quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Último dia do ano!

Teoricamente meu blog está vencendo um ano. Não é bem assim. Arrisquei o primeiro texto em setembro de 2008. Mas criei o blog com a ajuda da minha filha Lucia, somente em março de 2009. Por isso naquele mês tem 26 textos postados!

Assim, para comemorar a passagem de ano aqui está a minha lista dos melhores de 2009, ou seja dos melhores filmes que vi e comentei:

1. Avatar
2. Inimigos Públicos
3. À procura de Éric
4. Bastardos Inglórios
5. Em Tempos de Paz
6. Caramelo
7. Jean Charles
8. Katyn
9. Gran Torino
10. Entre os Muros da Escola
11. O curioso Caso de Benjamin Button
12. Bolt, o super cão

Feliz Ano Novo!

Avatar em 3D e legendado é o máximo

Para o leitor que me perguntou se eu tinha assistido Avatar em 3D ou 2D:

Amo filmes em 3D! Acho que o melhor mesmo é ver Avatar legendado e em 3D, embora algumas pessoas prefiram outras formas, como dublado ou 2D. Alguns me falaram que querem assistir em 3D e dublado para não perder nada, outros preferem em 2D. Por via das dúvidas quando eu rever Avatar pela terceira vez, pretendo repetir o 3D legendado.

FELIZ ANO NOVO! Abraços, Doris Maria

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A bela Robin é Pippa Lee

Robin Wright Penn é Pippa Lee no filme de Rebecca Miller,"A vida íntima de Pippa Lee". O enredo custa a clarear, quando isto acontece percebemos que não nos identificamos com os personagens. Nem quando Pippa abraça os filhos! Nem no momento em que Herb Lee, o marido de Pippa (Alan Arkin), está morrendo, no hospital, e a família decide desligar os aparelhos que o mantém vivo. E agora? O que faremos? Nos emocionamos somente com Avatares, cachorros , princesas e sapos? Afinal cinema é emoção, não é mesmo?

A história é narrada pela personagem Pippa Lee, na idade madura. Robin Wright interpreta Pippa, uma mulher alta, bonita, magra, loira, quarentona e triste. Nem por isso é menos charmosa e encantora. Robin quase sempre interpreta mulheres torturadas, patéticas e enigmáticas. Lembram? Ela é a jovem companheira de Tom Hanks em Forrest Gamp.

Pippa é casada com o editor, Herb Lee (Alan Arkin), um homem mais velho. Tão velho, que pensamos que era o pai de Pippa no início do filme. Alan Arkin ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua atuação em Pequena Miss Sunshine. Em Pippa... parecia ele mesmo, um velho senhor de 75 anos. Personagem antipático, velho teimoso, não aceitava os cuidados que sua mulher lhe proporcionava. Sabia que estava com problemas cardíacos e piorava a situação. Demonstrava ser insuportável, chato e indiferente. Para magoar Pippa resolve traí-la com a melhor amiga- Winona Ryder, que está linda!- . Uma coisa é certa, a velhice não torna as pessoas melhores. Pode acentuar as manias e a intolerância. Aquelas criaturas que nos parecem chatas e insuportáveis não é porque estão velhas e acabadas, sempre foram assim...

Monica Bellucci é Gigi Lee, no passado era a mulher de Herb. Passa pelo filme como um relâmpago e escandaliza a platéia, com sua loucura. Juliane Moore especialista em dramas, agora é Kat, tia de Pippa, uma mulher desalinhada, lésbica e ciumenta. Aliás, o drama de Rebecca Miller possui cenas leves e tragicômicas como o suicídio de Gigi Lee e as brincadeiras perigosas, de Kat com a sobrinha e uma amiga. Outra cena em que não conseguimos conter o riso é quando Sandra Dalls ( Winona Ryder) tenta o suicídio, cortando os pulsos com o aparelho de depilar, - comprado em supermercado- e óbvio, não corta nenhuma veia é claro. Sandra tortura-se por ter traído Pippa, sua melhor amiga.

Três atrizes vivem Pipa Lee, aos sete anos é Madeline McNulty, uma menina fofa, loira e estranha , no mínimo. A jovem Pippa é interpretada por Blake Lovely. Nessa idade, Pippa é uma mulher exótica e misteriosa, que não esconde a necessidade de ser protegida, por isso escolhe o velho Herb. A atriz Blake Lovely está tão bem como a jovem Pippa, que rivaliza com Robin.

O personagem mais interessante é a mãe de Pippa, Suky Sarkissian (Maria Bello). Suky tinha transtornos psíquicos. Era uma mulher muito agitada. Vivia trabalhando intensamente nas lides domésticas. Suky brincava de bonecas com a filha, como se esta fosse a sua Barbie. Adorava Pippa. Mas tinha crises de depressão. Tomava medicamentos que a deixavam chapada e elétrica. Como se diz, não parava quieta, um minuto! As pílulas eram uma mistura que incluía anfetaminas. O pai era ausente. Pai ausente é o maior drama. Mas como é ausente ninguém nota! hi! hi! hi! Resultado, Pippa quase pirou também. Tomou os remédios da mãe, sentia-se culpada pelas crises de depressão de Suky. As duas loucas se abraçaram e gritaram, uma tragédia!

Pippa abandona pai e mãe, vai para a casa da tia. Não dá certo. Cai na gandaia. Exagero, não era para tanto. Ao que parece eram os anos sessenta e a revolta da juventude estava no auge. Seria uma explicação plausível. Termina vagando sozinha até encontrar Herb, um editor que morava em um casarão branco. Parecia uma casa de Richard Meyer - arquiteto norte americano-, com planos brancos, muito vidro, e muita arte moderna. O próprio Herb dizia que morava em um aquário. Percebe-se que esse tipo de filme trata dos problemas da burguesia, mais ou menos como os filmes de Woody Allen, que também têm o "simpático" Alan Arkin no elenco.

O tempo passa, com ele a relação se desgasta. Pippa sente-se culpada por ter abandonado a mãe. Tem crises de sonambulismo. Repentinamente, no meio do sono faz o que seu coração insiste em sentir, procura em Chris Nadeau uma outra forma de amor, mais puro e compensador. O único problema é que Keanu Reaves - o Chris - é um ator muito sem graça, tipo apelo sexual zero. Não convence ninguém. Rebecca deveria ter escolhido outro ator. Por isso, infelizmente, pode-se pensar: Nunca vi um filme tão cansativo, com tantos atores famosos. Ah ! Na cena de sexo tórrido entre o casal, os louros ficam para Robin, pois Reaves mal aparece.

Assim Pippa aposta que o melhor mesmo é sonhar acordada. E viva o futuro, pois somente saberemos quando ele virar presente!


domingo, 27 de dezembro de 2009

O Solista

Desejo e Reparação e Orgulho e Preconceito são os filmes recentes que recomendam a obra do diretor inglês de 37 anos apenas. Em O Solista, Joe Wright trata do tema da esquizofrenia, uma desordem cerebral crônica e incapacitante. Jamie Fox faz o homeless Ayers, apaixonado pela música. Desde menino Nathaniel estudava música. Criança aparentemente normal dedicava-se com exagero aos estudos. Até o dia em que teve a primeira crise de pânico.

Robert Dawney Junior é o jornalista que escreve sobre muitas vidas. Por acaso encontra Ayers tocando violino embaixo do viaduto, na cidade de Los Angeles. O local tem uma energia negativa, é sujo e decadente. Para Ayers é tudo o que precisa para expressar seus sentimentos, um espaço aberto para viver sem as pressões insuportáveis da sociedade.

As cidades têm seus espaços negativos, sujos e decadentes. O tempo passa para esses lugares. As requalificações são inúteis. Muitas pessoas não gostam e não sabem porque. Sentem-se mal. Teriam sido cenário de terríveis acontecimentos? Ninguém sabe as razões dessa rejeição. Ayres, ao contrário, precisava desses lugares para entrar em sintonia com a cidade. Sua música elevava-se e enchia de graça as ruas, os viadutos e a trama urbana. Joe Wright filma o espaço urbano de diversos ângulos. Em alguns momentos a cidade é como um quadro. Vira uma planta de situação, a música sobe, embala o canto dos pássaros e passeia pelas ruas elevadas, viadutos e pontes. Finalmente sai através da luz no fim do túnel, como um feliz presságio.

Steve, o jornalista escritor pára. Alguma coisa inexplicável o atrai para o talento de Ayers. O músico não lhe dá atenção, absorto em repetir algumas notas sem o menor sentido. Ayres é
Nathaniel Anthony Ayers, o adolescente que tinha um futuro promissor na música. E termina nas ruas. Agora é um homem de meia-idade. Nesse momento tem início a grande amizade entre os dois. Nathaniel atravessa a tênue linha que define o caráter do que é considerado normalidade. Steve percebe seus problemas, envolve-se com o amigo. Tenta trazê-lo de volta ao mundo que, segundo seus valores considera que seria o melhor para Ayers.

Consegue convencê-lo a residir na comunidade Lamp, que abriga sem-tetos e pessoas com problemas psicológicos. Como a mulher que reclamava que quando lhe davam lítio, cessavam as vozes dentro dela. Cessavam as palavras que lhe traziam conforto.

