quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Star Wars

Assistir a Star Wars, episódio VII é como visitar um  passado  que está se reinventando. Esqueci muita  coisa,  e me  surpreendo ao ver que o  tempo passou para Hans Solo e  a princesa Leia. Tento lembrar-me de minha  vida nessa época, esqueci, não lembro nada… Mesmo assim, ao que parece os cinquentões e sessentões de hoje são os que mais amam a série de George Lucas.
O novo diretor J. J. Abrams se permite algumas mudanças, mas o essencial está ali. A luta do Bem contra o Mal, o eterno embate entre jedis e os que optaram pelo lado sombrio da Força. Adoro esta parte, e sempre me inquieto e surpreendo com os que, como Darth Vader  e Kylo Ren ( Adam Driver),  escolheram a escuridão do Mal.
Desta vez a estrela é a catadora de lixo, Rey (Daisy Ridley),  interessa muito mais saber que são seus pais, do que se preocupar com a identidade de Kylo, o herdeiro da Darth Vader. Hans Solo e Leia  comentam sobre a ambiguidade do filho, que teria nascido ao lado das forças do Bem, por isso  não desistem de tentar reconquistá-lo…
A série reproduz momentos da história da humanidade, a cena que mostra o grande exército da Primeira Ordem, pronto para a guerra, é a mesma que vimos no documentário Nazista sobre o Terceiro Reich, em Nuremberg, dirigido por Leni Riefenstahl.
A primeira Ordem tem em  Snoke (Andy Serkins), o líder supremo, que insiste em completar o treinamento de seu pupilo Kylo. Porém quando este último enfrenta Rey, surprende-se com a grandiosidade da Força não treinada da jovem, mesmo assim, capaz de combater o Mal. Aguardem os próximos episódios, com certeza Rey será a grande atração!
Kylo, comparado a Darth Vader, é frágil, franzino, desengonçado. Sua voz não assusta nem criança… Talvez o dIretor tenha escolhido o ator Adam Driver para mostrar seu lado ambíguo e indeciso. O jovem com uma veste negra e cabelos cor de ébano parece  mais conquistador espanhol , daqueles que dizimaram as culturas indígenas das Américas.
Kylo sofre, não consegue decidir-se inteiramente pelo Mal, surpreende quando, finalmente toma a decisão fatal e mata o pai! Credo, que horror para os espectadores que se perguntam, mas Star War sobrevive sem Hans Solo? Sabemos que para crescer e tornar-se adulto, qualquer filho, na face da terra, psicologicamente, mata o pai, pois J. J. Abrams levou esta máxima ao pé da letra!
Não deixe de assistir a Star War, preste atenção à beleza das naves, quem sabe anunciando um futuro próximo e se delicie com os robôs R2-D2, C-3PO e o novo BB-8, são eles os detentores do segredo do episódio! 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O Clã

