quinta-feira, 30 de abril de 2009

COMENTÁRIO

Cristina, é bom saber que andas por aqui. Eu sempre do Nicolas Cage, mas ultimamente acho que ele está andando para trás em alguns filmes. E agora fico feliz discutindo os filmes contigo.
Notícia: o Luiz Carlos Merten vai escrever uma crítica no meu blog!
Veja só.
Beijos, Doris Maria

VOCÊS, OS VIVOS

Vocês, os Vivos é um filme que teve diversos financiadores, a um custo de cinco milhões de euros. A Suécia foi o principal país da produção, que envolveu a França, Alemanha, Dinamarca e Noruega. O trabalho foi financiado por dezoito organizações diferentes. Foi dirigido e produzido por Roy Andersson Filmproduktion, em parceira com outras empresas.

Segundo o diretor, a sua maior preocupação foi refletir sobre o homem e a humanidade. Em seu site, ele afirma que a felicidade do homem é o próprio homem. Preocupa-se com o homem, como um ser social, que depende do outro para ser feliz e dar razão a sua existência. É um ser gregário, que não está sozinho na face da Terra. Em todas as histórias, Roy mostra o homem em sua relação com o outro. Em uma espécie de fascinação do ser humano por ele próprio. Ou seja, o homem é a fascinação de si mesmo.

Vocês, os Vivos nos fala de grandeza e de miséria. O filme não possui um personagem principal, todos são personagens. Discorre sobre as fraquezas da humanidade. Mostra toda espécie de homem, desde o egoísta, dos desonestos até os maus, destituídos de sentimentos. Fala também dos homens que dedicaram uma vida inteira aos outros, deram ao próximo todas as suas forças e chegaram à conclusão que não lhes restou nada. Como o psiquiatra (Hakan Angser) que nem consegue caminhar, esgotado por ter dedicado uma vida inteira aos homens e ter verificado que seu esforço foi inútil. O psiquiatra conclui que o homem é pobre, mesquinho e egoísta. E ainda assim, sem dispor-se a mudar, quer sua ajuda para ser feliz.

As histórias se passam com a câmera parada. A humanidade é caracterizada através de inúmeros personagens, participa e assiste a tudo. Em quadros estáticos sempre as pessoas observam o que está acontecendo. Os personagens do filme nos espreitam, e nós os observamos em uma troca mutua. E nos parece que o tempo também parou. Como se em cada historinha, o tempo passa-se em tempo real. Seria nosso desinteresse pelo filme? Que não nos tocou de forma alguma?

Muitas vezes, em situações semelhantes, lembramos que o tempo não passa. Ou ainda temos a sensação que o tempo pára, como na missa, nos enterros, nas salas de espera dos consultórios médicos, ou na frente dos elevadores. Na grotesca cena de sexo da mulher obesa, que esmaga um homem branquelo e fraquinho, usando apenas um capacete de viking - o tempo literalmente pára, passaram-se meses em minha impressão. O homem não se concentrava no sexo e discorria sobre seus problemas de dinheiro e aplicações no mercado financeiro!

Todos desejam amar e ser amados. Mas Roy Andersson fala da humanidade com um distanciamento tão grande, que não atinge e não envolve o espectador. No máximo, nos faz lembrar cenas do cotidiano, das quais participamos por obrigação social. Cenas que vemos na televisão, como desfiles diante de algum morto ilustre.

O diretor e sua equipe tiveram três anos de intenso trabalho. Sendo que todos os cenários, mesmo os exteriores foram criados em estúdio. Na maioria, os ambientes são vistos e sentidos com nudez e frieza, as paredes são cinza esverdeadas, com um pouco de amarelo e azul. Aparecem duas paredes, uma delas com uma porta de madeira e um ou dois quadros e uma mesa com cadeiras, como um cenário de teatro. Lembra as pessoas vivendo na maquete do filme Dogville, de Lars von Trier, com Nicole Kidman. É outra forma de linguagem, com pontos e comum.

O décor distanciado e criado em estúdio é o que Roy deseja mostrar ao espectador. Na cena do casamento, a casa de dois pavimentos se movimenta com um trailer. É a própria encenação. A paisagem noturna foge através da janela, como se a casa fosse um trem. Era o sonho da jovem apaixonada pelo guitarrista, que parecia mais animado com a guitarra de que com ela, não é? No sonho, a garota está feliz, todos são gentis com ela. Afinal é o que ambicionamos, ser bem tratados.

Alguns personagens se destacam como o casal de grandões e gordos do início. A mulher alcoólatra, breguíssima, com um blusão de onçinha, transferia a culpa de seus problemas para os outros. Até carregava uma garrafa de bebida na bolsa. Tinha certeza de não ser amada por ninguém, nem pela cachorrinha, muito menos pela sogra.

E o que dizer da sessão do júri? Os juízes bebem em grandes copos de cerveja e condenam à morte um homem, porque este tinha quebrado um conjunto de porcelana de duzentos anos, que tinha sido propriedade da tetra avó da reclamante. Esta, inconsolável, continuava protestando, mesmo frente à execução do condenado, na cadeira elétrica. Só bêbados mesmo para condenar à morte o insensato que levanta a toalha da mesa e quebra tudo! Roy critica esse mundo cão! Por qualquer coisinha os malucos dos seres humanos chamavam a polícia para reprimir.

A historinha boa, que deu para rir um pouco foi a do barbeiro. O cliente, depois de ofender o barbeiro fica furioso por este ter aberto uma estrada, no meio de sua cabeça, deixando sem solução o resto da cabeleira. A polícia foi chamada, teve um mínimo de senso do ridículo e foi embora.

No filme, sentimos menos a idéia de seres humanos grandiosos e humanitários, do que de homens insensatos, que não se importam com o outro. Parece que Roy Andersson pende para a idéia de homens, com grandes dificuldades de comunicação. Homens, que não aprenderam amar o outro. Não interferem e não sentem pelo outro. Muitas vezes, fascinados pela desgraça alheia, que poderá ser a sua um dia. Estão em todo lugar apenas observando os outros - como em Monty Phyton ou em Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras -, que não amam ninguém, mas querem ser amados, como afirmava o psiquiatra que não aguentou este mundo doido e desistiu de investir nos homens!


quarta-feira, 22 de abril de 2009

A DIVA NO DIVÃ

Fui comprar o ingresso para assistir ao filme de José Alvarenga Júnior e pedi um bilhete para Diva. Não era esse o nome do filme. Mas no fundo eu estava com a razão. Lilia Cabral neste filme é a própria “Diva no divã”, este sim deveria ser o nome do filme.

As salas de cinema estão cheias, a platéia ama o filme. As pessoas riem e choram. O filme seguiu a receita certa para o sucesso. Tudo é dito de forma inteligente e bem humorada. O riso e o choro vêm no momento certo. Comprei o livro de Martha Medeiros, que vendeu mais de 50.000 exemplares, agora vendeu 50.001, com certeza. A novela foi adaptada para o teatro, com a própria Lilia e agora virou filme.

