quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Porto (Le Havre)

O finlandês Aki Kaurismaki toca no ponto frágil dos franceses ao filmar "O Porto" ( Le Havre). Na atualidade, o problema da imigração clandestina gera controvérsias na França. É um tema difícil e delicado. No Brasil, muitas pessoas que pensam saber tudo sobre a França, juram que todos os franceses odeiam os imigrantes e tudo o que eles representam. Dois filmes, porém, vêm para desmentir essas afirmativas. O primeiro, "Bem Vindo" de Philipe Loiret, com Vincent Lindon, mostra o drama do adolescente, imigrante curdo que a todo custo quer fazer a travessia França-Inglaterra. Vincent Lindon interpreta o professor de natação que o ajuda. O filme causou tanta polêmica que o Partido Socialista francês propôs uma lei que descriminaliza a ajuda a imigrantes clandestinos.

"O Porto" trata do mesmo problema. Em Le Havre a vida é dura como em Calais, onde se passa "Bem Vindo". Loiret afirma que Calais é uma terra de ninguém, onde busca por oportunidades e sistema repressivo se chocam com leis que excluem os imigrantes. A França, como país colonialista agora tem o retorno e precisa encarar de frente o problema da imigração. Existe muita pobreza em Le Havre. Aki mostra a fisionomia da cidade, pequena, pobre e charmosa. Ali vive Marcel Marx (André Wilms), um homem de meia idade, calejado que ganha a vida como engraxate. Marx enfrenta o submundo nos arredores do metrô, onde sempre existem testemunhas de roubos, assassinatos, atrocidades e injustiças que acontecem durante o dia ou na calada da noite. Testemunhas mudas, marginais ou investigadores que perseguem imigrantes podem tomar atitudes decisivas e até impensáveis. O mistério que ronda os personagens torna o filme atraente.

Aki Kaurismaki filma com câmera parada, ao gosto de Jean Luc-Godard, planos estáticos, de longa duração que causam uma certa ansiedade. Como quando a esposa de Marcel fala para a câmera e prepara-se para hospitalizar-se. O enquadramento é fruto do diretor-observador, que artista cria cenas belíssimas de colorido impressionante, com pessoas verdadeiras, autênticas e enrrugadas. Os planos estáticos mostram casas com mobília simples, colorida e kitsch. Uma estética às avessas do lugar comum. Ou ainda que contraria a estética promovida por arquitetos e decoradores de interior, tão bem aceita pela burguesia.

Marcel casualmente encontra-se com um menino fugitivo de um container de imigrantes ilegais. Fora do container ele vive como um cachorro abandonado, no escuro, dentro d'água e onde for preciso se meter para fugir da repressão. O engraxate sem pensar, sem saber porque adota o menino e encontra aliados dispostos a ajudá-lo. Silenciosos, os amigos mostram solidariedade.

O drama da criança comove a quem não se espera comoção, o investigador, interpretado por Jean Pierre Darrousin. Ele salva a vida do garoto duas vezes. Na primeira, baixa a arma do policial que mira o menino fugitivo. Afirma: "Não atire, não vês que é uma criança?" Enfim, Ika mostra que os caminhos do senhor são insondáveis e mais uma vez o implacável perseguidor e cumpridor da lei ganha a oportunidade de salvar um imigrante.

Acredite, "O Porto" é imperdível! Pense, ontem o Brasil deu oportunidade de regularização, com carteira de identidade e tudo, a quatorze haitianos que desejavam imigrar para o Brasil. Pense, uma de minhas primeiras viagens foi a Rivera. Fui com meu pai, minha mãe e minha irmã. Meu pai e minha mãe nos disseram: " Vejam a gente atravessa a rua e está em outro país." Enfim podemos pensar como é bom viver em um Brasil, que apesar de tantos problemas é civilizado e pode servir de exemplo à França.

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