Pablo Trapero é  genial em O Clã. Nos últimos tempos, poucos filmes causaram-me tanta emoção! Ao que parece, os argentinos estão anos-luz à nossa frente, pelo menos no que se refere ao cinema e à capacidade para denunciar  a corrupção e o desmoronamento da intituição família…
A história é real e fala sobre o Clã dos Pucci.  Arquímedes (Guillermo Francella), o pai,  é um verdadeiro produto da ditadura militar, na Argentina. Veja-se as referências a Comodoro, que dava-lhe todo o apoio. Na falta do que fazer, com a evolução da sociedade argentina em direção à democracia, Arquímedes, especialista em aprisionar e matar, durante a ditadura militar,  sequestra pessoas ricas, exigindo resgate. Nunca devolve a vítima  às famílias, um tiro certeiro termina com tudo.
O mais chocante é que as pessoas  ficam presas em sua própria casa. A mulher e os filhos fingem que não sabem o que  se passa.  Nos telefonemas aos parentes, fala em nome de uma suposta organização guerrilheira.
Impressiona  a calma e frieza com que o suposto bom pai de família  envolve os filhos em seus planos diabólicos. A mãe ao que parece, venera o marido, solidariza-se com ele, em uma atitude de submissão, tipicamente machista. Muitas mulheres adotam esse comportamento sem ter a menor consciência de quem, ou do que  são. Além de alienada, a mãe  é uma criminosa,  tão podre quanto o vilão.
Em todas as cenas, Arquímedes não perde a fleugma. Domina o filho ( Lanzana) , suposto herói de um time, Os Puma. No final, quando quer que este  o agrida para parecer que apanhou na prisão, humilha-o  a tal ponto, que fora de si, Lanzana bate para valer, a tal  ponto que o pai pede clemência! Pablo Trapero é soberbo quando mostra a decadência da família, alternando cenas de sexo selvagem - do filho, dentro de um automóvel - com a sequência de sequestro! E a música! Deus é absolutamente perfeita para as cenas de violência! E Arquímedes trai a todos, muitos dos sequestrados o conhecem e acolhem na pura ingenuidade… Em casa, no doce recanto do lar ensina a filha a fazer os deveres da escola.
Você consegue imaginar se um diretor brasileiro fizesse um filme sobre a vida e a personalidade do presidente da Câmara dos Deputados? Pense bem, até as famílias, os dois clãs, tem suas afinidades…, pelo menos no que se refere ao silêncio da mulher e filhos. Não sei se resolveria alguma coisa, mesmo assim, seria interessante. 
Para dominar Lanzano, o pai lhe oferece dinheiro, se havia qualquer resquício de dignidade ou  honestidade, tudo cai por terra, o filho se vende ao pai. Enfim, o que mobiliza e choca a todos é esta história de destruição da família.  No final, tal qual  Judas, Lanzana desespera-se e tenta o suicídio.
Quando os créditos revelam o final desta história dramática, sinto-me profundamente abalada e dominada pelo  mais triste e doloroso dos sentimentos - dor e pena do filho. Na tentativa de acabar com tudo,  ele simplesmente sobrevive... 
Surpreendendo a todos, o pai , condenado à prisão perpétua ainda - quem sabe? - realiza seu último sonho, formar-se em Direito!
Não é uma verdadeira loucura e insanidade esta história de argentinos?
Corra, vá ao cinema , assista ao Clã de Pablo Trapero!



domingo, 18 de outubro de 2015

La Sapienza

O título do filme "La Sapienza" muito provavelmente se refere à Igreja de Sant' Ivo a la Sapienza, de Francesco Borromini. A obra de Eugène Green é ambiciosa e hermética, ele fala muito de arquitetura, criação, luz e espaço. O mais interessante  é a maneira de realizar seu filme e de apresentar sua obra ao público. Todas cenas são filmadas com a câmera parada, Eugène leva a sério a simetria. Os atores recitam um texto sem a menor emoção, olhando no vazio. Os quadros parecem obras de arte, verdadeiras pinturas. Alexandre Schmid ( Fabrizio Rongionne) e sua mulher Elienor ( Chriestelle Prot)  estão sentados em uma mesa, conversando, almoçando ou jantando. Em lados opostos, brindam,  mantendo a simetria através de gestos cuidadosamente estudados, mãos, cálices, tudo tem o seu correspondente separado pelo eixo de simetria. 
A composição é tão marcante que o drama entre os personagens se dilui,   torna-se  desinteressante. Alexandre, acompanhado de Elienor, viaja à Roma, em busca de inspiração. Visitam as mais belas igrejas. A Catedral de San Lorenzo em Turim, de Guarino Guarini revela toda a magia do espaço barroco, que Alexandre tanto venera. Em sequência vemos a Igreja de San Carlo a Le Quatre Fontane, de Borromini, e  Sant' Andrea  al Quirinale, de Giam Lorenzo Bernini, todas, obras primas.  Finalmente, a Igreja de Sant' Ivo a la Sapienza, consagra o que existe de mais belo, capaz saciar a sede de Alexandre por beleza, luz e espaço arquitetônico.  O casal encontra dois irmãos, Goffredo (Ludovico Succio ) e Lavínia ( Arianna Castro). Enfim , se o drama inconsciente destes é um possível incesto, o encontro entre os quatro permite a solução  através do reencontro e da beleza da arquitetura.
Porém , emoção você só vai sentir na cena entre Elienor e o imigrante, quando este fala de sua morte próxima e do desejo de reencontrar a filha antes de morrer. Enfim, beleza, simetria, arquitetura , drama e espaço tudo isso você terá ao alcance dos olhos quando assistir com sabedoria a 'La Sapienza". Não Perca!