A “Diva no divã” - como gosto - fala de Mercedes uma mulher como qualquer uma de nós, casada, com dois filhos. Não sabe bem porque, vai parar no analista. O casamento entra em crise. Vem a separação. Os filhos adolescentes já têm suas próprias vidas. Surgem aventuras amorosas passageiras e o amadurecimento da personagem. As relações com o ex-marido evoluem. Se não for bem tratado pela nova mulher, ela o quer de volta. Afinal, ex-marido é parente, não sei bem em que classificação, deve ser na de ex-marido mesmo. O filme fala da amizade com Mônica (Alexandra Richter) e do enfrentamento com a morte. A superação e a vida que continua.

Lilia Cabral está muito bem no filme, logo ela que nos cansa tanto na televisão. Adorei a Mercedes. Adorei os vestidos que ela usa, desfilou com seis, em tons de azul. Reynaldo Gianecchini continua um homem muito bonito mesmo. O cara é de parar aeroporto. Vi isso pessoalmente. O aeroporto de Congonhas parou quando Gianecchini passou. Pensei que o diretor queria isso mesmo, um homem lindo para fazer a cabeça de Mercedes e depois passar, sem deixar marcas. Assim, além da beleza, o personagem não inspira muito, ri demais. Como se estivesse rindo do próprio personagem. E aí fica meio sem graça. Assim como em alguns programas de TV, em que para fazer graça, o ator ri do próprio personagem que interpreta. Acho isso uma besteira.

Mas, também acho que um filme ou alguém como Mercedes - contando sua vida no divã - não deve ter tantas frases feitas, tantas frases inteligentes e prontinhas. Não é possível, apesar de pretender ser natural, fica artificial. Algumas cenas causam até um pequeno mal estar, de tão forçadas, como a aquela em que ela tenta tirar a meia calça, no banheiro.

Em compensação outras cenas são divertidíssimas. O texto de Martha Medeiros fala de coisas que acontecem com qualquer uma de nós. Por isso nos identificamos com Mercedes, quando ela fala que, quando alguém te diz “precisamos conversar”, por aí tem problema, aí vem mecha. Pois, quando não há problemas as pessoas dizem; eu quero falar contigo, eu quero te dizer uma coisa, assim numa boa. Ri muito, porque sei bem como isso acontece.

Outra cena das mais engraçadas é quando Mercedes e Gianecchini puxam um fumo dentro do carrão. Acho que eles se divertiram mais que nós, com certeza.
O cabeleireiro gay, repicando o cabelo de Mercedes, ninguém esquece. Ele sabe que o problema era “homi” com “h”. O texto é muito bom, até porque revela que o cabeleireiro pode se transformar em um grande amigo, num confidente, independente da forma estereotipada como é visto. Afinal, me pareceu que o cabeleireiro era um verdadeiro amigo de Mercedes.

Gustavo, o marido, é interpretado por José Mayer. Com certeza, ele faria a alegria de minha mãe Alair, que o amava. Tudo que ele fazia na TV ela gostava. Mesmo porque ele estava engraçadíssimo como o noivo cafona e brega, com aquele cabelo dos anos 70.

A morte de Mônica - a atriz que destrói a reputação do chefe, em Zorra Total - leva os espectadores às lágrimas. Todos choram a morte da amiga de Mercedes. Saem do cinema com os olhos vermelhos – lembrando seus mortos - envergonhados, como se ninguém devesse chorar no cinema, como se fosse uma fraqueza. Pelo contrário, bom mesmo é chorar no cinema. E bom é ir ao cinema sozinho, para poder chorar e rir à vontade, sem dar satisfações para o companheiro ou companheira do lado. Mas também é tão bom discutir o filme com as amigas!

Finalmente, a crítica é endereçada ao psicanalista - acertando em cheio - que não abre a boca. Mas que existe, e comparece à exposição de Mercedes. Lembra o ginecologista de minha amiga Maria Teresa, que foi flagrado por ela no cabeleireiro, pintando os cabelos e desabafou:

- Bem Maria Teresa; agora conheces os meus segredos.

Isso não é filme ouviram?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

FROST NIXON

Frost Nixon é um filme que vale a pena assistir. Em primeiro lugar, o jogo de cena é magnífico. Os atores são excelentes. O filme retrata o embate entre o ex-presidente Nixon (Frank Langella) e o apresentador de televisão David Frost (Michael Sheen), nas célebres entrevistas que concedeu a ele, três anos após sua renúncia à presidência dos Estados Unidos. O ator Michael Sheen já tinha mostrado toda a sua habilidade e excelente performance, ao encarnar personagens carismáticos, como o Primeiro Ministro Tony Blair, em A Rainha. Está em cartaz, em Porto Alegre o filme Anjos da Noite: A Rebelião, onde Sheen interpreta um terrível vampiro (ainda não assisti ao filme).

O entrevistador não era uma pessoa considerada ideal para representar um papel tão delicado diante das câmeras. Os dois jornalistas que Frost consegue cooptar para seu staff, não o consideram capaz de enfrentar Nixon. James Reston (Sam Rockell Jr.) é o mais reticente. Reston lembra um daqueles esquerdistas dos anos 70, bastante radical, que no meio jornalístico teria o apelido de xiita. O outro jornalista que acompanha Frost é Bob Zelnick, interpretado por Oliver Platt. O ator é um cara tão bom, que parece que estamos assistindo a um documentário, com o “making off”, detrás das câmeras. Zelnick faz piadinhas, no gênero que mostra um clima de redação de jornal. Faz com que pareça que estamos assistindo aos fatos verdadeiros. Uma das mais sutis é dita, quando Reston afirma que não apertará a mão de Nixon. Ele até que tenta, mas este era um político esperto e tarimbado, que vai apertando a mão de todo mundo. Reston se rende e aperta a mão do ex-presidente. O outro lhe sussurra ao ouvido, dizendo que Nixon não se recuperaria do golpe, se ele tivesse lhe negado o aperto de mão.

O filme procura caracterizar os dois personagens. Mostra David Frost, tentando conquistar o maior número de patrocinadores e Nixon, em diversas situações, quando é hospitalizado com flebite e no convívio com a mulher e assessores. Jack Brennan, interpretado magnificamente por Kavin Bacon é seu assessor. É fiel como um cão. Atitudes éticas, honestas e sérias não estão no seu vocabulário. O negócio dele era proteger o patrão. Nunca quis enxergar as canalhices e safadezas do “boss”.

Rebecca Hall faz a namorada de David. Ela é linda. É a jovem que conseguiu deixar Scarlett Johansson em segundo plano em Vicky Cristina Barcelona. Também participou do filme O grande truque. No filme é o porto seguro de David, quando este precisa de alguém que o ouça e apóie.

O clímax e a chave de tudo acontecem na última entrevista. Nas primeiras, Nixon desbanca o entrevistador, contando sua vida, suas experiências e não dá vez a Frost. Nixon é o político esperto que não se abala. Podemos ver nossas inseguranças estampadas na cara do jornalista. Como qualquer um de nós, que conseguiu vencer seus desafios, ou pelo menos venceu os primeiros obstáculos, ficou de frente com o mais difícil e titubeou. David arregala os olhos e morde os dedos. Lembra os safenados e mamariados que resolvem colocar seu coração à prova e vão para as maratonas. Conseguem correr e levam um susto! E agora se eu morro? (eles se perguntam). E respondem para si mesmos; bem... fi-lo porque qui-lo, como dizia o presidente Jânio Quadros.

