quarta-feira, 22 de abril de 2009

A DIVA NO DIVÃ

Fui comprar o ingresso para assistir ao filme de José Alvarenga Júnior e pedi um bilhete para Diva. Não era esse o nome do filme. Mas no fundo eu estava com a razão. Lilia Cabral neste filme é a própria “Diva no divã”, este sim deveria ser o nome do filme.

As salas de cinema estão cheias, a platéia ama o filme. As pessoas riem e choram. O filme seguiu a receita certa para o sucesso. Tudo é dito de forma inteligente e bem humorada. O riso e o choro vêm no momento certo. Comprei o livro de Martha Medeiros, que vendeu mais de 50.000 exemplares, agora vendeu 50.001, com certeza. A novela foi adaptada para o teatro, com a própria Lilia e agora virou filme.

A “Diva no divã” - como gosto - fala de Mercedes uma mulher como qualquer uma de nós, casada, com dois filhos. Não sabe bem porque, vai parar no analista. O casamento entra em crise. Vem a separação. Os filhos adolescentes já têm suas próprias vidas. Surgem aventuras amorosas passageiras e o amadurecimento da personagem. As relações com o ex-marido evoluem. Se não for bem tratado pela nova mulher, ela o quer de volta. Afinal, ex-marido é parente, não sei bem em que classificação, deve ser na de ex-marido mesmo. O filme fala da amizade com Mônica (Alexandra Richter) e do enfrentamento com a morte. A superação e a vida que continua.

Lilia Cabral está muito bem no filme, logo ela que nos cansa tanto na televisão. Adorei a Mercedes. Adorei os vestidos que ela usa, desfilou com seis, em tons de azul. Reynaldo Gianecchini continua um homem muito bonito mesmo. O cara é de parar aeroporto. Vi isso pessoalmente. O aeroporto de Congonhas parou quando Gianecchini passou. Pensei que o diretor queria isso mesmo, um homem lindo para fazer a cabeça de Mercedes e depois passar, sem deixar marcas. Assim, além da beleza, o personagem não inspira muito, ri demais. Como se estivesse rindo do próprio personagem. E aí fica meio sem graça. Assim como em alguns programas de TV, em que para fazer graça, o ator ri do próprio personagem que interpreta. Acho isso uma besteira.

Mas, também acho que um filme ou alguém como Mercedes - contando sua vida no divã - não deve ter tantas frases feitas, tantas frases inteligentes e prontinhas. Não é possível, apesar de pretender ser natural, fica artificial. Algumas cenas causam até um pequeno mal estar, de tão forçadas, como a aquela em que ela tenta tirar a meia calça, no banheiro.

Em compensação outras cenas são divertidíssimas. O texto de Martha Medeiros fala de coisas que acontecem com qualquer uma de nós. Por isso nos identificamos com Mercedes, quando ela fala que, quando alguém te diz “precisamos conversar”, por aí tem problema, aí vem mecha. Pois, quando não há problemas as pessoas dizem; eu quero falar contigo, eu quero te dizer uma coisa, assim numa boa. Ri muito, porque sei bem como isso acontece.

Outra cena das mais engraçadas é quando Mercedes e Gianecchini puxam um fumo dentro do carrão. Acho que eles se divertiram mais que nós, com certeza.
O cabeleireiro gay, repicando o cabelo de Mercedes, ninguém esquece. Ele sabe que o problema era “homi” com “h”. O texto é muito bom, até porque revela que o cabeleireiro pode se transformar em um grande amigo, num confidente, independente da forma estereotipada como é visto. Afinal, me pareceu que o cabeleireiro era um verdadeiro amigo de Mercedes.

Gustavo, o marido, é interpretado por José Mayer. Com certeza, ele faria a alegria de minha mãe Alair, que o amava. Tudo que ele fazia na TV ela gostava. Mesmo porque ele estava engraçadíssimo como o noivo cafona e brega, com aquele cabelo dos anos 70.

A morte de Mônica - a atriz que destrói a reputação do chefe, em Zorra Total - leva os espectadores às lágrimas. Todos choram a morte da amiga de Mercedes. Saem do cinema com os olhos vermelhos – lembrando seus mortos - envergonhados, como se ninguém devesse chorar no cinema, como se fosse uma fraqueza. Pelo contrário, bom mesmo é chorar no cinema. E bom é ir ao cinema sozinho, para poder chorar e rir à vontade, sem dar satisfações para o companheiro ou companheira do lado. Mas também é tão bom discutir o filme com as amigas!

Finalmente, a crítica é endereçada ao psicanalista - acertando em cheio - que não abre a boca. Mas que existe, e comparece à exposição de Mercedes. Lembra o ginecologista de minha amiga Maria Teresa, que foi flagrado por ela no cabeleireiro, pintando os cabelos e desabafou:

- Bem Maria Teresa; agora conheces os meus segredos.

Isso não é filme ouviram?

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