quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Diana


Diana é a história da princesa que todos conhecemos. Mas desta vez, o inédito é que Marinalva foi comigo assistir ao filme de sua adorada princesa. Óbvio, sofreu junto com a princesinha todas as suas decepções. Imagine só - pensa Marinalva - ficam falando por aí que a princesa não era uma mulher brilhante e que sem o apoio da realeza, só afundou em sua própria mediocridade.
Minha amiga não acredita nisso, para ela medíocre mesmo é a idéia de no século XXI ainda existir rei, rainha, monarquia etc., e um povo inteiro curtindo uma idiotice dessas, quando há mais de mil anos os gregos nos ensinaram o que é democracia!
Pensa na princesa, alta, loira e magra - Naomi Watts, nem tanto- mas tão adorável quanto a verdadeira Lady Di. Imagina com tristeza, que Diana não poderia ser uma personagem de Walt Disney. É como uma Bela Adormecida, que jamais seria acordada pelo príncipe encantado. Pois antes disso, o próprio virou o sapo que sempre foi e não conseguiu mais esconder sua própria condição animalesca.
Marinalva sempre sonhou com as histórias de fadas e percebe que Diana é a própria visão da princesinha ao contrário. Como falam em arquitetura, é a própria desconstrução da idéia de princesa! E finalmente ela ama a princesa por sua coragem em lutar em benefício dos povos africanos e da luta contra as minas terrestres. Uma coisa também pensou: O médico e sua família indiana eram bem complicadinhos não é mesmo?
Enfim, se a princesa foi infeliz no amor, pelo menos conquistou os corações de milhares de comuns mortais, como ela Marinalva! Não é mesmo?

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Gravidade

Gravidade é uma experiência única. Você consegue imaginar que um dia não sabe quando sentiu a mesma sensação de Ryan Stone? Como isso se explica não sei, não se explica, então. Mas em sonhos ou pesadelos de criança sei que estive no espaço. Brincadeira, deve ser imaginação. E você alguma vez sentiu-se solto no espaço? Até por isso o filme vale pela experiência, assim, como provar um brinquedo que lhe oferece mil e uma emoções sem sair da poltrona! Ora! grande descoberta! Cinema é exatamente isso! 
George Clooney e Sandra Bullock fazem os personagens Matt Kowalski e Ryan Stone. Os dois trabalham no ônibus espacial Explorer. Desde o início, o espectador pode sentir a imensidão do espaço e ter uma pálida idéia do que Ryan e Kowalski podem estar sentindo. Engraçado, em todos os filmes do gênero algumas coisas se repetem. Por exemplo, para aliviar a tensão os personagens conversam bobagens, Kowalski fala de uma traição e de como reencontrou a ex com alguém cabeludo! Na hora H de revelar quem era o cabeludo, surge  uma tempestade de destroços, literalmente do nada. O pesadelo provém de um acidente com uma nave russa. Os destroços provocam um verdadeiro caos. Projetados no espaço, os dois se soltam. Perdidos, giram sem rumo,  no centro do azul infinito e daquele  pedaço de terra azul. 
Sandra Bullock está diferente, o visual despojado lhe cai bem, o cabelo curto ficou ótimo! Preste atenção, se os físicos revelam que o cabelo de Ryan deveria se soltar sob o efeito da ausência de gravidade, imagine você, tem gente que acorda de manhã com o cabelo em pé e não tem efeito da gravidade que faça o  dito cujo descer! Só chapinha mesmo e por poucos dias. Assim o simples espectador não dá a mínima para esse tipo de erro.
Quem lançou a moda da regata de algodão e do shortinho minúsculo nos filmes de astronautas foi Sigourney Weaver, a Ellen Ripley da série Aliens. A sequência de  Ryan Stone, com a regata despojada, solta no espaço, é muito muito bonita.  Finalmente, o herói Kowalski, se sacrifica. Não sem antes   conscientizar Ryan sobre o verdadeiro valor da vida e sobre a importância de recomeçar.
As cenas da viagem de volta são surpreendentes, e a gente se pergunta: Como eles conseguiram ir e voltar naquelas cápsulas horrorosas, com a Nasa errando sempre?
Finalmente você pode pensar que Gravidade é um espetáculo da forma pela forma, mesmo assim, não importa, é simplesmente genial!
 

