sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O Invencível


Angelina Jolie não dá a menor chance  ao espectador. Os críticos podem até dizer que seu filme está na esteira das produções de Hollywood que há um século banalizam e pasteurizam os personagens que querem reverenciar. E daí? Garanto que o espectador não está nem aí. Entra de cabeça e  coração na alma do personagem Louis Zamperini.
Aliás, o verdadeiro Zamperini, cuja história eu desconhecia, é um nome novo,  a quem sempre poderemos invocar como símbolo de força, tenacidade e perseverança. E ele corria! E corria muito! Quando era adolescente,  foi incentivado a correr, pelo irmão mais velho - que doce de irmão! Mal sabia ele o quanto seu empurrão foi importante para Louis! Eu sempre disse, o que mais as pessoas  precisam é de incentivo!
Jack O’Connell, o ator, tem apenas 24 anos, é uma graça. Se Angelina filmou em torno dele, não poderia ter feito coisa melhor. O personagem  irradia força e simpatia, o sorriso com dentes desalinhados é um verdadeiro encanto. Lembra um pouquinho o charme irresistível de Wagner Moura. Para que mais? Passamos os 124 minutos de olho grudado em Zamperini. Com ele, nos tornamos heróis das Olimpíadas e quase morremos na relação de barbárie com o torturador.
Na vida real, ganhou o prêmio dos 5.000 m nas Olimpíadas de 1936, quando o herói negro teve sua medalha cassada por Hitler.
Em 1943 vai para a guerra,  seu avião, um B-24, cai no Pacífico. Por muitos dias, ele e mais dois amigos, flutuam perdidos na imensidão, ameaçados por tubarões. Zamperini não quer nem ouvir que vão morrer. Até nisso bateram recordes. Depois de 47 dias à deriva são resgatados e presos por um pelotão japonês.
Aí começa o terceiro ato - drama e sofrimento. E o pior é que tudo aconteceu de verdade. Mutsuhiro Watanabe é o japonês torturador. Não se sabe porque uma alma se torna tão amarga e mesquinha a ponto de sentir prazer em torturar o inimigo. Invariavelmente, explica para os prisioneiros:
- Vocês são prisioneiros de guerra, são inimigos do Japão e receberão o tratamento dado aos inimigos.
No primeiro olhar, o torturador escolhe sua vítima. Também ele sentiu a força de Zamperini. Watanabe, a Ave, se confundia. Não sabia até que ponto desejava que Louis levantasse os olhos, olhasse para ele e sustentasse um olhar desafiador. No clímax, em que o personagem é obrigado a levantar uma enorme viga de madeira, grita, mostrando toda a pouca força que ainda lhe resta. Mostra que é o vencedor.  E, a Ave ordena-lhe que não olhe mais para ele ! Nesse instante o torturador é derrotado. É como se nesse  preciso momento tivesse terminado a guerra. Enfim Angelina Jolie explora a relação doentia que se estabelece entre torturado e torturador.
Quando os aviões americanos sobrevoam o campo de concentração e jogam mantimentos, Zamperini vai até o quarto de seu algoz. Encontra a foto de um menino, pequenino, ao lado de um homem sério. Questiona-se, não entende o que aconteceu... Um ano depois, em 1946, casa, tem filhos e ainda participa de uma Olimpíada aos 80 anos!
O impressionante é que volta ao Japão e encontra os japoneses que o aprisionaram. Em busca de paz e libertação, quer perdoar... A Ave, consegue sobreviver... Sem coragem para sustentar o olhar do herói, nega-se a encontrá-lo. Imagino que sua alma e sua vida   tomaram o caminho de Judas...

Louis Zamperini faleceu  aos 97 anos, em 2014, e é um exemplo para cada um de nós!

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