Observe com atenção o filme de Paolo Sorrentino. Não é necessário pensar muito para sentir o espírito e a mão de Fellini nos personagens. Embora o grande interesse esteja na própria Roma. Jef Gambella lembra o Mastroiani de A Dolce Vita, o repórter que participa e observa com sarcasmo a vida e a boêmia da cidade eterna.
A anã, a freirinha santa, o cardeal que só fala em comida, a mulher de 42 anos que sonha em ser striper, o jovem depressivo, todos os personagens são fellinianos. Jef circula por festas e embalos, torna-se o rei de um mundo mundano e ao mesmo tempo se distancia em momentos de crítica e reflexão. Não move um alfinete para superar as próprias limitações. Da mesma forma que nos filmes de Fellini, são inúmeros os personagens. Todos cruzam com o repórter e falam alto - para o espectador - sobre suas próprias vidas. Jef desnuda os seus próprios pecados e os dos outros.
Surpresa e insólito acontecem quando passeia pelos palácios romanos, à noite, desfrutando da beleza grega sob a luz do luar. Genial. Com certeza nem em sonho teríamos uma experiência semelhante!
Finalmente, descobre A Grande Beleza, na freirinha santa, pura e ingênua, pequenina, desdentada e enrugada, antecipando que é preciso descobrir um novo conceito do belo, que certamente se distancia da beleza greco-romana e da proporção áurea! Baixinha, sentada na cadeira com os pés balançando no ar, a freirinha anuncia uma beleza interior, que se aproxima de Enrique Dussel. Pelo menos a santinha dispensa a fila do botox!
O repórter se vê frente à vida e a morte. Nos ensina as razões pelas quais não devemos chorar em enterros, quando ele próprio não se contém no funeral de Andreas e chora por si mesmo. Afirma que da vida levamos os efêmeros momentos de felicidade. Do além, não nos cabe tratar. Permanece observando a efervescência da cidade eterna, como quem observa e participa da vida de um grande rio, em constante movimento, com a postura de quem observa e está quase desistindo de viver.