domingo, 13 de outubro de 2013

A Bela que Dorme

Marco Bellochio dirige este filme belíssimo, diferente de tudo o que você viu até hoje. A Bela que Dorme usa o caso verídico de Euliana Englaro para discutir a eutanásia. A verdadeira Euliana sofreu um acidente em 1992, permaneceu em coma durante 17 anos. Seu pai lutou pelo direito de desligar os aparelhos que a mantinham viva. Tendo esse cenário dramático como pano de fundo, "A Bela que Dorme" confunde o espectador: É Rosa (Carlota Cimador), filha da Divina Mãe (Isabelle  Huppert)? Só pode ser, pois era a única "bella addormentata". Bellochio mostra outra mulher em coma, a mãe de Maria (Alba Rohrwacher), filha do senador Uliano Beffardi (Toni Servillo). O mesmo drama atormentava a consciência do político que se vê compelido a desligar os aparelhos que mantém sua mulher viva, contra a vontade da filha. Bellochio alterna as cenas dramáticas de protestos frente à clínica para onde teria sido transferida Euliana Englaro e aos poucos desata os conflitos entre os personagens. Para o diretor não interessa saber: De quem é o corpo doente? Ele apenas quer falar desse corpo doente, a própria Itália, ou o Congresso que sustenta o Governo de Berlusconi. Quem sabe já nessa data, não estaria caindo de podre? Observe que no congresso italiano existe um psiquiatra que receita calmantes para  deputados e senadores, todos corpos vivos e doentes. Todos mancomunando em banhos públicos do tempo dos romanos.
Assim, os dramas se unem, se cruzam e se separam. Todos têm um ponto em comum, o desejo de posse de um ser humano em relação ao outro. A super mãe pode ser vista como o símbolo da loucura, de quem não quer libertar o ser amado, que de fato está morto para a vida. A exagerada Divina Mama não emociona o espectador. Querer preservar um ser humano, há 17 anos em coma, é loucura e desamor. Nisso o pai de Euliana tinha razão. Em todos os casos, o diretor mostra que existe um momento diante da morte, em  que o desejo de posse sobre o corpo doente é inútil e desnecessário.
Bellochio mostra outros conflitos relacionados à posse do outro. O caso do jovem  esquizofrênico (?) que termina vencendo e impedindo o irmão de viver a própria vida. Roberto ( Michele Rondino)   apaixona-se por Maria, a filha do senador, mas não consegue levar adiante o romance, impedido pelos grilhões dos compromissos familiares. No fundo, falsos compromissos, que não escondem o desejo de posse do filho ou do irmão, não importa..., desejos que  se transformam em verdadeiras prisões, das quais os prisioneiros só tomam consciência quando o tempo passou. Perderam a juventude e o ser amado... Em todos estes dramas venceu a morte, mas Bellochio aposta na vida quando a teimosia do médico Pallido ( Pier Giorgio Bellochio) luta contra o desejo de morte de sua paciente. Com garra, finalmente, o filho do diretor,  toma conta de Rossa, com o mesmo desejo de posse do outro, mas uma posse que devolve a vida!
 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O Tempo e o Vento

