quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Skyfall


Sam Mendes dirige mais um filme da série James Bond. Pela terceira vez Daniel Craig interpreta 007, o agente com licença para matar. Difícil dizer qual dos três filmes é o melhor. Acho que é este último, emocionante e eletrizante. Pelo menos a cena de perseguição deixa o espectador com o coração na mão. O insólito acontece, uma retro escavadeira morde um trem em alta velocidade. Depois de ficar voando, pendurado no trem pela mão direita, Bond consegue pular para dentro. Indiferente e genial, fala para a fiscal: "Inspeção sanitária!". Deus, é de bater o pé! Ficamos sabendo que teremos muitas emoções.
É a vigésima terceira vez que a série é estrelada. Depois de Sean Connery, Craig é o melhor. Skyfall é o lugar de origem do último Bond, filho de Andrew e Monique Lacroix Bond. Quando ele retorna à casa paterna, encontra um cenário em ruínas. Da casa sobram as paredes de pedra, recordações e problemas mal resolvidos.
Desta vez, a história está mais focada na relação entre Bond e M (Judy Dench) a chefe do M16. Ela participa mais das cenas e torna tudo muito interessante. Bond é encarregado de solucionar o caso do desaparecimento de uma lista contendo nomes de agentes que combatem organizações terroristas. As coisas começam a dar errado quando Bond é alvejado pela colega de trabalho Eve Moneypenny (Naomie Harris) que obedece a uma ordem impensada de M. Na luta corpo a corpo com o assaltante Patrice, Eve não consegue focar o alvo. Dá o tiro errado e um corpo cai no abismo. Bond é dado como desaparecido. M comparece a seu funeral e lhe rende homenagens. Quando se reapresenta, Bond é um agente combalido e envelhecido. Volta com um pouco de raiva. Sentimento este que o acompanha e nos inquieta. Justamente, está presente a idéia de superação, o que torna o filme belíssimo. Enfim, precisa ser submetido a novos testes para readmissão. M é pressionada a aposentar-se.
O novo chefe, Gareth Mallory representado por Ralph Fiennes, é tudo o que se pode imaginar sobre o oposto de Bond, fleumático e desinteressante. Para o cúmulo, usa calças largas com suspensórios. Do corpo, não se pode imaginar nada. Sabe-se que foi herói um dia. O que Bond não sabe é que foi reprovado nos testes. Apesar de tudo, apesar de ser a durona, apesar de ter sido ela quem ordenou Eve a dar logo aquele tiro errado, M o ama. Do jeito que for sempre ficamos indecisos em relação a qual tipo de amor. Como filho? Como homem ou como a extensão de seu ser? Como aquele ser forte e saudável que faz o que ela não consegue fazer, eliminando os inimigos da pátria mãe, Inglaterra?
O resto do elenco aparece, mas desta vez com menos brilho. A figura do assassino sanguinário e vingador é representada por Javier Barden. Com os cabelos pintados de louro, Barden representa direitinho o homem vingativo que odeia as mulheres. Mas somente entre nós, Barden é um chato. Assim, tudo bem se é o assassino.
Depois de sessenta minutos de filme, vi que faltava alguma coisa. Claro! Faltava uma mulher, uma heroína à altura de Eva Green, a Vesper Lynd de Cassino Royale. Naomi é engraçadinha, mas tão trapalhona quanto um jogador de futebol dando gol contra. Quanto à outra mulher sexy do filme, Sévérine (Bérénice Marlohe), aparece pouquinho. Não tem tempo para representar outro papel que não seja o de vítima, o que não recomenda ninguém. Sofrendo muito, Sévérine é mais uma vítima do sanguinário e insuportável Javier Barden - Raoul Silva- que obriga Bond a disputar com ele, qual dos dois acerta o copo de bebida que ela equilibra na cabeça. Não sobra tempo para Bond envolver-se com Sévérine.
Enfim, o que minha irmã gêmea - "ma soeur jumelle"- sempre fala é que Daniel Craig é uma tesão. É um dos mais belos corpinhos do cinema. Se não possui grande estatura, isso não tem a menor importância. O caminhar dele é leve, não caminha, desliza como um gato, com o corpo perfeito e o abdômen mais reto que se possa imaginar. Lindo! Falo para minha "soeur jumelle", o que é isso mulher? Ela dá boas risadas!Prepare-se para a sequência final onde Bond tem tempo para fazer seus acertos com M. Será que os dois conseguirão resolver suas diferenças? Diga-me, por que Daniel Craig faz tanto sucesso como Bond? Será pelo caráter do personagem que mostra lassidão, tédio e indiferença, com aqueles olhos líquidos de quem tem aversão à autoridade em razão de problemas não resolvidos na infância? Ou dificuldade em relação ao que resolveu fazer na vida?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As vantagens de ser invisível

