quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Fausto

Fausto é a releitura do poema trágico de Johann Wolfgand von Goethe. O próprio autor é citado no filme. As questões giram em torno de questionamentos filosóficos e  indagações: Quem sou eu? Por que existo? Qual a minha finalidade na face da terra?  O que é a alma? Qual a relação entre a alma e meu corpo?  O corpo se separa da alma após a morte? Porque após a morte o corpo é apenas fedor e podridão? Como desvendar o mistério da vida?
O diretor Alexandr Sokurov utiliza imagens escuras e paisagens esverdeadas e pressagas para o espectador questionar-se a respeito dessas indagações. O décor carregado representa a  podridão, sofrimento e fedor dos personagens. Aliás como o cinema ainda não chega até nós com cheiro, ouve-se muito a palavra fedor, para reforçar o sentimento do mal, do inferno e  imundície dos personagens. 
Fausto é um dos filmes mais violentos  que assisti. Você verá. O personagem principal vende a alma para o diabo. Então, sua fraqueza, sujeira e podridão são oferecidos ao público durante todo o filme, sem trégua.
Imagine você, sempre achei divertido pesquisar a história da passagem do limpo para o sujo, no Brasil a partir do período colonial. Do fazer a História da Merda, da Difícil Batalha do Excremento, na acepção de Alain Corbin. Me divertia com a expressão de espanto e escândalo dos outros.
Vi Fausto e me escandalizei, aquela histórinha da merda era coisa pequena, muito pequena...Fausto toca fundo no espectador. Provoca nojo, medo e asco em função da imundície e promiscuidade na vida dos personagens. Repúdio também por ver a fraqueza quem não domina os piores sentimentos e se vende. Repúdio também por aquele que tem absoluta falta de princípios para reger a própria vida. Pior, na vida real esse espetáculo é diário. Não tendo ética - e isso se aprende com pai e mãe -  nem moralidade, os Faustos da vida real também vendem a própria alma ao diabo.
O filme inicia com uma tomada distante da pequena aldeia medieval, incrustrada no rochedo. A visão idílica logo é desvelada com a merda, o fedor e a podridão!
O Fausto de Alexandr Sokurov tem influência do expressionismo alemão. Porém tenho certeza que o Fausto de Murnau de 1926 era muito melhor e bem mais impressionantre que este.
Querem saber? Odiei esse filme de autor!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Bem Amadas

O filme é realizado em família e a história trata do que acontece na vida real. Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni como as personagens Madeleine e Vera também são mãe e filha. A história trata das diversas fases da vida amorosa de cada uma. O restante do elenco são atores interessantes como o belo Louis Garrel, Milos Forman e Paul Schneider.  Ludivine Sagnier é Madeleine na juventude. Tudo tem início na Paris dos anos sessenta. Madeleine é  uma mulher jovem, loura, sonhadora e feminina.  Caminha pelas ruas de Paris com o futuro marido, um médico (Milos Forman). Ingenuidade e juventude  a impedem de perceber que Milos não é emocionalmente estável. Deseja outras mulheres, a trai sem o menor pudor. Casamento caído por terra e Madeleine volta à Paris. Saltando no tempo a vemos gorda, velha senhora, com cirurgia plástica no rosto. Pior, cirurgia que ao invés de ajudar piora o visual. Esta é a bela Cathérine, "A bela da tarde". Óbvio , inesquecível. Sempre será chamada de bela, embora a beleza verdadeira esteja somente em nossas lembranças. A vida de mãe e filha vai aos trancos e barrancos.  Faltam objetivos de vida para todos. Invariavelmente os personagens enveredam por caminhos  obscuros. O ex marido, por sua vez, volta para relações com a ex mulher que só poderiam resultar em  poeira levada pelo vento.  Nunca assumiu o papel de pai. A filha não encontra rumo, sua vida resulta de um tal enredo, que não consegue manter um relacionamento.
Madeleine, depois da primeira traição não ama ninguém. Casa com outro, não o ama. E o diretor Christophe Honoré fala de pequenas vidas, de amores infelizes que não foram. Deixaram   de ser antes de existir. Mas que, apesar de tudo enredaram três pessoas pelo resto de suas vidas. Todos  passaram a fazer parte de uma família, diferente, mas família.
A vida de Chiara tem um bocado de drama, é a personagem trágica. Chega a ser patética. Não aceita Garrel, mas apaixona-se por um homossexual. Para afastá-la  ele afirma: "I am gay". Tanto mãe como filha criam situações limites  e insustentáveis. Ambas cometem profundo erro ao não tentar uma auto descoberta, antes de buscar o outro. Mãe e filha buscam o próprio inferno, são responsáveis pelas próprias desgraças.
Vera se humilha, se esforça para conseguir a própria destruição e humilhação. Vai para a cama em trio, com dois gays. Constrangimento que só pode terminar em tragédia. E assim a nossa patética heroína inferniza um pouco mais a vida do resto da família...

