A “Caça” é a alegoria da situação vivida
pelo personagem do professor de uma escola infantil, na Dinamarca. Lucas é
vivido por Mads Mikkelsen. O ator está irreconhecível como o professor Lucas. Mads
Mikkelsen interpretou o vilão Le Chiffre, em Cassino Royale, um financiador de
terroristas internacionais. A marca de Le Chiffre era o olho pingando lágrimas
de sangue. Muito, muito asqueroso!
Lucas,
ao contrário, é um doce. Tem um cabelo liso, lindo, lindo. Não é sem razão que
a colega o convida para um encontro amoroso. Lucas vem de um casamento
fracassado. Deseja refazer sua vida e recuperar o amor e a convivência com o
filho Marcus.
A
vida de Lucas vira um caos quando Klara, uma aluna de cinco anos diz para a
diretora da escola que o professor lhe mostrou seus órgãos sexuais. O diretor Thomas
Vinterberg nos faz ver, como um caso
delicado pode desandar para falsas acusações e condenações por
antecipação. A falsa acusação ou acusação sem as devidas provas irremediavelmente
arruína a vida de Lucas.
O
tema que acaba com muitas vidas tem sido abordado no cinema.
O clássico é “The Wrong Man” (O Homem
Errado), de Alfred Hitchcock, 1957, em que Henry Fonda é confundido com um
assaltante e condenado. A “Caça”
mostra também a paranóia que toma conta das pessoas, na Dinamarca, ou em qualquer
outro lugar do mundo, quando se trata de abuso infantil. Tanto a diretora da
escola, como psicólogos, professores e policiais precipitam-se em acusações,
sem maiores provas. Partem do pressuposto que a criança é naturalmente boa, que
não mente. Não percebem que Klara ( Annika Wedderskopp) é uma criança que se
constrói na relação com as coisas e com as outras pessoas. Sente ciúmes,
sentimento completamente irracional. Não é nenhum anjo. Mente, mistura tudo em
sua cabecinha de criança, sem perceber a gravidade da acusação. Klara é fruto
de um meio familiar disfuncional e de um grupo social desequilibrado. De fato a
menina não tem a menor consciência do mal que causa, e seus pais não estão
preocupados com isso. Encontram o problema e se jogam no abismo e na escuridão.
Klara é fruto de um ambiente confuso formado por pessoas que embora pareçam
evoluídas, são grosseiras e preconceituosas. Lucas é julgado por antecipação. Thomas
Vinterberg alterna cenas em que Lucas - cumprindo um ritual dinamarquês - vai à
caça, com cenas em que o próprio Lucas é a “Caça". Os dinamarqueses caçam
veados, o que por si só escandaliza qualquer ser humano que se preocupe com a
sustentabilidade e com a defesa da vida. Lucas é como o veado, que ele mesmo mata. O animal olha para o
espectador pela última vez, traído pelo silêncio e surpreendido pela a própria
morte.
Nada
apaga a injúria e a difamação. Você lembra o caso da Dra. Karla Kothe, em
Porto Alegre? Poderia ser o mesmo de
Lucas...
Muito
estranho no final, não aparece a frase que acalma e ao mesmo tempo nos
emociona:
Nenhum
animal sofreu maus tratados durante as filmagens.
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