Gil o personagem representado por Owen Wilson em " Meia Noite em Paris" é quase o "Cinderelo Sem Sapatos", o Jerry Lewis de 1960. Os dois últimos filmes de Woody Allen são muito bons. "Meia Noite em Paris" só não é melhor que "Poderosa Afrodite", o filme com a super Mira Sorvino deixando todos boquiabertos com seu requebro. Desta vez o interesse recai sobre Owen Wilson e acreditem o ator dá conta do recado. Sempre achei Owen um chato, com boca carnuda em formato de coração. Mudei de opinião. Deve ser um milagre do diretor. Somente um intelectual brilhante - para quem é lugar comum falar e pensar no dia a dia em nomes como Ernest Hemingway, Gauguin, Pablo Picasso, Salvador Dali ou Gertrude Stein - poderia criar o enredo de "Meia Noite em Paris". Gil (Owen Wilson) viaja a Paris com a família da noiva. Woody Allen sempre repete e critica os estereótipos componentes do grupo familiar. A família de Inez ( Rachel Mc Adams) não é diferente. Pessoas medíocres, cheias de preconceito, que não aceitam o diferente. Ricos, pobres de espírito e hipócritas que não sabem o que fazer com o dinheiro. Pessoas capazes de trair ou de fazer qualquer coisa para salvar as aparências. Assim, Gil precisa tomar medicamentos, pois sofre ataques de pânico desde que ficou noivo. O espectador só fica sabendo quando ele confessa suas fraquezas para um de seus ídolos, nos doces momentos em que entra no conto de fadas. Sai a passear sozinho pelas ruas de Paris, quando não mais que de repente batem as doze badaladas da meia noite. Como um Cinderelo ao contrário ou como Jerry Lewis em "Cinderelo sem Sapato" ele entra no mundo dos sonhos. Suas aventuras lembram o clássico musical de Vincente Minelli, onde Gene Kelly e seu amigo como num passe de mágica descobrem a cidadezinha de Brigadoon, parada no tempo e ainda com a bela Cyd Charisse. Na carruagem ou no carro antigo, Gil encontra Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda. Discorrem sobre literatura. Pergunta se Gertrude ou Fitzgerald aceitam ler o manuscrito de seu novo livro. Os sonhos do escritor se realizam. Os grandes escritores e artistas com quem convive não apenas lêem seu trabalho, como também o aconselham. Hemingway o apresenta a Picasso e Bunuel, a quem ele sugere o enredo de um filme, onde os mendigos tomam conta da casa. He, he, he, Bunuel deve ter seguido à risca o conselho. Filmou Viridiana, onde os mendigos reproduzem a cena da "Última Ceia" de Leonardo da Vinci. Conhece Adriana (Marion Cotillard) por quem se apaixona. Hemingway lhe confessa que um homem somente deixa de temer a morte quando descobre que está verdadeiramente apaixonado. O amor faz com que o homem paire acima das banalidades da vida, dos temores da morte e atinja o sublime. Gil descobre que nunca sentiu isso por Inez , mas que acaba de sentir tudo e mais um pouco por Adriana. Mas... sua musa vive nos anos 20 e tem relacionamento com Pablo, o Picasso sabe? Assim em suas adoráveis conversas com a jovem, descobre como é viver no tempo das vanguardas dos anos 20 ou na Belle Époque em Paris, convivendo com Toulouse Lautrec e Gauguin. Através de Hemingway descobre que está sendo traído. Gil é um noivo infeliz porque nega a realidade. Ao criticar o personagem do livro, Ernest lhe abre os olhos. O personagem se redescobre, aprende a conhecer a si mesmo. Sai à procura da felicidade. Descobre que é melhor viver no presente, do que sonhando com a nostalgia de um passado distante, mesmo que seja nos anos 20, rodeado por seus ídolos, ou na Belle Époque parisienese.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
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Não seria uma sugestão para O anjo exterminador
ResponderExcluirAo contrário para Viridiana!?
Pessoas na sala de jantar que não conseguem sair...
;D