terça-feira, 4 de março de 2014

Nebraska

Woody Grant, vivido por Bruce Dern caminha pela estrada, com passos inseguros, pernas arqueadas, cabelo branco e arrepiado, óculos e boca entreaberta. Esse é o visual do idoso, que há muito tempo deixou a "chamada melhor idade para trás". 
Woody pretende ir à Nebraska, nem que seja a pé, para cobrar o prêmio de um milhão de dólares que acredita ter ganho. 
O policial o entrega a David (Will Forte) e temos aqui o início de uma parceria entre pai e filho. Que eu saiba é a primeira que vejo um filho dar uma oportunidade a um pai. Em geral, é o contrário,  os filhos cuidam dos pais encarando a tarefa como um peso enorme a ser carregado.
O diretor Alexander Payne analisa as relações familiares e a decadência da instituição "família". 
Quando pai e filho resolvem visitar familiares em Lincoln, a mãe e o irmão se juntam a eles. Na sala de visitas, onde estão sentados juntos a tios e primos, são surpreendidos pela impossibilidade completa de comunicação. Os parentes são de uma mediocridade à toda prova. Primos, gêmeos e desempregados, são o melhor exemplo da grossura em família. Tipos recorrentes em filmes americanos, gordos, porcos, invejosos, pobres de espírito, avaros e burros são tudo aquilo que ninguém merece ter por perto jamais!
Na sala onde irmãos e idosos se reúnem em torno de esposas e filhos o ar é pesado, as palavras são inúteis para revelar laços familiares que de fato, não existem. 
Você lembra daquela festa em família que terminou em briga e ninguém se divertiu?
A mãe, interpretada por June Squibb - mulher tosca e vulgar -  é de uma grosseria alarmante. Difícil encontrar senhora mais repulsiva.
Sim, o senhor Payne não fez nenhuma concessão ao pintar seus personagens. Ao mesmo tempo sua descrição não é  para provocar risos,  como Ettore Scola  em "Brutti, sporchi e cattivi", quando o personagem principal fica na mesma cama, com a mulher e a amante!
Aos poucos David descobre que o pai, que tinha fama de desatento com os filhos, não era nenhum monstro, como a mãe afirmava.
Payne humaniza  pai e filho. A grandeza de David consiste em dar uma última oportunidade ao  pai. Os dois rodam pelas estradas e terminam formando um último encontro familiar com a mãe e o irmão, com um mínimo de cumplicidade entre os quatro.
O filme, em preto e branco, é belíssimo. Finalmente, a generosidade de David permite momentos de felicidade ao pai, aparentemente vitorioso, tendo superado seus problemas nem que seja por alguns minutos...

Bruce Dern está excelente como o pai frágil, que ainda tem coragem   para sonhar! Foi indicado ao Prêmio de Melhor Ator por Nebraska.

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