Sentir-se invisível é muito mais comum do que você pensa. Sair da invisibilidade pode ser o grande desejo de metade da humanidade. Entretanto, sair do invisível e de fato ser portador de invisibilidade pode ser a condição de alguns seres humanos.
A questão pode se referir a uma auto condenação ou uma espécie de punição imposta pelo outro, a qual o inseguro se submete. Pense, é possível que para alguns de seus falsos amigos seja melhor que você se torne invisível. Só assim eles poderiam sair da invisibilidade. Palavra adequada para essa criaturas: mediocridade. Fuja dela como o diabo da cruz. Só assim você terá uma mínima chance de candidatar-se à felicidade. 
"As vantages da invisibilidade" trata desses questionamentos, da questão do "ser ou não ser invisivel". Do ser invisível por motivos de insegurança, ou da condenação a um estado de invisibilidade, ou ainda do ficar no limbo, sem ter plena consciência do porquê.
Stephen Schbosky escreveu e dirigiu o filme. O drama se desenrola na adolescência de Charlie (Logan Lerman), quando ele troca de escola e se sente, mais que nunca, só e abandonado. Encontra  Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson). Muito mais do que a garota, Charlie e Patrick sentem-se estranhos num ambiente escolar hostil e cínico. Poderiam pensar que são extra-terrestres. No ônibus ninguém sentaria perto de um ET. Charlie se sente como esse ET. Os relacionamentos com as meninas são um desastre. Após muito sofrimento e reflexão, Charlie se questiona sobre a capacidade de amar. Alguém consegue sintetizar: aceitamos o amor que julgamos merecer e por isso mesmo aceitamos que nos tratem mal. 
As razões do drama do adolescente são profundas. Aos poucos o espectador é introduzido na fixação que o menino tinha na tia; nos terríveis problemas que  podem acompanhar  crianças molestadas sexualmente. Seria a razão maior da invisibilidade.
Enfim "As vantagens de ser invisível" trata com seriedade dos dramas familiares e de como cada um pode  superar a condição de mediocridade que impõe aceitar um amor de migalha, um amor de curta estatura por não sentir-se grande e merecedor.  
 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Moonrise Kingdom