Aos poucos Ayers sofre a influência de Steve. O jornalista consegue uma apresentação para ele no Walt Disney Concert Hall, de Frank Gehry. É hilariante a entrada dos dois empurrando o carrinho de mão do músico, no prédio high tech de Frank Gehry. Finalmente, a tão esperada grande crise acontece. O coordenador do Lamp inutilmente alerta Steve: "Os valores dos que se denominam normais não podem ser impostos aos portadores de transtornos psíquicos, nem aos sem teto. O psiquiatra somente poderá ser consultado se o paciente assim o desejar. Os medicamentos, que poderiam devolver-lhe uma vida com menos sofrimento, somente poderão ser prescritos se o paciente aceitar a medicação. Da mesma forma a internação. Nenhum doente com esse tipo de problema pode ser internado se não o desejar." Ao que parece, no Brasil, não existe unanimidade em relação a essa concepção de tratamento. Mas isso é com os psicólogos e psiquiatras.
Concordamos sim, que Steve envolve-se em demasia com os problemas de Nathaniel.

O filme transita entre os encontros e desencontros dos dois. Steve têm dificuldades com a ex-mulher, a quem é extremamente ligado. Não consegue resolver seus problemas, muito menos os de Ayers. Finalmente aceita que, para Nathaniel Anthony Ayers o grande passo foi dado. O fato de ter conquistado um amigo poderá mudar a química de seu cérebro... Steve continua sua atividade jornalística e Ayers continua sendo um portador de transtorno cerebral que conquistou um grande de amigo.

Com certeza um verdadeiro amigo é tudo o que precisamos! Não esqueça os amigos são raros e precisam ser cuidados e cultivados como os bonsais. Os atores Jamie Fox e Robert Dawney Junior estão ótimos em seus personagens. Mas o destaque fica com Robert, que parece estar de bem com a vida mesmo! Não perca este belo filme!


Para Eder

Eder,

Agradeço e retribuo os votos de um Feliz Natal e Ano Novo. Também faço votos que consigamos ser criativos e persistentes em nossos blogs, e que nossos leitores gostem de nossos textos.

Abraços, Doris Maria

sábado, 26 de dezembro de 2009

Sempre ao seu Lado

Se você quiser pensar ou sentir sobre as perdas que sofremos ao longo de nossas vidas não deixe de assistir ao belo filme do sueco Lasse Hallström (o mesmo de "Chocolate"). A história é verdadeira, mas o diretor não parte para a pieguice. Não é necessário. É como se Hallstrom tivesse a chave daquele compartimento onde estão encarceradas as nossas emoções, aquelas que teimam em sair quando menos esperamos. Ele abre essa porta quando quer, e as pessoas choram, e choram muito.

"Sempre ao Seu Lado" ("Hachiko: A Dog's Story") é uma história real que aconteceu na década de 1930, no Japão. A primeira adaptação para o cinema foi o filme japonês de 1987 , Hachiko monogatari. Foi escrito por Stephen P. Lindsey. É a história da amizade entre Parker e seu chachorro Hachi. O remake de Hallstrom é estrelado por Richard Guere, Joan Allen e Sarah Roemer.

Basta assistir ao trailer oficial para saber que dono e cachorro se separam no decorrer da narrativa. Assim não tem porque não contar a parte principal da história. Emociona saber da relação e da lealdade entre o akita e seu dono. Para depois, simplesmente não suportar a idéia que o cachorro fica sozinho.

Deve ser o mesmo sentimento que temos em relação a nossos filhos. Esperamos morrer antes deles. Esperamos ter encaminhado e educado nossos filhos, para quando morrermos eles não precisarem mais de nós. Assim, o triste na história de Hachi , o insuportável é saber que um belo dia, sem mais nem menos, acontece a inversão da ordem natural das coisas. O dono não volta mais. O cachorro fica ali, esperando, sem entender, por mais de 10 anos. Isso é insuportável para quem vê o filme. Mesmo assim, queremos muito, muito assisti-lo, precisamos desse filme.

Como a história é verdadeira, provavelmente aconteceu com muitos outros Hachis. Com Guarani, o cachorro do meu tio Epaminondas, o Gurizinho, é certo que aconteceu. Meu tio mudou-se do campo para a cidade e não o levou . O animal era amarelo, forte e de raça indefinida. Antes da tragédia Guarani era bonito!Virou um andarilho, andava pela estrada, da chácara para a cidade. Não conseguiu encontrar o dono. Ninguém importou-se, todos continuaram levando suas vidas. Guarani desapareceu, nunca mais foi visto. Ninguém escreveu sobre ele. Morreu como viveu, no anonimato, sem lembranças. Todos o esqueceram. Colocaram a culpa nele: "Cachorro maluco e fujão!". Vendo Hachi entendemos Guarani, depois de tantos anos.

Hachi teve a sorte não viver no Brasil. Óbvio, é desnecessário explicar o porquê. Apesar de sua tragédia foi ajudado e auxiliado pelos amigos que fez defronte à estação onde esperava o dono. A repercussão da história resultou em três estátuas de bronze representando Hachi. Uma no local escolhido por ele, num canteiro da praça, defronte à Estação de Trem Shibuya, em Tóquio, na "Saída Hachi"onde diariamente esperava seu dono voltar do trabalho às cinco horas da tarde.

Os cachorros são lindos quando pequenos, Hachi era um akita fofo que despertava em cada um de nós o fator fofura. Leia a revista Veja de 16 de dezembro de 2009. Nossos cachorros já foram bebês fofíssimos como ele. Depois de 10 anos esperando, Hachi surge na tela como um velho cachorro, sofrido, sujo, peludo, de andar cambaleante. Acompanhamos a velhice e o sofrimento de nossos cachorros. Nunca esqueceremos o primeiro olhar que trocamos, quando nos vimos pela primeira vez. Como nunca esqueceremos a tristeza do último encontro. Até a natureza chorou. A chuva torrencial era de uma tristeza inenarrável. Sobraram cinzas, documentos e muitas lembranças. Se Hachi somente dignou-se a jogar bolinha para agradar ao dono que tanto amava, em nossas lembranças, nosso Hachi aparava todas as bolinhas no ar, era o Romário no campo de futebol de nossa sala.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O amor pede passagem

Mike (Steve Zahn) vive com os pais. A família é proprietária de um motel de beira de estrada, no Arizona. O ar de distração do moço é evidente. Repentinamente entra Sue Claussen ( Jennifer Aniston) no Kingman Management. Mike é atingido no instante pela flecha do Cupido. Você sabe como é aquele amor de adolescente? Lembra? Mike sente-se tonto, faz besteiras, derruba objetos. Bate com a cara na porta. Não é mais um adolescente. Embora seus olhos azuis e arregalados sejam os de um menino literalmente enfeitiçado pela jovem empresária.

Jennifer Aniston está muito bem como Sue, amadureceu. A personagem não esconde um coração instável e despedaçado. Sua parada no motel é para descansar das cansativas viagens como executiva, para vender quadros medíocres para empresas corporativas. É Sue que define Mike com clareza: "- Um míssil sem direção". Efetivamente Mike improvisa, não sabe qual objetivo perseguir. Idiotamente oferece como brinde da casa, sucessivamente uma garrafa de vinho barato e outra de champanhe. Atravessa o estado em busca de Sue. Mas não é isso que ela ambiciona.

Se Mike é um menino em busca de um sentido para a vida, é ele que faz a leitura de sua grande paixão. Sue o descarta para casar-se com Jango (Woody Harrelson), o milionário ex-punk. Mike desabafa afirmando que se ela pensa que ele é um míssil sem direção, ela é uma pessoa que sublima seus problemas, tentando salvar a humanidade. Antes é preciso cuidar de si mesmo. Sue, na opinião de Mike, não se ama e não se cuida. Transfere para o outro, tentando salvar a humanidade com seus tickets para mendigos. Nada mais correto.

A mágoa é imensa. Mike busca um sentido para sua vida no budismo. Mas distrai-se durante sete horas com o jogo de basquete! Procura encontrar-se consigo mesmo. Devagar com muito sofrimento vem o amadurecimento. Steve rouba a cena. Está ótimo como o desmiolado Mike, em transformação. Observe a mudança no olhar do jovem. A cena que marca a virada é a recuperação da corrente de ouro, presente da mãe.

Margo Martingale interpreta Trish, a mãe de Mike. Doente, preocupa-se com a vidinha estagnada do filho e com os problemas do marido Jerry ( Fred Ward) , ex- combatente do Vietnã, um paradão, que não cumpre nenhuma das promessas que faz a si mesmo. Fred Ward está magro e envelhecido. Da mesma forma que Sam Shepard, emprestou seu charme ao filme Os Eleitos, em 1983 (isso há 26 anos atrás!). Trish sente que Sue é uma boa moça para seu filho, apesar de possuir um coração destroçado, como afirma.

