Assistir a " Moonrise Kingdom" é uma experiência semelhante a de abrir um livro de histórias infantis, com belíssimas ilustrações. Desde o início, nas cenas que mostram as crianças em seus recantos dentro de casa, ouvindo música clássica, tudo é o próprio décor de contos de fadas. As tomadas externas da casa da família Bishop, pintada de vermelho, os planos parados com o policial de um lado e a mulher com a bicicleta do outro, tudo são como ilustrações de um livro. Esse mundo aparentemente idílico está caindo de podre.
No fundo, as próprias experiências do diretor Wes Anderson podem estar se manifestando em sua obra de arte. Quem sabe, o autor se sentido também um menino diferente, resolve contar as experiências de um outro menino órfão...
A história se passa na Ilha de New Penzance e conta a vida de Sam Shakusky (Jared Gilman) filho de pais adotivos. Aliás pais que o abandonam, pais que não sabem o que é ser pai adotivo. Ser pai ou mãe é para sempre. Não se abandona filho nenhum, muito menos adotivo. Pois os pais malucos do filme abandonam Sam simplesmente porque o menino apronta as suas.
Em "Moonrise Kingdom" vemos os adultos de um lado simplesmente vivendo, vidas vazias, sem ter nada para oferecer aos filhos. Com adultos palhaços e confusos, que não sabem porquê fazem o que fazem todo dia, as crianças tomam a dianteira. Precisam amadurecer e tomar as próprias decisões. Abrem os próprios caminhos. Pais adúlteros, crianças de fato abandonadas numa situação de quase orfandade.
Sam, o órfão problema, frequenta um acampamento de escoteiros, o Khaki Scout, comandado pelo monitor Randy Ward, tão idiota que sua ronda matutina pelo acampamento parece uma grande brincadeira. No mundo do disfuncional só pode florescer o amor dos 12 anos. Suzy (Kara Hayward) e Sam fogem de casa, ela leva o gato, seis livros e o toca-discos. Conseguem até um monitor para celebrar a cerimônia de casamento.
A crítica sutil do diretor ao mau desempenho dos representantes das instituições que decidem a vida das crianças faz o espectador dar boas gargalhadas. O monitor é ridículo - belíssima interpretação de Edward Norton. Da mesma forma, Walt Bishop (Bill Murray), o pai de Suzy não é menos patético com seu barrigão. Dá-lhe cerveja, para apagar as mágoas de homem traído. Pasmem, mais engraçado ainda é o chefe militar, interpretado por Harvey Keitel. Na hora de fugir, o coronel precisa buscar o remédio! Termina sendo carregado nas costas pelo monitor. Tilda Swinton, como toda assistente social está a serviço do poder constituído e não pensa em mais nada, a não ser obedecer. Não enxerga um palmo diante do nariz. Sabe apenas cumprir ordens. Terá que levar Sam para um reformatório onde talvez ele seja submetido a uma terapia de eletro choque! Pode?
Com personagens tão caricatos só podemos rir! Quando até a natureza se rebela contra os absurdos que estavam acontecendo, o policial Sharp (Bruce Willis) que amou uma vez na vida e perdeu a coragem de viver, tem o seu momento de iluminação, movido por não se sabe que força, ele faz acontecer. A cena final é deliciosa, não perca!
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