domingo, 13 de outubro de 2013

A Bela que Dorme

Marco Bellochio dirige este filme belíssimo, diferente de tudo o que você viu até hoje. A Bela que Dorme usa o caso verídico de Euliana Englaro para discutir a eutanásia. A verdadeira Euliana sofreu um acidente em 1992, permaneceu em coma durante 17 anos. Seu pai lutou pelo direito de desligar os aparelhos que a mantinham viva. Tendo esse cenário dramático como pano de fundo, "A Bela que Dorme" confunde o espectador: É Rosa (Carlota Cimador), filha da Divina Mãe (Isabelle  Huppert)? Só pode ser, pois era a única "bella addormentata". Bellochio mostra outra mulher em coma, a mãe de Maria (Alba Rohrwacher), filha do senador Uliano Beffardi (Toni Servillo). O mesmo drama atormentava a consciência do político que se vê compelido a desligar os aparelhos que mantém sua mulher viva, contra a vontade da filha. Bellochio alterna as cenas dramáticas de protestos frente à clínica para onde teria sido transferida Euliana Englaro e aos poucos desata os conflitos entre os personagens. Para o diretor não interessa saber: De quem é o corpo doente? Ele apenas quer falar desse corpo doente, a própria Itália, ou o Congresso que sustenta o Governo de Berlusconi. Quem sabe já nessa data, não estaria caindo de podre? Observe que no congresso italiano existe um psiquiatra que receita calmantes para  deputados e senadores, todos corpos vivos e doentes. Todos mancomunando em banhos públicos do tempo dos romanos.
Assim, os dramas se unem, se cruzam e se separam. Todos têm um ponto em comum, o desejo de posse de um ser humano em relação ao outro. A super mãe pode ser vista como o símbolo da loucura, de quem não quer libertar o ser amado, que de fato está morto para a vida. A exagerada Divina Mama não emociona o espectador. Querer preservar um ser humano, há 17 anos em coma, é loucura e desamor. Nisso o pai de Euliana tinha razão. Em todos os casos, o diretor mostra que existe um momento diante da morte, em  que o desejo de posse sobre o corpo doente é inútil e desnecessário.
Bellochio mostra outros conflitos relacionados à posse do outro. O caso do jovem  esquizofrênico (?) que termina vencendo e impedindo o irmão de viver a própria vida. Roberto ( Michele Rondino)   apaixona-se por Maria, a filha do senador, mas não consegue levar adiante o romance, impedido pelos grilhões dos compromissos familiares. No fundo, falsos compromissos, que não escondem o desejo de posse do filho ou do irmão, não importa..., desejos que  se transformam em verdadeiras prisões, das quais os prisioneiros só tomam consciência quando o tempo passou. Perderam a juventude e o ser amado... Em todos estes dramas venceu a morte, mas Bellochio aposta na vida quando a teimosia do médico Pallido ( Pier Giorgio Bellochio) luta contra o desejo de morte de sua paciente. Com garra, finalmente, o filho do diretor,  toma conta de Rossa, com o mesmo desejo de posse do outro, mas uma posse que devolve a vida!
 

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