A comédia romântica possui uma reflexão que toca o espectador, e momentos de riso, que contam com a presença de Jango. Woody Harrelson de início faz rir com seu nome de cachorro. Igual ao do meu cachorro Django do Baipendi (Bolinha para os íntimos). De pelo azul ruano , era o cocker mais bonito que já vi. O nome cai como uma luva, para o milionário, que além de ex-punk, treinava e colecionava cachorros. Podava seu jardim em formato de pit-bull, e tinha enriquecido de forma monótona com o iogurte.

Cuide, na mais bela das cenas, Mike com a ajuda do amigo chinês faz uma serenata para Sue, mulher casada, onde declara seu amor e canta, rimando, que quer fazer amor com a mulher amada. Um modelo para derreter um coração feminino! O diretor Stephen Belber foi muito sutil na direção desta bela comédia romântica.



sábado, 19 de dezembro de 2009

Avatar

James Cameron escolheu a dedo o ator para Avatar, não poderia ter sido melhor. Lembram-se de Marcus Wright, o ciborgue de O Exterminador do futuro, a salvação? Uma criatura dramática, meio homem, meio máquina e muito sexy? É Sam Worthinghton, o ator que em O Exterminador... nos fez esquecer que o mocinho da história era Christian Bale, o John Connor.

O filme é marcante, magnífico e belíssimo. É merecedor de muitos outros adjetivos semelhantes. Cameron fala de coisas que não pensamos no cotidiano, mas que podemos ter sonhado um dia.

Avatar é uma palavra muito antiga, que virou lugar comum hoje em dia. A wikipédia afirma que Avatar, no hinduísmo é a manifestação corporal de um ser imortal. É a Lenda de Aang, nos desenhos animados da Nickelodeon, é a realidade virtual, ou ainda é o personagem central de games Ultima. Avatara também é o álbum da banda portuguesa Blasted Mechanism. O avanço da internet coloca o Avatar na avant garde, todos falam no seu Avatar. Nos games o Avatar é a projeção do nosso ser mais íntimo. Nos transformamos naquele ser virtual perfeito e poderoso. Mas daí para uma fuga da realidade é um passo. Os verdadeiros problemas e qualquer tentativa verdadeira para solucioná-los passam longe da realidade virtual e do Avatar. O cinema, hoje, o coloca além dessas preocupações .Se eu nunca quis saber de Avatar, me apaixonei pelo filme de Cameron.

Celebra a alta tecnologia.
Os atores, a história, a interpretação estão extremamente amarrados pela tecnologia digital. Nós, espectadores ficamos tão envolvidos pela história que não temos tempo para pensar nos passos de elaboração do filme. Os humanóides são pura tecnologia. Cameron filma cenas reais, combinando-as com animações. Mistura as duas para criar a realidade que vemos na tela. Ele afirma que a câmera virtual permitia que visse o que filmava, instantaneamente na animação virtual. (Veja O Estado de São Paulo, 2-12-09). Assim as caras que Zoe fazia, seus grunhidos animais, seus gestos ferozes de desaprovação, que apareciam na Naityri virtual, de fato eram expressões da própria atriz. Ficou ótimo na tela.

Sam Worthinghton encarna Jack Scully, um cadeirante, ex-mariner, que substitui seu irmão morto, na esperança de um tratamento para ter suas pernas de volta. A ficção se passa em 2154, quando um esquadrão de marinheiros viaja à lua de Pandora, que gira em torno do sistema estelar Centauro. O ponto alto do filme - lembra muitos outros de ficção - é a descoberta da cientista, dra. Grace Augustine, interpretada Sigourney Weavear, que permite a transferência da mente e do espírito de um ser humano em estado inanimado, como que vegetativo, para outro. No caso, para um humanóide azulado, magérrimo, com 3,00 m de altura, com rabo e orelhas pontudas - que mexem-, olhos enormes e dourados. São os
na'vis. Assim, Jack Scully ganha seu próprio Avatar e conhece a bela Naityri (Zoe Saldanha), que não aparece com seu próprio rosto em nenhuma cena. Ela é a alienígena, filha do grande chefe.


James Cameron, em entrevista à imprensa, quando lhe perguntam se confirmava que Avatar tinha traços de muitos outros filmes como Pocahontas, westerns, Titanic e O Exterminador so futuro responde: "Você pode achar o que quiser. É sua opinião. Cada um vê meus filmes como bem entende. Eu conto a história que quero contar." Assim, lá vai o que penso:

Sigourney Weaver, especialista em viagens interplanetárias, com sua personagem Ripley, em Aliens, o passageiro, também não poderia ter sido melhor escolha. Transforma-se na doutora que opta pela salvação do mundo defendendo a natureza e os povos da floresta. O filme é uma crítica ao capitalismo selvagem que emprega métodos - muito além do terror -, em nome do lucro. A explicação parece simplória, mas é verdadeira. Em Pandora abunda um metal muitíssimo valioso, o "unobtanium", sonho dos países que desejam dominar o mundo, leia-se EUA. O vilão da história é o comandante Coronel Miles Quaritch, que explica a Jack Scully: se ele deve obediência à cientista, é a ele - Miles- que Jack deve se reportar.

Assim, Jack cai na floresta. Seu objetivo é infiltrar-se para informar seus companheiros de destruição. Mas transforma-se em seu próprio Avatar. Seu novo mundo é a floresta, seu povo é povo de sua amada Naityri. Vive aventuras inimagináveis, enquanto seu ser original, o próprio Jack vê aquilo tudo dentro de uma câmara de ressonância magnética. Vê de olhos fechados, de costas para a realidade. Aliás, não é a realidade do nosso mundo que interessa, mas o sonho, a fantasia. Jack - o deficiente- fica feliz, quando vê que tem pernas fortes, corre e corre muito. Seu coração aguenta tudo, é muito forte. É tudo o que um paraplégico, ou um revascularizado gostaria de ter. Jack é cada um de nós, que em sonho supera suas deficiências. Jack é o paraplégico que quer pernas para correr. É o cardíaco que quer um coração forte para correr a maratona. É o deficiente imperfeito. É qualquer ser humano, que sonha ser forte e perfeito.

Como afirma Cameron cada um vê o que quer ver. Então, Avatar é uma homenagem ao cinema, aos cinéfilos, àquelas criaturas que desde seus tenros 8 anos, vivem com os olhos arregalados e grudados na telona do cinema. Àqueles caras que sabem tudo de cinema, são verdadeiras enciclopédias ambulantes sobre a sétima arte. Dispensam arquivos digitais, possuem uma memória prodigiosa. Mas que não querem nem saber das coisas práticas da vida, planejar sua vida financeira, nem pensar. Jack, deitado dentro da cápsula, é o cinéfilo apaixonado, sonhando e vivendo muito mais de mil e uma aventuras. Vendo e vivendo todos os filmes do mundo. Enquanto ele, Cameron conta as histórias que quer contar. Avatar fala desse amor ao cinema também. Homenageia todos os filmes que tratam de temas semelhantes. Até aqueles seriados, em preto e branco, em que o mocinho sentava numa cadeira, relaxava, deixava a cabeça cair e se transformava em um super homem, que voava ou fazia coisas extraordinárias.

Tem gente que mistura filmes, por exemplo, poderíamos misturar Avatar, com 2012. Poderíamos pensar que as previsões dos maias para 2012 tem suas explicações em comportamentos destrutivos como os do grupo de mariners que destroem a floresta e espalham o terror. Ou ainda, com o comportamento das nações que dão as costas para os perigos do aquecimento global na Conferência de Copenhagen. Assim nenhum de nós ficaria surpreso se acontecesse algo terrível em 21 de dezembro de 2012... que transformasse o mundo ... sei lá como...

Mas Cameron traz uma mensagem otimista. A religiosidade de um povo que acredita em sua divindade maior, a união dos povos e a própria natureza trazem a revanche e a vingança da própria natureza. Para nosso mundo só falta a união dos povos...


domingo, 13 de dezembro de 2009

A Princesa e o sapo

A Princesa e o sapo é um filme novo, mas tem a aura dos filmes da Disney de antigamente. É lindo e emocionante. Não é para menos, John Lasseter, o mago da Disney, depois de esbanjar categoria na animação computadorizada Up Altas Aventuras, em 3D, dá marcha a ré no tempo e faz um filme delicioso, feito à mão.

A Princesa e o sapo é um desenho bidimensional, que remete direto aos antigos filmes da Disney, A Bela Adormecida, Bambi, A Dama e o Vagabundo, Branca de Neve e os Sete Anões ou Cinderela. É para encantar adultos e crianças. Diga-se de passagem, eu era a única adulta sem uma criança pela mão, enfim... Foi possível lembrar a felicidade que os álbuns de figurinhas da Disney provocavam em mim e em minha irmã.

O filme transgride as regras dos contos de fadas. Tudo acontece às avessas. A princesa é negra, bela e cor de chocolate. Quando beija o sapo, que não é outro senão o príncipe Naveen, é ela que vira sapo, e não o sapo que vira príncipe! E para revolucionar ainda mais, o filme é ambientado em New Orleans, terra do jazz e da arquitetura de tradição francesa.

O casal de sapinhos até que é bonitinho. São verdes e musculosos. Notaram como os sapos tem músculos bonitos? Os desenhistas da Disney que o digam. No decorrer da história, a paixão entre os dois, cada dia aumenta mais. Até que o príncipe virado sapo se declara para Tiana: - "Eu te amo"'. Ao que uma criança na platéia responde: - "Eu não"! ( risos). Assim como a princesa, que tinha horror a sapos, ainda não nos habituamos a tocar nesses bichinhos.

