Roman Polanski realiza "Deus da Carnificina", classificado como comédia dramática. Ninguém riu. Fui a única a rir - timidamente- quando o celular de Alan Cowen é jogado no aquário. As duas atrizes riram muito e eu as acompanhei. O texto de Yasmine Reza, "Le Dieu Carnage", parece ter sido escrito para uma peça de teatro. Polanski quer mostrar- quem sabe?-, que o verdadeiro "Deus da Carnificina" não está em Nova York, mas em outros lugares do planeta, como o Congo, onde acontece a verdadeira barbárie. Poderia estar na Síria não é mesmo?
A falta completa de acordo, a falta completa de entendimento e de solidariedade com o outro está em todo lugar, principalmente, nas relações cotidianas.O drama acontece quando Zachary , de 11 anos, filho de Alan Cowen (Christoph Waltz ) e Nancy (Kate Winslet) agride Ethan Longstreet, na escola. Durante verdadeiros 80 minutos os pais de Ethan, Penelope ( Jodie Foster) e Michael ( John C. Really) tentam chegar a um acordo com os pais do agressor.
O cenário é único, a sala de estar do apartamento dos pais de Ethan. Os quatro atores parecem se divertir com aquele show de atuação. Como que para terminar o primeiro ato, os casais se despedem e caminham até o elevador. Voltam, o anfitrião sempre oferece um café.Tentam o acordo mais uma vez.
Polanski nos diz que poderiam ficar fazendo isso o resto de suas vidas. Nessa carnificina ninguém quer se entender. Judie Foster esta ótima como Pen, cujo filho teve os dentes quebrados pelo colega. Kate Winslet, dos quatro parece ser a personagem mais simpática. Vomita e põe para fora todo o seu stress, tudo o que a incomoda. Lá pelas tantas os quatro descobrem que as rachaduras nas relações entre cada casal florescem e aparecem mais que o problema dos filhos. No início, Pen e Michael fazem concessão ao escrever uma espécie de BO do ocorrido. Retiram a palavra que descreve o agressor como um menino armado com um bastão. Se cada um faz concessões e tenta contemporizar, o terceiro dá o contra e tudo volta à estaca zero.
O personagem exasperaste é Alan. Passa o tempo todo falando ao celular, a respeito do "Antril", um medicamento que pode fazer mal à saúde. Inferniza a vida de todos com seu comportamento inadequado. Preocupado consigo mesmo, não sabe porque está ali.
Alternadamente, um dos quatro é alvo de críticas dos outros e cai na desgraça. Cada um se enfurece e perde a razão. Voam celulares para dentro de aquários e as belas papoulas amarelas são destruídas com vaso e tudo. Se Pen ama seu Kokotchka, azar. Foi destruído e vomitado. Ela ainda é acusada de pesquisar sobre Darfour como uma forma de sublimação. Alan sucumbe quando perde o seu celular. Joga-se ao chão, mas ainda tem fôlego para criticar mulheres como Pen, cujo modelo de masculinidade é John Wayne, com seu "colt" 45 na cintura.
A exasperação vai tão longe, que rezo que nem o personagem de Sagarana: "Jesus manso e humilde, fazei meu coração semelhante ao vosso, vou para o céu nem que seja a porrete". Isso tudo pelo fato de ter que suportar o desentendimento daqueles quatro. Polanski conhece bem as relações humanas, cada vez mais difíceis...
É mais fácil as crianças se entenderem por conta própria do que os pais...Quem sabe, é mais fácil para o hamster- jogado no lixo por Michael - encontrar um novo dono, do que os quatro se entenderem...
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