domingo, 9 de setembro de 2012

O Legado Bourne ( The Bourne Legacy)

Em junho o ator Edward Norton esteve no Brasil para participar da  Rio + 20 como embaixador da ONU em assuntos sobre biodiversidade. Aproveitou para promover o filme de Tony Gilroy. "O Legado Bourne"  é inpirado na história de Robert Lundlum, por sua vez inspirada no livro de Eric Lustbader. A franquia consta de três filmes estrelados por Matt Damon, que contam a dramática experiência de Jason  Bourne. O filme de Gilroy vem precedido pela trilogia, o que não lhe retira o brilho. Damon mostrou o seu preparo físico em : "A Identidade Bourne" (2002), "A supremacia Bourne" ( 2004) e "O últimato Bourne" ( 2007). Sempre pensei que ele poderia ganhar a maratona correndo reto como um robô. Era justamente esta a idéia, deveria ser uma espécie de robô, ou de super-homem, pois tinha sido submetido a um misterioso experimento.
Tony critica o poder nos Estados Unidos, afinal, falar em criticar o poder na América fica meio estranho, considerando que a nossa realidade de latino-americanos não tem nada a ver com a do país de Obama. Lá sim, eles sempre estão às voltas com questões de espionagem, intromissões em países distantes, com bases em Manila ou Guantánamo, por exemplo. Desta vez Edward Norton é o superior de uma agência - parece a CIA - com tentáculos no mundo inteiro. Edward dirige essa agência, que deseja ascender a um poder que rivaliza com o  do próprio Estado.
Por mais politicamente correto que Edward Norton seja - ao defender a causa da biodiversidade-, na telona não é nenhum mistério! Não entusiasma nem as "retraites" ! Leia-se aposentadas! he! he! he! É bem sem graça! É o homem poderoso da agência que criou Bourne como uma máquina de matar e agora lança suas garras sobre o novo Bourne, Aaron Cross, estrelado por Jeremy Renner.  Aaron é agente secreto do governo, envolvido  no programa Treadstone. Os experimentos cientícos melhoram sua perfomance como ser humano, transformando-o em uma espécie de El Matador. Quando descobre que está sendo alvo de extermínio por parte da própria agência decide reagir, dando um basta naquilo tudo. Além de Jeremy Renner,  Rachel Weisz e Edward Norton você vai notar a presença de três senhores,  são os atores Stacy Keach, Albert Finney e Scott Glenn. Deus! como envelheceram ! Stacy Keach e Albert Finney ficaram horrorosos, tipo assim, excesso de quilometragem. Keach está mais para bolão e Finney segue o mesmo caminho. Mas Scott Glenn pelo contrário, está muito bem. Você lembra dele em "Os Eleitos"? O filme era tão bom que eu jurava que não era um filme, que eles eram os verdadeiros astronautas em um documentário. Pelo menos Scott Glenn está bem com seus 69 anos também.
Jeremy Renner é um ótimo ator que sempre é interessante rever. Além de "O Assassassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford" em sua filmografia constam " Guerra ao Terror", "Missão Impossível : Protocolo Fantasma"," Thor" e "Os Vingadores". Se as cenas de  perseguição são excitantes e eletrizantes, você vai amar a música. Preste atenção na cena final. é a mesma música da série de Matt Damon.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Os Intocáveis