sábado, 22 de agosto de 2015

Missão Impossível -Nação Secreta

No mundo das franquias, Tom Cruise é a própria franquia Tom Cruise! Ponto final! Missão Impossível, dirigido por Christopher McQuarie é muito bom! Reúne todas as qualidades, tem  Cruise, como o agente secreto da IMF, mostrando uma coragem particular, que é só dele, de assombrar o mundo. O ator faz pessoalmente todas as cenas, não aceita nenhum "stuntman" nas mais explosivas situações de perigo ou correria.
Ethan Hunt (Tom Cruise) busca a Nação Secreta que pretende dominar o mundo. Descobre que essa sociedade, o Sindicato, é real e está tentando terminar com a organização a que pertence, a IMF.
Os atores foram cuidadosamente escolhidos. Tom Cruise continua o mesmo, um pouco mais velho, mas nada que prejudique sua performance. Preste atenção no olhar ou no trejeito dos lábios, quando coisas surpreendentes acontecem exatamente como ele previa! É muito divertido!
Hunt precisa agir sozinho, mas não sem a parceria dos amigos e companheiros Benji Dunn ( Simon Pegg), Luther Stickell (Ving Rhanes) , William Brant (Jeremy Renner) - adoro as caras e bocas  deste último, quando não quer falar nas sessões que decidem os grandes rumos das agências de segurança nacional! 
Alec Baldwin -  um bolão - onde está o belo de Kim Bassinger? é o chefe descrente -Hungley - que abandona Ethan à própria sorte e ainda o persegue! Assim se desenrolam as cenas de suspense e velocidade.
Missão Impossível tem qualidades raras hoje em dia, deixa muito claro, a existência de um mundo de corrupção, roubo, assassinatos gratuitos, personagens falsos, traidores, criaturas que nascem com parte com o mal, na mais simples das conceituações. E o grupo de nosso super herói tenta restabelecer o equilíbrio, e não estamos questionando se é para o domínio dos americanos, enfim… aqui ninguém é especialista em política internacional…
As cenas iniciais provocam o frisson, Cruise pula para um avião em movimento que contém uma caixa - que não deve partir, segundo Brant! - O genial Ethan fica pendurado na porta da nave - fechada-  constatamos que  levanta vôo! Benji, para nossa aflição se engana e abre a porta do outro lado!
Genial mesmo é a personagem feminina. Ilsa Fast (Rebecca Ferguson) é uma agente britânica, que precisa acender uma vela para deus e outra para o diabo, na tentativa de sobreviver em um mundo cão! A mais perigosa das criaturas é seu chefe, Atllee (Simon McBurney).
Acho que Rebecca Ferguson tem todas as condições de transformar-se em símbolo da nova mulher do século XXI. Ela é linda, rosto belíssimo, cheio de voltinhas, olhos verdes? ou azuis? A personagem é a própria Athena. A deusa tinha uma escultura enorme dentro do Partenon, e possuía uma armadura e uma lança que pesavam mais de 26 kg de ouro! Cheguei a ver a deusa Athena saindo voando de dentro do Partenon para salvar Cruise  da morte. Em 1984, Linda Hamilton, a Sara Connor, mãe de John Connor, em O Exterminador do Futuro, era a personagem da hora! Magra, era só músculos! Alguns anos depois esse tipo de mulher virou moda! Agora é a vez de Rebecca Ferguson!
A atriz faz cenas incríveis! Quem é  aquela mulher alta, que sobe os degraus do teatro em Viena, com um vestido amarelo, que mostra as pernas, cintura fina, e belíssimo dorso? Quem é a mulher que mergulha, serena, no cofre de água que contém os segredos da Sindicato e salva Ethan? Observe, ela nada, como uma grande ave-mãe. Envolve Ethan, com pernas muito fortes, aperta e segura,  levando-o para  um lugar protegido! Observe o charme com que levanta a perna direita e voa na motocicleta!
A cena do teatro, em Viena,  mostra que o diretor aprendeu com o grande mestre Hitchcock. Faça a analogia entre O Homem que Sabia Demais e as cenas de suspense no teatro. Alternam-se   convidados, músicos preparam seus instrumentos, Ethan desliza pela estrutura dos cenários. Enquanto o pior prepara-se para acontecer, indiferente, o espetáculo continua. Como no filme de Hitchcock, está marcado o momento do grande acorde musical, onde o plano maldito pretende concretizar-se! 
Finalmente cabe observar que os agentes são símbolos de honestidade,  companheirismo e generosidade, quando permitem que  o chefe Hungley se redima e usufrua das glórias, como se ele próprio tivesse  resolvido o grande problema!
A música de Lalo Schifrin é alta, belíssima, enquanto os dois companheiros caminham rápido, lado a lado, mostrando seu valor e trabalho de equipe. Não perca! Este filme também deve ser visto duas vezes!



