domingo, 16 de dezembro de 2012

Infância Clandestina



O relato de Benjamin Ávila possui muito de autobiográfico. O próprio diretor pode ser o menino Juán (Teo Gutérrez) que teve uma infância clandestina e cancelada. Desde os 13 anos, desejava ser diretor de cinema. Benjamin mostra o horror da vida na Argentina entre 1976-1983.
 
Trinta e seis anos depois, a história emociona. Nós brasileiros estaríamos distantes de tanta dor? Não, aqui o sofrimento e o cancelamento de muitas vidas e infâncias também existiu. Os jovens dos anos 70, hoje estão com mais de sessenta anos. Ao participarem das lembranças de Benjamin, podem refletir e pensar que as vidas de cada um de nós também foram roubadas durante a ditadura militar no Brasil.
 
Benjamin conta que muitas cenas são lembranças verdadeiras, outras ficção imitando uma realidade assustadora. Lembra a última vez que viu a mãe, quando ela foi visitar uma amiga e nunca mais voltou. A história do massacre, desrespeito a qualquer tipo de direitos humanos sangra em violenta exposição. Os pais, Daniel (César Troncoso) e Charo (Natália Oreiro), exilados políticos, optam por voltar à Argentina de forma clandestina. Nomes e vida falsa, lutam com o grupo de guerrilheiros montoneros. Benjamín fala que seu pai e o tio Beto ( Ernesto Alterio) não lutavam para sacrificar a própria vida em nome de um sonho, mas  sim por uma nova vida.
 
Assim Júan se transforma em Ernesto, em homenagem ao Che. O ator tem 12 anos. Juán teria a mesma idade quando passou a viver na clandestinidade atendendo pelo nome de Ernesto, o menino que veio de Córdoba. Na família de Ernesto,  mãe e  pai estão seguros de estarem fazendo a coisa certa. A avó não compartilha dos mesmos sentimentos, por isso são duras as palavras e farpas entre mãe e filha. Trinta e seis anos depois a avó teria um pouquinho de razão?
 
O Ernesto adolescente consegue ter uma vida normal, na escola, por alguns momentos apenas. Pelo menos ele gostaria de ser um menino normal, que pudesse estudar, brincar e namorar, difícil para um adolescente entender e compreender. Tanto mãe como pai, para suportar a situação são duros, persistentes e focados nos objetivos. Cego de dor e sofrimento o adolescente critica ambos. A relação com o tio é doce como o "dulce de chocolate com mani", que ele vende. Beto ensina ao pequeno Ernesto  alguns truques de bem viver, aprender a namorar, e de como aproximar-se de Maria, a menina dos sonhos de Ernesto. O tio em verdadeira preleção afirma que a vida e o sexo devem ser saboreados como o  "dulce de chocolate com mani". Você coloca um pedaço do chocolate na boca, deixa derreter, sente gosto e sabor em verdadeiro  prazer. É preciso aprender a degustar a vida e o sexo. Saborear, ensina o Tio.  Ernesto nunca esqueceu as lições. Beto, o mais sonhador e intempestivo,  contraditoriamente não hesita um segundo em acabar com a própria vida ao ser descoberto. 
 
Se o Ernesto dos doze anos queria libertade para viver seu amor com Maria,  não aceitava as limitações de vida que seus pais lhe impunham, ao realizar "Infância Clandestina"- acredito- ele encontra a paz e se reconcilia com a mãe. É como se o diretor, ao realizar o filme se libertasse do sofrimento, da dor e do medo. É como se a mãe, em sonho viesse  abraçá-lo e apertá-lo entre os braços. Benjamin Ávila está livre da dor e do ressentimento. Nos créditos dedica o filme à memória da mãe. 




Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/benjamin-avila-conta-como-sua-familia-inspirou-filme-infancia-clandestina-6942429#ixzz2EmFjt3Jk
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