O personagem que ganha o nosso coração é o desdentado vagalume, apaixonado por Evangeline, a estrela D'Alva. A Princesa e o sapo, assim como Bambi trata da morte, um tema difícil para todos. É tão triste e emocionante quanto Bambi. Nos faz chorar, e muito. A morte do vagalume é uma luzinha que se apaga devagarinho. Não há o que fazer. Nenhum dos amigos consegue impedii-la. Ele vai embora devagarinho e se transforma numa estrela, que nem o Rilquinho, o meu cachorrinho que morreu. Imagino que ele está no céu me esperando. Então aparece aquela luz ao lado da estrela D'Alva. É o vagalume que virou estrela. Como tudo é passageiro neste mundo, ele agora ficou eterno.

O filme é dirigido por John Muskers e Ron Clements e recomenda máximas como: "Se você pedir um favor para uma estrela, não esqueça, ela é responsável pela metade, o resto você consegue com muito trabalho". Ou, "É preciso cavar fundo para conseguir tudo o que você deseja".

O pântano é visto em cenas belíssimas. Como não comparar com Andersen? O vagalume desliza pelo rio dentro da folhinha esverdeada, num ambiente opressivo e fantástico. Parecia a Mindinha de Hans Christian Andersen, que foi roubada por uma sapa. A menina minúscula que dormia numa casca de noz, deslizava pelo rio, dentro da folha, prometida para o sapo, filho da sapa. Vejam que as duas histórias tem sapos e folhas que navegam pelo rio...

Eu, que já estava conformada em ver os sapinhos apaixonados durante quase todo o filme, pensei que os autores tivessem rompido mesmo com todas as regras, e os mantivessem sapinhos até o final. Mas não! para alegria da criançada e nossa, eles viram príncipe e princesa como todo bom conto de fadas! Não deixe de assistir A Princesa e o sapo. Consiga uma criança e leve-a pela mão. É um belo filme!


domingo, 6 de dezembro de 2009

Coco Avant Chanel

O filme é charmoso e chic como a personagem Coco Chanel. A diretora Anne Fontaine faz uma biografia autorizada pela atual Maison Chanel. Assim não se arrisca por caminhos perigosos que poderiam denegrir a imagem de Madame Chanel. Muito menos conta o final de sua vida solitária, na riquíssima suite do Hotel Ritz, na Praça Vendôme, o endereço mais caro de Paris.

Andrey Tatou faz Gabrielle Chasnel, o verdadeiro nome de Coco Chanel. A atriz está linda e delicada como sua personagem. É como imagino a verdadeira Coco Chanel, uma mulher que estava à frente de seu tempo.

Chanel viveu na década de 20, em mundo dominado pelos homens. Fez seus arranjos e amantes de interesse. Mas, a dar-se crédito a Anne Fontaine sua verdadeira paixão foi Arthur Capel (Alessandro Nivola). O ator é outro charme dentro do filme, com um sorriso irresistível, de propaganda de pasta de dentes, com caninos levemente ponteagudos. Ouvi falar que homens com caninos ponteagudos são sexy. Concordo. Arthur Capel, o Boy, morre em um acidente de automóvel em 1924. Quem sabe... ao ver seu grande amor morrer, Madame Chanel tenha se dedicado somente a sua outra grande paixão, a moda.

Anne Fontaine dá destaque a relacionamento entre Chanel e Etienne Balsam (Benoît Poelvoorde), o milionário criador de cavalos, que a aceita e protege. Mas destaca também a cena em que os dois homens, Balsam e Capel, disputam a posse de Chanel, em uma espécie de solidariedade masculina, em que um, cede, civilizadamente, a mulher ao outro. Ao que parece, nenhum dois era ligado ao casamento nos moldes tradicionais. Muito menos Chanel, que parte para Paris, instalando-se e vencendo no mundo na moda.

Além de Balsam e Capel, Madame Chanel teve outros amantes, homens e mulheres. Outros amores, como o compositor russo Igor Stravinski. Ou ainda o espião nazista, Hans Dincklage. Quem sabe se eu tivesse assistido ao filme Coco Chanel & Igor Stravinski, do holandês Jan Kounen deixasse de pensar que Boy foi a grande paixão de Chanel... Tornou-se amiga do Duque de Westminster, Salvador Dali, Isadora Duncan, Jean Cocteau e Picasso. Sempre esteve ligada à alta sociedade e às vanguardas dos anos 20. No filme sua trajetória é de contos de fada.

Chanel é uma personalidade transgressora. Veio para contestar o casamento tradicional e a moda opressora que não libertava a mulher. Queria que elas se livrassem dos espartilhos. Achava que a moda parisiense da época, cheia de babados e colares as transformava em doces de confeitaria. Sua proposta inovadora teve resistência . Até seu amante Boy delicadamente lhe diz que não estava habituado a despir um menino. Chanel usava e experimentava em si mesma a sua nova moda.

O look Chanel se eternizou e seu perfume, Chanel No 5, hoje em dia é ainda mais conhecido que no tempo de Marilyn Monroe, que usava para dormir apenas duas gotas do perfume!


Los Abrazos Rotos

Nada como o título no original, Abrazos Rotos. Diz mais do que Abraços Partidos. Pedro Almodóvar atrai o público pela expectativa que existe em relação ao seu trabalho. Em seus filmes sempre acontece alguma grande tragédia, que mistura lágrimas e risos. Abrazos Rotos não foge à regra. Conta uma história que Almodóvar vinha pensando há tempo. A do diretor de cinema que devido à uma fatalidade, fica cego. Lluís Homar interpreta o cineasta cego, que conta sua própria tragédia. Diz que se chamava Mateo Blanco, mas que sentia que precisava viver outras vidas com mais emoção. Então passou a assinar seus roteiros, textos e peças literárias com o pseudônimo Harry Caine. Mais do que uma homenagem a algum ator de mesmo nome parece uma crítica sutil ao frisson que o cinema americano provoca em outros países. Em off, Harry Caine conta que se apaixonou por Lena (Penélope Cruz) enquanto rodava seu filme. Uma paixão devoradora, um amor louco surge entre a atriz principal ( do filme dentro do filme) e diretor. O ciúme doentio do marido traído, Ernesto Martel (José Luis Gómez) provoca a grande tragédia. No acidente fatal Lena morre e Mateo fica cego. Nesse momento o diretor sente que Mateo morreu, restou apenas Harry Caine. Passa a ser cuidado por Judit (Blanca Portillo), sua fiel diretora de produção, que mantém o filho, Diego (Tamar Novas) trabalhando com os dois.

Abrazos Rotos tem personagens estereotipados. Ninguém é santo nessa história. Lena é responsável por suas desditas. Ao representar o papel da atriz sofredora que não conseguia realizar sua grande paixão, deveria estar consciente de ter vendido a si mesma, como mercadoria, para o marido Ernesto Martel. Rico e traído, não menos problemático, ele vive de espionar sua mulher. Para descobrir os deslizes da musa, contrata extras para filmar tudo o que se passa em off nos estúdios de filmagem. A leitora de lábios lhe diz o que apunhala seu coração, as palavras de amor que Lena pronuncia para o amante. De olhos arregalados assiste a esses filmes espúrios, ao lado da leitora, a ótima atriz Lola Duenãs. Lembram-se dela, em Mar Adentro? Martel é rico e covarde , daqueles que gostam de sofrer.

Abrazos Rotos fala de cinema, da grande paixão de Almodóvar. Sempre temos a câmera que tudo vê, e o olho que vê o filme. Ou é o próprio Abrazos Rotos, ou é o filme dentro de Abrazos. Ou ainda é a homenagem ao cinema, no filme de Rosselini, Viagem à Itália. Almodóvar mostra a cena mágica, o casal eternizado em pedra. Abraçados e mortos, os amantes foram vítimas do vulcão Vesúvio. Ingrid Bergman, ao lado de George Stevens, sofre ao ver aquela trágica cena de amor. Almodóvar recria a cena. Em seu último beijo, no momento fatal, Mateo e Lena são filmados. Um Abrazo Roto é eternizado pela câmera amarrada ao lugar do carona, no carro dirigido por Ray X ( Rubén Ochadiano).

Almodóvar em seus filmes trata da homossexualidade. Na maior parte das vezes, o personagem é trágico. Desta vez o homossexual é minúsculo, um joão-ninguém, a quem os outros não dão a menor importância. Para vingar-se do mundo, Ray X se transforma no olho que tudo vê. No olho que poderá fazer chantagem, documentar uma tragédia ou o próprio crime. Aqui temos a homenagem a Hitchcock. O carro de Ray X é a janela indiscreta de Hitchcock, que se abre para o mundo. Vemos o filme através de janela do carro de Ray.

