segunda-feira, 6 de abril de 2009

A BELA JUNIE

A Bela Junie é um filme dirigido por Christophe Honoré. A história baseia-se no romance “La Princesse de Clèves”, de Madame de Lafayette, publicado anonimamente em 1678. Foi a obra mais famosa de Madame de Lafayette. Trata-se de um dos primeiros romances históricos franceses a tratar dos aspectos psicológicos dos personagens. Na história, Chartres é uma bela jovem que se casa com o Príncipe de Clèves. Nemours, um jovem fidalgo apaixona-se pela princesa. Ao saber do romance, o príncipe literalmente morre de ciúmes.

O final para os dias de hoje é absolutamente imprevisível. Acho que os jovens não se sentirão muito atraídos pela história. Apesar de ser um filme sobre a juventude. Além do que, ele é um pouco lento. Quem não conhece a história não imagina as coisas que vão acontecendo.

Junie (Léa Seydoux) muda de escola quando sua mãe morre. O clima entre os estudantes é o mais interessante dentro do filme. No início, eles estão assistindo a uma aula de inglês. Quando o professor coloca uma gravação para os alunos ouvirem, estes são filmados em close. O professor coloca suas questões. As expressões dos alunos são muitas e não revelam seus pensamentos. Todos são bonitos e muito, muito jovens. Os alunos permanecem à disposição da platéia, cada um com sua expressão. O espectador se pergunta se eles estariam prestando atenção à aula.

O filme revela o clima emocional entre os estudantes, sem provocar emoção no espectador. Tudo são fofocas e segredos que não devem ser contados, mas que passam de boca em boca. É como em toda escola, os boatos se espalham com a rapidez do buscapé das festas de São João. É como se os jovens acendessem o estopim, e o buscapé das fofocas e do disque-disque explodisse em ziguezague. Fulano gosta de fulano, que gosta de fulano e assim por diante. Esse clima me parece importante para compreendermos um pouco mais a sensibilidade dos adolescentes. É difícil entender a fragilidade, a emoção e a paixão dos deles. É outro mundo que precisa ser muito bem compreendido pelos adultos, que esqueceram, com certeza, o tempo em que foram adolescentes.

Otto (Grégoire Leprince-Rinquet) ama Junie, que descobre estar apaixonada por Nemours (Louis Garrel). O nome do personagem é o mesmo da novela de Lafayette. A professora Florence (Valerie Lang) gosta de Nemours, mas o belo professor de italiano, quase tão jovem quanto seus alunos, apaixona-se por Junie.

Em paralelo surgem outros romances, como a atração que acontece entre Mathias (Esteban Carvajal-Alegria), primo de Junie, e Martin (Martin Siméon). O romance homossexual é difícil de ser assumido por Mathias. Ainda mais que, outro colega, com cabelos em pé - que lembram os do livro do João Felpudo, o que não cortava o cabelo - também é apaixonado por ele.

O quiproquó acontece quando é perdida uma carta de amor. Todos lêem, todos se grudam na carta que passa de mão em mão, de olho em olho. Todos pensam que é de outra mulher, que declara seu amor para Nemours.

Junie que era uma menina frágil e confusa fica mais perturbada ainda. Otto sente que algo vai mal, pede para um colega espionar Junie. O espião exige pagamento, mas vai, pé ante pé espionar o beijo proibido. Todo esse vai e vem cria um “clima” dentro do filme. Os boatos e fofocas continuam.

O frágil Otto precisa cumprir seu fado. O mais estranho é que ele cantarola a canção que é traduzida para o espectador e se joga !! Sem a menor emoção. É o fim do pobre Otto, do infeliz Otto, do bobo Otto, que não conhecia nenhuma história com o seu nome, até que Junie lhe mostra um livro com o título, “Otto”.
Os atores que fazem Junie e Nemours são muito bonitos mesmo, e cativam o espectador.

Cabe lembrar a controversa e delicada questão da relação amorosa entre professor e aluno. Que não deixa de ser o “cross de line “ que aconteceu com a psicóloga Claire (Anne Hathaway) e Erik Clarck ( Patrick Wilson), seu paciente no filme Passengers. Existem profissões em que os protagonistas dessa relação estão literalmente pisando em ovos. Se houver diferença de idade e se a mulher for mais velha está condenada por antecipação. O caso pode facilmente ser caracterizado como corrupção de menores. No filme, o professor era quase tão jovem quanto seus alunos, porém sempre permanece a questão ética que envolve todo o ambiente acadêmico e a instituição, o corpo docente e os próprios alunos. Todos são personagens e terminam fazendo parte da história de amor. Como no filme, todos espiavam, até as paredes tinham ouvidos, todos liam cartas e bilhetinhos endereçados a outros, todos opinavam.

Enfim, vale a pena conferir A bela Junie. Com exceção das questões éticas envolvendo a relação de amor entre professor-aluno, que não é o fulcro da questão no filme, o desfecho deixa o espectador meio sem graça, sem entender as razões psicológicas de Madame de Lafayette aplicadas ao século XXI. Tenha paciência, essa história tinha sentido no século XVII, mas no século XXI?



Nenhum comentário:

Postar um comentário