Cabe destacar que Nixon precisava revelar seus segredos para alguém, até para suportar viver consigo mesmo.

O telefonema do ex-presidente para Frost é revelador. Não sabemos se é verdade ou ficção, não importa. Depois de algumas doses de uísque, ele confessa seus sentimentos de inferioridade ao jornalista. Durante a universidade, não era valorizado pelos colegas, por mais que fizesse. Os estudantes eram uns esnobes, da alta sociedade americana. Nixon afirma amargamente que, na vida, sempre foi olhado de cima para baixo. Era como se todas as suas conquistas não valessem nada. Sempre era considerado um menor, um João Ninguém.

Esses sentimentos de inferioridade não são apanágio do ex- presidente, muitos de nós somos perseguidos por eles, e muitas vezes temos uma visão distorcida e depreciativa de nós mesmos. Assim como nós, Nixon precisaria rever seus valores e renascer para ele próprio. Mas como? No caso de Nixon, não sei... Faltava-lhe fundamentalmente a capacidade de amar a si e aos outros.

Mas David consegue um trunfo. Traz para a entrevista um fato que comprovava que Nixon sabia do escândalo Watergate, antes da data em que teria dito publicamente, ter tomado conhecimento do caso. Frost enfrenta o opositor, que vai se entregando. Nixon chega a dizer que quando um presidente erra e se coloca acima da lei, pode fazê-lo porque é presidente. Pede desculpas, mas afirma que não se jogará de joelhos para pedir perdão.
Parecendo mais velho ainda, ele vai desmoronando. Fala que cometeu erros e que traiu o povo americano. Nas entrevistas, a imagem mais poderosa é o close de Nixon, no final. É um homem derrotado, que assume seus crimes e sua desonestidade publicamente, como dizem os jornalistas, eufóricos. É o poder da televisão. Embora a TV simplifique muito as coisas, uma imagem poderosa vale mais que mil palavras. O close de Nixon, de cabeça baixa, amargurado revelou tudo o que os americanos e o mundo precisavam saber.
Frost vai à casa de Nixon para despedir-se, e o presenteia com o par de sapatos italianos, que o ex-presidente gostava, mas temia usar. Poderiam pensar que ele era afeminado. O próprio Nixon confessa que o que mais admirava no jornalista era sua capacidade de amar e ser amado. Isto sim, para ele era impossível, a capacidade de amar...

Assim, perdoado pelo presidente Ford, Richard Milhous Nixon morreu, em 1994. Faz-me lembrar Cristóvão Colombo, que depois de toda glória, morreu pobre e esquecido em Valladolid, em 1505 (guardei esta frase do tempo do colégio). Não sei se cabe a comparação, pois afinal Colombo foi herói e descobriu a América. Nixon envergonhou a América, morreu esquecido, não sei se pobre.

RIO CONGELADO

Rio Congelado é uma produção independente de Cohen Media Group, com roteiro e direção de Courtney Hunt. O filme recebeu duas indicações ao Oscar nas categorias Melhor Atriz e Melhor Roteiro Original. Ganhou dois prêmios no Independent Spirit Awards, nas categorias de Melhor Atriz (Melissa Leo). Foi indicado nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Misty Upham, a indígena Mohawk) e Melhor Roteiro de Estréia.
Rio Congelado continuou ganhando prêmios. Conquistou o Grande Prêmio do Júri- Drama, no Sundance Film Festival, o Prêmio SIGNIS e o de Melhor Atriz para Melissa Leo, no Festival de San Sebastián.

A filmografia de Melissa é extensa, entre outros assistimos a filmes estrelados por ela como Em pé de Guerra, 21 Gramas, As Duas Faces da Lei e Amigo Oculto.

Em menos de uma semana estão em exibição, em Porto Alegre, dois filmes, que enfocam o drama dos imigrantes ilegais que tentam entrar nos Estados Unidos. O primeiro, Território Restrito, trata do outro lado da fronteira, com o México. Em Rio Congelado os imigrantes tentam entrar através do Canadá. O primeiro filme faz com que nos identifiquemos de imediato com a jovem Mireya, a mexicana que tenta entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

Em Rio Congelado o drama se desenvolve em torno das relações de duas mulheres. A diretora e roteirista Courtney Hunt nos mostra a história do ponto de vista de Ray Eddy ( Melissa Leo) e Lilá (Misty Uphan). A visão feminina de Hunt privilegia o drama das personagens, muito mais do que a violência e a repressão contra os imigrantes. Estes são pano de fundo para todos os acontecimentos que se desenrolam.

Não há como não identificar-se com as duas mulheres, que vivem na contravenção. Presume-se, que da mesma forma que na fronteira mexicana, os snakeheads não estariam nem um pouco preocupados com o destino dos imigrantes. Desde que pagassem, não importaria se morressem de sede no deserto; ou de frio na reserva congelada junto ao Rio Saint Lawrence. Nada disso é verdade para Ray e Lilá. Os sentimentos que movem as duas mulheres são outros. Ambas possuem problemas familiares, mas estão imbuídas do firme propósito de salvar seus filhos. Em todas as situações transborda o sentimento de maternidade e humanidade. Embora nenhuma delas seja santa. Uma rouba o dinheiro da outra e depois leva o troco. As duas se envolvem mesmo, porque são muito parecidas. Os semelhantes se aproximam. Uma é o reflexo da outra.

Ray Eddy é uma mulher branca, alta e magra, que vive com seus surrados jeans, um blusão de lã bastante gasto, cabelo comprido, que não vê pente, com uma pele seca e precocemente envelhecida. É fumante inveterada. Melissa Leo é perfeita para caracterizar a personagem. Ray foi abandonada pelo marido, viciado em jogo. Precisa urgente de dinheiro para pagar as contas e cuidar dos filhos. Os credores ameaçam e batem à porta.

Lilá vive na Reserva Mohawk. Há tempo que faz negócios escusos. Perdeu o bebê para a sogra. Lilá é forte como um touro. Seus traços indígenas lhe conferem dignidade, apesar de suas atitudes denunciarem o contrário. Trabalha na jogatina. Rouba o carro de Ray e a leva a fazer o primeiro transporte de imigrantes sobre o rio congelado sem maiores explicações. Aliás, falar e explicar a situação para uns e outros é o que eles menos fazem. Quando Ray percebe, está envolvida. O Dodge Spirit verde da mulher é ótimo para carregar pessoas no porta-malas! Diante da situação consumada, Ray se rende à nova tarefa. Mas exige remuneração, nem que seja preciso apontar uma arma para o cretino que estiver tentando enganá-la.

O drama tem seu paralelo na própria paisagem. Faz um frio de rachar, que nenhum brasileiro consegue sequer imaginar, 34º abaixo de zero. Aquecimento é vital e quem tiver o trailer furado por uma bala pode morrer de frio.