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Que Mal eu fiz a Deus?

Mais um filme francês adorável. Desta vez o diretor quase ganha do genial Woody Allen, que na juventude trabalhava na TV, criando mais de cinquenta piadas por dia! Mesmo assim, Phillipe de Chauveron não fica atrás! A história pode parecer um sinal de boa vontade do diretor? Como se na França  pudesse acontecer uma aproximação entre  imigrantes e a tradicional família francesa?
Pelo menos é o que ele acena neste filme divertidíssimo e inteligente, onde a plateia ri de minuto em minuto! Será que as risadas bobas que damos incomodam os outros?
Não importa! o fato é que o Claude e Marie Verneuil ficam inconsoláveis quando suas adoráveis filhas começam - cada uma -  a casar em sequência, primeiro com o judeu David,  depois, com o muçulmano Rachid e logo em seguida com o chinês Chaou. 
Tudo é motivo para brincadeiras e descontração. Chauveron conquista o público na primeira cena. Os atores  Christian Clavier e Chantal Lauby, que fazem os pais desapontados com a nova vida estão ótimos! Imaginem,  terão de conviver com três  genros de nações  distintas!
A vida do casal piora, a última filha solteira fica noiva de Charles Koffi, um africano, com um sorriso lindo! Lembra o de Morgan Freeman na juventude, mas olhe lá,  nunca vi nenhuma foto do atour quando era jovem!!! Enfim, é só imaginar!
E as diferenças entre judeus, muçulmanos e chineses aos poucos vão sendo aparadas, até que David e Chaou se unem para produzir um Halal Eco, com o auxílio de um bom advogado muçulmano! Quando os Verneuils estão se recuperando do golpe, surge Koffi... O problema é que faltara coragem para a fofíssima filha loura revelar aos pais que o futuro marido  era africano! A cara de surpresa de Claude é hilária! E Koffi observa que o futuro sogro vai ter um derrame!
Muitas piadas são calcadas na realidade, o que torna tudo mais engraçado! Digam-me qual o idoso, que não levou um escorregão, já na terceira idade? E qual o idoso que não teimou em deixar pendurada na sala a foto da filha com o primeiro namorado? Quando o mundo já andara  mais rápido? E ele teimava em escondê-la  quando a filha vinha de visita! He! he! he! Claude fazia o mesmo, tirava do sótão o quadro tenebroso, pintado pela filha deprê, somente quando ela vinha de visita! O problema surge quando ele  escorrega no brinquedo dos netos,  cai de bunda no chão e fica com a cabeça atravessada no quadro! Impossível não identificar-se com o pobre Verneuil! He! He! He!  Imaginem a reação da filha depressiva!
 Foi muito, muito engraçado! As piadas se sucedem,   a da aproximação entre Verneil e o sogro africano é demais! Idem a do policial que simplemente não acredita que aqueles quatro imigrantes,  todos são literalmente genros do  francês mal comportado que mantém preso!
Não perca este filme,  assista duas vezes! Você terá uma dupla diversão!
E para finalizar tique atento ao recado do diretor:
-  "Le monde a changé, il faut être tolerant!"
-  "O mundo mudou é preciso ser tolerante!"