Os Intocáveis dirigido por Eric Toledano, por enquanto é o melhor filme de 2012. Não sei bem como isso acontece, mas sei quando estou diante de um grande filme e foi exatamente a sensação que tive quando o filme iniciou. O trailer antecipara as emoções de Philippe ( François Cluzet) francês rico que após um acidente fica tetraplégico. Na tela o motorista negro, carrega seu passageiro para emoções extremas. A cena é uma loucura, mesmo que o espectador esteja farto das corridas  de carro de filmes americanos, aqui é diferente. Um deus grego faz o carro voar, roncando como louco pelas ruas da grande cidade. Philippe vibra com a emoção que Driss (Omar Sy) lhe proporciona, alegria e felicidade que ninguém permite a um tetraplégico. Nem que para isso o motorista tenha que transgredir muitas regrinhas de bem viver. Na verdade o que impressiona o espectador é o contraste entre a força de Driss, o cuidador  e a fragilidade de Philippe. Quando  o primeiro se apresenta simplesmente para conseguir uma assinatura para um seguro desemprego, atrai a atenção de um homem doente, mas saudável a ponto de não aceitar a piedade de ninguém. 
Philippe vive em um palacete, rodeado de governantas, cozinheiros, secretárias e jardineiros. Driss chega  com uma tal vitalidade e alegria de viver que ofusca a todos. Torna-se alvo das atenções.  Óbvio, também tem seus problemas. Não aparece em casa por seis meses simplesmente porque está  preso por roubo. Ninguém fica sabendo. Isso não se conta para ninguém.   Quando volta, o surpreendemos tomando banho numa minúscula banheira com os joelhos dobrados. Agora tem direito a um quarto com banheira e muita sofisticação bem dentro do gosto dos franceses pela tradição. A decoração do palacete é inspirada na tradição clássica do Ancièn Régime. Não possuindo sofisticação, Driss fala o que pensa e diz algumas verdades não permitidas aos membros da elite freqüentada por Philippe. É justamente este lado do caráter de seu cuidador que o atrai e o faz dar boas gargalhadas nas horas em que normalmente deveria estar sentindo-se o mais miserável dos homens. 
Não é apenas o espectador, ninguém consegue  parar de olhar para Driss. Pudera, de onde saiu criatura tão exuberante? Que nem a Vênus Negra, aqui temos o Apolo ou o Júpiter Negro. O visual é o de um atleta com 2,00 m de altura aprontando todas as travessuras inimagináveis com seu "boss"' e sem papas na língua!
Assim aparentemente sem a menor qualificação para o posto, Driss surpreende, ensina e propõe a Philippe mil e uma formas de superação. Quando o vemos empurrando a cadeira de Philippe em um passeio na madrugada à beira do Sena, não temos a menor idéia do que um poderá aprontar para o outro em termos de desafios. E quando vemos tudo o que os paralímpicos são capazes de fazer, constatamos que nosso lema além de ser a frase de Jean Cocteau: "Ele não sabia que era impossível, foi lá e fez", também poderá ser: "Desista dos limites, acabe com eles, faça com que deixem  de existir; destrua de vez esses limites".  Afinal se vive uma só vez! Esta é a lição de grandeza e humanidade que Driss foi capaz de ensinar a Phillipe, que por sua vez também ele foi capaz de transformar uma vida, com uma mente aberta, forte e sem preconceito. 

