quinta-feira, 12 de abril de 2012

Xingu

Os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas tiveram sua merecida homenagem em Xingu. Cao Hamburger chega em hora certa para fazer lembrar a quem sabia e esqueceu, e para dar conhecimento à gerações novas que desconhecem a epopéia dos irmãos indigenistas. Os atores João Miguel, fazendo Cláudio, Felipe Camargo, interpretando Orlando e Caio Blat fazendo o jovem Leonardo estão realmente muito bons. Difícil saber quem está melhor. Mas Felipe Camargo reproduz com perfeição o visual de Orlando, nas tantas fotos que vi em jornais e filmes desde longa data.

Orlando, Cláudio e Leonardo jovens e aventureiros, em 1943 tinham respectivamente 29, 27 e 25 anos. Certamente não imaginavam o alcance de sua aventura e a importância de seu trabalho como indigenistas. A expedição para desbravar e ocupar o Oeste desejada por Getúlio Vargas, em seu plano de integração nacional, mudou a vida e fez a cabeça dos três irmãos. Eles foram muito além, integraram-se à vida dos povos indígenas. E podemos afirmar que de homens brancos - vistos em geral como os que desejam dominar e exterminar os povos indígenas - transformaram-se eles próprios em indígenas. Absorveram sua cultura e sua maneira de viver. Nunca mais conseguiram voltar.

Hoje, a voz que valoriza a sustentabilidade e a vida em comunhão com a natureza é um reconhecimento tardio ao pensamento dos irmãos Villas-Bôas. Há 69 anos atrás eles já sabiam o que era sustentabilidade, amor e respeito pela natureza e pelo indígena. Orlando, Cláudio e Leonardo aprenderam com o Marechal Rodon, de quem recebiam cartas de próprio punho com saudações de respeito e carinho. O mestre lhes ensinou que os povos indígenas precisam ser protegidos e preservados da sanha do homem branco. Dos plantadores que arrasam a floresta com monoculturas. Destróem as civilizações dos povos indígenas, não oferecem emprego e beneficiam a si próprios. Enquanto aumenta o desmatamento nessas áreas, as secas e inundações assolam outras regiões do país.

Os irmãos Villas-Bôas superam Rondon quando percebem que a riqueza cultural e a integridade física dos índigenas deve ser preservada a todo custo. O que eles defendiam, hoje é uma verdade incontestável ao alcance de todos. Sabemos que os indíos somente sobrevivem em sua própria cultura e sabemos que os processos de integração indiscutivelmente têm provocado a desagregação das tribos indígenas.

Xingu é um filme educativo, sincero e honesto que conta essa história patética da Marcha para o Oeste. Óbvio, colocava os povos indígenas em perigo. E a situação agrava-se quando constróem a Transamazônica. A famosa estrada que virou chacota, a famosa estrada que leva de lugar nenhum para nenhum? Mas que todos sabem, colocava em perigo a vida de povos indígenas que nunca tiveram contato com o homem branco.

Princípios rígidos de respeito aos indígenas fazem com que os irmãos obriguem Leonardo a deixar a expedição. Mas e Cláudio? Não fez igual? Também ele não teve um filho com uma índia?

Os irmãos permaneceram em sua missão por 42 anos, lutando pela causa indígena. Seu trabalho se reveste da maior importância. Orlando transforma-se no estrategista que batalha por seus ideias nos meios diplomáticos, enquanto Cláudio transforma-se em índio e Leonardo, no esquecimento e no exílio branco, não consegue sobreviver. Por isso é emocionante ver a tomada aérea, no final, mostrando o Parque Indígena do Xingu. É emocionante saber que o parque possui 27.000 km2. E é emocionate saber que ele abriga em torno de 5500 índígenas de 14 etnias. E nós que procurávamos heróis no Capitão Marvel ou no Superman e não enxergávamos estes pequenos grandes homens?

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