sexta-feira, 18 de abril de 2014

Noé

Noé não deveria nos impressionar,  é  um relato bíblico de domínio público. Lemos ou nos contaram, nas aulas de religião - do Padre José - quando éramos crianças. Afinal, todo mundo sabe que Deus ordenou Noé a reunir um casal de animais de cada espécie e colocar todos numa arca para salvá-los do dilúvio, que inundaria a face da terra. Que Deus estava muito incomodado com os pecados da humanidade e fez isso para acabar com os homens, ainda bem que essa parte eu não lembrava. Acima de tudo, é um filme sobre o amor e deixa o espectador com um nó na garganta.
Jennifer Connelly, como a mulher, Emma Watson, como a filha adotiva Ili estão bem. Mas   Russel Crowe está soberbo, faz um Noé magnífico, com a voz rouca, de tremor de terra.
Os efeitos cenográficos  são bons, mas aquela água brotando do fundo do mar, como uma chuva de chafarizes, é um exagero! Dilúvio não é assim, um espetáculo de luzes e águas! É muito mais como um tsunami! Ficou artificial e o mesmo se pode dizer dos bichos, todos da era digital, nada verdadeiro. É preciso ter paciência para suportar a mediocridade de certos malabarismos da 3D!
Segundo a Bíblia, Noé leva para dentro da arca, a mulher e os três filhos, Sem, Cam e Jafé. Faltam esposas para os outros dois. O filho responsabiliza o pai por sua solidão e falta de noiva. E o patriarca passa a ser a grande vítima de si mesmo. Acredita piamente, ter sido encarregado por Deus de salvar a humanidade, e nesse gesto não estariam incluídas as mulheres para o segundo e o terceiro filhos. A desgraça do patriarca é ser o alvo de ressentimento e ira do filho, verdadeiro drama. Para qualquer pai, isso é a suprema infelicidade.
O diretor toma liberdades ao contar a história. Mostra o drama do homem, que acredita ser um instrumento de Deus para concretizar a Sua vontade. Não se sabe bem porque Noé tem uma fé tão forte e acredita cegamente que devem salvar-se apenas ele e sua família. Essa Gênese não se explica, é o mito da fé, por isso é tão emocionante o drama vivido pelo personagem.
Em nome desta mesma fé e da tradição, precisa matar a criança que nasce, se ela for mulher. Uma das cenas mais dramáticas que assisti nos últimos tempos é o conflito vivido pelo personagem, dilacerado entre  o amor pelo ser inocente e a necessidade de obediência a Deus. A ideia de que somente ele poderia salvar o mundo do mal, quase o transforma em algoz da própria família. Mal sabe nosso trágico personagem que sua arca já estava contaminada pelo  mal, com o beneplácito do filho traidor. Muito provavelmente,   está parte não estava na Bíblia, porém o essencial do relato foi mantido.
Apesar de tudo o que foi dito sobre os problemas da terceira dimensão e da artificialidade dos animais, não perca, fique nas primeiras filas e talvez, nem assim, você se livre dos mal educados que acendem o celular no escurinho do cinema.



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