domingo, 26 de julho de 2015

Samba

Omar Sy é lindo! As mulheres concordam, é claro! E ainda faz um par perfeito com Charlotte Gainsbourg.  Verdade, ela interpretou papéis difíceis com Lars Von Trier - Deus me livre, cansei! Pelo menos no Samba  de Eric Toledano e Olivier Nakache,  a atriz tem um brilho muito especial no olhar. Aliás, o filme poderia ser acompanhado e saboreado justamente através dessa melodia do olhar, como diria o Luiz Carlos Merten. Enfim, não sei se ele concordaria comigo... Quando Samba e Alice se encontram, ficam magnetizados e atraídos um pelo outro, o olhar dos dois não esconde o quanto a presença de um é importante para o outro. Manu, a colega que trabalha junto aos imigrantes, tipo "façam o que eu digo mas não façam o que eu faço", já havia alertado: mantenha  distância,  não diga para ele o número de seu telefone! Mas como resistir a um pedido de Samba?
O jogo e a paquera entre o imigrante e Alice tornam o filme adorável! Por isso mesmo, Samba é um filme feminino. Na plateia, as mulheres não  contêm o riso, felizes - embora não tenham coragem para revelar. Garanto! Sonham, e  por algumas horas esquecem namorados e  maridos, cansativos e repetitivos! Quem sabe?
Trata-se da história de Samba, um imigrante senegalês, que há dez anos vive na clandestinidade. Preso,  tenta conseguir os documentos certos para permanecer na França. Alice é uma executiva que teve um colapso nervoso e quebrou o telefone na cabeça do colega! Tenta recuperar-se acariciando cavalos e pôneis. Belo tratamento, se ela tivesse uma Lolinha - cachorrinha- em sua vida nada disso seria necessário,  poderia ter quebrado o telefone na  mesa! Ha! ha! ha!
Por mais que os críticos falem mal de Samba e o considerem uma versão menor de "Os Intocáveis", o filme tem  seu valor, muito mais pelos aspectos relacionados ao amor e solidariedade, do que ao tema da imigração, propriamente dito.
Samba e Alice entram em tal sintonia, que passam a respirar juntos. Nada, diferenças de classe social, ou outras, nada poderia separá-los. O "début d'abus" é algo que preocupa o dois,  não sabem se  desejam iniciar o relacionamento pelo "classic ou pas classic"? Enquanto cérebros maquinam, sentidos decidem, vence a atração celebrada pelo mais "caliente" dos beijos! Está certo que o beijo de John Wayne e Maureen O'Hara, em "Depois do Vendaval", virou um clássico e está na memória coletiva como sendo o máximo em termos de beijo cinematográfico. Mas o beijo recente de Omar e Charlotte não fica atrás.
Não percam as piadas adoráveis do falso brasileiro dançando ao som da música da Coca-Cola e a do aeroporto que ficava ao lado da penitenciária, quem sabe para mandat logo embora aqueles estrangeiros indesejáveis!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

De Cabeça Erguida

De Cabeça Erguida fala da vida do menino Malony, dos  4 aos  18 anos. Obviamente o garoto é o reflexo da mãe (Sara Forestier), mulher instável e desequilibrada, muito louca mesmo! Quando o menininho tinha 4 anos chegou a abandoná-lo na sala da juíza, interpretada por Catherine Déneuve.
Desta vez não tenho queixas da deusa e não sinto-me tão  frustrada por ela não ser mais a atriz belíssima de "Os  Guarda Chuvas do Amor"! Ha, ha, ha! Como  conseguiria o milagre? 
Malony torna-se um jovem  incapaz de suportar frustações! Em alguns momentos entendi a irritação de Yann, um dos educadores, interpretado por Benôit Magimel,  quando este perde a cabeça e dá uns sopapos no chatonildo !  Aliás, Magimel está ótimo e para o cúmulo é um homem muito bonito!
A vida rola, o tempo passa, juízes e educadores não desistem.  Quando estou quase sem esperanças, descubro um brilho no olhar do menino, iluminado pelo sol, com a paisagem verdejante por trás.
Finalmente quando Malony diz para Yann: eu te amo! Percebo que a transformação aconteceu! O adolescente emociona, filmado  - De Cabeça Erguida - subindo as escadarias, com o filho nos braços,  está preparado para enfrentar o mundo! Não percam , o Festival Varilux do cinema francês está muito bom!