Tudo é gelo, azul e escuridão. As duas mulheres precisam atravessar a camada de gelo do rio, através da Reserva Mohawk, uma espécie de território aborígene livre, onde a polícia não pode efetuar prisões. O que se descortina é o gelo que pode quebrar a qualquer momento, sob o peso do carro e a escuridão da noite. Desespero e coragem se misturam.

A vida de Lilá não é menos dolorosa. Saudosa de seu bebê, somente consegue vislumbrá-lo à noite, através da janela iluminada da casa da avó. O Conselho da Reserva estabelece regras rígidas que colocam Lilá em situação desfavorável. Até o dinheiro para o bebê, duramente conquistado, lhe é devolvido. É uma aborígene renegada pelos seus.
O sentimento maternal das duas aflora como um milagre, quando, inadvertidamente, Ray joga fora o bebê de uma imigrante, pensando que poderia ser uma bomba. Outros snakeheads poderiam descartá-lo, sem maiores problemas, mas não Ray e Lilá. Nisto está a beleza e a sensibilidade da diretora, apoiada pela atuação perfeita das duas atrizes.

Elas se arriscam mais uma vez, passam pelo gelo e pela polícia. Voltam, e milagrosamente conseguem encontrar o bebê. Ray ordena e Lilá obedece, é preciso aquecê-lo dando tapinhas em seus pés, e grudá-lo junto ao corpo. Lilá quase não acredita, mas ele está se mexendo. O milagre acontece. O mais difícil será entregá-lo para a mãe. Corajosas, as duas não hesitam em fazê-lo. Ali ninguém fala; ninguém diz palavra, ninguém agradece. O drama nos envolve profundamente. A fé se apresenta como um milagre, que desafia a razão.

Hunt nos fala de pessoas, que mesmo vivendo no país dos sonhos dourados vivem à beira da miséria, e não tem comida para oferecer aos filhos. Não sabem o que fazer no Natal. Courtney Hunt não deixa pedra sobre pedra, ao deitar por terra o país das maravilhas.

Num contraponto, Hunt nos mostra T. J. (Charlie McDermott), o menino de 15 anos, filho de Eddy, que se desdobra para cuidar do irmão pequeno. Charlie Mc Dermont foi indicado para o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. O jovem, a sua maneira consegue o ambicionado jogo Blast and Crask Track para o irmão. Até nos deixa com o coração na mão, quando vemos o pequeno completamente enrolado nas luzes de Natal. Tememos por um acidente. Ambos escapam de problemas como quem está na mão do anjo da guarda, das ilustrações de quartos de crianças.

O desfecho é emocionante. A situação se coloca de tal forma, que uma das duas mulheres precisará sacrificar-se para preservar a outra e os filhos. Ambas são testadas no espírito de renúncia e sacrifício.

Para Lilá o Conselho da Reserva coloca duas opções ou é expulsa da reserva por cinco anos ou se submete à lei dos brancos. Agora, nem dentro da reserva estarão a salvo. O acordo entre as duas oscila, é um vai e vem.

Entretanto paira a dúvida. Seria o medo da morte solitária no horror da noite gelada, que moveu Ray para sua decisão definitiva? Pensando bem, não poderia ser. Afinal, se ela morresse sobre o rio congelado, seus filhos ficariam ao desamparo.

Ray no meio da escuridão pressagia, que sucumbirá à noite escura e geladíssima. Não conseguirá atravessar o rio em seu caminho de fuga. Apesar de todos os seus defeitos era uma mãe amorosa. Racionalmente deve ter pensado que era melhor renunciar em nome de um futuro imediato para as crianças. E estabelece o acordo final com sua parceira. Venceu com certeza o desejo de proteger os filhos, marcado como um DNA, dentro de cada mãe. Assim, com sua renúncia e sacrifício salvaria a todos, e a si mesma ao encontrar a paz.

Lilá busca dentro de si a força que nunca teve, para arrancar seu filho de braços estranhos e o abraçar.

Assim, muito mais que truculência e repressão, temos um filme gelado e escuro, sobre pessoas verdadeiras que sofrem, amam e infringem a lei, sem muita consciência disso. Mas, na hora das grandes decisões se transformam nos heróis anônimos que são rapidamente esquecidos ou nem sequer reconhecidos.

Esta é a história dessas duas pequenas vidas que Courtney Hunt nos joga na cara sem piedade, nos faz sofrer, queiramos ou não. Elas estiveram do outro lado da lei, mas Hunt às coloca em nossos braços, para que sejamos capazes de amar.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

PRESSÁGIO

O cineasta Alex Proyas escreveu e dirigiu filmes de grande repercussão como O Corvo (1994) - adaptação de histórias em quadrinhos de James O’ Barr - e Eu, Robô (2004), baseado em uma história de Isaac Asimov. Os filmes de Proyas têm muito de “dark”. O Corvo muito mais, pois Brandon Lee, o filho do ator Bruce Lee morreu em um acidente durante as filmagens.

Presságio não foge à regra. Mas é um mau filme, da série desastres e apocalipses. É uma decepção. A fórmula é nossa velha conhecida. Mistura diversos temas de outros filmes com seres extra - terrestres, naves espaciais e ameaças de fim de mundo.

Presságio antecipa o pesadelo que pode se abater sobre o universo num verdadeiro apocalipse, como nas profecias de Nostradamus ou do profeta Ezequiel sobre o fim dos tempos.

Porém o desfecho é inesperado e bobo. Como Nicolas Cage se prestou aquela palhaçada? Inacreditável.

Tudo inicia com os presságios da estranha menina e com os sussurros que comandam sua mente. Ela passa a escrever compulsivamente sequências e sequências de números. Na verdade, na escola, era para a garota fazer um desenho que seria colocado em uma cápsula do tempo, juntamente com os desenhos dos colegas, para ser aberta 50 anos depois.

Passado meio século, a cápsula é reaberta, na mesma escola. Caleb Koestler (Chandler Canterbury), filho do astrofísico John Koestler (Nicolas Cage) recebe a tal folha com os números, sem fim. Aliás o melhor ator do filme é o jovem Caleb.
John Koestler é professor, um infeliz viúvo que cuida do filho pequeno. A casa do professor é tão soturna que parece um porão, porém todo equipado com os melhores computadores.

Como hieróglifos, os códigos são desvendados por Koestler, que passa a viver em função das terríveis revelações. O professor corre abaladíssimo, com uma cara péssima, e sempre consegue ficar no meio da confusão. Ele descobre que as datas coincidem com desastres que aconteceram ou que estão por acontecer. Toma a si a tarefa de salvar sua família e o mundo.

Como a história precisa do complemento feminino, este vem na pele da filha da menina vidente, que escrevia o futuro nos números. Agora ela é mãe. Assim, mãe e filha farão parte da nova história. Cenas escuras, desastres horripilantes se sucedem. O horror continua enquanto seres humanos e estranhos aparecem e desaparecem à procura do filho de Koestler.

O drama se sucede até chegar ao inacreditável. A solução lembra uma Arca de Noé, onde as duplas de animais recolhidos são um coelhinho em uma coelhinha (e o filme passou na Páscoa! he, he, he).

