segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Livre


Livre é uma viagem interior, na qual a protagonista percorre uma trilha em busca de si mesma. O filme do diretor Jean-Marc Vallée é muito, muito bom! E tem tudo a ver com cada um de nós. Porque? É assim, a personagem Cheryl Strayed, interpretada por Resse Witherspoon, como qualquer pessoa, vai vivendo a vida. Problemas, fracassos, perdas, como sobreviver a tudo isso? Cheryl como toda filha critica seus pais, embora tenha uma mãe dedicada. O pai é alcoólatra, com quem ninguém se preocupa. Afinal ele transforma-se no inimigo e em perigo para a família. E, azar se não se tratar, a filha  nunca mais o encontra.   
Depois de perder a mãe, tem seu casamento destruído. A separação é inevitável. Para enfrentar tantos infortúnios, começa a usar drogas, injetadas diretamente na veia! Muito duro assistir ao processo de destruição da personagem.
No início do filme, Cheryl já decidiu, está prestes a iniciar uma trilha, onde percorrerá sozinha, mais de 1000 km. Você que em toda a sua vida conseguiu simplesmente caminhar ou correr 5 km por dia, três ou quatro vezes por semana – e acha que conseguiu grande coisa! Já pensou no que significa o desafio?
A personagem é uma mulher pequenina, deve ter em torno de 1,53 m. Cai muitas vezes antes de conseguir levantar a mochila, pesada  demais! Lembra a milonga “Pa qu’el se va”, de Alfredo Zitarrosa, quando ele, canta:

‘’No te olvides del pago
si te vas pa la ciudad.
Cuanto más lejos de vayas
Más te tenes que acordar.

Certo que hay muchas cosas
Que se pueden olvidar,
Mas algunas son olvidos
Y otras son cosas nomás.

No eches en la maleta
Lo que no vayas a usar
Son más largos los caminhos
Pa’l que va cargao‘ de más.
...
Y si sentís tristeza
Quando mires para trás
No te olvides que el camino
Es pal’ que viene y pal’que va”.

Essa música de Zitarrosa é belíssima, me acompanha uma vida inteira. Pensando bem, tem um pouco a ver com o filme. Pois, a personagem fala consigo mesma o tempo inteiro. Vive consigo mesma, tem sua cabeça repleta de pensamentos, a todo momento. Lembra cada um dos muitos de  erros cometidos, de todas desgraças, como todos nós. Quantas vezes lembramos perdas ou coisas que não deveríamos ter feito? Finalmente diz para si mesma:
- “E se tudo o que eu fiz serviu para me tornar uma pessoa melhor? “
Ou quando pensa nas coisas para as quais não deu o devido valor:
- ”Nos últimos anos, agi como se ele não fosse nada para mim, mas ele era tudo”!
Bonito é o que ela pensa em voz alta:
- “Por cada pedacinho da minha mente passaram os problemas, agora tenho promessas a cumprir e quilômetros a rodar antes de dormir”. E quem sabe? Seguindo os conselhos da mãe conseguiu encontrar o melhor dentro de si mesma...
Enfim, Livre pode nos servir de exemplo de como é importante falar consigo mesmo, escrutinar cada pedacinho da mente, cada lembrança, para finalmente aceitar a si próprio, cada um com suas limitações, mas enfim transformado em uma pessoa melhor, que percorreu um longo caminho em busca de si mesmo. É desse reencontro que todos nós precisamos.
É por isso também que amo tanto a poesia de Rainer Maria Rilke quando ele também canta:
“Ó nostalgia dos lugares que não foram
 Bastante amados na época passageira
 Quem me dera devolver-lhes de longe

O gesto esquecido, a ação suplementar”.

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