segunda-feira, 17 de junho de 2013

Dentro de Casa

François Ozon é genial, como dizem os franceses. Ele subverte as idéias de Hitchcock, ou ainda as recria como no processo canibalístico brasileiro em que, ao copiar, o autor recria algo novo. Percebe-se o "novo" na cena final. Se o personagem de Hichcock, interpretado por James Stewart via a vida através de uma "Janela Indiscreta" que se abre para o mundo, Claude (Ernst Umhauer), o aluno adolescente, faz o movimento contrário. Para ele,  observar a vida do outro - do lado de fora - é insuficiente. A relação entre o professor (Fabrice Luchini) e seu aluno é quase como  a relação entre o criador e sua criatura.
Nada é tão simples. Voltando à essa  relação, o genial para Claude foi ter encontrado alguém que o incentivou a escrever e criar, e ainda discutiu com ele a qualidade de seu trabalho. O professor repetia e analisava cada frase. Perguntava ao aluno sobre determinado texto, se Claude desejava ser um escritor sério ou um comediante.
Marinalva, minha amiga, me disse que isso era tudo com que ela sonhava. Você a conhece? Ela queria muito que o Veríssimo lesse seus textos. Marinalva escreve crônicas como no filme, onde ela é a personagem principal.
Identificou-se com Claude, discutindo com o professor o seu texto. E pensou: esse menino tinha tudo na mão! E o que ele fez? Claude sentia-se tão sozinho, que pensou em adotar e ser adotado pela família do amigo. Foi entrando, se introduzindo e terminou transgredindo. Nem ele sabia o que sentia pela mãe do amigo. Se James Stewart olhava de fora para dentro das muitas janelas à sua frente, Claude escolhe uma e resolve entrar para espionar e viver a vida dos outros, deseja espionar a vida do outro "Dentro de Casa". A solidão do personagem torna-se cada vez maior. 
O genial na história de François Ozon é o resgate da relação professor-aluno. Na seqüência final, depois que quase tudo deu errado, os dois se encontram, retomam o diálogo e a discussão da obra literária, ainda palpitante, em processo de criação. Na verdade o essencial é a relação entre Germain e seu pupilo. 
E François Ozon encerra seu espetáculo homenageando Hitchcock. Na cena em que os dois sentados em um banco, espionam as muitas vidas que transcorrem dentro das muitas janelas iluminadas, à sua frente, na tela as cortinas se fecham. Terminou o espetáculo!

 

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