As duas crianças, o filho do astro-físico e a neta da menina vidente são os seres predestinados. Eles são os eleitos e serão abduzidos. Os seres estranhos que os procuram, transformam-se em ETs luminosos, com estruturas de desenho digital. Sobem aos céus com as duas crianças, em nave espacial também de desenho digital. O filme do Spielberg com menos recursos era muitíssimo melhor.

No Paraíso, as crianças representam o renascimento da humanidade. Correm de mãos dadas em uma paisagem artificial, em um campo de trigo enorme, com uma grande árvore de calendário, no meio da paisagem idealizada, de desenho de escola de primeiro grau, dos anos 50.

Mas o que foi isso Nicolas? O que foi isso Proyas?

COMENTÁRIO

Cristina, o filme Valsa com Bashir ainda não estreou em Porto Alegre. Aqui não tem grandes filmes passando. E já assisti quase todos.

Celdani, concordo contigo em tudo que se refere a cachorrinhos abandonados. Pois esses bichos são os meus prediletos. Tenho dois cachorros, um poodle de 12 anos e uma vira-lata, que virou uma princesa. As patinhas dela são de cocker, não sabemos a idade.
Paulo Ricardo, fiquei feliz e prestigiada com o teu comentário. Espero que continues acessando o meu blog. O blog do teu tio Luiz é http://blog.estadao.com.br/blog/merten. Podes crer, o blog dele é uma verdadeira lição de cinema.
Abraços Doris Maria.

OS DELÍRIOS DE CONSUMO DE BECKY BLOOM

O filme Os delírios de consumo de Becky Bloom é uma comédia romântica, baseada na série da escritora inglesa Sophie Kinsella. Foram publicados quatro livros, "Os delírios de consumo de Becky Bloom", "Becky Bloom, delírios de consumo na 5ª Avenida", "As listas de casamento de Becky Bloom". Recentemente chegou às livrarias o quarto livro, "A irmã de Becky Bloom".

P. J. Hogan faz uma comédia que traz a sua mensagem pronta. A jovem Rebecca Bloomwood sofre os delírios de consumo. Sempre está pensando em comprar algo novo. Precisa consumir as melhores marcas Gucci, Cavalli ou Prada para sentir-se feliz. Nada consegue suprir o vazio de sua vida. Logo a sensação de tristeza se sucede, e exige novo consumo. Tudo é visto através do olhar do diretor sobre jovem Rebecca. Ela é uma graça. É bonita. É criativa. E é fashion. Como muitos jovens, Rebecca pode ser julgada com rigor excessivo pelos espectadores. Para os adultos pode parecer uma desmiolada à procura de emprego. Não, é uma jovem talentosa e criativa que consegue um emprego em uma revista de economia para escrever sobre investimentos. Seu objetivo maior era chegar à revista de moda, da mesma editora.

Quando Rebecca descobre que seu casaco de Cashmere não era tão verdadeiro - tinha um mínimo de lã -, compara-o aos investimentos que propalam segurança no futuro. Mas, na verdade são tão falsos quanto seu casaco, e tão falsos quanto a empresa que ofereceu bônus de milhões de dólares para seus chefões, enquanto seus investidores perdiam 8% de suas aplicações.

A atitude criativa e irreverente da jovem faz com que ela se torne requisitada pelos leitores. Vira uma celebridade. Recebe muitos telefonemas e convites para participar de programas de TV.

Hugh Dancy (Luke Brandon) é o próprio príncipe. Ele contrata Rebecca e se apaixona por ela. Nasceu em berço de ouro, de família abastada, sua mãe é famosa. Brandon entende de moda. Sabe escolher roupas Prada. Mas não liga muito para a moda. É jovem, bonito, corajoso e competente e entende de finanças. Sabe estabelecer a diferença entre custo e valor. Os dois formam um belo casal, que ganha simpatia do público.

As gags provocadas por Rebecca lembram cenas de filmes de Jerry Lewis, ou O convidado bem trabalhão, de Peter Sellers, onde o herói pode ser bobinho, mas sempre leva a melhor. Quando ela dança com Brandon, o leque que sacode nervosamente tira fininhos do rosto do moço e provoca risos na platéia. Rebecca é a “clown” que dá certo, e que fundamentalmente é esperta e inteligente.

A moça tem seus problemas. Amarga as conseqüências de seus atos e dá o troco a seus detratores. A idéia moralista é que em uma sociedade de consumo como a americana, os verdadeiros valores não devem estar no consumismo, que preenche temporariamente o vazio, exigindo sempre mais.

As duas personagens, Andrea Sachs (Anne Hathaway) - O Diabo Veste Prada- e Rebecca são semelhantes. Ambas devem renegar os valores e as futilidades do mundo da moda. Devem desprezar as possibilidades de altos salários e o artificialismo do mundo fashion, em nome da verdade, do ascetismo e da pureza com pouco dinheiro.

Embora os dois filmes acenem para esse tipo de conduta, não existe garantia de felicidade para esse tipo de renúncia, que também tem as suas falsidades. Nem sempre os grupos de apoio aos “shopaholics” - os viciados em consumo - são isentos e verdadeiros; isso pelo menos era óbvio no filme.

Se o vazio de Rebecca foi preenchido pelo relacionamento com o bem sucedido jovem Brandon, o namoro com o consumo se manteve como uma promessa. Então porque não aceitar a proposta da estilista, interpretada por Kristin Scott Thomas, a belíssima e competente estilista? Afinal não era esse o sonho da moça da echarpe verde?

Cabe destacar que muita coisa em Os delírios de consumo de Becky Bloom parece mesmo passar em outro mundo. Está tão longe de nossa realidade, que não acreditamos quando ela aconselha a jovem, para quem vende a echarpe verde, a não usá-la com amarelo! Mas como? Isso é tudo o que uma brasileira gostaria de ter e usar:

Um excelente emprego onde pudesse usar uma echarpe verde com qualquer coisa amarela!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

TERRITÓRIO RESTRITO

Wayne Kramer é o diretor do filme Território Restrito. Kramer lança um olhar muito lúcido sobre os excessos cometidos pelos oficiais da polícia de imigração, dos Estados Unidos, em relação aos imigrantes clandestinos. Sabemos que diariamente brasileiros, uruguaios, paraguaios, peruanos, mexicanos e até chineses, australianos ou iraquianos “desposseídos” tentam por tudo entrar no país dos sonhos dourados, e sofrem humilhações e sofrimentos inimagináveis. Os imigrantes vindos de tão longe, fazem de tudo para naturalizar-se americanos. Isto sempre me causou uma forte impressão. Fico consternada perante essa situação.

Harrison Ford (Max Brogan) é o policial que trabalha na Imigração e repressão à entrada clandestina nos Estados Unidos. Não é sem razão que no colete dos policiais está escrito Imigration Ice, os oficiais cumprem sua missão de repressão e são frios como gelo.

Entretanto, o filme mostra o personagem de Harrison Ford (Max) como o único oficial da Imigração que sente compaixão pelos desesperados que tentam atravessar ilegalmente a fronteira. A perseguição aos imigrantes é como uma caça aos ratos, desumana e degradante. Fora do prédio onde os clandestinos se abrigam, os policiais se preparam e lançam o ataque. Max sempre fica para trás, parece indeciso em relação a seus valores; não sente vontade de continuar com aquilo.

