Livre é uma viagem interior,
na qual a protagonista percorre uma trilha em busca de si mesma. O filme do
diretor Jean-Marc Vallée é muito, muito bom! E tem tudo a ver com cada um de nós.
Porque? É assim, a personagem Cheryl Strayed, interpretada por Resse
Witherspoon, como qualquer pessoa, vai vivendo a vida. Problemas, fracassos,
perdas, como sobreviver a tudo isso? Cheryl como toda filha critica seus pais,
embora tenha uma mãe dedicada. O pai é alcoólatra, com quem ninguém se
preocupa. Afinal ele transforma-se no inimigo e em perigo para a família. E,
azar se não se tratar, a filha nunca
mais o encontra.
Depois de perder a mãe, tem seu
casamento destruído. A separação é inevitável. Para enfrentar tantos
infortúnios, começa a usar drogas, injetadas diretamente na veia! Muito duro
assistir ao processo de destruição da personagem.
No início do filme, Cheryl já
decidiu, está prestes a iniciar uma trilha, onde percorrerá sozinha, mais de
1000 km. Você que em toda a sua vida conseguiu simplesmente caminhar ou correr
5 km por dia, três ou quatro vezes por semana – e acha que conseguiu grande
coisa! Já pensou no que significa o desafio?
A personagem é uma mulher
pequenina, deve ter em torno de 1,53 m. Cai muitas vezes antes de conseguir
levantar a mochila, pesada demais!
Lembra a milonga “Pa qu’el se va”, de Alfredo Zitarrosa, quando ele, canta:
‘’No te olvides del pago
si te vas pa la ciudad.
Cuanto más lejos de vayas
Más te tenes que acordar.
Certo que hay muchas cosas
Que se pueden olvidar,
Mas algunas son olvidos
Y otras son cosas nomás.
No eches en la maleta
Lo que no vayas a usar
Son más largos los caminhos
Pa’l que va cargao‘ de más.
...
Y si sentís tristeza
Quando mires para trás
No te olvides que el camino
Es pal’ que viene y pal’que
va”.
Essa música de Zitarrosa é
belíssima, me acompanha uma vida inteira. Pensando bem, tem um pouco a ver com
o filme. Pois, a personagem fala consigo mesma o tempo inteiro. Vive consigo
mesma, tem sua cabeça repleta de pensamentos, a todo momento. Lembra cada um
dos muitos de erros cometidos, de todas
desgraças, como todos nós. Quantas vezes lembramos perdas ou coisas que não
deveríamos ter feito? Finalmente diz para si mesma:
- “E se tudo o que eu fiz serviu
para me tornar uma pessoa melhor? “
Ou quando pensa nas coisas
para as quais não deu o devido valor:
- ”Nos últimos anos, agi como
se ele não fosse nada para mim, mas ele era tudo”!
Bonito é o que ela pensa em
voz alta:
- “Por cada pedacinho da
minha mente passaram os problemas, agora tenho promessas a cumprir e
quilômetros a rodar antes de dormir”. E quem sabe? Seguindo os conselhos da mãe
conseguiu encontrar o melhor dentro de si mesma...
Enfim, Livre pode nos servir
de exemplo de como é importante falar consigo mesmo, escrutinar cada pedacinho
da mente, cada lembrança, para finalmente aceitar a si próprio, cada um com
suas limitações, mas enfim transformado em uma pessoa melhor, que percorreu um
longo caminho em busca de si mesmo. É desse reencontro que todos nós
precisamos.
É por isso também que amo
tanto a poesia de Rainer Maria Rilke quando ele também canta:
“Ó nostalgia dos lugares que
não foram
Bastante amados na época passageira
Quem me dera devolver-lhes de longe
O gesto esquecido, a ação
suplementar”.
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