para ela ser mãe adotiva não é problema. O marido fraqueja, some da história e de sua vida, muito provavelmente. Lucy é uma mulher adorável. Insegura como mãe adotiva, tenta acertar. Ah! ela não desiste nunca de querer acertar. Eis o grande mérito da personagem.

Incrível é a visão do sistema judiciário americano que - no filme pelo menos- permite que mães doadoras, como Cristi ( Simone Lopez) escolham os futuros pais adotivos de seu filho, façam entrevistas com os candidatos e o diabo a quatro. No Brasil, pelo menos, esses absurdos não acontecem, um casal somente poderá adotar legalmente uma criança, quando estas questões estiverem esclarecidas; para evitar o arrependimento da mãe após o nascimento do bebê. Lucy passou por todas essas humilhações e só conseguiu seu bebê por teimosia e persistência. Dá-lhe Lucy! Ao que parece o filho de Lucy- que era a cara do Samuel Jackson- terminou sendo uma produção independente.

Não deixe de assistir a "Destinos Ligados" para entender toda a trama e ligações do destino. E vejam, o mais incrível, "Destinos Ligados" não nos pega tanto pela emoção, parece ser mais cerebral do que pura emoção, em um tema que é só emoção.