Vocês, os Vivos é um filme que teve diversos financiadores, a um custo de cinco milhões de euros. A Suécia foi o principal país da produção, que envolveu a França, Alemanha, Dinamarca e Noruega. O trabalho foi financiado por dezoito organizações diferentes. Foi dirigido e produzido por Roy Andersson Filmproduktion, em parceira com outras empresas.
Segundo o diretor, a sua maior preocupação foi refletir sobre o homem e a humanidade. Em seu site, ele afirma que a felicidade do homem é o próprio homem. Preocupa-se com o homem, como um ser social, que depende do outro para ser feliz e dar razão a sua existência. É um ser gregário, que não está sozinho na face da Terra. Em todas as histórias, Roy mostra o homem em sua relação com o outro. Em uma espécie de fascinação do ser humano por ele próprio. Ou seja, o homem é a fascinação de si mesmo.
Vocês, os Vivos nos fala de grandeza e de miséria. O filme não possui um personagem principal, todos são personagens. Discorre sobre as fraquezas da humanidade. Mostra toda espécie de homem, desde o egoísta, dos desonestos até os maus, destituídos de sentimentos. Fala também dos homens que dedicaram uma vida inteira aos outros, deram ao próximo todas as suas forças e chegaram à conclusão que não lhes restou nada. Como o psiquiatra (Hakan Angser) que nem consegue caminhar, esgotado por ter dedicado uma vida inteira aos homens e ter verificado que seu esforço foi inútil. O psiquiatra conclui que o homem é pobre, mesquinho e egoísta. E ainda assim, sem dispor-se a mudar, quer sua ajuda para ser feliz.
As histórias se passam com a câmera parada. A humanidade é caracterizada através de inúmeros personagens, participa e assiste a tudo. Em quadros estáticos sempre as pessoas observam o que está acontecendo. Os personagens do filme nos espreitam, e nós os observamos em uma troca mutua. E nos parece que o tempo também parou. Como se em cada historinha, o tempo passa-se em tempo real. Seria nosso desinteresse pelo filme? Que não nos tocou de forma alguma?
Muitas vezes, em situações semelhantes, lembramos que o tempo não passa. Ou ainda temos a sensação que o tempo pára, como na missa, nos enterros, nas salas de espera dos consultórios médicos, ou na frente dos elevadores. Na grotesca cena de sexo da mulher obesa, que esmaga um homem branquelo e fraquinho, usando apenas um capacete de viking - o tempo literalmente pára, passaram-se meses em minha impressão. O homem não se concentrava no sexo e discorria sobre seus problemas de dinheiro e aplicações no mercado financeiro!
Todos desejam amar e ser amados. Mas Roy Andersson fala da humanidade com um distanciamento tão grande, que não atinge e não envolve o espectador. No máximo, nos faz lembrar cenas do cotidiano, das quais participamos por obrigação social. Cenas que vemos na televisão, como desfiles diante de algum morto ilustre.
O diretor e sua equipe tiveram três anos de intenso trabalho. Sendo que todos os cenários, mesmo os exteriores foram criados em estúdio. Na maioria, os ambientes são vistos e sentidos com nudez e frieza, as paredes são cinza esverdeadas, com um pouco de amarelo e azul. Aparecem duas paredes, uma delas com uma porta de madeira e um ou dois quadros e uma mesa com cadeiras, como um cenário de teatro. Lembra as pessoas vivendo na maquete do filme Dogville, de Lars von Trier, com Nicole Kidman. É outra forma de linguagem, com pontos e comum.
O décor distanciado e criado em estúdio é o que Roy deseja mostrar ao espectador. Na cena do casamento, a casa de dois pavimentos se movimenta com um trailer. É a própria encenação. A paisagem noturna foge através da janela, como se a casa fosse um trem. Era o sonho da jovem apaixonada pelo guitarrista, que parecia mais animado com a guitarra de que com ela, não é? No sonho, a garota está feliz, todos são gentis com ela. Afinal é o que ambicionamos, ser bem tratados.
Alguns personagens se destacam como o casal de grandões e gordos do início. A mulher alcoólatra, breguíssima, com um blusão de onçinha, transferia a culpa de seus problemas para os outros. Até carregava uma garrafa de bebida na bolsa. Tinha certeza de não ser amada por ninguém, nem pela cachorrinha, muito menos pela sogra.
E o que dizer da sessão do júri? Os juízes bebem em grandes copos de cerveja e condenam à morte um homem, porque este tinha quebrado um conjunto de porcelana de duzentos anos, que tinha sido propriedade da tetra avó da reclamante. Esta, inconsolável, continuava protestando, mesmo frente à execução do condenado, na cadeira elétrica. Só bêbados mesmo para condenar à morte o insensato que levanta a toalha da mesa e quebra tudo! Roy critica esse mundo cão! Por qualquer coisinha os malucos dos seres humanos chamavam a polícia para reprimir.
A historinha boa, que deu para rir um pouco foi a do barbeiro. O cliente, depois de ofender o barbeiro fica furioso por este ter aberto uma estrada, no meio de sua cabeça, deixando sem solução o resto da cabeleira. A polícia foi chamada, teve um mínimo de senso do ridículo e foi embora.
No filme, sentimos menos a idéia de seres humanos grandiosos e humanitários, do que de homens insensatos, que não se importam com o outro. Parece que Roy Andersson pende para a idéia de homens, com grandes dificuldades de comunicação. Homens, que não aprenderam amar o outro. Não interferem e não sentem pelo outro. Muitas vezes, fascinados pela desgraça alheia, que poderá ser a sua um dia. Estão em todo lugar apenas observando os outros - como em Monty Phyton ou em Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras -, que não amam ninguém, mas querem ser amados, como afirmava o psiquiatra que não aguentou este mundo doido e desistiu de investir nos homens!
quinta-feira, 30 de abril de 2009
VOCÊS, OS VIVOS
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