  

segunda-feira, 1 de junho de 2015

A Estrada 47



     

A história dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial pode emocionar alguns como eu, que nasci no ano em que a guerra terminou. Meu tio Cici era um dos soldadinhos voluntários que apareciam no filme. Para mim foi duro constatar que "esqueci o gesto". Como dizia o poeta, " ó que saudades das pessoas e dos lugares que não foram bastante amados na época passageira, quem me dera devolver-lhes o gesto esquecido, a ação suplementar... (RILQUE)
Assim, esqueci a foto do tio Cici abraçado no desenho de uma pin-up, recortada em papelão em tamanho natural! Eu pensava, que idiota esse meu tio, com essa lembrança da guerra!
Agora , entendi! Os soldadinhos eram uns inocentes guris de 18 anos, que não sabiam nada sobre a vida, muito menos sobre a guerra...
No filme, gostei  do distanciamento proposto pelo diretor - Vicente Ferraz - e da forma como ele deixa claro, o despreparo dos brasileiros . Fizeram o que tinham que fazer sem pensarem em ser heróis. Desbloqueram a Estrada 47, deixando os louros para os americanos.
Jecas, no meio da guerra e da neve, somente trouxeram de volta aquele hino de dar nó na garganta:
“Não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá, sem que eu leve por divisa este V que simboliza a vitória que virá!”
Sonhadores e eternamente estrangeiros eles voltaram, um queria agradar ao pai, o outro teve sua máquina fotográfica esmagada pelo tanque do herói amigo, americano!

Acho que Ferraz é o primeiro a nos fazer ver uma verdadeira e belíssima história, a do tio Cici...

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A Incrível História de Adaline

O tema parece insólito e incrível, uma mulher que não envelhece. A Incrível História de Adaline  possui uma temática que agrada ao público. Nas séries de heróis tipo Superman, há uma explicação para o personagem principal possuir super poderes. Adaline (Blake Lively), depois de um acidente de carro, adquire o poder maior de tornar-se imortal. A explicação parece lógica e o que intriga o espectador é a ausência da sensação da relatividade do tempo. Não a relatividade de Einstein, mas a de nossas lembranças e memórias. 
Adaline, nascida em 1908, mais de 50 anos depois, parece a mesma jovem, bela,  cintura fina e cabelos longos! Para sempre? quando sua filha já está uma senhora de cintura grossa, cabelos brancos e muitas rugas, ela permanece impassível. 
Para uma simples mãe mortal, a sensação de ser mais jovem que a filha, torna-se um drama incomensurável.  A cena em que mãe e filha se encontram é emocionante. Mas, parece que o diretor ainda não conseguiu explorar todas as potencilidades de tremendo drama.  Mesmo assim, me emocionei, pensando no horror que seria se minha adorável filha ficasse mais velha que eu, como se fosse minha mãe. O diretor  Toland Krieger até brinca com esse detalhe, quando a filha afirma que é mãe de Adaline.
Enfim, fugindo do preconceito e não querendo ser tratada como um ET, ela deixa de atender e de viver com a filha. 
Finalmente Adaline vive praticamente duas vidas. Enamora-se do filho (Michiel Huisman), quando descobre que o pai ( Harrison Ford) foi seu verdadeiro amor! 
Enfim, as cenas mais divertidas e emocionantes ficam por conta da relação com o pai, que não cansava-se de afirmar o quanto tinham sido íntimos!
Por mais que a história fosse diferente, o espectador sabe quando o óbvio vai acontecer. E por mais lindo que seja o filho - o ator  Michiel Huisman é belíssimo - preferimos a história de amor do velho Harrison Ford.

