Domingo, 15,15 h . Começa o filme “Os Miseráveis”. Na verdade, não é o
filme de minha vida. Lembro, escrevi que o filme de minha vida é “Dois Destinos”
(Cronaca Familiare) de Valério Zurlini. Mas, com certeza é o filme da vida de
muitas mulheres. As senhoras entram na sala de projeção, cabelos brancos e temerosos,
mãos apoiadas em bengalas. Tudo sob o cuidado de mulheres mais jovens, provavelmente
filhas. Na tela o clássico de Victor Hugo, o grande escritor francês, lido por
milhares de pessoas. Mas também aquele que não soube ser pai. Alguém viu L'Histoire d'Adèle H, H de Hugo,
com
Isabelle Adjani?
- Sinto-me tranquila, cumprindo um provável desejo de Mami. Era o filme
da vida dela.
História cantada em verso. Linguagem
diferente. Há! Muito diferente da linguagem de Lincoln, ou ainda de Django
Livre. É como assistir a uma ópera cinematográfica. “Os Miseráveis“, dirigido por Tom Hooper foi adaptado
do musical da Broadway, que está em cartaz há 28 anos. Já arrecadou mais de 100
milhões de espectadores em diversos países. Pintado com cores fortes e muita
crueza é atraente para qualquer espectador. Em especial para arquitetos que
nunca viram as barricadas que antecederam as reformas de Eugène Haussmann.
Jean Valjean, interpretado por Hugh Jackman é o personagem épico. Sem
ter o que comer rouba um pão. Condenado a cinco anos de prisão, tem a pena
aumentada para dezenove, por tentativas de fuga. Reconhece na sociedade a falsidade,
a hipocrisia e a culpa. Criminoso é quem o condena. Decide vingar-se. Equivocado
em seu desejo de vingança, fica perplexo com a atitude do bispo Don Bienvenue. Jean
Valjean roubara a prataria do bispo. Apanhado por Javert - o policial-, fica
perplexo com a atitude de Bienvenu, que
o isenta do crime. Afirma que lhe presenteara com os castiçais de prata. A
atitude do bispo o faz repensar seus desejos de vingança.
Russel Crowe como Javert é o verdadeiro
vilão. O ator representa com mestria a verdadeira tragédia que é ser Javert. Para
ele os homens se dividem entre os que obedecem e os que desobedecem às leis. Não
existe outra classificação. Dedica sua miserável vida a perseguir Jean Valjean.
Mesmo depois de denunciá-lo à Prefeitura de Paris e receber como resposta que o
verdadeiro ladrão foi encontrado.
Anne Hathaway é forte candidata ao Oscar 2013 de Melhor Atriz Coadjuvante ao
interpretar Fantine, a trágica prostituta, que entrega seu bebê aos Thénardier.
Anne Hathway brilha e emociona como Fantine. Mais magra do que nunca, teve os
cabelos cortados para encarnar a prostituta que vende os cabelos e os dentes
para pagar aos Thénardier pela guarda da filha Cosette.
Jean Valjean promete à Fantine recuperá-la. Perseguido
por Jauvert, foge com a menina. Ao longo da vida Jean Valjean tem a oportunidade
de ajudar os pobres e miseráveis. Suas ações benéficas transformam sua vida e
a dos outros. A miséria tem efeitos diferentes sobre o ser humano. Jean Valjean
transfigura sua miséria em força. Enquanto os Thénardier
extraem dela os piores sentimentos. O casal explora Cosette. Quando Jean
Valjean a descobre na taverna dos Thénardier paga 1500 francos para reavê-la. Victor
Hugo os descreve como bestiais e desonestos.
Mas como não existe vítima sem seu algoz, a vida do inspetor Javert - o
infeliz filho de uma prisioneira nascido na prisão – só tem sentido na perseguição
a Jean Valjean. E, quando o insólito acontece, Jean Valjean poupa sua vida
demonstrando as infinitas possibilidades do bem. Javert não suporta a ideia de
ficar sem sua única razão de viver: perseguir e prender Jean Valjean por ter
roubado um pão duro e velho. Essa imagem de Jean Valjean, na miséria, ficou
calcada na memória coletiva. Hugh Jackman encarna o poderoso maire Jean Valjean, que como todo pai um
dia precisou separar-se da filha. Cosette ficou adulta e transformou-se em uma
bela mulher (Amanda Seyfried).
Milhares de leitores, pelo resto de suas vidas não esqueceram o herói e nos
contaram esta história tão pungente e emocionante. A história de Jean Valjean faz
parte do imaginário popular e é passada de geração em geração. Mesmo não tendo
lido “Os Miseráveis” todos nós conhecíamos Jean Valjean, da história contada
por nossas mães.
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