O sobrevivente Harry Caine busca uma razão para viver, tentando remontar seu filme adulterado por Ernesto Martel. Como um verdadeiro melodrama Abrazos Rotos é bom por muitas razões. Entre elas me faz lembrar os dramas de novela que minha mãe ouvia no rádio. No tempo que não existia TV, em Dom Pedrito. Ela ouvia novelas, em que o personagem se chamava Tabarra, um proprietário de terras. Era tão prepotente e abusador do poder quanto Ernesto. Lembra também o cinema mexicano dos anos 50-60. Para outros, o filme adere ao cinema noir dos anos 50.

O fecho da história trágica traz Judit Garcia, a personagem cuidadora. A que se beneficia com a tragédia dos outros. A que fica feliz com a deficiência de Mateo, que morre e se transforma no pobre e cego Harry, dependente de Judit. Assim como os sádicos precisam dos masoquistas para viver, os cuidadores precisam dos fracos e dos frágeis para fazerem suas boas ações. Se sentirem bem e felizes. Poderíamos chamar de boa ação o comportamento de Judit? Nada como se entregar a um cuidador, para um fraco e indeciso- que não consegue andar por suas próprias forças- sentir-se seguro e amparado... Esse era Harry. Nunca dispensou Judit, que finalmente revelou seu segredo.

Observe, nos filmes de Almodóvar sempre há um filho à procura do pai. O segredo finalmente será revelado. A ordem será restabelecida, quando, após a tempestade, Harry, Judit e Diego passarem a formar a família informal dos tempos atuais.


Para Pedro Ceballos

Pedro,

Nada como um comentário brilhante e inteligente para sacudir o meu blog.

Abraços, Doris Maria

domingo, 29 de novembro de 2009

JULIE & JULIA

Se você gosta ou não de cozinhar, isso não importa. Importa sim se você vai gostar de saber sobre as vidas de Julia Child e Julie Powell. O filme é dirigido por Nora Ephron, especialista em comédias românticas. A diretora baseou-se nas autobiografias das autoras. O livro de Julia Child é My Life in France, o de Julie Powell é Julie & Julia.

Meryl Streep interpreta Julia Child e Amy Adams, Julie Powell. Confesso que preferi a beleza e a meiguice de Amy Adams ao talento de Meryl Streep vivendo a americana Julia Child. Se a diva do cinema interpretou com tanta perfeição o seu papel, que se transformou naquela americana grandona e sem graça, então, nas aparências, deveria estar tudo bem. Mas não está.

Não gostei da forma como Meryl Streep caracteriza sua personagem. Julia pronuncia as palavras com a boquinha pequena e quase fechada. Seu sotaque estridente torna-se insuportável , à medida que se repete. Fiquei triste. O que era aquilo? Após uma hora de filme sem grandes conflitos ou acontecimentos, quando Meryl Streep abria a boca para falar- boquinha pequena olhinhos enrugados - eu tentava ver as horas. Como a própria Julia Child foi apresentadora de TV, sua imagem com certeza deveria estar à disposição da produção do filme para Meryl informar-se sobre a personagem... Me pergunto se Julia teria realmente aquele sotaque e aquela dicção...

Julia Child era casada com o diplomata Paul Child (Stanley Ticci), que mais parecia o secretário de Julia que seu marido. Paul é enviado à França. Sem conhecer o idioma e sem ter o que fazer, Julia se interessa pela gastronomia francesa. Matricula-se no Cordon Bleu. Vence o preconceito dos colegas de aula e da proprietária da escola, que não acreditava em seu talento. Muito menos, que uma americana pudesse apreciar a cozinha francesa.

Quarenta anos depois, Julie Powell, uma americana que trabalhava dando assistência às vítimas de 11 de setembro, resolve sacudir o marasmo de sua vida, criando um blog, The Julie/Julia Project em que relata todas as receitas publicadas por Julia Child em seu livro. O objetivo de Julie é testar e escrever no prazo de 365 dias, todas as 534 receitas de Julia.

O desencontro é o tema do filme, que se alterna contando os tempos das duas, Julia e Julie. A vida de Julie muda. No início sua mãe acessa o blog. Aí não conta, mãe tiete não dá ibope. Mas aos poucos o blog se transforma em sucesso. Através de Julia, Julie encontra o seu caminho.

Julie que sonhava um dia encontrar Julia, para que ela provasse as próprias receitas, fica sabendo que a velha senhora - nascida em Pasadena- não gosta de seu trabalho. Logo ela, Julie, que tanto idolatrava Julia, e que chega até a deixar um pacote de manteiga como lembrança no museu Julia Child. As duas nunca se encontram. Porque a " chef de cuisine", nos seus noventa anos, não aceitava o sucesso da outra Julie, baseado em suas receitas?

O fato de Julia Child aprovar ou não o sucesso da jovem Powell não muda nada. 270.000 pessoas tinham acessado o blog de Julie até abril de 2009! Um espanto! De fato o filme é bom para quem consegue comer muita manteiga, muita carne gorda, muito patinha de porco, muitos frutos do mar sem imaginar que suas veias um dia - por esse motivo- poderão estar com estenose severa. Pelo visto as veias das duas, Julia & Julie nunca tiveram esse problema. Ainda bem!


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

À Procura de Eric

Estreou hoje À Procura de Eric, o novo filme do diretor inglês Ken Loach. É de dar nó na garganta. Agradeço (a quem?) por ter ido sozinha. Quando termina, a emoção é como uma enxurrada de água que toma conta da gente. Leva tempo para passar. Aí fico sabendo, amei o filme!

Ken Loach tem 73 anos e está no auge da produção cinematográfica. Filho de operários, faz de seu cinema uma discussão sobre a vida da classe operária. À Procura de Eric não foge à regra. O filme mostra as condições de vida dos carteiros na Inglaterra. O amor pelo futebol, a truculência da classe operária, e a dedicação dos ingleses aos bares e bebidas alcoólicas.

Eric (Steve Evets) é salvo por Eric, o mito. O personagem é muito bem construído. Eric é um homem derrotado, um carteiro dedicado ao culto de seu herói, Eric Cantona, o grande astro do futebol francês. Passa a conversar e discutir suas amarguras e fraquezas com o verdadeiro Cantona ( Eric Cantona).

Eric sentiu sua fragilidade aos 21 anos. Não conseguia enfrentar o pai, um homem que o massacrava. Fazia com que se sentisse menor. Nunca se perdoou por ter abandonado a mulher amada, Lily Devine ( Stephanie Bishop) , no auge da juventude.

O filme se passa quando Eric já é um homem maduro e precocemente envelhecido. Como Steve Evets conseguiu caracterizar tão bem o personagem? O carteiro tinha todo tipo de carência. Morava numa casa tão mal arrumada que quando Lily o visita, pergunta-lhe se tinha mandado embora o mordomo ou se estava de mudança. Mais triste, faltavam alguns dentes em seu sorriso... Tentava cuidar dos enteados, da melhor forma. Inútil, os jovens não lhe davam a mínima atenção. Não trabalhavam, passavam o dia na frente da TV, assistindo a programas de sexo explícito e metidos em más companhias.

O descontrole de Eric em relação à própria vida é evidente. Não controla mais seus atos. É devorado pelo cotidiano medíocre. Quase se mata em um acidente de carro. Eric Cantona surge e provoca a reviravolta. O herói é como o alter ego de Eric, um outro eu que vê o mundo de outra forma. Abre os alhos do pobre Eric e provoca o desejo de superação. Tudo começa tão lentamente que sentimos a primeira transformação, quando o carteiro começa a fazer exercícios. Corre com Cantona e usa a camisa vermelha do Manchester United. As vitórias são pequenas , mas da maior importância. Agora, as coisas não irão passar em branco para Eric.

Pensem bem, qualquer um de nós pode ser Eric! Com certeza ele procurou ficar acompanhado de um bom espírito. É como se Eric cantasse o próprio mantra, aquele que ele mesmo tinha inventado e dissesse, " Eric fica comigo, Eric Cantona fica comigo". E Eric sentia-se de verdade, mais leve! Acompanhado por Cantona começou a enfrentar obstáculos e até a surpreender seus colegas carteiros.

Ken Loach dá o seu recado pela boca de Cantona:

- " É preciso saber dizer não!"
- "É preciso se arriscar dentro dos limites que você consegue! "
- "Se você não consegue falar com ela, escreva !"
- "Às vezes é preciso arriscar, é preciso compartilhar!"
- "Antes de surpreender aos outros, precisas surpreender a ti mesmo"!

E nesse esquema de auto ajuda Eric vibrava com o Eric Cantona. Eric o jogador, abandonou o futebol em 1998. Está mais pesado, mas continua uma presença e tanto. Cantona, outro eu de Eric fala de suas vitórias no futebol e Eric literalmente baba por seu herói. Conhece cada lance de gol do jogador. Cantona lhe mostra qual foi o grande passe de sua vida e diz a que veio: "É preciso compartilhar e confiar nos companheiros, do contrário estamos perdidos, senão não somos ninguém".

Após ouvir o mais decisivo conselho de Cantona: "Sempre temos mais possibilidades do que pensamos!". Eric, o carteiro junta a última gota de coragem e compartilha seus problemas com os amigos, muitos e muitos carteiros. Eric consegue surpreender a si mesmo.