sábado, 2 de maio de 2015

O Dançarino do Deserto

O Dançarino do Deserto , dirigido por Richard Raymond, é a história verdadeira de Afshin Ghaffarian, um dançarino iraniano , que hoje vive seu sonho em Paris.
Desde criança o menino amava a dança. Justamente uma das atividades artísticas absolutamente proibidas pelo governo de Ahmadinejad. Se pensarmos que um dia o Irã se preocupou com os direitos humanos, essa proibição é impressionante e espantosa. Principalmente quando sabe-se que a cultura milenar do país tem sido proibida no regime dos ayatolás. Qualquer semelhança com o Brasil, não é mera coincidência!
Se dissermos para um jovem que nos anos 60 e 70 precisávamos viajar a Montevideo para assistirmos a filmes como A Laranja Mecânica de Stanley Kubrick ou Estado de Sítio de Costa Gavras, ele pensará que se trata de uma brincadeira! A faixa dos 20 não consegue imaginar o quanto a ditadura militar cassou a liberdade e o sonho dos estudantes da época.
Pensem nos tempos difíceis de hoje, tem gente pedindo a volta dos miltares! Nem estes conseguem acreditar em tal disparate!
No Irã, o pesadelo é aqui e agora! Ashin se inscreve em uma Escola de Dança, e logo sente a repressão. Quando o grupo de amigos é abordado pela polícia local, o clima de tensão faz lembrar o dia em que a polícia parou seus cavalos defronte à Arquitetura da UFRGS. A bala ficou cravata na parede da Biblioteca para todo verem! Diziam que o porteiro era dedo duro e que os próprios professores foram denunciados pelos colegas… Imagine a barbárie! Sempre pensei que ninguém deve ser submetido a esse tipo de tratamento, nem Afshin e nenhum de nós!
A vontade de aprender e de ser alguém foi mais forte. O dançarino desenvolve seu talento praticamente sozinho. Quando consegue formar o grupo de dança, falta-lhe plateia. Surge a ideia genial de fazer uma apresentação no deserto. O bailarino é uma figura delicada, doce, bonita. É o próprio gênio da dança! Só falta prová-lo para o mundo. Por um acaso do destino, desembarca na França, país que desde a Revolução Francesa leva a sério  valores como liberdade, igualdade, fraternidade e laicidade.
Afshin aprende com seu professor, que a dança liberta-se das palavras para expressar sentimentos de dor, revolta, paixão, medo ou alegria. Para ele a dança transforma-se em uma forma de protesto e  denúncia. Não é sem razão que reza o ditado, um gesto vale mais que mil palavras! Não perca este filme e sinta a beleza das cenas de dança no deserto! 

Em um Pátio de Paris

Em um Pátio de Paris ( Dans la Cour)

Antoine (Gustave Kevern) não consegue levar a vida adiante, sofre de insônia, apático, não se importa com nada, a não ser conseguir um lugar para trabalhar. Demitido,  busca uma vaga como zelador no prédio onde Mathilde ( Catherine Denéuve ) vive com o marido. Todos passam pelo pátio central, onde nada é bonito, tudo mal cuidado. Mas ela está ocupada demais atendendo ao telefone, sem parar. Seria uma senhora muito ocupada?  Talvez, mas o tempo irá demostrar que não é somente Antoine , o zelador, o problemático!
Assim começa a trajetória e o encontro entre os dois personagens. De início Pierre Salvadori faz uma narrativa bem humorada, cheia de graça, irônica e debochada. Antoine não sabe dizer “não” para ninguém. Sem especialidade alguma, seu trabalho é fraquinho como ele, embora na aparência seja um homem forte. O fato é que todos os moradores aprovam o trabalho do novo zelador!
Salvadori mostra que ele não é o único com problemas,  atende em sequência a uma coleção de malucos! Às vezes surgem personagens tão fora dos trilhos, que ao invés de parecerem “os três patetas”, parecem os “muitos patetas”! O humor é sutil e inteligente!
Se o  vizinho do segundo andar reclama dos uivos e ruídos à noite. Antoine descobre que é o próprio reclamante que, no mesmo horário, abre a janela  e começa a uivar!
A sequência de gags prossegue, a mais engraça é a que caracteriza os problemas de Mathilde. Inconformada com o papel de parede que o marido mandara Antoine colocar para esconder as fissuras, ela rasga tudo, quer conferir  o problema novamente. Mesmo depois dos técnicos terem afirmado que os prédios não tinham problemas estruturais, espalha pela cidade que foram construídos sobre um aterro de xisto.
Algo está errado com Mathilde, os problemas  se agravam, Antoine é o único que a compreende e lhe  dá apoio.  O próprio não consegue esconder sua dependência das drogas, único alívio imediato para o que não consegue enfrentar.
Tudo se encaminha para um verdadeiro drama! A plateia para de rir! Mathilde teria Depressão, Alzheimer ou início de Demência? Hoje em dia, os idosos são  cuidadosamente vigiados, qualquer deslize e são taxados como dementes! Depressivos! E para alívio de consciência de parentes e  médicos, dá-lhe remedinhos de faixa preta não é mesmo?
Enfim, é preciso que tudo atinja  um ponto limite para Mathilde reagir! Ela conseguirá?


