quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo)

"Compramos um Zoológico" é um filme raro. A história é verdadeira, Benjamin Mee um viúvo inconsolável resolve mudar de vida e buscar novas aventuras. Descobre o local ideal para sua família. No auge do entusiasmo pela casa de seus sonhos, não importa-se que ela seja um zoológico. Não existem vilões, a não ser o inspetor Walter Ferris, de quem depende a autorização para funcionamento do zoo. À reboque, para Benjamin cuidar vêm não somente leões, leopardos, cobras e zebras, mas uma equipe de cuidadores, entre os quais está Kelly (Scarlett Johansson).

Matt Demon vive o papel de Benjamin com tal convicção que se eu um dia conhecesse o verdadeiro Benjamin preferiria a versão do ator. A ficção é melhor e mais emocionante que a realidade, não sei bem porque.

Benjamin não suporta a falta de Katherine, mas precisa levar a vida e cuidar dos dois filhos, Dylan e Rosie. Maggie Elisabeth Jones interpreta Rosie e dá um show de graça e simpatia. Poderia ganhar um Oscar de interpretação. É uma menina-prodígio, que nem Shirley Temple. Gosto mais de Maggie, é menos afetada. Faz carinhas e tem tiradas irresistíveis.

Thomas Haden Church vive o irmão mais velho, nada convencional, e que tem muito amor para dar para o seu mano. Adoro histórias de irmãos que se dão bem. Acho lindo! Pois é "Compramos um Zoológico" parece um pouco sessão de matiné de domingo no interior, nos anos 50. Algumas cenas são de uma beleza tão sutil, que podem fazer você chorar, ou talvez nem notar. Tudo depende do eu de cada um. Em uma das cenas mais bonitas Benjamin e Rosie estão olhando para o leão Salomão. Nesse momento, a felicidade dos três é silenciosa. Benjamin, Rosie e o leão num momento de cumplicidade. Existe uma ligação entre os três, a câmera pára no rosto de Rosie, analisa o rosto de Benjamin, que não contém a emoção diante da nova aventura e de tanta responsabilidade. A relação daquele olhar triangular termina nos olhos cristalinos e amarelo- esverdeados do leão, plácido e satisfeito, como quem compreendeu que está em boas mãos e pode reinar descansado em seu recinto. E isso é a mais pura verdade. Os animais sabem quando estão bem, sob as asas do dono. A nova concepção de zoo baniu a palavra jaula. Agora os animais estão em recintos e têm outro tipo de cuidado e dedicação. Aliás cuidado e amor não faltam na equipe formada por um grupo bem estereotipado, mas convincente. Onde não poderia faltar o brucutu MacCready, de cabelos escuros e crespos. Outro com uma enorme cabeleira black power. Um terceiro não se separa de seu adorável "monkey". A fofoqueira Rhonda não poderia faltar e Kelly, a jovem consciente que ama e respeita os animais poderá transformar-se na mulher da nova vida de Benjamin.

Os conflitos ficam por conta de delicada relação entre Benjamin e seu filho adolescente Dylan , cujo nome não se deve ao cantor, mas à história de um cachorro. Após muita rebeldia, expulsões e desentendimentos com a doce menina Lilly, Dylan o menino exótico da cidade conseguirá adaptar-se à nova vida, acabar com o luto, acreditar no amor do pai e em si mesmo. Pois afinal como o irmão de Benjamin muito bem lhe ensinou. Na vida é preciso enfrentar os grandes problemas com apenas 2o segundos de coragem. Então pessoal, vamos em frente! Amanhã ao levantar não esqueça que você precisa de somente 20 segundos de coragem para enfrentar aquele problemão!









segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Missão Impossível

"Missão Impossível, protocolo fantasma" é o quarto filme da série. O primeiro foi dirigido por Brian de Palma, o famoso diretor americano, que criou uma forma própria de dirigir thrillers de ação e suspense fazendo citações aos grandes diretores do cinema como em "The Untouchables", em que refilmou a famosa cena da escadaria de "Encouraçado Potemkin", de Sergei Eisenstein. "Missão Impossível", dirigido por Brad Bird, é um dos melhores filmes da série. Tom Cruise tem 49 anos, não é mais o jovem que contracenava com Nicole Kidman e fazia tudo o que ela lhe ordenava, em "Far and Away"( Um sonho distante). Duvido que outro ator esteja em melhores condições físicas. Dublê para Cruise? Nem pensar! Depois que fiquei sabendo que o ator fez questão de interpretar todas as cenas, quase não acreditei. Cruise escalou o Burj Khalifa, o arranha-céus mais alto do mundo. O prédio foi projetado por Adrian Smith, o arquiteto que trabalhou com a SOM (Skidmore, Owings and Merrill) até 2006. "Missão Impossível" é um excelente thriller de ação e suspense nos moldes dos melhores de 007. A conjuntura é de tensão entre Rússia e Estados Unidos. Ethan recebe ordens do presidente para procurar códigos nucleares dentro do Kremlin. Descobre que o super vilão Hendricks (Michel Nyqvist) chegou antes e roubou os códigos. Hendricks explode o Kremlin e Ethan é acusado do atentado. Sua empresa, a IMF, é desativada e seu grupo é desautorizado. Mesmo assim ele recebe a incumbência de impedir que Hendrincks concretize seus objetivos de provocar uma guerra nuclear. A nova operação chama-se "Protocolo Fantasma". Se Ethan falhar será considerado um terrorista qualquer, não terá apoio e não será reconhecido pelo governo americano. Oficialmente o grupo está desautorizado e não recebe qualquer apoio. Os três membros do comando em ação contam apenas um com o outro; Benji Dunn (Simon Pegg), Jane Carter (Paula Patton) e Simon Pegg (Jeremy Renner), um ex-agente que agora trabalha como analista. A trama se desenvolve em uma sequência de ação de deixar o espectador sem fôlego. A melhor é a escalada de Ethan pela "courtain wall" da torre. O grupo está no 130 o pavimento e precisa chegar ao 164 o. Como um verdadeiro atleta, Ethan conta com luvas aderentes que sinalizam azul, para ok e vermelho para morte. Lembrando Ulisses, o herói da mitologia grega, nosso herói passa por muitas situações entre a vida e a morte para conseguir seus objetivos de alcançar a mala de prata que contém os códigos nucleares. As piadas divertidas ficam por conta de Benji e Simon, que agradecem por seus pápeis secundários que lhes garatem não serem nenhum dos escolhidos para escalar a torre pelo lado externo. Mas Jane Carter, a belíssima Paula Patton, mostra a que veio, reservando-nos belíssimas cenas de sedução e sensualidade quando fisga o outro vilão, um indiano idiota, amigo de Hendricks. Essa sequência foi filmada no Burj Al Arab, projetado por Tom Whright, da WS Atkins PLG, com formato de vela, a mais alta estrutura hoteleira localizada em Dubai. Embora no filme a sequência seja na Índia. Se você não identificou, Paula Patton é a professora do filme "Precious"( 2009) e Jeremy Renner é o soldado americano que desarma a bomba em "The Hurt Locker", que retrata o dia a dia de uma brigada anti-explosivos atuando no Iraque. A diretora é Kathryn Bigelow. O filme tenta sensibilizar o espectador em relação a esses soldados que desarmam armas explosivas. Como se eles devessem ser considerados "heróis"! (Sic! Dá para entender essa visão de americano?). Finalmente cabe citar a tenacidade de Hendricks como vilão, que não se entrega e vai até o fim. Ficamos levemente agitados quando aquele olho de quem já estava morto se abre, para fechar-se logo em seguida vencido pela morte. "Missão Impossível" mostra Tom Cruise como um herói de farwest, um solitário que sacrifica a vida privada. Preparando a sequência, Ethan reserva apenas um olhar amoroso e à distância para sua mulher. Não perca , e depois veja de novo...