Assistir a " Moonrise Kingdom" é uma experiência semelhante a de abrir um livro de histórias infantis, com belíssimas ilustrações.  Desde o início, nas cenas que mostram as crianças em seus recantos dentro de casa, ouvindo música clássica, tudo é o próprio décor de contos de fadas.  As tomadas externas da casa da família Bishop, pintada de vermelho, os planos parados com o policial de um lado e a mulher com a bicicleta do outro, tudo são como ilustrações de um livro. Esse mundo aparentemente idílico está caindo de podre.
No fundo, as próprias experiências do diretor Wes Anderson podem estar se manifestando em sua obra de arte. Quem sabe, o autor se sentido também um menino diferente,  resolve contar as experiências de um outro menino órfão...
A história se passa na Ilha de New Penzance e conta a vida de Sam Shakusky (Jared Gilman) filho de pais adotivos. Aliás pais que o abandonam, pais que  não sabem o que é ser pai adotivo. Ser pai ou mãe é para sempre. Não se abandona filho nenhum,  muito menos adotivo. Pois os pais malucos do filme abandonam Sam simplesmente porque o menino apronta as suas.
Em "Moonrise Kingdom" vemos os adultos de um lado simplesmente vivendo, vidas vazias, sem ter nada para oferecer aos filhos. Com adultos palhaços e confusos, que não sabem porquê fazem o que fazem todo dia, as crianças tomam a dianteira. Precisam amadurecer e tomar as próprias decisões. Abrem os próprios caminhos. Pais adúlteros, crianças de fato abandonadas numa situação de quase orfandade. 
Sam, o órfão problema,  frequenta um acampamento de  escoteiros, o Khaki Scout, comandado pelo monitor  Randy Ward, tão idiota que sua ronda matutina pelo acampamento parece uma grande brincadeira. No mundo do disfuncional só pode florescer o amor dos 12 anos. Suzy (Kara Hayward)  e Sam fogem de casa, ela leva o gato, seis livros e o toca-discos. Conseguem até um monitor para celebrar a cerimônia de casamento.
A crítica sutil do diretor ao mau desempenho dos representantes das instituições que decidem a vida das crianças faz o espectador dar boas gargalhadas. O monitor é ridículo - belíssima interpretação de Edward Norton. Da mesma forma, Walt Bishop (Bill Murray),  o pai de Suzy  não é menos patético com seu barrigão. Dá-lhe cerveja, para apagar as mágoas de homem traído. Pasmem, mais engraçado ainda é o chefe militar, interpretado por Harvey Keitel. Na hora de fugir, o coronel precisa buscar o remédio! Termina sendo carregado nas costas pelo monitor. Tilda Swinton, como toda assistente social está a serviço do poder constituído e não pensa em mais nada, a não ser obedecer. Não enxerga um palmo diante do nariz. Sabe apenas cumprir ordens. Terá que levar Sam para um reformatório onde talvez ele seja submetido a uma terapia de eletro choque! Pode? 
Com personagens tão caricatos só podemos rir! Quando até a natureza se rebela contra os absurdos que estavam acontecendo, o policial Sharp (Bruce Willis) que amou uma vez na vida e perdeu a coragem de viver, tem o seu momento de iluminação, movido por não se sabe que força, ele faz acontecer. A cena final é deliciosa, não perca!

domingo, 14 de outubro de 2012

Os infratores

John Hillcoat dirige "Os Infratores", um filme envolvente, violento, que oferece tudo que você busca no cinema. Não é exatamente uma nova versão do faroeste porque o herói não é um solitário e não parte sozinho no final, em busca de novas aventuras. A história é verdadeira e conta a vida de três irmãos, Forrest, Howard e Jack. Estados Unidos, 1929, estamos em plena Lei Seca. Óbvio, os heróis são os três irmãos Bondurant. Aliás os três viveram a lenda e o próprio Forrest acreditava que eram imortais. A história foi escrita por Matt Bondurant, neto de Jack. O livro chama-se Wettest County in the World. John Hillcoat afirma que sua inspiração veio dos filmes que assistia quando adolescente , " Meu Ódio será tua Herança" , de Sam Peckinpack e "Uma Rajada de Balas" ou "Bonnie &  Clide", de Arthur Penn. Eu completaria a lista com "Caçada Humana", do próprio Arthur Penn,  com Marlon Brando. Os diálogos vem do próprio livro de Bondurant.
Filmes como os clássicos dos anos 60 e  "Os Infratores" despertam verdadeiro turbilhão no espectador, algo  indescritível. Deve ser essa a razão que explica nossa paixão pelo cinema. John Hillcoat conta uma história de pessoas comuns que as circunstâncias colocam no limite. O drama familiar fica implícito nas relações entre os três irmãos. O mais velho, Tom Hardy - o Forrest- é instigante, olhar duro, intenso, de meter medo e boca belíssima, deixa o próprio Tom Hardy para trás. Dá para entender? A ficção sempre é mais bela e emocionante que a realidade. Por outro lado, você consegue imaginar Forrest como o monstro Bane que batia em  Batman (Christian Bale) em " O Cavaleiro das Trevas Ressurge" , acredite, é o mesmo ator! 
Jack , o caçula, tem  um modelo de perfeição a ser seguido, o próprio irmão mais velho. Para os menores, o irmão mais velho sempre é mistério e adoração. Jack (Shia LaBeouf)  não foge à regra. Todas as suas açóes tem por objetivo transformá-lo em alguém, no mínimo muito semelhante ao irmão em termos de coragem e valentia. Ou quem sabe? Jack se atreve a ter o sentimento de conseguir superar o irmão? Mesmo quando está impreganado desse desejo, mantém intactos  o amor e adoração pelo irmão mais velho. Defeitos no irmão? Jack, não enxerga,  ninguém vê. Tanto que todos acreditam piamente na imortalidade do trio que escapou tantas vezes da morte. Howard  ( Jason Clarcke) o irmão do meio, talvez seja o que mais sofre. Como Forrest, Howard, não fala muito,  é incondicionalmente fiel à família. Prefere distribuir estrondosos socos no inimigo, para deleite do espectador.
Os ingredientes de violência são da própria história dos americanos. Sadismo e maldade tudo é incorporado no inspector corrupto Charlie, vivido por Guy Pearce. Charlie é enviado pela máfia de Chicago para  sufocar o sucesso dos irmãos Bondurant. Para completar o charme e interesse deste belíssimo filme temos a presença de  Gary Oldman, como o famoso gangster Floyd Banner. " Os Infratores" conta ainda com a presença de personagens muito doces, Mia Wasikowska, como a namorada de Jack e Dani De Haan, como o esperto amigo de infância  que descobre o carro a álcool! Finalmente, a bela Jessica Chastain tem  Faye Dunaway  de "Bonnie and Clide" como o modelo a ser seguido nesta recriaçâo dos grandes filmes do cinema .

