terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Carol

Carol é um filme feminino e delicado. Conta uma história de amor entre duas mulheres. Nesta  questão sexual, principalmente, a luta está longe de terminar. Lembro o quanto  nossas avós  precisaram batalhar para conquistar a liberdade.  O filme se passa nos anos 50, tempo em que o homossexualismo era considerado doença. Por falar em liberdade feminina, sempre que vejo uma mulher com vestido comprido até o tornozelo, me parece que ela está indo na contra mão de tudo, de todas as razões pelas quais nossas bisas lutaram. Certo, eu poderia pensar que usar vestidos longos também é uma conquista libertária, mas não. 
O filme é belíssimo, as duas mulheres são lindas, diferentes uma da outra,  talvez por isso,  se completam. Carol Aird (Cate Blanchett) é uma mulher rica, elegante, poderosa e dominante, para ela dinheiro não é problema. Difícil sim,  é suportar a presença do marido, Harge Aird (Kyle Chandler), - de quem está se separando - e da sogra. Therèse Belivet (Roney Mara) é mignon, lembra Audrey Hepburg, com um rostinho pequenino e olhos de bichinho de estimação, uma graça. 
A caracterização da família do esposo rejeitado, é perfeita, os Aird são o protótipo do conservadorismo, nos Estados Unidos. Com certeza pertenceriam ao Partido Republicano,  se fosse no Brasil seriam simpáticos à TFP, quem sabe...Tudo isso transparece nos assuntos à mesa. Flagrada pelo marido, Carol deve submeter-se às imposições da família, almoçar com o sogro e a sogra, ter as visitas à filha monitoradas e prestar contas de seu tratamento com o psiquiatra. 
O filme mostra a evolução da relação entre as personagens, até o momento em que precisam se separar.
O guarda roupa de Carol é sofisticado, circulam em ambientes glamourosos, desfila terninhos, casaco de pele, chapéus e casacões godê. A mim parece que Carol representa uma burguesia endinheirada, nada simpática aos olhos do público. Mas quem se importa com isso, quem detesta por tabela mulheres que usam casaco de pele?- eu, por exemplo! levantaria timidamente a mão. Mas não é esta a questão que o diretor Todd Haynes coloca, e sim o direito que Carol e Thèrese possuem, de fazer o que quiserem com seus corpos. Para Hynes, isso é o que realmente interessa. 
Fique atento à coragem da personagem quando decide rejeitar as imposições de uma sociedade hipócrita e conservadora. Escandaliza a todos quando afirma que não deseja mais a guarda da filha, que é preciso dar uma basta em tudo aquilo e que não pretende negar suas inclinações. Eis aí o recado do diretor. 
Finalmente observe a beleza do filme, das roupas que combinam com a personalidade de cada uma e o décor  de Todd Haynes. As fotos de Therèse evidenciam o sentimento do belo. As cenas eróticas perfeitas, como se o diretor entrasse de vez na estética do Renascimento, corpos nus, róseos, que se entrelaçam e completam.

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