terça-feira, 31 de março de 2015

Duas irmãs, uma paixão


Um amor, duas vidas, de Dominik Graf, conta da vida cotidiana e amorosa de Friedrich Schiller (Florian Stetter). No auge do romantismo na Alemanha, Schiller foi poeta , filósofo e historiador, tendo incentivado o movimento Sturm und  Drung.
No filme, os personagens falam tanto e acontece tanta coisa que foi preciso o diretor colocar um narrador. Na terceira pessoa, ele orienta o espectador em toda a movimentação de Schiller. Imagino que o diretor  considera o público muito fraquinho das ideias!  Em voz alta o narrador lê o texto traduzido na legenda! Como se o diretor tivesse pressa, tudo continua acontecendo na tela!
A sociedade alemã do século XVII é muito conservadora. Paradoxalmente,  eram mais ou menos como os romanos, rompiam qualquer regra de moral e comportamento. Enfim, cinicamente, ensinavam à mulher como comportar-se em sociedade para arranjar um casamento de interesse. No meio daquele clima bárbaro, o diretor mostra mulheres tendo ataques de histeria! Tudo o que Freud mais amava estudar!  Estranho... só vi crises de histeria no cinema... A professora de como  arranjar um marido rico grita histericamente quando é abandonada por Goethe! Naquele momento com certeza esqueceu tudo o que ensinava para as alunas - ser educada, inteligente, saber tocar piano, e fundamentalmente ser sedutora para conquistar um bom partido.  Enfim, é um filme cansativo, que fala de figurões da história oficial, mas que está sendo boicotado pela Zero. Imagine, quem  fez a sinopse com certeza não deve saber em que mundo vive. O famoso Schiller sequer é citado. Aparece apenas como um homem que vive com duas mulheres.  O pior é que fiquei chocada quando Schiller começou a viver com as duas irmãs! Charlotte ( Henriette Confutius) e Caroline Legenfeld (Hannah Herzsprung).
 As duas tinham feito o mais idiota dos pactos, à beira de uma cascata do Reno, uma nunca abandonaria a outra! E o diretor filma as duas próximas demais, exagero de amor e dedicação, quase incestuosas! Disso nos livramos! Schiller começa a mostrar uma paixão desenfreada por uma delas. Óbvio que o pacto não resiste à paixão devoradora que incendiava Schiller e Caroline! Nessas historias trágicas de dantes, quando alguém cospe sangue, morre de tuberculose. Schiller cuspia sangue, na verdade tinha malária!
Patética e de causar nojo, a mãe das meninas apenas desejava que as filhas casassem com um homem rico!

E Caroline, embora casada, se prostituía para contribuir com algum dinheiro quando morou na casa de Schiller! Pode? Não falei que eram como os romanos e rompiam qualquer regra de ética e moralidade? Dá-lhe Schiller! Estou escandalizada!