Nessa situação ele encontra Mireya Sanchez (Alice Braga). Ela está acuada, feminina, graciosa como ela só, com uma bolsa pequenina, de onde tira o endereço e pede que seu algoz deixe-a partir, ou que procure seu filho. Max fica parado, cravado pela flecha do amor à primeira, e última vista. Bem que ele gostaria de ter feito vistas grossas e deixar a pequenina Mireya escondida atrás dos cabides de roupas. Mas seu colega, debochando, interrompe-o e pergunta se pretendia pedi-la em casamento. Existem momentos na vida de todos nós, dos quais nos arrependemos amargamente; perguntamo-nos porque agimos daquela forma. Com certeza, Max nunca mais esqueceu e deve ter-se arrependido pelo resto da vida, por não ter deixado Mireya passar.

O que Max tenta consertar não resolve, é tarde demais. Às vezes a felicidade pode bater à porta. As pessoas não deixam que ela entre e permanecem vivendo suas vidinhas medíocres. Assim era Max, que vivia a própria contradição. Tinha consciência da situação. Vivia obcecado por um enorme sentimento de culpa. E também era responsável pelo massacre diário dos imigrantes.

Kramer coloca no personagem todo o sentimento de culpa dos americanos em relação aos maus tratos que causam aos imigrantes clandestinos.

Nesse momento, me orgulho de ser brasileira, apesar de todos os nossos problemas, sei que não somos o país dos sonhos dourados, mas sei também que em muitos aspectos somos mais civilizados. Uma de minhas lembranças mais remotas foi quando atravessei a fronteira entre o Brasil e o Uruguai, simplesmente atravessando a rua. Livramento e Rivera, respectivamente são duas cidades, uma brasileira, outra uruguaia, unidas por uma rua. Atravessar a rua significava atravessar a fronteira, nada mais civilizado. Sei que na fronteira norte-americana a situação é outra. Mas, se até o muro de Berlim foi derrubado, sonhar nunca é demais.

Tentar atravessar a fronteira, com uma cerca muito alta de arame farpado e centenas de policiais armados, com binóculos cuidando qualquer movimentação era risco de morte certa. Impressionante é ver como Max é o único que passa para lá e para cá, nos portões da fronteira. Ele é americano, é policial e tem passe livre.

O pior era tentar atravessar o deserto antes de chegar ao país dos sonhos dourados. Essa situação sempre me enojou. Centenas de pessoas são encontradas a poucos metros da fronteira, com pés esburacados e comidos por animais. No filme, reconhecemos a pequena bolsinha de Mireya. Os policiais parecem que estão jogando vídeo game. Analisam qualquer movimento na paisagem para descarregar suas armas. É a cultura da suprema violência. E agora? O sonho da América esta dando água, está entrando água no navio... Mas até lá, quantas Mireyas precisarão sofrer o abuso e o abandono?

Diversas histórias de sofrimento, abuso, abandono e preconceito se entrecruzam no filme, unidas metaforicamente pelas visões a vôo de pássaro das estradas com seus viadutos de múltiplos acessos, com as visões das cidades a olho de satélite.

Cada uma delas pode ter um desfecho surpreendente: temos o jovem judeu, Gavin Kossef (Jim Sturgess), que para ser aceito, precisa fingir que é dedicado à religião judaica. O diretor não deixa de colocar personagens sábios que fingem não saber das artimanhas dos imigrantes, mas valorizam seus dons. Como o sábio rabino que quase pisca o olho para o jovem cantor, sinalizando a sua aceitação.

Impressionante no filme é o ator Ray Liotta (Cole Frankel), que obriga a jovem australiana Claire Shepard ( Alice Eve), a se prostituir em troca do ambicionado green card. Ray Liotta representa com perfeição o papel do homem truculento, gordo, nojento, escravo de seus desejos sexuais e bestiais. Submete a jovem atriz a situações revoltantes. Mas o próprio Ray está um lixo. Deve ter feito uma plástica que o impede de falar e rir. Seu rosto é uma bola, perdeu o ritus facial.


Com Harrison Ford acontece o contrário, suas rugas mostram um rosto esculpido pelo tempo, de quem nunca deixou de ser. Com muitas rugas, ele continua bonito. E sempre nos faz lembrar o belo Indi.

As outras histórias - entrelaçadas pelas visões das estruturas urbanas e pelas estradas que levam a tantos caminhos - nos mostram a jovem Talisma Jahangir (Summer Bishil), de Blangadesh, que com 15 aninhos não tinha a menor noção de que não deveria expressar suas opiniões sobre os atos terroristas de 11 de setembro, justamente para uma platéia de americanos. Fazia uma enorme diferença ser asiático e ter nascido ou não, nos Estados Unidos. Em seu adeus, o ódio nos olhos da menina revelam o nascimento de mais uma anti - americana.

As histórias se entrelaçam. Se Cole é um arrivista, sua mulher Denise Frankel (Ashley Judd) é uma advogada que trabalha em prol dos imigrantes e consegue a guarda da menina órfã.

O filme trata com detalhes da relação entre Max e seu colega Hamid Baraheri (Cliff Curtis), que também era de uma família de imigrantes, uma espécie de clã, em cujo seio imperava o preconceito contra o diferente. Os irmãos se envolvem em crime vergonhoso. Mas o personagem de Cliff Curtis terá a sua redenção.

O jovem coreano - com dentes perfeitos - Yong Kim, envolve-se em um assalto à mão armada, em um mercado, onde Hamid está fazendo compras. O policial resolve o impasse e dá a Kim, a sua segunda chance.

Assim, as famílias de Kim, de Hamid e de tantos outros poderão comparecer à cerimônia de naturalização dos imigrantes, que se rendem ao feitiço do sonho americano, se emocionam e até aprendem o hino nacional:

“Oh, say, can you see, by the dawn's early light. What so proudly we hailed at the twilight's lasted gleaming?...”

Aprendem o hino nacional americano? Mas a que preço?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

POR AMOR

O título do filme em português é vago e inexpressivo. Em inglês, Personal Effects se refere aos efeitos devastadores, de tragédias que se abateram sobre muitas famílias, em uma cidade norte-americana. Em vista disso os envolvidos se encontram reunidos em grupos de apoio, enquanto aguardam os julgamentos dos casos que envolvem os crimes contra seus parentes.

As famílias aguardam respostas em salas de espera. O filme fala do tempo que se passa esperando parentes que não voltam mais. De repente, a espera pelo desfecho de um julgamento poderá parecer excessiva e insuficiente. Os familiares poderão se transformar em elementos ativos, que participarão da história. A vida nesse compasso de espera pode ser tão insuportável quanto entrar num avião errado e parar num país errado. Esse é o mote do diretor David Hollander, que usa o ator Spencer Hudson (Clay) como o elo que une os diversos momentos do filme.

Clay é um adolescente surdo e mudo, filho de Linda (Michelle Pfeiffer). O jovem parece ser autista. Seu pai foi assassinado, e Clay transformou-se em um jovem rebelde. Ashton Kutsher é Walter, o jovem de vinte e quatro anos que vem de Iowa, após a morte de sua irmã, para dar apoio à mãe (Kate Bates) e à sobrinha, uma menina de cinco anos.

