sábado, 5 de novembro de 2011

O Palhaço

Selton Mello é "O Palhaço" Benjamin, Benja para os íntimos. Faz os outros rirem, mas quem o faz rir? Benja não escolheu a profissão, herdou-a do pai, o velho palhaço que ainda atua - interpretado por Paulo José. Benja é ingênuo e triste. Em sua vida só cabem preocupações. Como se tivesse somente deveres e nenhum direito, ou pelo menos, nenhum direito à felicidade. "O Palhaço" lembra Fellini em seu amor ao circo, embora os personagens do grande mestre do cinema fossem mais exagerados e inusitados. Sua obra é uma reflexão amarga sobre a vida anônima de seres esquecidos, que muitas vezes representam seus próprios papéis.
Selton é felliniano quando mostra o pequenino Ferrugem, o menino que fazia sucesso em programas de televisão nos anos 70, agora adulto e patético. Benja tem múltiplas obrigações desde comprar tinta para clarear os cabelos de seus artistas - para parecerem russos - até conseguir um enorme soutien para a mulher tetuda, que rebentou o seu. Selton é felliniano ainda quando faz a cena antológica do esquecido Moacyr Franco. O humorista superou-se representando o delegado, irritado por perder tempo com Benjamin, ao invés fazer o que realmente gosta, confraternizar com seu gato Franklin! Com certeza essa é a melhor cena do filme!
Senton Mello, ao mesmo tempo, atrás e na frente das câmeras é excelente, todos sabem, mas não custa repetir.
"O Palhaço" puro lirismo e inocência, é mais ingênuo que Fellini. O próprio Selton Mello, no auge de seus 38 anos tem uma carinha de menino inocente. E vejam a graça do ator quando meche no cabelo encaracolado e cria múltiplas facetas.
A simplicidade de "O Palhaço" é ressaltada com as cenas de câmera parada. Ao que parece é uma forma econômica de filmagem, sem excesso de recursos técnicos, mas com uma qualidade que garante cenas belíssimas, verdadeiras obras de arte, com os personagens parados, enfileirados olhando para a câmera.
Claudia Llhosa, a sobrinha de Mário Vargas Llosa faz o mesmo em "La Teta Assustada". Daí a beleza de muitos enquadramentos, como a cena do sofá, que aparece ao fundo, em cores fortes e características da arte latino-americana. Fausta a personagem de "La Teta..." passa de um lado ao outro da tela.
Benja sente-se usurpado em sua incapacidade de buscar a felicidade. Precisa afastar-se de seu próprio personagem para descobrir que ser palhaço é verdadeiramente a sua grande vocação.

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