Acho que Érico Veríssimo apreciaria a versão de “O Tempo e o Vento” de Jaime Monjardim. Thiago Lacerda faz jus a tudo o que a Lucinha diz dele: É lindo! Encarna com perfeição o personagem, corajoso, inquieto e atraente. Representava o ideal masculino da época, apaixonado por guerras, lutas e batalhas, mas que respeitava os desejos de uma mulher: - “Se a senhorita Bibiana não quiser falar comigo, vou embora deste lugar agora mesmo”.  A paixão pela jovem é insuficiente para transformar o herói num pacato dono de bolicho. Os pontos fracos do moço afloram... Afinal Rodrigo sentia-se à vontade em meio a uma luta corpo a corpo, com punhal, faca ou espada. Mas o que restava para fazer naquele Rio Grande medonho, com tanta pobreza e dificuldades? Restava balançar para o lado dos maragatos ou pica-paus. Aliás, Monjardim não usa esta palavra. Ele fala na luta entre maragatos e republicanos. Capitão à parte, graça mesmo é o personagem do índio Pedro. Li o livro há muito tempo, sabia que Pedro morreria, mas mais uma vez, quis mudar o desfecho da história. O Rio Grande da época era um lugar masculino, de homens, de lutas com uma violência desmedida. Capitão Rodrigo lamentava não ter conseguido completar a voltinha do R, que marcara na cara do inimigo. Imagine você, a platéia aplaudiu! E eu me diverti muito! Para os gaúchos muito provavelmente o filme vai tornar-se um épico. É impressionante como Thiago Lacerda está sedutor, m-u-u-u-i-to alto, verdadeiro herói de contos de fadas! Pergunto-me: Não haveria certo exagero naquele chiripá vermelho? A roupa usada por Bento Gonçalves em “O homem das sete mulheres” interpretado por Werner Schunemann, me pareceu mais adequada. Aliás, no “Tempo e o Vento” de Monjardim, o brilho fica por conta de Thiago Lacerda. O filme é feito para ele, e somente ele - o Capitão Rodrigo - é a verdadeira estrela. As mulheres, lindas e adoráveis, passam ao fundo, como sombras. Como dizia Ana Terra, as mulheres teciam, esperavam e choravam. E as atrizes sumiram junto com suas personagens. Pensando bem, o filme não seria machista? No fundo poderíamos pensar que foi realizado para celebrar o homem dominante - el hombre. Seria uma ode ao macho gaúcho! Coisa que este povo vive sonhando e celebrando, tudo misturado, a saga de Érico Veríssimo com as histórias inventadas por tradicionalistas desavisados. Ainda bem que o mundo mudou! Que o Rio Grande mudou!  E que as mulheres pararam de chorar, tecer e esperar.
 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Steve Jobs

Gostei do filme sobre a vida Steve Jobs. Quem sabe quantos de nós o endeusávamos?  Terminamos chegando à conclusão que apesar de seus talentos foi um ser humano, com defeitos e virtudes. Enfim, desconhecíamos o outro lado, os problemas e fragilidades do super-homem da Apple. Por mais má vontade que alguém tenha, por mais preconceito, nunca poderá negar a genialidade de Steve Jobs.
Alguns detalhes no filme me surpreenderam, ficaram muitos bons. Na cena inicial, quando Ashton Kutcher vai começar seu discurso, pensei que era uma filmagem do verdadeiro Steve Jobs. O corpo esguio, em calças jeans largas que lhe acentuam a magreza, pés enormes metidos em tênis, Deus!,  ficou igual ao verdadeiro Jobs. Muito bom, dava gosto olhar o gingado de Steve ao caminhar. As filmagens tiraram partido da caracterização de Ashton de seu personagem. Steve, meio orangotango, com pernas arqueadas - dava vontade de rir - de tão bom que ficou!
Enfim, o verdadeiro homem da Apple era diferente, quem sabe, super dotado? Viram que ele nem ligava, gostava de tirar os sapatos e sair por aí de pés descalços? E não fazia gênero, como muitos o fazem, para chamar a atenção. Era autêntico.
Foi bom conhecer o outro lado do super-homem. Jobs foi um menino adotado, e não conseguia entender como um pai e uma mãe têm um filho e o jogam fora? Claro, ele esqueceu que essa guinada do destino fez a felicidade de seus pais adotivos, Paul e Clara Jobs.
Eis a questão, talvez por todos esses questionamentos Jobs relutava em reconhecer a filha. Porém, quando decidiu colocar o nome Lisa, em seu computador, estava se entregando ao papel de pai e ao amor da filha. Achei lindo!
Quanto à Apple, só com um cara genial como Steve Jobs conseguiu ser em 2012 a empresa mais valiosa do mundo!
E aí? Mirem-se no exemplo dele e tentem fazer a diferença, como Steve aconselhava. Por menor que seja, nos atos mais simples do dia a dia. Acho que o incentivo vale a pena! Tente ser criativo e não aceite jamais a pecha da palavra Medíocre!
 