A cena em que Linda conversa com Clay através do balcão envidraçado da prisão, une os elementos do filme. O jovem escreve que é como os peixinhos dourados que vivem em um aquário, e somente podem ser vistos através do vidro. Clay não ouve e não consegue se comunicar com os outros. Fala somente com a mãe.

O jovem Walter é problemático. Em sua sala de musculação escreveu para não esquecer: sem arrependimento, sem remorso e sem piedade. Assim ele caracteriza o assassino de sua irmã Anie, encontrada nua, boiando à beira do rio.

Em Iowa, pelo menos, Walter tinha objetivos na vida, treinava para o campeonato de luta livre. Agora tinha perdido seus sonhos, não sabia o que fazer de si. Como ele mesmo dizia, era um frango amarelo, alto e magro. Um frango que não conseguia esconder sua tristeza. Walter fazia propaganda de uma loja que vendia hamburgers de frango.

Linda e Walter se encontram no grupo de apoio. Cada um deve falar das coisas mais difíceis e doloridas. Walter está sempre muito tenso e em silêncio. Sempre que um deles consegue dizer alguma coisa o animador do grupo fala good stuff. E argumenta que independente do resultado do julgamento eles poderão continuar achando que não foi feita justiça.

Linda e Walter se envolvem, assim muito devagar e com muita sutileza. A relação dos dois é delicada. Michele Pfeiffer é uma mulher belíssima. Não importa a idade. Para caracterizar o personagem, sua roupa e seus sapatos de plataforma são tristes. Bem como seu cabelo, que é comprido e murcho. Mas o olhar dela é vivo e perspicaz. A cena que mostra os amassos entre o casal é a mais bonita do filme. Sempre achei muito atraente a estética e o encontro do masculino e do feminino, do homem e da mulher. Tipo assim, feitos um para o outro, com encaixes perfeitos. A mão dele, muito grande, abraça, cobre a cintura e parte do seio de Linda. Walter passa a mão por baixo, levanta o vestido fininho da atriz e ela se pendura nele. Linda é leve, graciosa e pequena, enquanto ele é um homem grandão e másculo.

Quando os dois se amam, o depois, a felicidade do personagem é mostrada o por David Hollander em um close, que parte do enorme olho castanho de Walter. Ele era um cara tenso, que não baixava a guarda, nem na festa de casamento a que fora convidado. Queria dançar com Linda, mas não conseguia. Se via dançando, mas ficava parado, imóvel.

Mas esse acerto na cama não reduzia os problemas do personagem, que não superava sua raiva, nem os de Clay. Walter vivia de cara amarrada, com uma cara de susto com os absurdos, que via e não queria acreditar. Como por exemplo, se o assassino de sua irmã você julgado inocente.

Em cenas silenciosas, a vida continua, o tempo passa e o espectador houve o fundo musical de Clay. Walter observa o jovem ser atacado por um grupo de vândalos. Clay descontrolado aponta com uma arma para seus inimigos. Não será a primeira vez.

Walter funciona como um pai substituto. Leva Clay para o treinamento de luta livre. Assim a raiva do menino irá se aplacar um pouco. Como se sabe muito exercício relaxa, e melhora a auto-estima. E é disso que precisamos, com certeza.

A cena em que os dois treinam é como uma dança. Walter tal qual um professor de dança, ensina seus passos e seus segredos a Clay. Eles dançam uma espécie de balé, ensaiando os ganchos da luta. O menino tem dificuldades, não se entrega de todo. Isso tem seus significados.

E, é Clay que tudo vê quando Walter faz suas besteiras. O menino o idolatra, apesar de Walter não conseguir entender quando Clay diz que o ama como a um pai. Esses desencontros, frutos da falta de confiança em si próprios e nos outros fazem com que os dois personagens se percam.

Glória a mãe de Anie e Walter, apesar de todo o sofrimento supera seus problemas, ri e chora ao mesmo tempo, livre do ódio. Walter e Clay ainda deverão crescer para superar seus medos e seus temores.

A BELA JUNIE

A Bela Junie é um filme dirigido por Christophe Honoré. A história baseia-se no romance “La Princesse de Clèves”, de Madame de Lafayette, publicado anonimamente em 1678. Foi a obra mais famosa de Madame de Lafayette. Trata-se de um dos primeiros romances históricos franceses a tratar dos aspectos psicológicos dos personagens. Na história, Chartres é uma bela jovem que se casa com o Príncipe de Clèves. Nemours, um jovem fidalgo apaixona-se pela princesa. Ao saber do romance, o príncipe literalmente morre de ciúmes.

O final para os dias de hoje é absolutamente imprevisível. Acho que os jovens não se sentirão muito atraídos pela história. Apesar de ser um filme sobre a juventude. Além do que, ele é um pouco lento. Quem não conhece a história não imagina as coisas que vão acontecendo.

Junie (Léa Seydoux) muda de escola quando sua mãe morre. O clima entre os estudantes é o mais interessante dentro do filme. No início, eles estão assistindo a uma aula de inglês. Quando o professor coloca uma gravação para os alunos ouvirem, estes são filmados em close. O professor coloca suas questões. As expressões dos alunos são muitas e não revelam seus pensamentos. Todos são bonitos e muito, muito jovens. Os alunos permanecem à disposição da platéia, cada um com sua expressão. O espectador se pergunta se eles estariam prestando atenção à aula.

O filme revela o clima emocional entre os estudantes, sem provocar emoção no espectador. Tudo são fofocas e segredos que não devem ser contados, mas que passam de boca em boca. É como em toda escola, os boatos se espalham com a rapidez do buscapé das festas de São João. É como se os jovens acendessem o estopim, e o buscapé das fofocas e do disque-disque explodisse em ziguezague. Fulano gosta de fulano, que gosta de fulano e assim por diante. Esse clima me parece importante para compreendermos um pouco mais a sensibilidade dos adolescentes. É difícil entender a fragilidade, a emoção e a paixão dos deles. É outro mundo que precisa ser muito bem compreendido pelos adultos, que esqueceram, com certeza, o tempo em que foram adolescentes.

Otto (Grégoire Leprince-Rinquet) ama Junie, que descobre estar apaixonada por Nemours (Louis Garrel). O nome do personagem é o mesmo da novela de Lafayette. A professora Florence (Valerie Lang) gosta de Nemours, mas o belo professor de italiano, quase tão jovem quanto seus alunos, apaixona-se por Junie.

Em paralelo surgem outros romances, como a atração que acontece entre Mathias (Esteban Carvajal-Alegria), primo de Junie, e Martin (Martin Siméon). O romance homossexual é difícil de ser assumido por Mathias. Ainda mais que, outro colega, com cabelos em pé - que lembram os do livro do João Felpudo, o que não cortava o cabelo - também é apaixonado por ele.

O quiproquó acontece quando é perdida uma carta de amor. Todos lêem, todos se grudam na carta que passa de mão em mão, de olho em olho. Todos pensam que é de outra mulher, que declara seu amor para Nemours.

