domingo, 10 de abril de 2011

O Retrato de Dorian Gray

A versão do diretor inglês Oliver Parker faz jus ao "Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde. Pensei que dificilmente acharia o ator tão lindo quanto imaginava o Dorian Gray de Wilde. Mas Ben Barnes não decepciona. É realmente belíssimo. A história é de domínio público. O jovem torna-se herdeiro de Kelt, o avô rígido que o maltratava, como se isso fosse justificativa para um comportamento amoral e inescrupuloso.

Dorian Gray chega a Londres e torna-se amigo de Lord Henry Wotton, um aristocrata cínico que o influencia a viver em busca da beleza e do prazer, sem a menor consideração pelo sentimento do outro.

Wilde critica a sociedade inglesa do século XIX, frívola, fútil e hedonista, fruto da cultura vitoriana. Dorian Gray torna-se amante de si mesmo. Basil Hallward, um famoso pintor é encarregado de pintar seu retrato. A obra resulta impressionante. O pintor enreda-se nos próprios sentimentos, sendo atraído pela própria obra, representada pelo jovem Dorian Gray.

O filme é uma reflexão sobre a fugacidade da vida, força e beleza da juventude. Sir Henry Wotton, interpretado por Colin Firth, tem uma visão de mundo torpe, baseada na beleza e no prazer. Dorian Gray , profundamente influenciado pelas palavras do amigo, torna-se amante de si mesmo. Fica tão embasbacado pela própria beleza, que vende sua alma ao diabo. Para ficar intocável pelo tempo e tornar-se eternamente jovem, troca de identidade com o retrato. Todo o mal que exala de sua pessoa transfere-se para o retrato, que estala, espele larvas e rebenta em podridão e feiúra. Envelhece. Dorian mantém o semblante puro e a juventude resplandecente em sua pessoa.

Sir Henry Wotton cria o monstro. Dorian Gray vive intensamente, uma vida de sexo, prazer e perdição. Como o próprio autor deve ter testemunhado na Inglaterra da época, a decadência da sociedade inglesa e de Dorian Gray é representada por relações amorosas que incluem fazer sexo com mãe e filha, como forma de domínio, poder e humilhação do outro. Abandonar a mulher amada. Matar o melhor amigo e amante. Oscar Parker tem uma visão da decadênciado personagem, representada através de imagens que incluem sexo com prostitutas em cabarés, sexo grupal, sadismo, crime e banho de sangue. Tudo friamente praticado pelo personagem que tem o domínio de si mesmo.

Até o dia em que Sir Henry Wotton prova do próprio veneno. Dorian Gray eternamente jovem apaixona-se por sua filha Emily, interpretada pela adorável Rebecca Hall.

Dorian Gray ao apropriar-se da beleza eterna da juventude, cai na própria armadilha. Seu caso não inclui redenção, não existe arrependimento, quer somente perpetuar uma vida de aventuras com a jovem Emily. Mas agora outros estão atentos ao mistério do jovem que não envelhece.

Afinal o grande drama de Dorian Gray foi apaixonar-se pela própria imagem: "Eu irei ficando velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... Se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!"

Apesar da história ser conhecida, o baque na platéia é enorme, a visão de Oscar Parker realmente impressiona. Finalmente, a idéia de eterna juventude de Dorian Gray, se transportada para as cirurgias plásticas e clínicas de beleza da atualidade, é um alerta de Oscar Wilde para a falsidade em que nos tornamos, para a falsidade de um mundo cheio de rostos que não conseguem rir sem quebrar!!!

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