domingo, 23 de fevereiro de 2014

Philomena

A história é verdadeira,  hoje a protagonista tem 80 anos e se chama Philomena Lee.  Como todo mundo sabe, sendo filme com Jude Dench é preciso conferir. A grande dama do cinema inglês está ótima. A história mexe com os sentimentos de mães de barriga ou de coração, não importa se o diretor sequer tenha cogitado em mostrar o lado da mãe adotiva. 
Philomena depois de mais de trinta anos, busca seu filho, de quem foi obrigada a separar-se quando vivia num colégio de freiras. 
O que mais espanta  é a rigidez da igreja católica na Inglaterra dos anos 50. Comparando com colégios de freiras, em  cidadezinhas do interior do Rio Grande, na mesma época,  parece que por aqui a situação não era tão rígida. Stephen Frears, o diretor, mostra   a   freira - em cadeira de rodas - que, sabidamente conhecia o segredo sobre o desaparecimento do filho de Philomena, exatamente como qualquer ex-aluna descreveria as  freiras de seu colégio: a Escolástica, de bigode, ou a Esperança com o dentão ou a Melania, enfim, mesmo a irmã Elvira - deixou de ser freira- todas elas deixaram as piores lembranças. São odiadas até os dias de hoje, sem perdão, exatamente como pensava o jornalista (Steve Coogan)  que acompanhou Philomena em sua via crucis. 
Você sabia que existem muitas mulheres com o mesmo jeitinho simplório - não sei se seria a palavra adequada - de Philomena? Pessoas que no fim da vida, sabendo de certos comportamentos no mínimo inadequados de pessoas ou instituições em relação à sua pessoa, optaram por se calar? Fizeram exatamente como Philomena, que nunca quis dizer palavra contra as irmãs que lhe roubaram o filho e se negaram a dizer onde estava, mesmo sabendo de tudo. 
Philomena não odiava, perdoou tranquilamente as freiras pecadoras. A beleza do gesto e o sentimento perpassam pelo filme com uma delicadeza de cortar a alma... A relação de comprometimento que se consolida entre Philomena e o jornalista, cético de início e engajado no decorrer da busca é muito, muito emocionante. 
Quando Philomena era muito jovem apaixonou-se perdidamente, desse grande amor nasceu um filho. Freiras pregavam massacrar o corpo, açoitar os sentimentos "carnais" que imploravam por sexo. Para elas era preciso "rasgar a carne" se preciso para sufocar essa necessidade. Engraçado, lembro-me das mesmas palavras pronunciadas pelo padre, nos sermões das intermináveis missa a que assisti. 
No convento onde Philomena trabalhava como escrava , na lavanderia, por ter cometido "o pecado",  as garotas que tiveram filhos, conviveram um ou dois anos com seus bebês, podiam vê-los somente uma hora por dia. Depois as crianças desapareciam, eram vendidas, principalmente para os Estados Unidos. Isso é crime, sob hipótese alguma pode haver moeda envolvida em qualquer ação de adoção, é assunto sério. Por isso a raiva do jornalista Martin Sixmith, que corretamente desejava punir todo o convento de freiras pecadoras!
Finalmente Philomena consegue descobrir o paradeiro de seu filho, e
 sua trajetória. É tocante a forma como aceita o fato da homossexualidade do jovem: "Eu vi, naquela foto que ele era gay, de jardineira! " As mães sabem...
Não perca este belíssimo filme. Ainda hoje muitas mães , na Irlanda ainda procuram por seus filhos desaparecidos. Philomena ajuda nessa causa humanitária. 

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