terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Les Misérables

Domingo, 15,15 h . Começa o filme “Os Miseráveis”. Na verdade, não é o filme de minha vida. Lembro, escrevi que o filme de minha vida é “Dois Destinos” (Cronaca Familiare) de Valério Zurlini. Mas, com certeza é o filme da vida de muitas mulheres. As senhoras entram na sala de projeção, cabelos brancos e temerosos, mãos apoiadas em bengalas. Tudo sob o cuidado de mulheres mais jovens, provavelmente filhas. Na tela o clássico de Victor Hugo, o grande escritor francês, lido por milhares de pessoas. Mas também aquele que não soube ser pai. Alguém viu  L'Histoire d'Adèle H, H de Hugo,  com Isabelle  Adjani?
- Sinto-me tranquila, cumprindo um provável desejo de Mami. Era o filme da vida dela.
 História cantada em verso. Linguagem diferente. Há! Muito diferente da linguagem de Lincoln, ou ainda de Django Livre. É como assistir a uma ópera cinematográfica. “Os Miseráveis“, dirigido por Tom Hooper foi adaptado do musical da Broadway, que está em cartaz há 28 anos. Já arrecadou mais de 100 milhões de espectadores em diversos países. Pintado com cores fortes e muita crueza é atraente para qualquer espectador. Em especial para arquitetos que nunca viram as barricadas que antecederam as reformas de Eugène Haussmann.  
Jean Valjean, interpretado por Hugh Jackman é o personagem épico. Sem ter o que comer rouba um pão. Condenado a cinco anos de prisão, tem a pena aumentada para dezenove, por tentativas de fuga. Reconhece na sociedade a falsidade, a hipocrisia e a culpa. Criminoso é quem o condena. Decide vingar-se. Equivocado em seu desejo de vingança, fica perplexo com a atitude do bispo Don Bienvenue. Jean Valjean roubara a prataria do bispo. Apanhado por Javert - o policial-, fica perplexo com a atitude de  Bienvenu, que o isenta do crime. Afirma que lhe presenteara com os castiçais de prata. A atitude do bispo o faz repensar seus desejos de vingança.
Russel Crowe como Javert  é o verdadeiro vilão. O ator representa com mestria a verdadeira tragédia que é ser Javert. Para ele os homens se dividem entre os que obedecem e os que desobedecem às leis. Não existe outra classificação. Dedica sua miserável vida a perseguir Jean Valjean. Mesmo depois de denunciá-lo à Prefeitura de Paris e receber como resposta que o verdadeiro ladrão foi encontrado.
Anne Hathaway é forte candidata ao Oscar 2013 de Melhor Atriz Coadjuvante ao interpretar Fantine, a trágica prostituta, que entrega seu bebê aos Thénardier. Anne Hathway brilha e emociona como Fantine. Mais magra do que nunca, teve os cabelos cortados para encarnar a prostituta que vende os cabelos e os dentes para pagar aos Thénardier pela guarda da filha Cosette.  
Jean Valjean promete à Fantine recuperá-la. Perseguido por Jauvert, foge com a menina. Ao longo da vida Jean Valjean tem a oportunidade de ajudar os pobres e miseráveis. Suas ações benéficas transformam sua vida e a dos outros. A miséria tem efeitos diferentes sobre o ser humano. Jean Valjean transfigura sua miséria em força. Enquanto os Thénardier extraem dela os piores sentimentos. O casal explora Cosette. Quando Jean Valjean a descobre na taverna dos Thénardier paga 1500 francos para reavê-la. Victor Hugo os descreve como bestiais e desonestos.
Mas como não existe vítima sem seu algoz, a vida do inspetor Javert - o infeliz filho de uma prisioneira nascido na prisão – só tem sentido na perseguição a Jean Valjean. E, quando o insólito acontece, Jean Valjean poupa sua vida demonstrando as infinitas possibilidades do bem. Javert não suporta a ideia de ficar sem sua única razão de viver: perseguir e prender Jean Valjean por ter roubado um pão duro e velho. Essa imagem de Jean Valjean, na miséria, ficou calcada na memória coletiva. Hugh Jackman encarna o poderoso maire Jean Valjean, que como todo pai um dia precisou separar-se da filha. Cosette ficou adulta e transformou-se em uma bela mulher (Amanda Seyfried).
Milhares de leitores, pelo resto de suas vidas não esqueceram o herói e nos contaram esta história tão pungente e emocionante. A história de Jean Valjean faz parte do imaginário popular e é passada de geração em geração. Mesmo não tendo lido “Os Miseráveis” todos nós conhecíamos Jean Valjean, da história contada por nossas mães.
 


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