Junie que era uma menina frágil e confusa fica mais perturbada ainda. Otto sente que algo vai mal, pede para um colega espionar Junie. O espião exige pagamento, mas vai, pé ante pé espionar o beijo proibido. Todo esse vai e vem cria um “clima” dentro do filme. Os boatos e fofocas continuam.

O frágil Otto precisa cumprir seu fado. O mais estranho é que ele cantarola a canção que é traduzida para o espectador e se joga !! Sem a menor emoção. É o fim do pobre Otto, do infeliz Otto, do bobo Otto, que não conhecia nenhuma história com o seu nome, até que Junie lhe mostra um livro com o título, “Otto”.
Os atores que fazem Junie e Nemours são muito bonitos mesmo, e cativam o espectador.

Cabe lembrar a controversa e delicada questão da relação amorosa entre professor e aluno. Que não deixa de ser o “cross de line “ que aconteceu com a psicóloga Claire (Anne Hathaway) e Erik Clarck ( Patrick Wilson), seu paciente no filme Passengers. Existem profissões em que os protagonistas dessa relação estão literalmente pisando em ovos. Se houver diferença de idade e se a mulher for mais velha está condenada por antecipação. O caso pode facilmente ser caracterizado como corrupção de menores. No filme, o professor era quase tão jovem quanto seus alunos, porém sempre permanece a questão ética que envolve todo o ambiente acadêmico e a instituição, o corpo docente e os próprios alunos. Todos são personagens e terminam fazendo parte da história de amor. Como no filme, todos espiavam, até as paredes tinham ouvidos, todos liam cartas e bilhetinhos endereçados a outros, todos opinavam.

Enfim, vale a pena conferir A bela Junie. Com exceção das questões éticas envolvendo a relação de amor entre professor-aluno, que não é o fulcro da questão no filme, o desfecho deixa o espectador meio sem graça, sem entender as razões psicológicas de Madame de Lafayette aplicadas ao século XXI. Tenha paciência, essa história tinha sentido no século XVII, mas no século XXI?



sexta-feira, 3 de abril de 2009

COMENTÁRIO

Pois é Cristina, tens razão e não havia nada mais triste no Filme O Casamento de Raquel do que aquela mãe distante, incapaz de perdoar. E nada mais triste também do que o olhar da filha para a mãe, em busca de um perdão que não veio.

PERDIDO PRA CACHORRO

Perdido pra cachorro é muito divertido. O filme é dirigido por Raja Gosnell, com um elenco de atores famosos fazendo as vozes dos cachorros. O filme arrecadou 29 milhões de dólares, nos Estados Unidos. É um sucesso da Disney que agrada a grandes e pequenos.

A história é nossa velha conhecida. Amamos A Dama e o Vagabundo (Lady and the Tramp), também da Disney e tivemos nosso álbum de figurinhas, não é verdade? Era tão lindo que nunca o esqueceremos. Assim como o Vagabundo que se apaixonou por Lady, a cocker dourada - quem não lembra dos dois comendo massa? - aqui o pequeno herói é Papi ( voz de George Lopez), que se apaixona por Chloe (voz de Drew Barrymore), a chihuauha de Vivian Ashe (Jamie Lee Curtis). Papi é o cachorrinho vira latas, de orelhas grandes e empinadas, que é adotado pelo paisagista de Ashe. A paixão não será apenas do cãozinho, como não podia deixar de ser, seu dono também se apaixona pela sobrinha de Vivian.

Adorável no filme é a forma brincalhona com que Raja critica as dondocas de Beverlly Hills, que usam seus bichinhos de estimação como se fossem jóias. Os pobrezinhos são levados em grandes sacolas - criadas por famosos designers - por onde aparece somente a cabecinha do bicho. A pobre Chloe usa boné e óculos rosa, calcinha rosa com bolinhas brancas e sapatinhos. Está habituada a uma vida de futilidades e festas com seus amigos e com tudo de bom para cachorro. Todos os amigos de Chloe são absolutamente ridículos em suas fantasias, ninguém tem consciência disso. Sebastian, Rimini e Delta vivem como humanos, tomando sol à beira da piscina.

Rimos muito quando a tia Vivian viaja e deixa a sobrinha cuidando da cachorrinha, com todas as recomendações. Tinha até lista por escrito. Chloe tinha horário para tudo.

Olhem que não estamos em Beverly Hills, mas sabemos que muitos de nós, nos negamos a deixar nossos bichinhos em Pets, quando viajamos, e não permitimos que eles andem em taxi-dogs junto com outros cachorros. Que horror, nem pensar! Muitos donos, assim como Dora - a mulher do padeiro no Auto da Compadecida - oferecem a seus bichos o melhor filé, como se isso fizesse a diferença! Por isso mesmo, todos eles morrem de rir, e nunca deixam de rever o belíssimo filme de Guel Arraes, quando João Grilo e Chicó comem o bife da cachorrinha, e esta morre depois de comer as porcarias que eram o almoço dos dois.

Perdido para Cachorro coloca tudo nos lugares certos. Os maus são punidos e o bem é recompensado. Para as crianças é importante a visão de um mundo dominado pelos princípios do bem e do mal, que o mal desapareça e que os maus finalmente sejam castigados. Com certeza os pequenos rirão muito e dormirão bem esta noite.

A história é como tantas outras, em que o herói precisa sair do seu mundinho. Viver novas aventuras para transformar-se e crescer. No caso dos humanos, crescer como pessoas, e no filme crescer como cachorros.

O diretor também dá uma aula do politicamente correto em relação aos bichos. Fala da responsabilidade do homem perante os animais. E isso é muito bonito. A sobrinha de Vivian redime-se do pecado de ter descuidado de Chloe. Consegue fazer o certo e dar um lar adotivo para cada um dos amigos abandonados da Chihuahua.

O recado de Raja para adultos e crianças vem quando Chloe e seus amigos chegam ao grande templo, onde a raça chihuahua teria surgido no México, em meio a ruínas pré-colombianas. Montezuma o líder chihuahua cantava em coro, rodeado de milhares de cachorrinhos da raça.

- ”Somos pequeninos, mas somos poderosos, encontre seu latido, aquele que faz de você, você mesmo”.

Esse recado era para Chloe:

- “Você precisa ter o seu próprio latido para ser mais você”.

- “Não somos brinquedos, nem acessórios de madame. Não fale conosco com voz de bebê”. Acho que eles estavam querendo demais. Impossível deixar de falar com eles na língua do “l”.

- ‘‘Posso ser pequeno, mas estou lutando por uma coisa maior que o mundo, na minha inspiração do dia a dia”.

Chloe encorajava Delgado (voz de Andy Garcia), o pastor alemão, verdadeiro herói do filme, que tinha perdido o faro e penitenciava-se por isso:“Vamos, cheire, você consegue!”

Perdido pra Cachorro agrada também pelo décor, pela visão do México, um país belíssimo e colorido. O filme enfatiza que no México tem tudo, arte cultura, arquitetura, beleza da cidade, beleza do povo mexicano e beleza das praias. Além de inúmeros problemas, é claro! Inclusive tinha até o novo perfume para cachorros, ao invés de Channel No 5, agora Chloe usava México No 5. E viva México!