O final é surpreendente também. É como se vissemos nossa filha na formatura. Aquilo tudo também acontece conosco. Tem muito relação com a vida de cada um de nós. Assista a Eric à procura de Eric e encontre-se a si próprio. Cresça junto com ele. E ouça o último conselho de Cantona:

-" As gaivotas seguem os barcos pesqueiros porque sabem que sardinhas serão jogadas ao mar". Obrigada Ken Loach pelo belo espetáculo!


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

LUA NOVA

Lua Nova, a sequência de Crepúsculo, estreou com grande sucesso. No Brasil já foi visto por mais de 1 milhão de espectadores. Chris Weitz - o diretor- transporta para a tela, a saga de Stephenie Meyer, que inicia com Crepúsculo, depois Lua Nova, Eclipse e Amanhecer. O filme é amado pelos jovens, que compareceram em peso e sentaram ao fundo da sala de projeção. Acho muito engraçado isso de observar o comportamento dos jovens. Ouvi que eles gostam da série por que é uma história de amor, tipo Romeu e Julieta. Afinal Lua Nova também trata de um amor impossível, em que a morte pode ser considerada como um fecho para uma situação amorosa insustentável. Até agora não aconteceu aquele final shakesperiano, terrível e dramático. Aliás, não houve final, para dar continuidade ao terceiro filme.

Quem lembra o filme Nosferatu? O vampiro de Murnau é uma das coisas mais repulsivas e representativas do mal que já vi. Quando ele se aproxima da loura deitada na cama, magro com orelhas e dentes ponteagudos, não dá para aguentar a tensão. A cena foi recriada em "A sombra do Vampiro", com John Malkovich e William Dafoe, o nojo não foi menor.

E eis que a estética do século XXI muda por completo.
Em Lua Nova, lobisomen e vampiro passaram por um processo de limpeza, nem que seja simbólica. São belos e assépticos. Para o público não exalam nenhum cheiro, muito menos de cachorro molhado ou enxofre! Edward Cullen ( Robert Pattinson) impressiona pela beleza estranha. Pálido, com lábios avermelhados e sobrancelhas espessas, causa furor entre a meninada. Aliás mulheres em qualquer idade concordam que o jovem é possuidor de uma beleza diferente. A caracterização como vampiro limita-se à palidez do rosto, ao róseo exagerado dos lábios e à testa proeminente com sobrancelhas mu-u-u-ito espessas. Ha! mas e os olhos! Todos os vampiros tinham olhos avermelhados. Entretanto, os de Edward eram especiais e lembravam olhos de ave de rapina, de um gavião soberano, daqueles que abrem as asas e planam no ar. Era muito animal mesmo aquele olhar de vidro.

Não é sem razão que o vampiro enlouquece as garotas com seu ar triste. Pareceu-me que o diretor ou a escritora quiseram destacar a beleza dos vampiros e lobisomens e esqueceram propositadamente a mocinha da história. Como ser humano, Bella Swan ( Kristen Stewart) era simples demais.

No início, quando Edward se despede de Bella, e diz que aquele será o último encontro entre os dois, o rosto do vampiro está iluminado. Em close, cada linha de sua face escultural é valorizada, como se ele fosse um deus grego. Na sequência, surge o rosto de Bella -também em close up -, mas sem o menor brilho.

O filme foi feito para destacar Edward e Jacob Black (Taylor Lautner) em tudo, um o oposto do outro. Jacob é moreno, muito sarado e musculoso.
Está sempre de torso nu, para mostrar sua força e masculinidade. Chega a parecer grosseiro no início, com o cabelão comprido. Mas seu sorriso desarma qualquer um. É um encanto o menino lobo de 16 anos. E, escravo de seu próprio destino, o lobisomen deixa aflorar seu lado animal. Quando se irrita com alguém, vira lobisomem mesmo! O filme mistura as duas lendas vampiro vs lobisomen, que as pessoas adoram contar e ouvir.

Nenhum dos vampiros no filme, nem os maus da família Volturi, que moravam em Volterra, sequer mostrou suas presas pontegudas, muito menos cravou seus dentes em algum ser humano. Aliás nenhum tinha presas ponteagudas. Olhe que muita garota na platéia adoraria ser mordida pelo vampiro.

O sangue por exemplo que é o ponto alto nos filmes de vampiro, e o ponto fraco dos vampiros está quase ausente do filme. Em uma cena apenas, Bella se corta e provoca uma reação louca em um dos vampiros, que não pode ver sangue! O descontrolado é contido por seus pares. Ali, na hora, não era permitido vampirizar, sem mais nem menos. Os Collen, família de Edward, eram cheios de regras - a principal: não se alimentam de humanos.

Assim, Lua Nova gira em torno da angústia d
o trio formado por Edward, Jacob e Bella, envolvidos em um romance impossível. Como a jovem não consegue saber quem manda em seu coração, o desfecho é transferido para o próximo filme da série. Os jovens identificam-se com Bella, indecisa entre dois amores impossíveis. Como ela, podem sentir-se também indecisos perante a vida e as paixões impossíveis. O romantismo impregnado de vampirismo e de lobisomens tem tudo para atraí-los, além do que, devem estar cansados da pancadaria e da vulgaridade de muitos filmes dirigidos para eles, os teens.


2012

2012 é mais um filme da série desastres sobre o fim do mundo. Lembra "Presságio" , mas esse era bem irritante, 2012 é melhor. As sequências de destruição são perfeitas. Pudera, o diretor Ronald Emerich é especialista em cenas de fim dos tempos. Lembram-se do Independece Day ou O Dia Depois de Amanhã?

Acho que Emerich poderia ter explorado melhor as previsões dos maias, que tinham grandes conhecimentos de astronomia e fizeram a previsão de que em 21 de dezembro de 2012 haverá um alinhamento dos planetas. A terra estará alinhada com o sol e com o centro da galáxia, a Via Láctea, onde existe um buraco supermassivo. As especulações afirmam que segundo Einstein, esse alinhamento levará a mudanças no campo magnético terrestre. Parece que isso já acontece, mas sem maiores problemas até hoje. O calendário maia prevê que algo de muito terrível se passará nessa data. Haverá terremotos, tsunames, vulcões, etc. Tão grave será o acontecimento , que o mundo sofrerá grandes transformações.

Porque Emerich não recuou à civilização maia, explicando um pouco mais sobre as questões cósmicas desse alinhamento de planetas? O mistério seria maior e o filme seria instigante. Aliás, incas e mais são civilizações místicas, que tem tudo para atrair o público. O mistério em Machu Pichu, ou Tenochtitlán é tão grande, que vendo aquelas ruínas, não conseguimos entender.Incas e mais entrariam em contato direto com a divindade através de uma contemplação espiritual? Ou eram bárbaros apenas? Sacrificando virgens e animais? Imagino que o mistério vai além do que foi descoberto e estudado até hoje.

Nada disso é sugerido no filme. Há uma única cena do alinhamento dos planetas, no início. O resto é uma justificativa para o diretor mostrar que sabe filmar cenas de destruição. Tudo vem abaixo, ruas, chão se abrindo em fissuras enormes, prédios high tech caindo rapidinho, rapidinho...Carros desgovernados, estradas e viadutos desmoronando. O chão desaparecia virando um infinito de poeira...

Em meu sonho , a terra sumia de meus pés. Depois de tanto o sonho se repetir, descobri que não morria e me deixei flutuar no espaço. Até que cresci e o sonho pesadelo de criança nunca mais voltou. Esse sonho lembra uma das cenas do filme onde o chão desaparece. Acho que Freud deve explicar melhor que Emerich. Nem por isso vou achar que previ o fim do mundo.

O avião pilotado por um médico que não sabia pilotar passa de raspão e não bate em nada. Lembrei-me dos Mamonas Assassinas, que não conseguiram vencer o morro. O mostrengo feio era russo, para mostrar como, ironicamente, os americanos foram salvos por uma geringonça russa pesadona e desengonçada. A nave levantou quase na vertical. Claro que a platéia torce para que os heróis se salvem, mas e aí?

De resto o filme não trás grandes novidades. Os países dominantes se unem para construir um espécie da Arca de Noé, onde entrarão apenas os eleitos. Assim, os personagens são mostrados através de estereótipos conhecidos. O personagem central é Jackson Curtis (John Cusack), separado de sua mulher Amanda Peet (Kate Curtis). Jackson é um escritor. Publicou um único livro. Ao acampar com o filhos no Parque de Yellowstone descobre, por acaso, que algo de muito errado está acontecendo, e que eles precisam tomar aquele avião que partirá para a China.

Não faltam os personagens arrivistas como o auxiliar do presidente, Carl Anheuser, interpretado por Oliver Platt. O presidente Thomas Wilson (Danny Glover) faz a sua opção pela humanidade. Os maus têm punição exemplar, como o balofo pai dos gêmeos. Despenca no abismo. Não falta a cena em que a cachorrinha faz peripécias e é salva pela dona.

A moral da história não se sustenta, os Curtis precisam passar pelos maiores horrores para valorizarem uns aos outros. Para o filho aceitar o pai, para a filha não fazer xixi na cama... Para o pai ser mais tolerante, para a mulher reconhecer que ama o ex-marido. Mas o namorado desta precisa morrer para o trio se desfazer...