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Hotel Transylvania

As crianças amam os monstros exóticos que circulam no Hotel Transilvania do Conde Drácula, dirigido por Genndy Tartakovsky.
Afinal de contas, a história toda é uma discussão sobre a relação entre pai e filha. Essa que deixa as mães do lado de fora da porta. Embora, no fundo, toda mãe deseje um pai para sua filha, quando isso acontece e os dois a deixam de escanteio, ela se pergunta: - " Oh meu Deus! Será que minha filha me ama?"
No caso a dúvida não existia, a mãe tinha sido morta num incêndio criminoso, deixando a garotinha Mavis, de 118 anos aos cuidados do pai.
Drácula, o super-pai vampiro deseja festejar o aniversário de Mavis. A festança deve acontecer no Hotel Transylvania, para onde são convidados os mais ridículos e bizarros monstros.
A produção da Sony é impecável, personagens insólitos circulam para lá e para cá. Diálogos inteligentes e bem humorados repetem conversas de adultos. Afinal, o que criança mais gosta é imitar pai e mãe. E depois estes ainda se admiram com as saídas de seus pimpolhos. Espelho deles próprios! Até por isso Hotel Transylvania é tão divertido!
Rapidez de montagem genial, em frações de segundo Mavis se transforma numa morceguinha com asas, ou o Drácula vira um morcegão torrado pelo sol. Alcança um avião em milésimos de segundo!
Cada monstro traz uma novidade. A Múmia é impagável com a enorme dentadura e dois pontos iluminados fazendo às vezes de "olhos".
A festa seria um mega sucesso, não fosse aquele menino - humano ter caído no Hotel Transylvania por acaso!
O pior, ou o melhor? Apesar de Johnny - em termos de beleza - não chegar aos pés da estonteante vampirinha, travestido de primo do Frankstein, ele apronta as suas e conquista o coração de Mavis. Em dúvida ela se pergunta: - " Você é ridículo ou é fofo?"  
Fiel ao ditado que toda donzela tem um pai que é uma fera, Drácula faz o que pode para estragar o namoro.
Até que um dia a casa cai e a ficha cai. O pai percebe que é preciso criar os filhos para o mundo, que nossos bebês de 30 ou 118 anos precisam poder fazer suas próprias escolhas. Kalil Gibram já tinha
dito isso há muito tempo:
- " Vosso filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. Embora vivam convosco, não vos pertencem..."
É isso, muito bem humorado, Hotel Transylvania conta ainda com as vozes de Adam Sandler, Selena Gomez e Steve Busemi. Não perca!