sábado, 24 de outubro de 2009

O DESINFORMANTE

Matt Damon é O Desinformante ! Mas o nome oficial do filme é The Informant! Desta forma, na tradução foi colocada alguma coisa além para “informar” um pouco mais sobre o filme. Coisa de português? Steven Soderbergh é o diretor, o mesmo do filme Sexo, Mentiras e Videotape, também com Matt Demon no elenco.

Demon é Mark Whitacre, um jovem ambicioso, executivo de uma grande empresa ligada à produção de milho, a Archer Daniels Midland.

A composição do personagem é perfeita. Demon tem uma estatura menor do que imaginamos. Caracteriza o americano médio. Veste-se como um executivo, de camisa, paletó e gravata. Para completar usa óculos de aros escuros e grossos. Seus cabelos são louros e bem cortados. Usa um bigodinho medíocre e sua barriga é levemente saliente, típica de homens jovens e sedentários – devem imaginar que ficarão jovens para sempre, ou, não têm tempo para pensar em vida saudável. Esse era Mark Whitacre, encarnado com perfeição por Matt Demon. Por isso estranhamos seu visual e nos perguntamos. Mas como? Que cara sem graça... Demon parece mais velho! Enfim o próprio já tem 39 anos...

Não há como não comparar com o filme Prenda-me se for capaz, de Spielberg, interpretado por Leonardo di Caprio, que conta a história de Howard Hughes. O As afinidades ficam por conta das duas histórias serem verdadeiras, e das mentiras e loucuras dos personagens. Com a diferença que vibramos por Leonardo DiCaprio e nos consternamos com Mark Whitacre.

O jovem executivo consegue uma rápida ascensão na empresa. É levado pelos próprios diretores a transformar-se em informante do FBI. O grande problema do personagem é viver uma fantasia. À medida que o filme avança verificamos que Mark tinha compulsão para a mentira. E não aceitava fatos básicos de sua vida. O jovem envolve-se em uma trama de mentiras, e quase se convence que aquilo que inventa é realidade.

O personagem narra sua própria história fazendo comentários em “off”, enquanto as cenas passam em sequência, o que dá um tom leve e inteligente para a narrativa. Mas comédia! O filme é classificado como comédia! Isso sim seria ligeiramente impossível. A não ser pela música leve, uma marchinha que acompanha os personagens nos momentos mais difíceis, e que não dispensa uma batida bem compassada de tambor.

Os desvios de personalidade de Mark vão se evidenciando ao longo da trama. Talvez, o desejo mais remoto do personagem fosse superar o medo da aniquilação. Queria ser patrão a qualquer preço. Seu grande desejo era um dia tornar-se diretor da ADM. Fartura e excessos de consumismo para ele estariam na ordem de qualquer dia.

Para atingir seus objetivos trabalha como informante para o FBI denunciando os crimes de formação de cartéis praticados pela ADM e outras empresas corporativas, que fixam o preço de seus produtos no mundo inteiro.

Em Mark o desejo de atingir o cume da carreira é tão grande que provoca angústia. Esta somente pode ser mitigada pela transgressão. E Mark Whitacre transgride, e muito. Mente, e mente tanto que nega seus pais. Afirma que é filho adotivo e que adotou duas crianças. Diz que seus pais morreram em um acidente de carro quando ele tinha seis anos. Somente isso justificaria anos de terapia para nosso personagem. Mark até que freqüenta o terapeuta. É justamente quando tem a idéia para mais uma mentira. Seu transtorno bipolar, que tinha sido sugerido pelo terapeuta, teria sido afirmado por este em carta. O grande problema é decifrar quando Mark mente, quando ele imagina o que gostaria que acontecesse e quando ele fala a verdade – raras vezes isso acontece.

Em sua fantasia inconsciente identifica-se com Tom Cruise, o herói de A Firma. No filme, citado dentro do filme, Mark sente semelhanças com o personagem de Cruise. Identifica-se projetivamente com o herói, que precisava usar de esperteza para vencer seus opositores. A firma usava chantagem para controlar Cruise. Para quem o FBI também aparecia, tentando conseguir informações. Como Mark, Cruise descobria que a empresa era uma fachada para lavar dinheiro. Seu drama era permanecer ou não na empresa onde não tinha controle da própria vida.

Mark nunca desejou afastar-se da ADM. Quando isto finalmente acontece é porque as coisas saíram completamente do controle.

Uma cena particularmente sintetiza a personalidade e ingenuidade do personagem: Na sessão do júri, em que o Governo dos Estados Unidos coloca-se contra Mark Whitacre, o juiz afirma que ele poderia ter atingido o cargo de diretor da ADM. Mark fica tão feliz ao ouvir, que olha para trás, para a platéia, como que dizendo: Viram? Viram como eu sou o tal?

Seu comportamento teria lógica na medida em que o superego cobraria auto-afirmação e força do ego, em situações da vida que ele, Mark, não conseguia corresponder. O dilema provocava fantasias culposas intensas, impelindo-o a mentir e transgredir, punindo-se ao mergulhar a fundo em situações limite e de alto risco, em que quase acreditava piamente na versão fantasiosa, que apesar de falsa lhe parecia revestida de um tom verdadeiro e inegociável.

Não perca o filme e confirme a bela atuação de Matt Demon.

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