Woody Harrelson faz Charlie Frost, o lunático que se retirou para o Parque de Yellostone, e vê o mundo de outras forma. Frost tem razão ao tentar entrar em sintonia com a natureza. Afinal se o mundo terminar em 21 de dezembro de 2012, antes é melhor reunir os entes queridos e não ir a lugar nenhum, que nem ele.


domingo, 15 de novembro de 2009

UM NAMORADO PARA MINHA ESPOSA

Um namorado para minha esposa é um delicioso filme argentino muito divertido. Nada como já ter passado pelas vicissitudes da vida a dois para depois rir muito daquilo tudo. Ou ainda quem sabe, estar vivenciando o problema, e rir de si mesmo. É bom e nos deixa mais leves. Olhe que não é fácil a vida a dois. Meu Deus pode ser um problemão. O filme argentino é uma comédia séria sobre o tema, o humor é sutil e inteligente. Juan Taratuto revela-se um diretor perspicaz e criativo.

Os atores estão impecáveis. Tenso (Adrián Suar) e Tana (Valeria Bertuccelli) formam a dupla em plena crise conjugal. Tana não procura um sentido para sua vida. Ela literalmente não faz nada, além de reclamar de tudo. Nada está bem ou está bom para ela. Tana também não coloca metas em sua vida e muito menos enfrenta o menor desafio. Existem muitas pessoas como Tana. Elas têm depressão, só que não sabem e não admitem. Por isso mesmo são tão mal humoradas. Tenso era a parede que recebia todas as boladas do jogo de Tana e ele, Tenso vivia mesmo na maior tensão. Não agüentava mais.

Um namorado para minha esposa revela a face machista dos argentinos e poderia muito bem ser a dos brasileiros. Os homens sempre se encontram para o joguinho de fim de semana, acho que era futebol de salão. Para mim não tem coisa mais idiota e machista que esses joguinhos de fim de semana. Os caras com aquelas enormes barrigas de chope, tentando correr atrás da bola. Ridículo! E as meninas de fora! Ali impera a velha solidariedade masculina. Segredos, aventuras e desventuras são reveladas. Tudo sob o olhar complacente dos amigos. As mulheres – na acepção do grupinho – sempre ou são as culpadas ou as vadias. Foi num desses encontros no “Clube do Bolinha” que os amigos de Tenso sugeriram que ele procurasse um namorado para sua esposa, para forçá-la a acabar com o casamento. O personagem de Cuervo Flores (Gabriel Goity) surge como a solução para todos os problemas de Tenso.

A história, tudo é muito engraçado e contado com um humor de fina qualidade, apesar dos personagens estarem a toda hora falando os maiores impropérios e palavrões em “espanhol”, claro! Por recato e bom senso não vou escrever o primeiro que lembrei. Assistam ao filme! He! He! He!

Tana, apesar de todo o seu mau humor é a personagem forte. No programa de rádio, ela – que reclamava da vida, dos amigos, do governo, dos vizinhos – faz o que sempre foi capaz de fazer, em alto e bom som, criticar tudo e todos. E pior, a visão de Tana era a mais honesta e verdadeira, apesar de corrosiva. Só que ela tinha a coragem de dizer e falar o que pensava. E nisso, tornava-se grosseira e mal educada. Para viver em sociedade precisamos adotar determinados papéis, e nem sempre é o mais adequado dizer tudo o que pensamos... É certo que as pessoas precisam saber o que nós pensamos. Mas é preciso ser educado em primeiro lugar, e não deixar a raiva à solta. O ódio e a frustração de Tana estavam à flor da pele. Ela não se controlava e agia como uma patrola. Tana nem se tocava, agia como um trator perante os amigos do marido.

E Tenso, oh! Tenso era exatamente o contrário daquilo que alguém pode pensar como “o marido corajoso”. Não tinha coragem sequer para falar cara a cara com sua mulher. Não conseguia enfrentá-la e olhar dentro de seus olhos. Os amigos aconselhavam: fala de costas. Não olha para ela! Imagine só! Se muitos pais não têm coragem de falar com seus filhos sem uma parede entre ambos. Imagine! O que pode fazer um marido fraco? Tenso consegue revelar o pior de si mesmo quando paga o salário da mulher (sem ela saber), para que ela seja aceita em um programa de rádio. E ainda contrata o sedutor Cuervo Flores, um velho galanteador, que estava no bagaço mesmo, um lixo na melhor acepção da palavra, para conquistar sua mulher. E por isso o filme fica tão divertido.

Um namorado para minha esposa esquenta quando Cuervo Flores entra em cena. Não conseguimos mais controlar o riso e o espanto! Cuervo se comporta como um verdadeiro especialista em matéria de sedução e conquista. É tão idiota e trapalhão quanto Vitorio Gassman, em “O incrível exército de Brancaleone”, de Mário Monicelli. Gassman estava impagável e Gabriel Goity é tão divertido quanto ele! Graças a Cuervo, Tenso faz a grande descoberta de sua vida!

Assim, Tana dá a volta por cima, revela o seu feminismo e seu verdadeiro eu, quando o casal faz uma sessão de terapia com a psicóloga. A separação está decidida, os dois precisam aguardar duas horas para o juiz efetivar o divórcio. Vão fazer um lanche em uma mesa de bar. Tana divide o sanduíche em duas partes, estende a mão, e oferece metade a Tenso.

O que você acha que poderá acontecer? Não deixe de divertir-se com esta sátira sobre os relacionamentos conjugais.

domingo, 8 de novembro de 2009

GESTO OBSCENO

Engraçado, se no filme anterior, Código de Conduta eu queria modificar o roteiro e queria também que o personagem fosse às últimas conseqüências, em Gesto Obsceno o personagem Michael Klienhouse chega ao limite. Porém o filme não possui atrativos. Nada atrai muito o espectador. O diretor é Tzahi Grad. Parece ser uma produção com baixos custos e recursos limitados.

Michael Klienhouse (Gal Zaid) é um escritor em crise de criação, desempregado, deixa o sustento da família a cargo de sua mulher, a médica Tamar Klienhouse (Keren Mor). Quando o casal volta para casa com o filho David Klienhouse (Tal Grushka) acontece o imprevisto e o repentino. Um daqueles gestos impensados, dos quais nos arrependemos para sempre. Tamar está retirando alguma coisa do carro, quando ouve uma buzina insistente sinalizando que alguém não pode esperar. Tamar faz o gesto obsceno e não precisa esperar muito para ouvir e sentir a enorme caminhonete passando por ela de raspão e levando a porta por diante.

Olhe só, esta outra história que daria um filme melhor. Alguém conhecido estava esperando a filha sair do Colégio, quando abriu a porta do carro, quase voou junto. Um carro passou literalmente voando e levou a porta, que virou uma sanfona. É certo que o caso não é o mesmo. Mas, o que sei é que a partir daí, a proprietária do Fiat – que até então era novinho em folha - comeu o pão que o diabo amassou. Além de ter que pagar todos os prejuízos do acidente, teve que ouvir que a outra parte deu uma festa com o dinheiro pago por ela, pois o seguro terminou pagando tudo. Reza a lenda que seus familiares teriam sido convidados para a dita festa. Será que é verdade tanta humilhação? Não pode ser. Minha amiga com certeza estava brincando. O que sei é que se fizessem um filme com essa história seria melhor que Gesto Obsceno.

Neste filme bobo, o personagem - perdido, sem emprego, sem vontade, mal casado e desejando a babá do filho - tenta justiça pelos meios legais. Vai à polícia quando descobre que o motorista que levou sua porta era um veterano de guerra, o truculento Danny-Ben-Mosche, o sr. Dreyfus (Asher Tzarfati). A polícia faz vistas grossas.

Michael tenta diversas abordagens. Não tem sucesso em nenhuma. Tudo vai desmoronando em sua vida. Sedento por justiça, que nem Gerard Butler, em Código de Conduta resolve agir por conta própria. E me abismo, vibrei como a proprietária do Fiat, que com certeza, junto com Michael matava seus fantasmas com a bazuca. E bum! Bum! Os sons da festa do Dia do Holocausto se misturam aos da explosão da caminhonete do cretino, do truculento Ben- Mosche, que ameaçava cada vez que se dirigia para Michael Klienhouse: “Suma daqui, eu vou acabar com você”!


CÓDIGO DE CONDUTA

Gerard Butler é um dedicado pai de família que se transforma em monstro em Código de Conduta, dirigido por F. Gary Gray. Gostei do filme apesar de imperar a extrema violência. Porém, o final seria diferente, se a versão fosse minha.

O filme pretende destacar a figura de Gerard Butler (Clyde Shelton) e criticar, sem muita convicção o sistema judicial americano. Como não poderia deixar de
ser, algumas sequências são extremamente chocantes, como o assassinato da família de Clyde, no início. Afinal a platéia quer violência!

A mulher e a filha do engenheiro são assassinadas, em cenas de profunda brutalidade, até para nos convencer sobre as suas razões. Butler foi escolhido a dedo, encarnando um personagem no mínimo patético. Gerard Butler tem enormes e irresistíveis olhos verdes. O ator tem carisma e se presta para fazer personagens violentos. Afinal, todos nós temos um monstro lá dentro, que precisamos domar, não é mesmo?