Flores Raras

"Flores Raras" não é um bom filme e não leva a sério coisas importantes. Enfim , trata da vida de Lota Macedo Soares, uma mulher que pode ter sido considerada corajosa, mas que antes de tudo foi muito esnobe e prepotente. Se foi corajosa por ter lutado por seus direitos e assumido sua homossexualidade em tempos difíceis, exagerou quando humilhou suas duas mulheres, deixando-as desarmadas, morando uma defronte à outra. Para completar, adotou uma criança envolvendo "moeda" na transação.  Imperdoável e criminoso.
Porém,  ficou verdadeiramente ruim aquela perspectiva do Parque do Flamengo, que o diretor Bruno Barreto deixou passar. Será que a produção não sabia - ou não deu importância? -, que nos anos 60 a representação gráfica em arquitetura estava no auge? Arquitetos, estudantes de arquitetura e desenhistas sabiam desenhar uma perspectiva e certamente não fariam aquele desenho primário. Ou será que era para criticar Lota que de fato não era arquiteta? Ninguém entendeu!
Não foi mencionado o nome de nenhum arquiteto. Affonso Eduardo Reidy assinou o projeto do Parque do Flamengo. E, se a Casa de Lota Macedo Soares foi projetada por Sérgio Bernandes, Bruno Barreto delegou a autoria do projeto à sua proprietária! E o cenário da Casa de Lota era um projeto de Oscar Niemeyer! Enfim atribuir à Lota todos os créditos de autoria do projeto retira do filme qualquer credibilidade.
Enfim , desta vez o diretor fez a história das elites, bem podres do tempo da ditadura, Lota trabalhava alinhada com a UDN e com Carlos Lacerda. E não cabia nenhuma crítica? Carlos Lacerda foi mostrado muito amiguinho! Observe,  filmes  como "Repare Bem " e "Flores Raras" são com água e azeite...
Óbvio, Glória Pires e a atriz que representa Elizabeth Bishop estão ótimas, mas não seguram o filme de Bruno Barreto.
 


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Repare Bem ( Les yeux bleu)

Eduardo Leite, o Bacuri, nasceu em 1945 e morreu assassinado pela ditadura em 1970. Vivi esse tempo, nasci no mesmo ano e fiquei impressionada. Denise Crispin e sua filha, Eduarda Crispin Leite, nos contam uma história estarrecedora. Denise e Bacuri se conheceram em tempos difíceis, se apaixonaram e tiveram uma filha, que não chegou a conhecer o pai. Histórias da ditadura no Brasil são insuportáveis. Seria menos doloroso não assistir a filmes que falam dessa escuridão... Sei que é importante que nossos filhos conheçam essa face do Brasil, enfim...
Denise, na foto aos 21 anos, é tão diferente da mulher sofrida que nos fala que pensei ser outra pessoa; pensei que era uma atriz. Segundo ela, Bacuri era um homem lindo! Além de ter sido torturado por mais de cem dias, teve o rosto e o corpo destruídos. Denise observa que o rosto destroçado de Bacuri, para ela, é como se sua beleza física fosse insuportável para seus algozes. Reconheci sua foto. Deve ter saído em muitos jornais.
A história das duas mulheres é dura, um verdadeiro massacre. Mesmo assim nesse tipo de filme às vezes, um detalhe é o que pode emocionar o espectador. Para mim, a fala de Eduarda, no final, derruba a mais fria das criaturas. Eduarda é linda, com os olhos do pai - adoro ver semelhanças entre pais e filhos! A jovem fala que não conseguia dizer quem era seu pai. Tinha problemas para assumir a identidade do pai. Não sabia o porquê, mas não queria dizer que era filha de um prisioneiro político assassinado pelo regime militar!
Quando o governo brasileiro pede desculpas por tudo o que aconteceu, Eduarda sente que seu sofrimento torna-se menos pesado. Sinto profunda tristeza, pelos milhares de jovens - com a mesma idade de Eduarda - que sofreram problemas semelhantes, e para quem ninguém pediu desculpas ou sentiu-se responsável. O sofrimento no anonimato não é menos doloroso.
Todos os brasileiros foram privados de seus direitos, cassados de sonhos e liberdade. Somos sobreviventes do medo e da desesperança. Maria de Medeiros é uma mulher genial ao permitir a ambas, a realização de um ato de coragem e libertação. Mas Denise alerta: Não vai descansar enquanto o outro lado não contar a sua versão, sua história não terminou. Quer conhecer a versão dos assassinos que não foram punidos até hoje. De Eduardo restam as lembranças dos olhos azuis inesquecíveis.