sexta-feira, 17 de setembro de 2010

White Material

O filme estrelado por Isabelle Huppert e Christopher Lambert chama-se "White Material". Na África, o "white material" refere-se aos objetos de uso exclusivo dos brancos. A diretora é Claire Denis, que trabalhou com Win Wenders e Jim Jarmush no início de sua carreira.

Não gostei muito do filme e com certeza não sou fã de Isabelle Huppert. O filme conta uma história de violência, guerra e rebeliões em um país da África. Isabelle é Maria, uma francesa, proprietária de uma fazenda de café. Na África ela representa a mulher colonizadora. Ninguém é fiel à Maria, que não possui aliados e não se alia a ninguém. Uma das pessoas influentes locais - que faz negócios excusos com seu ex-marido André (Christopher Lambert)- lhe diz que pessoas muito brancas, como ela, causam mal estar, na África, podem ser perseguidas e são portadoras de uma espécie de mau agouro, ainda mais com os cabelos vermelhos como os dela. Lembro do texto sobre a oposição entre escravo e senhor, da questão do escravo em seu desejo de branqueamento para aproximar-se da figura do senhor.

Diante da série de rebeliões todos abandonam o local. O filme mostra essa movimentação de pessoas, todos fugindo. E Maria, em um vai e vém, tenta voltar para casa. Sempre a situação se repete e Maria, como em sua própria vida busca uma saída pela estrada. Sempre está tentado ir a algum lugar ou voltar para casa, onde tudo foi abandonado.

Muitas vezes não há som, as pessoas não falam. Lembra os filmes de Glauber Rocha, os retirantes no meio da estrada, caminhando na desolação, como no cinema novo brasileiro. O que mais impressiona é a figura de Maria, uma mulher delicada, com vestidinhos curtos, pernas finas, muito frágil, muito branca, pálida mesmo, com aqueles cabelos muito vermelhos. O vento bate em seu corpo, revela formas magras e assexuadas. A gente se pergunta como é que pode? Isabelle Huppert alguma vez foi símbolo sexual? Se algum dia o foi, em "White Material" transformou-se. Então é uma grande atriz? Não sei dizer...

Vê-se destruição e personagens problemáticos, ninguém se salva. Lembra a idéia de destruição e desesperança que Saramago mostrou em "Ensaio sobre a Cegueira". Maria houve do amigo com quem conversa, que não soube educar o filho. Não impressiona-se com o comentário. Ri, sacode os ombros. O filho, depois de ser abandonado nu, por jovens que lhe roubam, arma-se, raspa o cabelo e prepara-se para uma guerra particular. Une-se aos rebeldes, querendo destruir tudo e todos.

Christopher Lambert é André, o ex-marido. Mas se Christopher nasceu em 1957, tem 53 anos. No filme parece muito mais velho. Quase não acreditamos que o belo e sexy Lord Greystoque, de 27 anos em "Greystoke, the legend of Tarzan" (1984) transformou-se no desgastado André de "White Material". Observem, a diferença é de arrepiar!

Bem, André tenta armar um plano de fuga, mas sabe que Maria dificilmente aceitará. O final é o desencontro e a vitória da loucura, do abandono e da destruição. Ninguém é herói, todos são alienados e destróem uns aos outros. Como denúncia de um mundo caótico e desumano o recado de Claire Denis funciona. Falta mesmo é a esperança.


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