No início, Clyde é um dedicado pai de família. Porém, ele, a mulher e a filha são vítimas de dois assassinos. Não fica claro se o ataque foi latrocínio ou assassinato a sangue frio. Acho que isso não importava para o diretor. Esfaqueado e amordaçado Clyde assiste à morte da mulher e ao roubo da filha, que também é assassinada. Um dos culpados ganha a liberdade, graças a um acordo feito com o audacioso promotor Nick Rice (Jamie Foxx). Clyde revolta-se contra Nick, que insiste em sua posição.

Anos depois, o assassino é encontrado morto e esquartejado. Clyde é preso mesmo sem provas contra ele. Aos poucos, os envolvidos aparecem mortos, um a um. Clyde é o suspeito número 1.

Jamie Foxx interpreta o cínico promotor público, que faz acordos para subir na carreira, sem importar-se com os estragos que faz nas vidas de seus clientes. O ódio de Clyde é contra todos os envolvidos no sistema judicial americano, podre e corrupto. Assim o filme se desenvolve como um jogo de gato e rato entre Clyde e Nick.

Quando o tal sistema judicial condena à morte o homem errado, Butler começa a agir por conta própria. Vai explodindo e matando, em lances geniais, todos os implicados naquela farsa.

Perguntamo-nos, como um pacato engenheiro, pai de família e lindo daquele jeito, pode se transformar em um frio assassino? Como pode ser preso por assassinato? Como pode passar para outro lado? Como pode transgredir daquele jeito? Mesmo que não houvesse provas, ele era de fato o único suspeito. O espectador percebe que Clyde ultrapassa até os limites da vingança, quando ele mata, sem mais nem menos, o companheiro de cela, com o osso que sobrou do jantar.

Nick era cínico o suficiente para desligar a gravação de sua conversa com Clyde - quando eles se encontram pela primeira vez na prisão - e lhe dizer ao ouvido que aprovava o assassinato do criminoso (Christian Stolte), que este não faria falta a ninguém. Para logo a seguir caçar Clyde, impiedosamente.

O espectador sabia que aquela guerra estava perdida por antecipação, que Clyde seria destruído no final. Afinal, o sistema corrupto sempre vence, apesar de todas as denúncias que o deixam mais sombrio ainda.

E se o engenheiro Clyde era tão genial para imaginar e criar toda aquela artilharia de morte? Como de repente Nick fica tão esperto e inteligente para vencê-lo?

Entretanto se a versão fosse minha, Clyde explodiria com tudo e mataria a todos. Como em uma tragédia grega, ele também morreria, pois no fundo era um louco e um trágico suicida. Imagino Clyde conseguindo vingar-se do promotor Nick, levando ao extremo sua demência. Então, sucumbiria, vítima de si mesmo. Clyde, como Medéia é o verdadeiro retrato das forças antagônicas que governam a alma humana. Alguém consegue imaginar tragédia maior que a de Medéia matando os próprios filhos? Acho que dessa forma o filme seria mais impactante e trágico!

Não deixe de assistir a este contraditório filme e à beleza de Gerard Butler.


sábado, 24 de outubro de 2009

COMENTÁRIO

Eder vou acessar o teu blog, com certeza. Se quiseres, a Lucia da Insights Núcleo Criativo pode dar um novo visual. Ela também tem um chamado (Ins)piradas: inspiradas.blogspot.com

Abraços, Doris Maria

COMENTÁRIO

Pedro, e ai?

Escreves de uma forma tão definitiva, elaborada e intelectual que fico meio sem graça para responder. Há lembrei! Assisti ao filme Camille e Claudel. Gostei muito e odiei o Auguste Rodin, cuja escultura vi, verde, num pátio em Paris, e pensei que ela fique bem verde e feia, não importa. O outro belo filme sobre a opressão masculina é Artemísia, com Valentina Cervi. Dá uma olhada, acho que vais gostar.

Abraços, Doris Maria

O DESINFORMANTE

Matt Damon é O Desinformante ! Mas o nome oficial do filme é The Informant! Desta forma, na tradução foi colocada alguma coisa além para “informar” um pouco mais sobre o filme. Coisa de português? Steven Soderbergh é o diretor, o mesmo do filme Sexo, Mentiras e Videotape, também com Matt Demon no elenco.

Demon é Mark Whitacre, um jovem ambicioso, executivo de uma grande empresa ligada à produção de milho, a Archer Daniels Midland.

A composição do personagem é perfeita. Demon tem uma estatura menor do que imaginamos. Caracteriza o americano médio. Veste-se como um executivo, de camisa, paletó e gravata. Para completar usa óculos de aros escuros e grossos. Seus cabelos são louros e bem cortados. Usa um bigodinho medíocre e sua barriga é levemente saliente, típica de homens jovens e sedentários – devem imaginar que ficarão jovens para sempre, ou, não têm tempo para pensar em vida saudável. Esse era Mark Whitacre, encarnado com perfeição por Matt Demon. Por isso estranhamos seu visual e nos perguntamos. Mas como? Que cara sem graça... Demon parece mais velho! Enfim o próprio já tem 39 anos...

Não há como não comparar com o filme Prenda-me se for capaz, de Spielberg, interpretado por Leonardo di Caprio, que conta a história de Howard Hughes. O As afinidades ficam por conta das duas histórias serem verdadeiras, e das mentiras e loucuras dos personagens. Com a diferença que vibramos por Leonardo DiCaprio e nos consternamos com Mark Whitacre.

O jovem executivo consegue uma rápida ascensão na empresa. É levado pelos próprios diretores a transformar-se em informante do FBI. O grande problema do personagem é viver uma fantasia. À medida que o filme avança verificamos que Mark tinha compulsão para a mentira. E não aceitava fatos básicos de sua vida. O jovem envolve-se em uma trama de mentiras, e quase se convence que aquilo que inventa é realidade.

O personagem narra sua própria história fazendo comentários em “off”, enquanto as cenas passam em sequência, o que dá um tom leve e inteligente para a narrativa. Mas comédia! O filme é classificado como comédia! Isso sim seria ligeiramente impossível. A não ser pela música leve, uma marchinha que acompanha os personagens nos momentos mais difíceis, e que não dispensa uma batida bem compassada de tambor.

Os desvios de personalidade de Mark vão se evidenciando ao longo da trama. Talvez, o desejo mais remoto do personagem fosse superar o medo da aniquilação. Queria ser patrão a qualquer preço. Seu grande desejo era um dia tornar-se diretor da ADM. Fartura e excessos de consumismo para ele estariam na ordem de qualquer dia.

Para atingir seus objetivos trabalha como informante para o FBI denunciando os crimes de formação de cartéis praticados pela ADM e outras empresas corporativas, que fixam o preço de seus produtos no mundo inteiro.

Em Mark o desejo de atingir o cume da carreira é tão grande que provoca angústia. Esta somente pode ser mitigada pela transgressão. E Mark Whitacre transgride, e muito. Mente, e mente tanto que nega seus pais. Afirma que é filho adotivo e que adotou duas crianças. Diz que seus pais morreram em um acidente de carro quando ele tinha seis anos. Somente isso justificaria anos de terapia para nosso personagem. Mark até que freqüenta o terapeuta. É justamente quando tem a idéia para mais uma mentira. Seu transtorno bipolar, que tinha sido sugerido pelo terapeuta, teria sido afirmado por este em carta. O grande problema é decifrar quando Mark mente, quando ele imagina o que gostaria que acontecesse e quando ele fala a verdade – raras vezes isso acontece.

Em sua fantasia inconsciente identifica-se com Tom Cruise, o herói de A Firma. No filme, citado dentro do filme, Mark sente semelhanças com o personagem de Cruise. Identifica-se projetivamente com o herói, que precisava usar de esperteza para vencer seus opositores. A firma usava chantagem para controlar Cruise. Para quem o FBI também aparecia, tentando conseguir informações. Como Mark, Cruise descobria que a empresa era uma fachada para lavar dinheiro. Seu drama era permanecer ou não na empresa onde não tinha controle da própria vida.

Mark nunca desejou afastar-se da ADM. Quando isto finalmente acontece é porque as coisas saíram completamente do controle.

Uma cena particularmente sintetiza a personalidade e ingenuidade do personagem: Na sessão do júri, em que o Governo dos Estados Unidos coloca-se contra Mark Whitacre, o juiz afirma que ele poderia ter atingido o cargo de diretor da ADM. Mark fica tão feliz ao ouvir, que olha para trás, para a platéia, como que dizendo: Viram? Viram como eu sou o tal?

Seu comportamento teria lógica na medida em que o superego cobraria auto-afirmação e força do ego, em situações da vida que ele, Mark, não conseguia corresponder. O dilema provocava fantasias culposas intensas, impelindo-o a mentir e transgredir, punindo-se ao mergulhar a fundo em situações limite e de alto risco, em que quase acreditava piamente na versão fantasiosa, que apesar de falsa lhe parecia revestida de um tom verdadeiro e inegociável.

Não perca o filme e confirme a bela atuação de Matt Demon.