quarta-feira, 25 de maio de 2011

Santa Paciência (The Infidel )

"The Infidel", Santa Paciência - no Brasil - é uma comédia divertida e inteligente. Josh Appignanesi, o diretor, conta a história de Mahmud (Omid Djalili), um chefe de família muçulmano, que não é nenhum expert no Alcorão, mas que tem suas diferenças com seus vizinhos judeus. Mal sabe ele que é filho adotivo, e que seus pais biológicos eram judeus. Mahmud descobre sua história! Confusão e crise de identidade instalados. O pior de tudo é que precisa impressionar o futuro sogro do filho, um ativista muçulmano que quer que ele prove o quanto é um muçulmano de verdade! Appignanesi universaliza os problemas entre os personagens. As eternas diferenças entre judeus e muçulmanos. Com certeza, quem vive de fato as duas culturas ri com mais vontade do personagem e de sua ingenuidade. O filme é recomendável para todos aqueles que são tocados pela palavra adoção. Pais adotivos podem rir de si mesmos e de seus pequenos (ou grandes?) dramas. E tem mais uma piada, algo em que eu não havia pensado: Quando morre um pai adotivo sempre existe a possibilidade, para o filho adotivo, é claro, de procurar o pai de reserva - o biológico que o abandonou!- "como a um cachorro ou porque não tinha tempo para criá-lo"? como lamentava-se Mahmud. Enfim, para isso existe um exército de pais adotivos a postos tentando acertar na difícil tarefa de ser pai ou mãe adotivos. Você sabia que hoje é o Dia Nacional da Adoção e que no Brasil para cada 4500 crianças à espera de um lar existem 26.938 pais, candidatos à adoção à espera?

Des Hommes et de Dieux (De Homens e de Deuses)

"Des Hommes et des Dieux" fala de violência, morte e tempos obscuros na localidade de Tibhirine, na Argélia. Conta a história verdadeira do massacre de sete frades católicos, em 1996, instalados em um mosteiro, durante a guerra civil dos anos 90. O filme é dirigido por Xavier Beauvois. Os personagens são Christian (Lambert Wilson), Luc (Michael Lonsdale), Christophe (Olivier Rabourdin), Celéstin ( Philippe Laudenbach), Amédée ( Jacques Herlin) e Jean- Pierre ( Loic Pichon), Abdelhafid Metals (Nouredine). Ganhou o Grande Prêmio do Festival de Cannes em 2010. É imperdível! Paradoxalmente "Des Hommes et des Dieux"é filmado com doçura e muito amor. Emociona. Provoca um tipo de sentimento que faz o espectador chorar quando o filme termina e fica sabendo que a história é verdadeira. Os incautos se perguntam: Onde estava eu em minha alienação? Oito padres pertencentes à religião católica escolhem viver em uma comunidade sob constantes ameaças terroristas. Predominam as tonalidades azuladas, de fim de tarde ou amanhecer, ajustadas ao semblante calmo e doce do padre Christian, o líder. O tempo passa lentamente dentro do mosteiro. Mãos rudes plantam, colhem e limpam. O trator Ursus 2812 faz seu duro trabalho de arar a terra. O Zetor 25K era gracioso quando o Abrilino o manobrava. Meu pai ficou triste quando soube que rolou em uma encosta após ter sido devolvido. Mas esta é outra história. O diretor alterna e contrapõe cenas de religiosidade e introspecção às de violência. Do lado de fora caminhões ruidosos, estradas inseguras, pessoas mortas numa guerra sem trégua. Os sentimentos que perturbam cada um dos oito frades calam fundo no espectador. Autoridades locais ordenam que se retirem. Christian, firme e inabalável, fala para seus companheiros: "Ta vie tu est dejà donné". Não há razão para fuga. A câmera perscruta o rosto de cada um daqueles homens solitários, buscando desvelar suas dúvidas e sentimentos. Ir embora? Abandonar o mosteiro? Voltar para a França, onde vivem os familiares? Haveria algum sentido nisso? Os religiosos buscam uma razão para suas vidas, não querem transformar-se em mártires. A beleza do filme está na interpretação dos atores, revelando o medo, o pavor da morte e da violência, desde Amédée, frágil e amedrontado, até Christophe - com bolsas sob os olhos-, respiração curta, coração angustiado, batendo forte, atormentado até o momento da tomada de decisão. Esse contraponto é belíssimo. A frase de um dos cânticos diz tudo: "Deus, não me dê dor que eu não consiga suportar". Meu Deus! Isso é tudo o que mais tememos. Daí a idéia da fé - presente no filme - e que também é tão importante em nossas vidas. Quando vencem o medo, libertam-se, ao som do "Lac de Cygnes" de Tchaykovski. Podem reassumir suas vidas e fazer uma refeiçãocompartilhada e regada a um bom vinho. Em sua dor e tristeza, os padres sabem que não podem abandonar o rebanho aos lobos. E as beatas, crédulas, repetem: "Os pássaros somos nós, os galhos vocês, se forem embora não teremos onde pousar"...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Agentes do Destino