domingo, 18 de dezembro de 2011

A chave de Sara

Voltei, e revi "A chave de Sarah", um dos filmes mais emocionantes de 2011, baseado no romance de mesmo nome de Tatiane de Rosnay. Kristin Scott Thomas é Julia, uma jornalista que pesquisa o massacre dos judeus em 1942, na Paris ocupada pelos nazistas. Gilles Paquet-Brenner dirige esse belíssimo filme em três tempos. Alternam-se passado e presente. O passado da barbárie e a Júlia dos anos 2000 tentando descobrir a verdade e reorganizar a própria vida. Cena inicial, duas crianças, Sarah e seu irmão Michel, brincam e riem debaixo das cobertas. Será a última brincadeira, a última risada de criança. Fortes e ameaçadoras, as batidas à porta interrompem para sempre a brincadeira dos irmãos. Nazistam arrecadam judeus para prendê-los. Nunca mais se ouvirá o riso infantil. Sarah, e seus pais são levados para o velódromo Vel d'Hiv. O drama que acompanhará Sarah pelo resto de sua vida é simbolizado pela chave. A verdade aterradora que destruirá sua vida é simbolizada pela chave, que desvenda a verdade. A menina esconde e chaveia o irmão dentro de um armário. Michel em sua inocência pensa que está brincando. "A chave de Sarah" sensibiliza o espectador profundamente. Marcou a vida de Sarah e de milhares de judeus. Os acontecimentos dramáticos não têm retorno, ninguém jamais devolverá Michel ou Sarah aos braços da mãe. O mal esmaga para sempre. Por isso o personagem de Julia Tézak- embora ela preferisse usar seu sobrenome de solteira- é forte e importante, busca a verdade para colocar as histórias, os sentimentos, os sofrimentos e as dores nos seus devidos lugares.
Graças à Julia os que participam da história - inclusive ela própria - podem conhecer, reconhecer e rever seu passado. A primeira condição para superar a dor e o sofrimento é o conhecimento e a aceitação da verdade. Se esta possui um preço, é infinitamente melhor encará-la- mesmo que obrigado - para enfim conseguir aceitar o passado e a própria identidade.
Assim, se você nasceu na "Lagoa do Forno" grite em alto e bom som: "sou de lá" de Dom Pedrito, sou da "Lagoa do Forno"! A "Lacfourville" da história do Curso da Aliança Francesa, a paródia do "Cão dos Baskerville" de Sir Arthur Conan Doyle! Mas essa é outra história...
A menina Sarah Starzynsky (Mélusine Mayance)tenta voltar à casa para salvar o irmão. O episódio envergonha a França, que enviou milhares de judeus para o velódromo de inverno de Paris, o Vel d'Hiv, condenando-os à morte, ao confiná-los e mantê-los presos em condições desumanas.
A pequena Mélusine garante a dramaticidade da primeira parte. Outros atores como Kristin Scott Thomas, Niels Arestrup (o pai adotivo de Sarah) e Aidan Quinn ( seu filho) também estão excelentes. Preste atenção, observe-os. Perceba a emoção em seus olhos, no sorriso e na forma como articulam as palavras. Aidan Quinn é um grande ator - embora não seja tão popular. Lembrava James Dean quando era jovem e mais magro.
Sarah consegue voltar para salvar Michel, mas o tempo passou. Jamais conseguirá superar o sofrimento do encontro com o corpo do irmão morto. Jamais irá superar as recriminações do pai, quando ele lhe pergunta incrédulo porque deixou o irmão preso no armário? Ou ainda quando perde a chave e a encontra embaixo do sapato do soldado nazista.
Na segunda parte do filme Sarah cresceu. É uma jovem bela e amargurada. Foi adotada por Jules e Geneviève Dafaune(Dominique Frot).
As histórias de Júlia e Sara se cruzam quando a jornalista ao preparar a matéria sobre a vida de Sara Starzynsky descobre que a família de seu marido viveu no apartamento da família Starzynsky, desde que foram deportados e mortos. Descobre que Sarah nunca foi deportada, pode estar viva.
Os obstáculos ao trabalho de Julia são colocados pelos próprios personagens da história. A família do marido Bertrand opõe-se às suas buscas. O sogro sabe de tudo, mas todos desejam enterrar e esquecer um passado de vergonha. Afinal teriam se apropriado do apartamento dos judeus deportados? Ajudavam Sarah como quem distribui esmolas? Para aplacar consciências?
A parte final nos reserva o resultado da alienação. William , o filho de Sarah usa outro o sobrenome, Ransfeld. Não tem passado, não sabe quem é verdadeiramente. Seu pai ocultou-lhe a verdade. Julia, a presença incômoda, salva-se a si mesma ao salvar o outro. Quando o pai moribundo conta a verdade a William Ransfeld, o filho descobre que é judeu, que é um Starzynsky. Sua mãe negava-lhe o sobrenome para protegê-lo. Assim, um após outro os personagens emocionam o espectador, Julia e Sarah pela coragem. Sarah, com o instinto de sobrevivência e o amor de mãe, nega a verdade. Julia, para sobreviver, busca a verdade. E William, hah! William é o grande personagem alienado e equivocado que reencontra o seu ser, sua consciência e a identidade. Somente o enfrentamento com a verdade produz as condições de superação da dor e do sofrimento. E, finalmente permite o crescimento de cada um dos personagens desta história trágica e verdadeira.
Você sabia que segundo o professor Gunter Weimer, os Bittencourt- que significa plantador de beterrabas- eram judeus novos, que fugiram para Portugal? Como Sarah renegaram a própria identidade e adotaram outros nomes. Esta poderia ser a sua própria história? Hah! Entendi tudo agora!