sábado, 1 de setembro de 2012

Um Divã para Dois

Desta vez Meryll Streep está imbatível. Quem reclamou dela em " A Dama de Ferro"  não está mais aqui. A dama do cinema aparece com o mesmo visual que deve ter na vida real. Aliás parece um pouco mais velha do que seus sessenta e dois anos. Meryl Streep - se é que é verdadeiro - é dessas mulheres que há muito tempo assumiu rugas e sinais da idade. É verdade, poderia emagrecer um pouquinho, será pela personagem?  Kay (Meryll Streep) é uma mulher a um passo de ser classificada na terceira idade. E isso não tem volta, é uma barra! Com cintura grossa, anquinhas, rugas e um vestido rodado e curto! Ai meu Deus! O batom levemente fora do lugar, com rugas verticais que cortam os lábios... O visual de Kay não recomenda. E ainda para o cúmulo, é uma senhora insatisfeita com seu casamento de 31 anos. "Quem me dera ter um casamento de 31 anos"! É o que muitas mulheres diriam, não é verdade?
O marido Arnold é interpretado por Tommy Lee Jones. O ator está tão bom quanto Meryll. Não... ela está um pouquinho melhor. Enfim, Arnold, antes de mais nada, virou um velho rabugento, com uma barriga proeminente, igual a todos os senhores idosos que circulam pela cidade, pelas ruas, pelas academias, enfim por todo lugar e por toda Porto Alegre. Um horror. Sempre me pergunto, quem fica mais feio? Eles que não se cuidam, ou elas? Ainda não encontrei a resposta... Mas com certeza, Arnold é um senhor do tipo que faz as outras mulheres pensarem: " Credo ainda bem que esta criatura não é meu marido! Se é para ter um marido assim, é melhor ficar sozinha!" 
O fato é que Kay ama seu homem. Porém descobre que seu casamento  no momento é um completo fracasso. Ele, como muitos homens se nega a enxergar um palmo diante do nariz. Kay sabe que seu casamento chegou no limite. Ou tenta resolver o problema, ou é melhor acabar com tudo de uma vez. Arnold com sua barriguina e com grandes óculos que escondem o rosto, pensa que basta ter filhos criados e sustentar a casa, para que a harmonia reine no lar. Sexo, nem pensar, ele e Kay vivem que nem operários dividindo um barracão de trabalho,  como afirma o psquiatra Dr. Feld (Steve Carrell), a quem Kay recorre como última opção.
Para Arnold a vida vira um inferno, com o tal psiquiatra de casais. Para ele é inaceitável discutir seus medos e problemas mais íntimos com um estranho. O psiquiatra dá tarefas que o casal deve cumprir, como etapas para uma recuperação amorosa. Aos poucos Kay e Arnold descobrem que as mágoas, os ressentimentos foram causados por ambos. Um sonhava com coisas que pensava ser uma verdadeira transgressão, que o outro não aceitaria jamais. O outro por sua vez, nem sonhava em tudo que seu companheiro gostaria de fazer em termos de sexo. Assim,  sonhos e desejos foram ficando para trás... Cada um passou a viver fechadinho  em seu quartinho. Nem sabiam o que era tocar um no outro. O roteiro, as falas caracterizam com perfeição a crise do casal. Igual a todos os dramas que devem estar acontecento neste momento com milhares de casais, no mundo inteiro.
E o diretor sabe muito bem o que é isso. É de arrepiar quando as tentativas fracassam... Quantos casais se viram na tela? E quantas mulheres tiveram a coragem de Kay, de botar para quebrar e tentar sob todas as formas resgatar a sua vida conjugal? Quantos casais desistiram antes e terminaram tudo para viver uma vida de solidão e ressentimento, lutando na justiça por guarda de filhos, por pensões alimentícias  irrisórias ou tendo ainda que recorrer à prisão do ex-marido? Deus, quanta miséria e mediocridade... Não é bom nem pensar. Por isso mesmo é que você deve adotar Kay como a sua heroína da semana! Vá ao cinema, assista às belíssimas interpretações de Meryll Streep e Tommy Lee Jones e veja se não tenho razão!