"Agentes do Destino" é dirigido por George Nolfi e se baseia em conto de Philip K. Dick. Mostra a vida do político David Norris (Matt Damon), candidato a senador nos Estados Unidos. Sua carreira política é prejudicada pela repercussão negativa de uma briga de bar. Mas David é um homem forte. Deixa claro em seu discurso que na vida não importam nossas derrotas ou tombos, mas a forma como emergimos e nos levantamos para continuar a lutar. Preste atenção à força dessa idéia. Inúmeros filmes de suspense ou ficção tratam do poder, de como este se incorpora em instituições autoritárias e totalitárias, com o objetivo de dominar e esmagar o ser humano. "Agentes do Destino" persegue o mesmo viés. David possui uma personalidade forte e instigante. Retoma sua vida política quando casualmente conhece a bailarina Elise Selles (Emily Blunt). Aliás os acasos neste filme - que trata da "anulação do acaso" são justamente os acontecimentos que mudam os destinos. A atração entre David e Elise é muito forte e não pode ser contida. O casal apaixona-se perdidamente. Embora pareça lugar comum, o diretor fala sobre a força do amor. Eis que o "terceiro olho", o olho que tudo vê se manifesta na vida de David. Como em "2001: Uma Odisséia no Espaço" - em que Hal 9000 literalmente via tudo-, "Metrópolis" ou "Minority Report", o poder invisível tenta manipular a todos. Monitorado de perto pelos homens de chapéu, David chega a pensar que as fatalidades que acontecem fazem parte de um sonho irreal. Resiste a uma força superior que não precisa tocar nem torturar para dominar. A idéia do poder, que domina sem revelar sua existência pode remeter a cada um de nós? Estaríamos em situação semelhante? O que você pensa disso? George Nolfi aposta no amor como a mais forte das forças que podem impregnar o ser humano, no amor como um elemento transformador e detonador de ações e atitudes. Reserva-nos um final surpreendente. Nossas vidas podem de fato ser modificadas pelo acaso, pela simples casualidade? Nolfi reafirma a casualidade - apesar do livre arbítrio- ela existe, sim. E tem mais, a presença de Matt Damon e Emily Blunt somente garantem um belo filme! Não perca!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Para Eder

Eder, tudo bem?
Obrigada pelo comentário. Vou comprar o livro que recomendaste, para utilizar nas aulas. Um grande abraço. Doris Maria

Água para Elefantes

"Água para Elefantes", o filme, é a história do best-seller de Sara Gruen, dirigido por Francis Lawrence. Reese Whiterspoon e Robert Pattinson fazem o par romântico. A estrutura do filme lembra "Titanic". Jacob Jakowski, o personagem principal inicia a história em flash back, lembrando sua juventude e aventuras no circo onde encontra Marlena, a grande paixão de sua vida. Os atores não arrastam milhões ao cinema, como Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. Mas são os jovens que fazem sucesso na atualidade. Ele continua belíssimo. Ao que parece entusiasma mais as mães do que as filhas. Diga-se de passagem, em "Crepúsculo", como o vampiro de olhos de ave de rapina era ainda mais sexy. Mas, em "Água para Elefantes" continua lindo. Ela Reese Whiterspoon é uma simpatia e lembra a Cris minha adorável professora de gym.

Jankowski é um estudante de veterinária que tem a vida virada do avesso com a morte do pai. Perde tudo. Sozinho, por acaso, sobe clandestinamente num vagão de circo. Para sobreviver aceita as mais rudes e difíceis tarefas no circo dos Irmãos Benzini. Sua vida passa a ter significado quando se apaixona por Marlena a mulher de August, dono do circo. Christoph Waltz, o grande ator de "Bastardos Inglórius", que conseguiu seduzir a platéia e confundir os espectadores com seu papel de sádico nazista está de volta. Desta vez impressiona menos. Acho que é como Jack Nicholson. Representa sempre o mesmo papel, como se interpretasse a si mesmo. Não é muito diferente do nazista sedutor. Apesar disso, seu personagem é assustador. August é um homem autoritário, sem moral ou ética, sem sentimento algum pelos que o rodeiam. Não hesita em jogar os trabalhadores do trem para reduzir custos. Christoph carrega na interpretação tentando ofuscar os outros atores. Agora já sabemos.

Jakowski somente ganha a confiança do temeroso August, quando consegue descobrir que a elefante era treinada e obedecia a determinados comandos, em alemão? Não faltam as cenas de violência, quando August cego de raiva bate no animal até deixá-lo quase sem vida. Jacob e Marlena precisam lutar muito para sobreviver a um destino, que tinha tudo para dar errado.

Ele precisa incutir na jovem que ela pode e deve lutar pela própria felicidade. Conformar-se com uma vidinha medíocre, jamais! O recado é para cada um de nós. Precisamos nos convencer que nunca é tarde. Sempre há tempo de lutarmos pela felicidade. Temos esse direito.

Como violência gera violência, o mal volta-se contra August, em cenas de destruição dignas dos grandes espetáculos de Hollywood. Apesar disso, "Água para Elefentes" não atrai grande público em Porto Alegre. Mesmo assim recomendo.